Na
Zona Sul está desaparecendo este tipo de salão de barbeiro do tempo da máquina
manual ou elétrica, da navalha com lâmina afiada em tira de couro, sem muita
frescura. Hoje proliferam salões sofisticados, com barbeiros de luvas, toalhas
quentes, cremes para isto ou aquilo, oferecendo serviço de bar, com TV
gigantes, poltronas, etc. E com preços estratosféricos.
Daqueles
tempos me lembro de uma grande figura folclórica e muito interessante, o
Geraldo Fedulo de Queiróz. Torcedor fanático do Fluminense, foi candidato a
vereador nos anos 50 (acho que não se elegeu), era funcionário público (fiscal)
e tinha um orgulho todo especial pelo próprio bigode.
Tinha
uma atividade paralela (ou principal?), a de barbeiro, exercida em casas
particulares. Entre seus clientes estava o poeta Augusto Frederico Schmidt, em
cujo enterro Geraldo foi um dos oradores. Antes, em 21/04/1964, o “Jornal do
Brasil”, por ocasião do aniversário de Schmidt, reportava: “Em festa organizada
pelo Sr. Armando Falcão, Schmidt passou aos autógrafos até que uma voz explodiu
junto ao piano em números de canto. Era o seu barbeiro, Geraldo Fedulo, com
trinta anos de navalha em punho no exercício de um ritual diário em que espuma
e discussões política se misturam. Do canto ao discurso não demorou: o barbeiro
de Schmidt esgotou seu estojo de adjetivos rasantes, sob protestos do poeta”.
Geraldo, um “faz-tudo”, ainda aplicava insulina diariamente em Schmidt.
Conheci-o
porque também era o barbeiro de meu avô. Chegava todo mês, pela manhã, na nossa
casa da Barata Ribeiro, com sua mala de instrumentos. Subia a escadas dos
fundos até o 3º andar, onde vovô esperava-o no terraço para o corte que levava
horas, tanto que o Geraldo falava, contando histórias fantásticas.
De
vez em quando cortava o cabelo das crianças (de meus irmãos e meu). Vovô
gratificava-o com generosidade (lembro-me das queixas de minha avó sobre isto).
Fã
de Juscelino, durante a construção de Brasília se mandou para trabalhar lá e não
perdeu a oportunidade, como conta este artigo que encontrei na Internet: “At
the end of the speech, a Candango stood up and asked for permission to speak.
For a while, everybody was astonished, but the President smiled and asked the
unexpected orator to speak. The Candango introduced himself as Geraldo Fedulo
Queiroz, a popular poet and formerly the barber of Augusto Frederico Schmidt.
Geraldo explained that, when he found out about the construction of Brasília,
he left his job as barber and changed his scissors for rougher tools, becoming
one more worker in that anonymous army of good people who had built the
capital. Geraldo Queiroz spoke in the name of all Candangos, expressing their
joy for being present at that ceremony. He said that he had been following
Juscelino’s achievements since Juscelino was governor of Minas Gerais state and
mentioned some of JK’s accomplishments. This experience had made him certain
that Brasília would not remain a dream but would become a reality in short
time. And because he believed that and trusted Juscelino, he left everything,
as many others did, and helped to make the dream come true.”
O
“Correio da Manhã” de dezembro de 1965, na reportagem sobre a posse de João
Paulo do Rio Branco como Secretário de Turismo do Estado da Guanabara, cita
outro discurso do Geraldo: “Como homem do povo que deseja o verdadeiro turismo
para a GB, falar da família Rio Branco é falar das maiores e melhores coisas do
Brasil”
Eu
ficava fascinado com as histórias do Geraldo e discutíamos muito sobre futebol.
Bons tempos.
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