Hoje é sábado, dia da série “DO FUNDO DO BAÚ”, e de lá sai esta foto de
um “3 em 1” de antigamente: TV, rádio e vitrola.
A parte da televisão nos lembra o final da década de 1950 na TV Tupi, Canal 6, a primeira do Rio, e na TV Rio, canal 13. Na Tupi havia a figura do "indiozinho", o
chamado "sinal de espera". Quando as programações entravam no ar havia que acertar a
antena, com um “Bom-Bril” espetado, para diminuir o "chuvisco". Isto
quando não era necessário subir no telhado e se esforçar para conseguir
melhorar a recepção. Era um tal de: "Tá bom assim? Não? Vira, vira mais!
Agora, isso! Tá pegando a Tupi, mas a TV Rio tá fora! Tenta virar pro outro
lado"! E a toda hora levantar para corrigir a imagem com os controles de
"horizontal" e "vertical", ou girar o botão seletor de um
canal para outro.
Sempre tinha o "Falcão Negro", com Gilberto Martinho, tendo o
Jece Valadão e o Dary Reis como os vilões. "Gladys e seus bichinhos",
com Gladys contando histórias e desenhando, ao vivo, era espetacular. E a
Virginia Lane como o Coelhinho Teco-Teco. Uma vez por semana o "Circo
Bombril" com o Carequinha. Em 1955 foi lançado o primeiro programa de
perguntas e respostas da TV brasileira, "O Céu é o Limite", comandado
por J. Silvestre. Patrocinado pela Varig (Ilka Soares, belíssima, usava o
uniforme de uma aeromoça), era emocionante: "continua ou desiste?",
perguntava o J. Silvestre do " certo, absolutamente certo!". Lembro
de um candidato, Oriano de Almeida, que fez grande sucesso respondendo sobre
Chopin. Havia o "Grande
Teatro Tupi", com Fernanda Montenegro, Paulo Autran, Maria Della Costa,
Walmor Chagas, Italo Rossi; o "Teatrinho Trol" com Norma Blum de
princesa, Roberto de Cleto, Fabio Sabag e Zilka Salaberry como a bruxa;
"Almoço com as Estrelas", aos sábados, com Aerton Perlingeiro; a
"Tarde Esportiva", aos domingos, com Oduvaldo Cozzi, Ruy Viotti, Ari
Barroso e José Maria Scassa. "Câmera Um", com Jacy Campos; todo dia
às 20 horas o "Repórter Esso", com o Heron Domingues ou o Gontijo
Teodoro; "Noite de Gala", às segundas-feiras, patrocínio do "Rei
da Voz", do Abrahão Medina. Os programas de auditório com o Carlos Frias;
os "Espetáculos Tonelux" com a Neide Aparecida; os musicais com
Jackson do Pandeiro e Almira, Ivon Cúri, Luiz Gonzaga, Fafá Lemos e seu
violino. O "Clube do Guri" com Collid Filho; as séries como
"Patrulha Rodoviária" com Broderick Crawford, "Jet
Jackson", "Bat Masterson" com Gene Barry, “Roy Rogers”, "Rin-Tin-Tin" com o Tenente Rip
Masters e o Cabo Rusty. O programa de calouros, com o gongo do Ari Barroso, o
programa de sorteios da Duchen. O TV Rio Ring, com Luiz Mendes, Teti Alfonso e Leo Batista, a resenha Facit todos os domingos com grandes comentaristas.
Do rádio já falamos muito por aqui há pouco tempo, mas era um sucesso e
tanto (a Revista do Rádio chegava a tiragens de trezentos mil exemplares semanais
e na Semana Santa 380 rádios entravam em cadeia para transmitir “A vida de Cristo”.
Vendo a foto não posso deixar de lembrar do “Anjo” e do “Jerônimo” antes do
jantar e, depois deste, minha mãe e avó ouvindo as novelas da Rádio
Nacional, como “O homem que perdeu a
alma”, de Janete Clair, os programas de auditório como o do Cesar de Alencar, os
“Mexericos da Candinha”, o sensacional “Balança
mas não cai”. Antes das novelas dominarem a TV, as do rádio eram programa diário
obrigatório.
Quanto à vitrola, os jovens nem sabem o que é ou como funcionava. Ali na
foto a vitrola era puxada para fora, como uma gaveta, o disco era colocado no
pino central e apoiado por um “braço”, e ao ligar o outro “braço” que tinha a agulha
na ponta ele deslocava, após o disco cair no “prato”, e ia para a primeira
faixa. Lembro dos discos de 78 rotações do “velho”, depois substituídos pelos
LPs de 33 rotações. Havia uma escova de veludo para limpar os discos. A ponta
da agulha devia ser mantida sempre limpa. O som era em "alta fidelidade". Nos LPs havia geralmente 6 faixas de
cada lado. Quando se colocava mais de um disco no pino central às vezes os
discos seguintes deslizavam sobre o primeiro e era preciso retirar os já
tocados para que funcionasse bem. A vitrola era o maior sucesso no tempo do
"arrasta-pé" (festinhas no final de semana dos anos 60) e nela se
ouviam os discos de Maysa, Elvis Presley, Nat King Cole, Domenico Modugno,
Johnny Mathis, Elizete, Paul Anka, Dick Farney, Lucio Alves, Edith Piaf, Little
Richard, João Gilberto, Percy Faith, Trio Los Panchos, Tom e Vinicius, Agostinho
dos Santos, entre outros.
A maioria das festinhas acontecia sob a discreta vigilância dos pais do
dono da casa. Temia-se pela invasão de "penetras" e, mais ainda, da
eventual chegada das "turmas", como a da Urca, a da Barão, etc. As
moças de vestidos "tubinho", olho "gatinho" e cabelo
"holandesa". Os rapazes com calça de pestana dupla e boca de sino,
cinto largo, sapatos da Motex. Bebida alcoólica, quando tinha, era
"Cuba-Libre" ou "Hi-Fi".Usualmente as festas começavam
antes da 22h e raramente acabavam depois da uma da manhã.
Em vez de um aparelho de TV em cada quarto ou iPod ou iPad, naquela época
usualmente só havia um aparelho para toda a família. Não lembro mas imagino que
o “velho” é que determinava como seria usado e que programas seriam assistidos.
Devo ter tido brigas tremendas com meus irmãos, principalmente quando o "velho" não estivesse em
casa...
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