sábado, 3 de abril de 2021

DO FUNDO DO BAÚ - REVISTAS EM QUADRINHOS











 O "Do fundo do baú" de hoje foi enviado pelo prezado Helio Ribeiro que desafia os comentaristas a identificarem, apenas de memória, sem consultas ao Google e assemelhados, estes dez personagem das revistas de quadrinhos.

Para amanhã ele já mandou mais dez. 

Eu, como grande leitor de revistas de quadrinhos, acertei 95% dos vinte enviados. Vamos ver vocês.

sexta-feira, 2 de abril de 2021

BONDE BOCCA DO MATTO

Há muitos anos, nos tempos do provedor Terra, o “Saudades do Rio” comunicou que entraria de férias. Na ocasião, um caro amigo perguntou se podia criar o “Saudades do Rio – O Clone”, do AD (Administrador Desconhecido). Claro que autorizei e passamos a ter mais um excelente “fotolog” do Rio Antigo. A postagem de hoje foi feita lá e reproduzo o texto e alguns dos comentários feitos na ocasião. Fica a ideia de resgatar as melhores postagens daquele tempo e disponibilizar para os amigos amantes do Rio antigo.

Escreveu o A.D.: “Recebi essas imagens do colaborador Luiz de Lucca, a quem agradeço a gentileza. Reproduzo abaixo o email do Luiz:

"Prezado AD;

Seguem fotos para vc. publicar no "Saudades do Rio", se quiser. O motorneiro é o meu avô materno, num bonde da linha Boca do Mato, por volta das décadas de 1930 ou 1940.”

Helio Ribeiro comentou: “Esse modelo aparece muito nas fotos do Malta da década de 1920. É um modelo primitivo, sem proteção para o motorneiro, que ficava à mercê das intempéries. Trata-se de um carro motor pequeno (2 eixos). Havia também os médios (4 eixos), igualmente sem proteção para o motorneiro. Pelo tipo de algarismo do número de série (315), a foto foi tirada entre 1933 e 1937, porque antes de 1933 os algarismos tinham as bordas quadradas e após 1937 eles eram de tamanho bem menor. O Luiz de Lucca é um grande conhecedor dos bondes e seu site é um repositório formidável de dados, fotos e filmes sobre bondes. Sem contar suas extensões no YouTube e no MyVideo, onde ele compilou e fundiu trechos de muitos filmes em que aparecem bondes. Vale muito à pena visitar o site dele e as extensões.”

O Candeias, aliás aniversariante de hoje e a quem parabenizamos, comentou: “Viajei muitas vezes em bondes deste tipo. No final da linha abaixava-se a peça de madeira que aparece sobre a cabeça do menino e levantava-se outra igual do lado oposto. Uma vez uma delas caiu sobre minha cabeça e fez um grande estrago. Minha sorte foi não ter caído, pois o bonde estava andando. Cabeça dura a minha.”

O Helio disse que, além de baixar o travessão (a tal peça de madeira citada pelo Candeias), os bancos eram rebatidos em torno de um “pivot”, de modo que os passageiros ficassem de frente para o sentido de movimento do bonde.

Nos modelos mais modernos que os da foto, além de baixar o travessão, o estribo também era rebatido. Do lado oposto o travessão era suspenso e o estribo baixado. Tudo isso para evitar o embarque pelo lado "contramão". Mas nem sempre funcionava porque havia os rebeldes que insistiam em embarcar e saltar pelo lado "interditado".

A Cristina Coutinho fez um comentário interessante: “Quanto ao local, Boca do Mato, apesar de nunca ter ido, conheço pela personagem Tia Zulmira, de Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta) que lá morava. Também conheci um senhor cego que trabalhava na Biblioteca Estadual na Presidente Vargas e que morava neste lugar. Para mim era inacreditável que uma pessoa cega viesse sozinha de um lugar da ficção e tivesse que transitar pela Presidente Vargas. Nesta época não havia mais bondes e o senhor cego enfrentava mesmo eram os ônibus.

O saudoso ETIEL disse: “Bonde nº 87 - Boca do Mato. Da estação do Meyer (lado Dias da Cruz) até Rua Aquidabã, onde retornava. Por ali, também, era o ponto de retorno do bonde 75 - Lins de Vasconcellos. Vocês estão me ativando lembranças cinqüentenárias: Vilella Tavares, Hospital Naval Marcílio Dias, Maternidade Carmela Dutra, Pedro de Carvalho etc. Além, óbvio, do sempre lembrado refúgio da macróbia Zulmira.”

 O próprio Lucca complementou: “Quase isso, Etiel. Sim, o ponto final do Meyer era na altura da Estação, lado Dias da Cruz, bem em frente ao antigo "Café Londres" (creio que hoje seja outro estabelecimento comercial, mas não sei ao certo). Mas ia além da Aquidabã. Da Dias da Cruz, virava à esquerda, para a Pedro de Carvalho (onde, na época, ficava, se não me falha a memória, a Liga dos Cegos), até a esquina da Aquidabã, entrando nesta e percorrendo toda a sua extensão, até dobrar à direita, entrando na Maranhão, percorrendo também toda a rua, terminando na esquina com a Dias da Cruz, de onde retornava. Detalhe: o trecho final - Aquidabã e Maranhão - era em linha singela. O ponto final da linha do Lins era realmente por ali, se não me engano na esquina de Pedro de Carvalho com Aquidabã.”

UNTISAL é o remédio anunciado na frente do bonde. Pesquisando na Internet dá para perceber que o remédio servia para tratar a transpiração, o reumatismo e qualquer outra coisa desde unha encravada a câncer...

Molde da propaganda estampada no cartaz do bonde.



 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

RESTAURANTE CASTELO DA LAGOA - CHICO´S BAR

Nesta foto do húngaro Gyorgy Szendrodi vemos o restaurante Castelo da Lagoa, do Chico Recarey, sócio de Pedro Gonzalez Mendes, segundo o JB. O endereço era Av. Epitácio Pessoa nº 1560, Lagoa, telefone 2523-3514 (150 lugares). Das 18h ás 3h30, de terça a domingo. Cc.: todos. A foto é de 1970 ou 1971.

O Castelo da Lagoa era um bom restaurante, inaugurado em 1970. A decoração foi de Luís Lopes e tinha caricaturas de Juarez Machado. A equipe inicial contava com os “maitres” Ricardo e Martins, tendo como chefe de cozinha Eduardo. Tinha mesas espaçadas, apresentava o cardápio em português, francês e espanhol, com uma variedade enorme de pratos (o que nunca é bom sinal). Na década de 1990 com os problemas enfrentados por Chico Recarey o complexo restaurante/bar foi fechado e o prédio demolido.

A casa da esquina da Rua Joana Angélica, rua que na época da foto tinha mão da lagoa para a praia, ao contrário de atualmente, ainda permanece lá, mas o terreno do demolido Castelo da Lagoa permanece vazio há alguns anos. Certamente um “imbróglio” familiar. Salvo engano pertencia ao empresário Benjamin Rangel. A casa da esquina é uma das últimas deste trecho da Lagoa.


 

Em meados dos anos 70 foi inaugurado o Chico´s Bar. Durante muitos anos teve como pianista o consagrado Luizinho Eça. Muitos cantores se apresentaram lá, como Leny Andrade (nos últimos tempos tinha um artista que tocava violão muito bem, mas esqueci o nome). A foto é da capa do LP “Chico´s Bar - Sivuca e Toots Thielemans” tirada na entrada do Chiko's Bar, anexo ao Restaurante Castelo da Lagoa em 1985/1986.


quarta-feira, 31 de março de 2021

IGREJA ANGLICANA

A imagem de hoje, garimpada pelo JBAN, mostra a Igreja Anglicana (Templo dos Ingleses) na Rua Evaristo da Veiga, na década de 1920. Podemos ver no canto esquerdo da foto, uma nesga da atual Câmara Municipal da Cidade do Rio de Janeiro (Palácio Pedro Ernesto). À direita, fora da foto, a Rua 13 de Maio e o Teatro Municipal.
No local do templo e dos sobrados à direita, existe hoje o Edifício Municipal.

A Igreja Anglicana, levantada pela colônia inglesa do Rio, no século XIX (foi a primeira deste culto na América do Sul) ficou neste local até 1942. Hoje está na Rua Real Grandeza, em Botafogo.

Foi construída em 1819 através de um acordo de amizade entre Portugal e Inglaterra. Foi o primeiro templo não-católico oficialmente construído no Brasil. Na mesma época foi construído o Cemitério dos Ingleses, na Gamboa.

Esta foto foi enviada pelo Helio Ribeiro. A pedra fundamental da capela dos ingleses foi lançada em 1819, na entrada da Rua dos Barbonos (atual Rua Evaristo da Veiga), no pátio da casa que foi do Bispo José Joaquim Justiniano de Mascarenhas Castello Branco. A construção deste primeiro templo protestante no Rio deve-se, conforme conta Dunlop, à permissão contida no Tratado de Amizade e Comércio, que no art. 12 preceituava: "Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal declara e se obriga no seu próprio nome e no de seus herdeiros e sucessores a que os vassalos de Sua Majestade Britânica, residentes nos seus Territórios e Domínios, não serão perturbados, inquietados, perseguidos ou molestados por causa de sua Religião, mas antes terão perfeita liberdade de consciência e licença para assistirem e celebrarem o serviço divino em honra do Todo Poderoso Deus, quer seja dentro de suas casas particulares, quer nas particulares Igrejas e Capelas que Sua Alteza Real agora e para sempre graciosamente lhes concede a permissão de edificarem e manterem dentro de seus domínios e conquista, contato que as sobreditas capelas sejam construídas de tal maneira que exteriormente se assemelhem a casas de habitação e também que o uso de sinos não lhes seja permitido."

Foto do Arquivo Brício de Abreu / Brasiliana Fotográfica.  Fotógrafo: desconhecido. Muito interessante o edifício art-déco na esquina da Evaristo da Veiga com a Senador Dantas, onde hoje é um Bradesco. A capela foi remodelada no final do século XIX segundo planos do arquiteto Jannuzzi. Na década de 1940 a igreja mudou para uma magnífica propriedade na Rua Real Grandeza, em Botafogo, sucumbindo à construção de arranha-céus no Centro.

 

 

terça-feira, 30 de março de 2021

RUA BARATA RIBEIRO Nº 568

Esta foto, garimpada pela Conceição Araújo, mostra um dos belos tipos de construcção da Companhia Territorial e Constructora Casa Bancária, situada na Rua de São Pedro nº 61, edificado a Rua Barata Ribeiro nº 568, Copacabana, residência do Dr. Teodorico Santiago. A foto é da revista “A Casa”. Ficava bem na esquina das ruas Barata Ribeiro e Raimundo Correa. Teve existência curta, pois logo foi demolida.

Nesta foto de meu acervo, datada de 1929, vemos as meninas Lia (sem óculos) e Cecília (de óculos), num triciclo na calçada da Rua Barata Ribeiro. Lia, perto dos 100 anos, continua com ótima saúde. Vemos, ao fundo e à esquerda, o edifício que estava sendo construído no lugar da casa do Dr. Teodorico Santiago.


O que surpreende é que, como vemos nesta imagem do Google Maps, o prédio continua lá (à esquerda, após o ônibus, ao lado da casa que abriga a Julio Bogoricin Imóveis). Até meados dos anos 50 toda esta quadra tinha apenas dois edifícios altos. Hoje temos apenas duas construções baixas: esta cita e a antiga residência do Dr. Horácio Falcão, bastante desfigurada, transformada em agência do Banco Itaú, bem em frente à Julio Bogoricin. O tapume também já não existe, pois foi construído em seu lugar o prédio do Royalty Rio Hotel.


segunda-feira, 29 de março de 2021

LAGOA - CATACUMBA

Vemos fotos da Favela da Catacumba, na Lagoa. Os primeiros casebres apareceram na década de 30, mas o verdadeiro crescimento se deu em 1942 com a chegada de uma leva de migrantes vindos do Maranhão. Gradativamente, a mata foi sendo derrubada para dar lugar a casas e barracos. A aglomeração urbana, que parecia uma massa uniforme para um desatento, estava dividida em três partes: Passarinheiro, Maranhão e Café Globo.  Havia dois campos de futebol onde, durante a semana, as lavadeiras punham roupas a secar. Roupas estas oriundas, em grande maioria, de moradores dos novos edifícios construídos perto do Corte do Cantagalo no fim da década de 50.

Os campos de futebol eram do Juventude Atlético Clube (cuja sede era aquela construção branca, à esquerda, que ficava perta do Posto Policial, da escola do Lions e da pequena igreja) e do Brasil Novo. Convidado habitual para jogar era o time Sete de Setembro, da Cruzada São Sebastião.

As lavadeiras pegavam as roupas nas residências, faziam o rol da roupa suja em duas vias (uma ia com elas e a outra ficava na casa dos contratantes do serviço), dias depois voltavam com suas trouxas na cabeça e entregavam as roupas lavadas e passadas.

Nesta bela colorização do Reinaldo Elias vemos o ônibus elétrico da linha 16, Largo do Machado-Ipanema, via Copacabana (circular). Ele tinha um "irmão", o Largo do Machado-Ipanema, via Botafogo, que fazia o percurso inverso, na linha E-15. Estas duas linhas eram as únicas que atendiam a Lagoa (da Rua Montenegro, atual Vinicius de Morais, até a Rua Fonte da Saudade).

A Lagoa, nesta época, tinha um tráfego muito reduzido, pois o Túnel Rebouças só seria aberto em 1967. Na década de 1960 havia um grande número de colégios em Botafogo (Santo Inácio, Santa Rosa, Jacobina, Brasil-América, Pedro II, Padre Antonio Vieira, Resende, Virgem de Lourdes, Andrews, Anglo-Americano, Imaculada Conceição, etc) e quase todos os alunos que moravam em Ipanema e Lagoa usavam este ônibus. Como o trajeto era relativamente pequeno, estas linhas tinham poucos veículos e conhecíamos os motoristas.

Os ônibus elétricos foram um salto de qualidade no transporte da época. Eram padronizados, novos e só trafegavam com as portas fechadas, parando somente nos pontos - uma raridade na época, onde os demais ônibus e lotações paravam em qualquer lugar e pareciam cair aos pedaços. O motorista e o cobrador trabalhavam uniformizados, com camisa de manga comprida e gravata. Era gostoso escorregar no couro lustrosíssimo dos bancos ônibus elétricos. Quando o ônibus entrava na curva a gente suichhhhh, deslizava às gargalhadas. 

Os "trolleys" passavam pela Favela da Catacumba onde entravam os operários, porteiros, empregadas domésticas, que iam para o trabalho (nunca presenciei nenhum assalto ou qualquer incidente, embora os jornais, de vez em quando, no tempo dos lotações "Castelo-Leblon", noticiassem alguns assaltos. A zona mais próxima a Ipanema era chamada de Passarinheiro, a do meio conhecida por Maranhão e a terceira, mais perto da Curva do Calombo, era chamada de Café Globo. O acesso a favela da Catacumba se dava por 15 entradas que levavam às suas 1500 casas, 80% das quais de madeira. Lembro de um simpático morador, muito forte, que levava uma caixa de ferramentas onde sobressaía um enorme serrote, e que sempre cumprimentava a nós todos. Pena que em pouquíssimo tempo os ônibus elétricos começaram a apresentar problemas, principalmente a queda dos "chifres", ocasionando muitos transtornos. Logo foram abandonados, num processo já muito discutido aqui no "blog".


Este fotograma, enviado pelo GMA, é curioso. Vemos o fusca na contramão na antiga pista Botafogo-Ipanema. A placa no poste parece ser a de parada de ônibus elétricos. Estacionado temos um Aero-Willys. Por não haver nenhum trânsito imagino que a Av. Epitácio Pessoa estivesse interditada para uma filmagem ou houvera algum desabamento que tenha interditado a outra pista, direção Ipanema-Botafogo, e o trânsito estivesse sendo feito somente por esta pista, ora num sentido, ora no outro.

Contava o “Correia da Manhã”, em 1951, que a Prefeitura programava a transformação da Favela da Catacumba num grande edifício, de forma longitudinal, a fim de abrigar os favelados. Cada unidade seria alugada, por um valor proporcional ao salário médio dos que ali moravam. O prédio principal teria à frente, em plano inferior no terreno, outros edifícios, para serem vendidos a segurados dos institutos e outras autarquias. Entendia o Prefeito João Carlos Vital ser contraproducente a venda de moradias aos favelados face ao pouco poder aquisitivo. Nada disso foi adiante. A favela permaneceu até o final dos anos 60 quando foi desalojada durante a política de remoção de Lacerda e Negrão de Lima e os barracos queimados. Em parte do local existe hoje o belo Parque da Catacumba.