Vemos fotos da Favela da Catacumba, na Lagoa. Os
primeiros casebres apareceram na década de 30, mas o verdadeiro crescimento se
deu em 1942 com a chegada de uma leva de migrantes vindos do Maranhão.
Gradativamente, a mata foi sendo derrubada para dar lugar a casas e barracos. A
aglomeração urbana, que parecia uma massa uniforme para um desatento, estava
dividida em três partes: Passarinheiro, Maranhão e Café Globo. Havia dois campos de futebol onde, durante a semana, as
lavadeiras punham roupas a secar. Roupas estas oriundas, em grande maioria, de moradores dos
novos edifícios construídos perto do Corte do Cantagalo no fim da década de 50.
Os campos de futebol
eram do Juventude Atlético Clube (cuja sede era aquela construção branca, à esquerda, que ficava perta do Posto Policial, da escola do Lions e da pequena igreja) e do Brasil Novo. Convidado habitual para
jogar era o time Sete de Setembro, da Cruzada São Sebastião.
As lavadeiras pegavam as roupas nas residências, faziam o rol da roupa suja em duas vias (uma ia com elas e a outra ficava na casa dos contratantes do serviço), dias depois voltavam com suas trouxas na cabeça e entregavam as roupas lavadas e passadas.
Nesta bela colorização do Reinaldo Elias vemos
o ônibus elétrico da linha 16, Largo do Machado-Ipanema, via Copacabana
(circular). Ele tinha um "irmão", o Largo do Machado-Ipanema, via
Botafogo, que fazia o percurso inverso, na linha E-15. Estas duas
linhas eram as únicas que atendiam a Lagoa (da Rua Montenegro, atual Vinicius
de Morais, até a Rua Fonte da Saudade).
A Lagoa,
nesta época, tinha um tráfego muito reduzido, pois o Túnel Rebouças só seria
aberto em 1967. Na década de 1960 havia um grande número de colégios em
Botafogo (Santo Inácio, Santa Rosa, Jacobina, Brasil-América, Pedro II, Padre
Antonio Vieira, Resende, Virgem de Lourdes, Andrews, Anglo-Americano, Imaculada
Conceição, etc) e quase todos os alunos que moravam em Ipanema e Lagoa usavam
este ônibus. Como o trajeto era relativamente pequeno, estas linhas tinham
poucos veículos e conhecíamos os motoristas.
Os ônibus
elétricos foram um salto de qualidade no transporte da época. Eram
padronizados, novos e só trafegavam com as portas fechadas, parando somente nos
pontos - uma raridade na época, onde os demais ônibus e lotações paravam em
qualquer lugar e pareciam cair aos pedaços. O motorista e o cobrador trabalhavam
uniformizados, com camisa de manga comprida e gravata. Era gostoso escorregar
no couro lustrosíssimo dos bancos ônibus elétricos. Quando o ônibus entrava na
curva a gente suichhhhh, deslizava às gargalhadas.
Os "trolleys" passavam pela Favela da Catacumba onde entravam os operários, porteiros,
empregadas domésticas, que iam para o trabalho (nunca presenciei nenhum assalto ou
qualquer incidente, embora os jornais, de vez em quando, no tempo dos lotações "Castelo-Leblon", noticiassem alguns assaltos. A zona mais próxima a Ipanema era
chamada de Passarinheiro, a do meio conhecida por Maranhão e a terceira, mais
perto da Curva do Calombo, era chamada de Café Globo. O acesso a favela da
Catacumba se dava por 15 entradas que levavam às suas 1500 casas, 80% das quais
de madeira. Lembro de um simpático morador, muito forte, que levava uma caixa
de ferramentas onde sobressaía um enorme serrote, e que sempre cumprimentava a
nós todos. Pena que em pouquíssimo tempo os ônibus elétricos começaram a apresentar problemas, principalmente a queda dos "chifres", ocasionando muitos transtornos. Logo foram abandonados, num processo já muito discutido aqui no "blog".
Este
fotograma, enviado pelo GMA, é curioso. Vemos o fusca na contramão na
antiga pista Botafogo-Ipanema. A placa no poste parece ser a de parada de
ônibus elétricos. Estacionado temos um Aero-Willys. Por não haver nenhum trânsito imagino que a Av. Epitácio Pessoa estivesse interditada para uma filmagem ou houvera algum desabamento que tenha interditado a outra pista, direção Ipanema-Botafogo, e o trânsito estivesse sendo feito somente por esta pista, ora num sentido, ora no outro.Contava o “Correia
da Manhã”, em 1951, que a Prefeitura programava a transformação da Favela da
Catacumba num grande edifício, de forma longitudinal, a fim de abrigar os
favelados. Cada unidade seria alugada, por um valor proporcional ao salário
médio dos que ali moravam. O prédio principal teria à frente, em plano inferior
no terreno, outros edifícios, para serem vendidos a segurados dos institutos e
outras autarquias. Entendia o Prefeito João Carlos Vital ser contraproducente a
venda de moradias aos favelados face ao pouco poder aquisitivo. Nada disso foi
adiante. A favela permaneceu até o final dos anos 60 quando foi desalojada durante a política de remoção de Lacerda e Negrão de Lima e os
barracos queimados. Em parte do local existe hoje o belo Parque da Catacumba.