O Rio
tem um grande número de personagens folclóricas, polêmicas ou lendárias. Uma
delas aparece hoje por aqui.
A
legenda desta fotografia do arquivo da Última Hora é "Delegado Padilha na
inspeção do trânsito em 52". O policial, do qual alguns colegas falam
muito bem (outros nem tanto), retratando-o como um homem sério e comprometido
com o cumprimento da lei, sem medo de enfrentar os poderosos, nesta época tinha
sido deslocado para o Serviço de Trânsito. Não ficava trancado no gabinete, mas
ia para a rua e tomava as providências necessárias.
Anteriormente
o delegado Padilha tinha se notabilizado como defensor dos bons costumes, sendo
parte do folclore carioca a história de que prendia os então chamados de
"transviados", homens que usavam calças muito justas (usava o
"teste da laranja ou do limão").
Na
foto, além dos lotações, sendo um deles da conhecida linha "Estrada de
Ferro - Leblon", vemos uma praticamente desaparecida motocicleta com
"side-car". Atrás do guarda com o antigo uniforme dos guardas de
trânsito vemos o jipe do jornal "Última Hora".
Na
época da foto o tráfego de veículos era controlado pela Delegacia de Trânsito
Público, subordinada à Secretaria de Justiça e Segurança Pública. Ou seja: o
trânsito era fiscalizado pela Polícia Civil. Os Detrans foram criados em 1966
por lei federal. Na época da criação do Detran carioca, o Lacerda chamou para
trabalhar no novo órgão antigos funcionários da Panair, que havia sido fechada
poucos meses antes.
Padilha
começou na policia nos anos 40 sendo um policial comum passando por vários
distritos. Na década de 50, mais precisamente em 1951 ele foi nomeado para
combater a prostituição da cidade. Padilha não era fácil. Ele percorria a
cidade de Norte a Sul com sua equipe sendo o terror das prostitutas e também
dos casais de namorados. Ele era tão intransigente que foi deposto desse cargo
por interferência do Presidente da Republica, pois a imprensa carioca
pressionava para isso.
Em 1952, Padilha voltou à ativa quando foi nomeado para chefiar o Serviço
Secreto de Trânsito (que nome louco), que havia sido criado por ele e pelo
General Ciro, que era Chefe da Polícia. Padilha em seu escritório recebia
telefonemas com queixas sobre abusos de motoristas de táxis, carros
estacionados em local proibido, contra lotações, etc. Ele anotava tudo mandava
prender o motorista e rebocar o carro. Geralmente saia do escritório e
percorria pontos de táxi onde prendia, rebocava carros, etc.
Na
foto Padilha, de branco, impecável, multa um lotação.
Padilha era tão temido e tão famoso que acabou virando samba de autoria de Moreira
da Silva, Bruno Gomes e Ferreira Gomes, chamado “Olha o Padilha!”.
Pra se topar uma encrenca
basta andar distraído
que ela um dia aparece
não adianta fazer prece
eu vinha anteontem lá da gafieira
com a minha nêga Cecília
quando gritaram "olha o Padilha!"
Antes que eu me desguiasse,
um tira forte e aborrecido me abotoou
e me disse: "tu és o Nonô, hein!",
mas eu me chamo Francisco
trabalho como um mouro, sou estivador,
posso provar ao senhor...
Nisso um moço de óculos ray-ban
me deu um pescoção,
bati com a cara no chão.
E foi dizendo: "eu só queria saber
quem disse que és trabalhador...
tu é salafra e achacador!
E essa macaca ao teu lado
é uma mina mais forte que o Banco do Brasil,
eu manjo ao longe esse tiziu"
e jogou uma melancia
pela minha calça a dentro
que engasgou no funil...
Eu bambeei e ele sorriu.
Apanhou uma tesoura e o resultado
da operação
é que a calça virou calção.
Na chefatura um barbeiro sorridente
estava à minha espera.
Ele ordenou: "raspa o cabelo dessa fera!".
Não está direito, seu Padilha,
me deixar com o côco raspado
eu já apanhei um resfriado
isso não é brincadeira
pois o meu apelido era Chico Cabeleira..
(Não volto mais na gafieira,
ele quer ver minha caveira...
eu, hein, se eu não me desguio a tempo
o homem me raspa até as axilas!)
No samba, para exagerar,
foi trocada a laranja pela melancia...
Notícia do Correio da Manhã de
1952 Edição 18310 (para os que duvidaram da existência do Serviço Secreto de
Trânsito...).