quinta-feira, 8 de julho de 2021

RELÓGIO DA GLÓRIA

O relógio da Glória foi inaugurado no governo Passos para arrematar as obras de aterro da velha Praia da Lapa, criando a Av. Beira Mar, e embelezando a velha amurada construída pelo Marques do Lavradio com balaústres retirados da Praça Tiradentes. Possui até hoje o seu maquinário original, algo muito raro, e que em qualquer lugar do mundo seria tratado com reverência.

Conta Dunlop que, como não havia eletricidade no bairro ainda, quando o relógio foi instalado no início do século XX, a Prefeitura apelou para a Cia. Ferro Carris do Jardim Botânico. Entretanto, a Companhia verificou que todo o dispositivo do relógio foi estabelecido de maneira a receber subterraneamente a corrente, o que diferia do modo pelo qual a eletricidade chegava aos bondes.

Querendo colaborar com a Prefeitura, mas resguardando seus interesses, mandou a seguinte comunicação: "Para não atrapalhar a inauguração a Empresa fará uma exceção, em caráter provisório, uma vez que fique estabelecido que se houver algum transtorno na nossa linha, resultante da derivação subterrânea de energia elétrica para aquele ponto, reserva-se a Companhia o direito de desligar a corrente, avisando-vos, oportunamente, para que vos digneis providenciar a fim de que seja feita de outra qualquer maneira a iluminação do referido relógio.". Ou seja, está aí um dos primeiros "gatos" elétricos da história do Rio de Janeiro. 

Cartão Postal, da Casa Staffa, que circulou por volta de 1905, mostrando a Rua da Glória e o relógio de quatro mostradores, ainda hoje existente. Ao fundo, a Igreja de N.S. da Glória do Outeiro. Na legenda podemos ler "Caes da Glória".

Belíssima pintura de Gustavo Dalla 'Ara. Possivelmente esta cena retrata um "promenade” domingueiro. 


Reparem o belo banco de granito incrustrado na base do relógio, sem dúvida ali planejado para os que marcaram encontros no relógio pudessem sentar e esperar descansando um pouco. Sem dúvida um singelo detalhe de uma época onde o tempo corria de forma mais lenta e essa região era bem mais agradável. Atualmente as pichações agridem o pedestal do relógio, mas os motoristas do ponto de táxi do outro lado da rua ainda se sentam no banco para descansar.

 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

VISTA CHINESA

Um dos pontos mais bonitos para se ver o Rio é da Vista Chinesa. Levei até lá á uns três anos um casal de amigos espanhóis que vieram conhecer o Rio e ficaram deslumbrados. Acrescento que o local contava com a segurança de uma viatura da Polícia e havia muitos turistas.

Esta foto, dos anos 50, mostra o pavilhão construído no período de Pereira Passos, na Estrada Dona Castorina, hoje local de um enorme tráfego diário de ciclistas, entre os quais o prezado JBAN.

Panorama do Rio de Janeiro tomado da Vista Chinesa em 1869. Óleo sobre tela de Nicolau Facchinetti.


O pavilhão foi construído no início do século XX, com projeto de Luiz Rey, em argamassa imitando bambu.

Foto dos anos 30, com o Corcovado ainda sem a estátua do Cristo.


O pavilhão foi construído para homenagear a imigração chinesa, ocorrida ainda no século XIX para a introdução da plantação de chá no Brasil. Tempos depois outro grupo veio para cultivar arroz. Ambas fracassaram.

terça-feira, 6 de julho de 2021

BOATE ARPÈGE - LEME

A Boate Arpège, no Leme, era uma das muitas que havia nas regiões de Copacabana e Leme, como a Vogue, a Drink, a Mocambo, a Zum-Zum, a Cangaceiro, a Balaio, a Le Bateau, a New Jirau, entre outras. Ficava na Rua Gustavo Sampaio nº 840-A, no Leme, e seu telefone era 57-7788.

Foi propriedade de Waldir Calmon, famoso condutor de orquestra de bailes de gala no Rio, junto com seu sócio Mauricio Lanthos. Funcionou até 1967. 

A Boate Arpège funcionou de 1955 a 1967. Este é o anúncio do primeiro show, com Waldyr Calmon, Diamantina Gomes (esposa e crooner), Steve Bernard no órgão Hammond e Louis Cole. Em 1967 arrendou a boate Arpège, segundo consta por desentendimentos com o sócio, e passou a atuar em bailes e a fazer excursões. 

A história do órgão é curiosa. Uma empresa trouxe o órgão para o Brasil e conseguiu vender um para o Copacabana Palace. Só quem sabia tocar órgão era o Steve Bernard. Depois o órgão foi vendido para o João Calmon, que o levou para a TV. Como ninguém sabia tocar, contrataram o Steve Bernard. Depois o órgão foi para Waldyr Calmon que se sentou no banquinho e viu que não sabia tocar. Resultado: contratou o Steve Bernard para a Arpège...

 Já o piano do Waldyr foi comprado do genro de Marechal Dutra, Mauro Renault Leite (como o mundo é pequeno cheguei a trabalhar no Hospital da Cruz Vermelha com o irmão dele, o bom cirurgião Moacir Renault Leite). 

O impecável porteiro da Arpège. No mesmo endereço já havia funcionado o Rose Garden e o Mandarim, que não deram certo. No início dos anos 60 a Arpège tinha como contratados gente como Lucio Alves, Doris Monteiro e João Gilberto. Foi nesta boate que dois amigos de Tom se conheceram e formaram uma das maiores parcerias da música brasileira: Baden e Vinicius.

Linda Batista, Chico Buarque de Holanda, Wilson Simonal, Renato e seus Blue Caps, Ed Wilson, Odete Lara, Ary Barroso , Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Trio da Lua, Juca Chaves, Ary Toledo e Gilberto Gil, foram alguns artistas que se apresentaram na Arpège.

Nos primeiros tempos o conjunto de Waldyr Calmon era formado por Paulo Nunes (guitarra), Milton Banana (bateria), Eddie Mandarino e Rubens Bassini (percussão), Gagliardi (contrabaixo), com ele ao piano. Não sei se a foto é desta época e se os músicos são os citados. Tempos depois Miltinho fez grande sucesso por lá.


Waldyr Calmon lançou mais de uma dezena do “Feito para dançar”. Seus discos tocavam em todas festinhas dos anos 60. 

Segundo um comentarista veterano do SDR, “Waldyr Calmon produzia uma música agradável e fácil de dançar. O dançarino não podia pensar em passos complicados, pois tinha apenas 3 minutos para tentar ganhar simpatia da partner. O passo seguinte era tentar combinar um encontro na praia, no dia seguinte. Vencendo a timidez, fazia, então, uma pergunta codificada, que a dama compreendia imediatamente. Apenas isso: Onde você costuma ir? Traduzindo: Quero saber em que trecho da praia você costuma ir (no dia seguinte, que certamente seria domingo). A dama respondia com economia de palavras, porque dispunham apenas dos 3 minutos. Dizia assim: Constante ou Bolivar. Isto queria dizer que o trecho dela era na areia da praia em frente a uma das ruas transversais. O candidato à atenção da mocinha, no dia seguinte com Gumex no topete, um pente Flamengo enfiado na lateral do calção e uma pequena toalha no pescoço aparecia no trecho mencionado. Já a resposta que o rapaz temia era: Amanhã não estarei no Rio, pois vou para Petrópolis, ou pior: Não gosto de praia. Então, o negócio era o candidato a Don Juan, partir para outra, na próxima música.”

segunda-feira, 5 de julho de 2021

CANECO 70

Inaugurado em 03 de junho de 1971 na Av. Delfim Moreira nº 1026, na esquina da Rua Rainha Guilhermina, no Leblon, o “Caneco 70” fez sucesso por mais de 30 anos. Em 2006 fechou as portas quando foi comprado pela construtora CHL para dar lugar a mais um edifício no Leblon. 

À época de sua inauguração a estação telefônica ainda era a 247, mudando após para a 294. Este anúncio do JB destaca as qualidades do local. Era realmente um bom local para um tranquilo chopinho e bate-papo.


Em foto de Gyorgy Szendrodi, de 1971, vemos o “Caneco 70”, ainda na sua primitiva forma, que por décadas foi um dos mais agradáveis lugares de se beber um chope na orla de forma tranquila, sem ser importunado por tocadores de música, vendedores de bilhete de loteria, etc. Só quem entrava no bar era o famoso “Funéreo”, vendedor de rosas que rodava todos os bares do Leblon com sua cesta de rosas que, segundo a lenda, eram colhidas no São João Batista.

Especialistas com olhos de lince identificaram na foto uma Alfa Romeo Giulia 1600, anos 60, um Opel Kadett anos 60, um TC Azul, alguns Opala e um carro azul e branco talvez um  Plymouth 58 dos modelos mais simples, talvez um Savoy ou Belvedere. Ainda há  um carro azul com teto branco atrás do FNM 2150 branco que deve ser um Chevy 56. Também um Fusca vermelho (1º carro à esquerda da foto, estacionado na calçada em frente ao Karman-Ghia).

Já em fase de demolição, em foto do Rafael Netto, vemos o painel comemorativo dos três primeiros campeonatos mundiais conquistados pelo Brasil.

Em outra foto do Rafa vemos o “Caneco 70” já com as portas fechadas.


 Em foto do Rouen vemos o “Caneco 70” em 1979. Ali pontificava o gerente Pontes, mais conhecido como “Tancredo”. Na semana que precedeu ao fechamento houve uma chopada de despedida do pessoal dos FRA – Fotologs do Rio Antigo. Naquela noite desabou um temporal digno do 5º ato de Rigoletto, como diria Nelson Rodrigues. Compareceram apenas dois comentaristas do “Saudades do Rio”, além de duas intrépidas tias que ali comentavam – não seria uma “chuvinha” que iria atrapalhar a ida delas.

A dúvida é se este Puma é um que ficou vermelho de vergonha do próprio estado e hoje em dia desfila todo garboso por aí, com um francês ao volante, depois de uma bela plástica.