Este
domingo promete. Seja em Copacabana ou na Barra, o verão chegou com força então
tem tudo para ser um dia maravilhoso, com muito sol, calor, água fria, alguns
afogamentos e muitos aborrecimentos. Entre eles encontrar um lugar na praia, em
meio aos milhares de banhistas, cercados de vendedores de todos os tipos de
alimentos (inclusive os proibidos), bebidas, chapéus, biquínis, protetores
solares, óculos, etc.
Estacionar
e ser achacado por um "flanelinha", após enfrentar um engarrafamento
de horas, com todos buzinando e reclamando, com o ar-condicionado do carro não
dando conta da alta temperatura. Procurar chegar na areia atravessando pistas
fechadas ao tráfego, mas ocupadas por maratonas, meia-maratonas, bicicletas em
alta velocidade, espaços ocupados por barracas vendendo algo, colhendo
assinaturas ou brinquedos armados como num parque de diversões.
Pisar
na areia driblando as redes de volei, "beach-tennis", petecas,
toalhas e quinquilharias como anéis, brincos e colares, expostos para venda. Constatar
a inutilidade da Guarda Municipal com seus componentes sempre em grupos, na
sombra, indiferentes a todas as irregularidades e preocupados somente em multar
algum automóvel.
Buscar
chegar mais perto da água, recusando ofertas de alugar cadeiras de praia e
barracas, e achar um espaço longe de crianças mal-educadas e pais complacentes
e omissos.
Tentar
se refrescar após atravessar a barreira de jogadores de frescobol e de
"linha de passe", depois de já ter sido atingido por uma bola de
vôlei e escapar da guerra de areia de adolescentes à beira-mar.
Na
água, enfim, relaxar se desviando das pranchas de surfe, dos
"jet-skis" e das lanchas que teimam em navegar junto à arrebentação. Driblar
os milhões de pombos (que já não se afastam ao serem enxotados), ter cuidado
com os cachorros na areia e, principalmente, com seus donos. Achar um trecho
que não esteja interditado para algum evento ou em que o som altíssimo esteja
propagando músicas de qualidade mais que duvidosas.
Aguentar
os pedidos e choros de crianças por mais sorvetes, biscoitos Globo,
refrigerantes, além das brigas entre os irmãos. Ficar até tarde para observar
como todos são bem-educados e deixam as praias do Rio com aspecto idêntico ao
lixão de Gramacho.
E
se tiver um "arrastão" o dia vai ser mais completo ainda. Encontrar o
carro com o vidro quebrado, sem o rádio (provavelmente levado pelo
"flanelinha" desaparecido) e voltar para casa. Na volta, o
ar-condicionado não funciona, as crianças choram cansadas, o carro limpo
durante horas no sábado já está imundo porque as crianças não tiraram a areia
dos pés e de dentro dos calções e maiôs, e a "patroa" coroa tudo com
um "eu não disse que seria melhor ter ido para a casa da mamãe em
Maricá?".
Se
escolher a Barra, teremos um programa sensacional, aguardado com ansiedade por
toda a família, pela fama daquelas praias de mar aberto, numa região ainda
pouco conhecida. Os preparativos se iniciaram ontem com consulta à previsão do
tempo e o preparo do farnel. No domingo de manhã nunca se conseguiu sair no
horário, seja por alguém que dormiu demais, seja porque a comida não ficou
pronta. O problema já começa com as primeiras discussões das crianças sobre
quem vai na janela, quem vai no meio. Enfim, a partida. Mal virada a esquina há
que voltar, pois a esposa não tem certeza se desligou o gás ou se apagou as
luzes e fechou as janelas. Tudo estava nos trinques, pode-se partir rumo ao
posto de gasolina para encher o tanque.
Começam
então as perguntas, constantemente repetidas: falta muito? Chegando à Barra um
engarrafamento monstruoso. Após quase uma hora para andar poucos quilômetros, a
batalha para se conseguir um local para estacionar. Afinal, uma vaga. Foi tal a
dificuldade que o marido nem se aborrece muito com a extorsão do flanelinha.
Colocado
aquele protetor de sol no para-brisa dianteiro e também no traseiro, todos para
a areia. Mal conseguiram colocar a barraca e as crianças já pararam o
sorveteiro, que cobra três vezes o preço normal. Ainda bem que há comida no
isopor, bem como refrigerantes e cervejas. Pasta de Lassar no nariz, Rayito de
Sol pelo resto do corpo.
Mamãe
recomenda aos pimpolhos muito cuidado, pois as ondas estão fortes. A briga que
era pela janela no carro agora é pela bóia de câmara de ar. Por fim faz-se um
sorteio e quem perdeu nem quer entrar na água e fica emburrado sentado junto à
barraca.
A
água está gelada, as ondas fortíssimas, a praia cheia, a esposa leva uma bolada
de frescobol, reclama, mas o marido deixa prá lá ao ver o tamanho dos
jogadores.
Voltando
para a barraca a família observa que tinham estendido toalhas quase dentro da
barraca deles. Nova discussão, chega prá lá, chega prá cá, “mal-educado”,
“grosso”, “esse pessoalzinho”, insultos vão e vêm.
Por
fim a hora de ir embora. Alguém esqueceu a sandália e a areia queima os pés. O
baldinho com água para lavar os pés chega quase vazio na calçada. Junto do
carro, o flanelinha já desapareceu e um pneu está furado. Palavrões! Troca-se o
pneu, entram no carro cuja temperatura interna está em uns 60º C. Nova briga
para ver quem vai na janela. O pai histérico porque não lavaram os pés nem
colocaram toalhas nos bancos, molhando o estofamento.
Mal
saem da praia a esposa começa a reclamar do jeito que o marido olhou a vizinha
de barraca, a morena de biquíni mínimo. Começa então a grande discussão do dia,
entre marido e mulher. As crianças, no banco de trás, cansadas e irritadas, se
estapeiam. Por fim chegam em casa e há um caminhão estacionado na porta da
garagem que impede a entrada e nenhuma vaga na rua.
Um
domingo perfeito!
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