sábado, 9 de março de 2019

BAILE DE DEBUTANTES


 
As fotos de Carlos Moskovics, colorizadas estupendamente pelo mestre Reinaldo Elias, mostram as debutantes de 1944 na festa em benefício da Fundação Anchieta, realizada no Copacabana Palace. Acho que, no Rio, já não se existem bailes de debutantes.
Elsie Lessa escreveu uma saborosa crônica sobre as debutantes, que resumo abaixo:
“Começa-se com uns 16 anos de antecedência, está claro. Toma-se um “baby” bem-nascido, do sexo feminino, uma babá de véu e avental engomado, várias dúzias de latas de leite desidratado, um bom pediatra e um abecedário de vitaminas.
Ao fim de alguns meses pode-se abandonar o leite em pó, conservando-se a babá, o pediatra e as vitaminas. As viagens, se forem em hotéis e estações de águas de luxo, também não são contraindicadas.
Depois de alguns anos, conservando-se sempre o pediatra e as vitaminas, pode-se substituir a babá por uma governanta alemã, francesa ou inglesa. Em seguida, colégio de freiras e um pouco de dança clássica.
De todos esses esforços conjugados costumam resultar certas adolescências, vestidas de “tailleur” de tweed, a alva golinha esportiva enfeitando o “sweater” macio, o fiozinho invariável de pérolas miúdas no pescoço, o sapato de salto baixo, o cabelo descendo em ondas mansas até os ombros. Uma boniteza, enfim.
Quer estudar Direito, mas não para exercer a profissão, está claro. Louca por Tschaikowsky, leitora de Stefan Zweig, viagens à França, à Alemanha, à Dinamarca, à Inglaterra, à Suíça. Frequentadora da Americana (onde toma um “malted-mild”), do Country, de Petrópolis, acha Machado de Assis pessimista, Rebecca é um grande livro.
O moço que a ela gosta é outra boniteza, ombrão, paletó de camurça, cachimbo inglês. Guerra, bombardeio, fome e destruição, acontecem longe, na terra dos outros.
E todos os anos o mundo para um pouco, olha vocês, meninas de quinze anos. Sois um espetáculo que compensa, nos vossos tailleurs bem cortados, na seda macia das vossas cabeleiras, na alegria doce, meiga e irresponsável dos vossos dentes perfeitos.”
Assim Elsie descrevia as meninas de 15 anos que debutavam de vestido branco comprido no baile do Copacabana Palace.
Pela pesquisa que fiz acho que eram estas as debutantes de 1944:
Gilda Quadros Martins Ribeiro, Teresa Proença Pestana, Tute Burlamaqui, Yolanda Bouças, Lia e Ligia Galvão, Lucia Continentino, Dalila Costa Coelho, Tereza Correia do Lago, Elza Villela, Teresa Alencastro Guimarães, Maria Helena Lello.
PS: por que, na última foto, o cavalheiro à direita esconde o rosto do fotógrafo?

sexta-feira, 8 de março de 2019

BOTAFOGO





 
Vemos fotos do estádio do Botafogo projeto de Raphael Galvão, entre a Rua  General Severiano e a Avenida Venceslau Brás.
Uma das fotos foi colorizada pelo Conde di Lido. Nesta foto podemos ver, ao lado do campo, o prédio do Hospital Rocha Maia, inaugurado no período Passos, cujo terreno é do Botafogo Futebol e Regatas, algo que pouca gente sabe, pois o Dec. 289/36 dá ao Clube o aforamento de toda a área contígua ao seu campo, com a ressalva que a unidade de Saúde Pública ali existente permanecerá e, não sendo mais necessária, o domínio do terreno retornará ao Botafogo. Na realidade, toda a área antes do aforamento pertencia ao Ministério da Justiça que o cedia à Saúde e lá funcionou por anos o Desinfectório Distrital de Botafogo (Rua General Severiano nº 1), projeto do arquiteto Luiz Moraes Jr. O Desinfectório Central ficava na Rua do Resende nº 118, na Lapa.
Bem à direita desta foto colorizada a grande construção é a do Educandário Santa Therezinha, mantido pela Santa Casa e que tinha a função primordial de recolher e dar educação a órfãs abandonadas. O edifício foi projetado por Bitencourt da Silva e inaugurado em 1866. Com a saída da instituição religiosa, o prédio foi por muitos anos arrendado pelo colégio Anglo Americano, depois foi a Casa Daros e hoje é a badalada escola do Jorge Paulo Lehmann.
Em termos de urbanismo temos muitos pontos curiosos: logo na parte inferior da foto vemos que a rua General Severiano era servida por bondes, que aparentemente seguiam até a rua da Passagem.
A própria praça Juliano Moreira, tal como as construções que a envolvem, é completamente diversa de hoje, pois havia um grande número de casas no sopé do morro de São João, que certamente foram demolidas quando da “quaduplicação” do Túnel Novo. Hoje as fraldas do morro dão diretamente na rua, a praça também praticamente não existe mais, sobrando uma pequena nesga na frente da sede social do clube. Atrás das construções vemos uma escadaria e um pedaço de pista que certamente faziam parte do conjunto do Hospital dos Estrangeiros (ou dos ingleses). Constatamos também que a Av. Venceslau Brás possuía um canteiro central, com árvores e postes de iluminação. Onde hoje fica o Canecão era um grande terreno baldio (como já contou o Decourt há bastante tempo).
Quanto à terceira foto, do Acervo do Museu Aeroespacial, feita por fotógrafo da Escola de Aviação Militar, mostra o campo do Botafogo em 24/10/1950. Esta foto faz parte do excepcional livro "O Rio pelo alto", de P. Pamplona. Vemos o antigo campo por onde desfilaram alguns dos maiores craques do futebol brasileiro de todos os tempos. Tornei-me sócio do Botafogo apenas para poder assistir de perto aos jogos e treinos de Garrincha, Didi, Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo e tantos outros. Não existia ainda o Túnel do Pasmado.
O estádio foi inaugurado em 1913 e a última partida ali foi em 1974.
O edifício da sede do Botafogo foi projetado por Archimedes Memória e Francisque Cuchet, em 1927, e ainda sobrevive.
A primeira foto, em torno de 1960, é uma vista a partir do Túnel Novo. Podemos observar que o Túnel do Pasmado já fora aberto, mas a favela ainda permanecia lá.
A quarta foto é da revista O Malho.

quinta-feira, 7 de março de 2019

CENTRO



 
A Igreja da Ordem Terceira de N.S. do Monte do Carmo fica na Rua Primeiro de Março, no Centro. Estiveram envolvidos em seu projeto Manuel Alves Setúbal (1755), Frei Francisco Xavier Vaz de Carvalho (1755) e Manuel Joaquim de Mello Corte Real (1846).
O prédio é em estilo barroco jesuítico, imitando a Igreja da Ordem Terceira do Carmo da cidade do Porto.
 
Já a Igreja e Convento de N. S. do Monte do Carmo, ex-Catedral Metropolitana, é vizinha da anterior. Estiveram envolvidos em seu projeto Manuel Alves Setúbal (1761), Pedro Alexandre Cavroé (1816) e Raphael Rebecchi (1910).
 
O prédio também é em estilo barroco jesuítico, imitando a Igreja do Convento do Carmo, no Porto.


Em 1808 D. João VI transferiu para este local a sede da catedral. Foi Catedral Metropolitana até 1980.
Vemos uma região das mais antigas da cidade, o antigo Terreiro da Polé, conquistado ao mar, através de aterros. Originalmente o mar batia onde é hoje a Primeiro de Março. Neste aterro foi construído o Armazém Real e a Casa da Moeda. No século XVIII, o Conde de Bobadela constrói a Casa dos Governadores, que depois passa a ser o Paço Real e a seguir o Paço Imperial.
O conjunto está até hoje razoavelmente preservado.
Foto 1: cartão-postal de A. Ribeiro, coleção do Klerman Wanderley.
Foto 2: Leuzinger – século XIX.
Foto 3: foi garimpada pelo Julio Reis.

quarta-feira, 6 de março de 2019

QUARTA-FEIRA DE CINZAS




 
Com estas fotos dos carnavais de antigamente o SDR encerra as publicações do carnaval deste ano.
 
Dizem que é depois do carnaval que começa o ano. Tomara que assim seja e que este seja um ano de recuperação para o Rio, pois está muito precisado.
 
Antigamente a Quarta-Feira de Cinzas marcava acentuadamente o início da Quaresma, com seus períodos de jejum e abstinência de carne, além da "imposição das cinzas" para os seguidores desta religião.
 
Era dia também do bloco "Chave de Ouro", que vivia às turras com a Polícia, pois naquela época a Igreja Católica fazia muita pressão para que se respeitasse a Quarta-Feira de Cinzas.
 
Era também o dia em que os jornais voltavam a circular após o intervalo de Carnaval e saíam as edições da Fatos & Fotos, da Manchete e de O Cruzeiro, com fotos dos bailes e dos desfiles. Também era o dia em que eram liberados os detidos nas delegacias, presos durante a folia.
 
Fotos: colaboração de Nickolas Nogueira e Reinaldo Elias.
 
 

terça-feira, 5 de março de 2019

BLOCO DO EU SOZINHO






 
Um exemplo de persistência: Julio Silva, repórter, que a partir de 1919 e durante quase seis décadas, desfilou pela cidade com o "Bloco Carnavalesco do Eu Sozinho". Faleceu em 1979.
Num dos carnavais falou sobre a cinco melhores coisas que existem na vida, segundo ele: "Deus, Brasil, Flamengo, Família e Carnaval".
Tudo começou com um requerimento ao Delegado Aluisio Neiva: "Eu, Julio Silva, repórter da "Gazeta de Notícias", residente na Rua Prefeito Serzedelo nº 240, casa 4, vem requerer a V.S. licença para sair à rua com o Bloco do Eu Sozinho, composto unicamente pelo peticionista. Rio de Janeiro, 24 de janeiro de 1925.”

segunda-feira, 4 de março de 2019

BAILE DO MUNICIPAL




 
Antigamente o domingo de carnaval tinha como ponto alto o baile do Teatro Municipal. Um crime contra o patrimônio da cidade, na minha opinião. Depois do tombamento do teatro foi proibida a realização do baile neste local.
No seu auge, nas décadas de 1950 e 1960, o Baile do Municipal reunia o "high-society", convidados estrangeiros e muitos foliões da classe média. Rendia divertidíssimas entrevistas na TV Tupi ou na TV Rio, que improvisavam contratados seus para servir de intérprete. João Saldanha, jornalista e técnico de futebol, era um que se destacavam "falando" macarronicamente diversos idiomas.
Boa parte dos homens usava "summer", as mulheres iam produzidíssimas, o lança-perfume corria solto e o concurso de fantasias eram um grande sucesso. Em seus últimos anos era construída uma passarela por onde entravam os convidados, para delírio da turma de gargarejo. A Cinelândia ficava lotada.
Consta que o primeiro baile de carnaval no Rio aconteceu em 1840, no Hotel Itália. Nos primeiros tempos dançava-se especialmente a polca e as mocinhas fantasiavam-se de Gitanas, Rosas, Noite, Mouriscas, enquanto os homens de Jóquei, Satanás, Ministro, Contrabandista. Em 1932 foi criado o Baile dos Artistas no Hotel Phoenix, mas o grande acontecimento deste ano foi a realização do primeiro baile do Teatro Municipal.

domingo, 3 de março de 2019

CARNAVAL

 
 
 
Dois mestres da colorização: Nickolas Nogueira e Reinaldo Elias.
 
Dois grandes fotógrafos: Marcel Gautherot e Kurt Klagsbrunn.
 
Duas décadas: 1950 e 1960.
 
O carnaval, se comparado com os dias atuais, tranquilo e, talvez, mais ingênuo.
 
A primeira foto é de 1965 e vemos a Rua México nas vizinhanças da Rua Pedro Lessa. Ao fundo, podemos ver a figura de Carlos Lacerda em um dos carros alegóricos.
 
Na segunda foto vemos uma ousada passista exibindo as pernas.
 
A última foto é uma cena de um baile de carnaval na Boate Casablanca, na Praia Vermelha. Parece algo fora do lugar brincar carnaval de "smoking".