sábado, 12 de março de 2022

PRAIA VERMELHA

Em mais uma foto garimpada pelo Nickolas Nogueira vemos a Praia Vermelha.

Segundo Claudia Gaspar conta em seu magnífico “Orla Carioca”, citando Rosa, 1905, p.8, “As arêas quartzosas que cobrem esta praia provêm da decomposição de gneiss ferruginoso e d´haí o oxydo de ferro que as tinge de vermelho. E também de granadas almandinas e numerosos granulosinhos pretos e opacos de ilmenito ou ferro titanado”.

Claudia Gaspar ainda assinala que alguns estudiosos acreditam que a área onde se situa a Praia Vermelha outrora foi ligada à Enseada de Botafogo, fazendo do Pão de Açúcar e do Morro Cara de Cão uma ilha. A Praia Vermelha seria apenas um canal entre os morros da Urca e da Babilônia.

Nesta  foto da revista Manchete vemos a Praia Vermelha de outro ângulo. Podemos observar que, à esquerda, ainda está de pé o prédio da Faculdade Nacional de Medicina, posto abaixo numa decisão absurda do Governo da época. Nem mais vou comentar sobre isto, tantas as vezes que já escrevos por aqui.

A Praia Vermelha era local de passeio quase diário para nós, alunos da FNM. Após o almoço no "bandejão" da faculdade ou de um sanduíche no Bar Laguna, esperávamos o começo do turno da tarde na Praça General Tibúrcio.


Esta foto já foi publicada no antigo "Saudades do Rio" e é de autoria de José Medeiros. A repetição aqui é porque agora foi estupendamente colorizada pelo Reinaldo Elias. Vemos a cantora Dulce Nunes, na década de 1950, tomando um Crush, na Praia Vermelha, na Urca. Ao fundo o Círculo Militar. Aparentemente a moça está onde hoje funciona a Escola Municipal Gabriela Mistral. Esta moça se chama, de solteira, Dulce Bressane. Vencedora de um concurso de beleza, da época. Ela estrelou o filme Estrela da Manhã e se casou com Bené Nunes.

Estrela da Manhã é o título do filme brasileiro de 1950 que teve seu argumento escrito por Jorge Amado, foi musicado por Dorival Caymmi, que também atua ao lado de Paulo Gracindo, Fregolente, a italiana Doris Duranti e Dulce Nunes. O filme foi dirigido por Jonald (Oswaldo Marques de Oliveira), com fotografias de Rui Santos e direção musical de Radamés Gnatalli.

sexta-feira, 11 de março de 2022

ESCOLA SOARES PEREIRA (parte 2)

 ESCOLA SOARES PEREIRA (parte 2 de 2), por Helio Ribeiro.

Esta é a segunda e última parte do texto sobre a Escola Soares Pereira, onde estudei desde o jardim da infância até a quarta série primária, período de 1953 a 1957. A primeira parte foi publicada ontem. Esta parte contém impressões e opiniões pessoais.

Ao Lino Coelho e ao Docastelo: vocês vão se surpreender com algo que anexei nesta postagem, embora um pouco fora do tema dela.

VII) A ESCOLA DA MINHA ÉPOCA (1953-1957)

Abaixo vemos fotos atuais da escola, vista pela lateral da avenida Maracanã e pela da rua Pinto Guedes. A cor da pintura, ao que me lembro, ainda é a mesma da década de 1950, quando lá estudei. 



Havia um gabinete dentário, a biblioteca, a sala das professoras e o temido gabinete da diretora. O pátio tinha um galpão coberto, sem paredes, onde era servida a merenda escolar. Havia na parte traseira do terreno um pavilhão sanitário, com as toaletes e bicas.

VIII) UM DIA TÍPICO DE AULA

Meu turno era o da manhã, iniciando às 7 horas. Entrávamos, uma campainha tocava, as turmas formavam no pátio e depois se dirigiam para suas respectivas salas. Quando a professora entrava, todos se levantavam e se postavam ao lado das carteiras individuais. Cumprimentavam a professora, sentavam-se e a aula iniciava.

O livro adotado era o "Meu Tesouro", de Helena Lopes Abranches e Esther Pires Salgado. Havia uma edição para cada série. Abaixo, foto de uma delas.


No meio da manhã soava a campainha do recreio. As turmas saíam para o pátio e os que desejassem ingeriam a merenda escolar, em grandes mesas debaixo de um galpão coberto. Eu levava uma lancheira com garrafa térmica contendo café com leite, pão com manteiga ou com goiabada e queijo minas ou manteiga e açúcar.

Após a merenda todos se dirigiam ao pavilhão sanitário, para lavar as mãos e escovar os dentes.

Um novo toque de campainha encerrava o recreio. As turmas voltavam para as salas e a aula continuava.

Ao final do turno, novamente a campainha tocava. Os alunos arrumavam suas carteiras, alinhavam-nas umas às outras e saíam da sala. Agrupavam-se no hall ou na parte externa da escola, cujo portão era guardado por um funcionário. As mães chegavam e pegavam seus filhos.

Volta e meia havia brincadeiras orientadas pelas professoras, no pátio traseiro, onde havia algumas árvores de porte. Brincávamos de roda, de lobo mau, de passa-anel, etc. Ninguém virou gay por causa disso.

Quinta-feira era dia de folga geral.

Num determinado dia da semana, havia hasteamento da bandeira simultaneamente com o canto do Hino Nacional. Eu fui escolhido como o aluno que hastearia a bandeira, não sei por que. Minha mãe teve de me comprar luvas brancas. Lá ia eu, envergonhado, para a frente das turmas formadas e ia hasteando lentamente a bandeira, de modo a sincronizar sua chegada ao topo do mastro com o fim do canto do hino.

 IX) PRÊMIO PARA OS PRIMEIROS COLOCADOS

A dona Marina (foto já mostrada ontem) foi minha professora na quarta série primária. Tinha o estranho costume de dar presentes ao primeiro e ao segundo colocado em cada prova mensal. Todo mês eu disputava com uma colega, de nome Cármen Lúcia Terra de Farias, a primeira colocação. Praticamente revezávamos nisso. Lembro de ter ganho um jogo de boliche de madeira como prêmio, certa vez. Num dos meses, o primeiro colocado iria ganhar o jogo "O Céu é o Limite", sensação na época. Eu estava doido para ganhá-lo, mas naquele mês fui o segundo colocado e a Cármen Lúcia levou o desejado prêmio.

Foto parcial da turma, em 1955, com a Cármen Lúcia em destaque. 

Nessa mesma quarta série, houve o concurso de melhor aluno do Distrito Federal, já citado por mim aqui no SDR. Havia duas turmas de quarta série. Eu fui o primeiro colocado na minha, e um colega chamado Reinaldo foi o primeiro na dele. Empatamos em nota, porém ele havia apagado com borracha algo na prova e ficara borrado o papel. Assim, eu fui o escolhido para representar a escola no concurso. A mãe dele se dava com a minha, mas ao saber da escolha ficou com raiva e nunca mais falou com minha mãe. O Reinaldo era o meu melhor amigo. Depois disso, me virou a cara. E ainda espetou meu braço com a ponta fina de um lápis, como vingança. Besteira, não?

Foto parcial da turma, com Reinaldo no centro.


X) FATOS MEMORÁVEIS

a) Suicídio do Presidente Getúlio Vargas

Lembro-me perfeitamente desse dia. Na época eu cursava o primeiro ano primário e a professora era a dona Alayde. Em determinado momento ela saiu de sala e quando voltou estava chorando. Avisou que as aulas estavam suspensas. Não sei como voltei para casa, pois na época acho que ainda não havia telefone na minha residência que pudesse servir para a escola comunicar a suspensão das aulas.

b) Festa junina

Não me lembro do ano em que ocorreu essa festa, mas ela foi muito grande, com quadrilhas, comida à vontade, participação dos pais e alunos. Lembro que na hora da quadrilha, sem querer eu deixei meu chapéu de palha cair no chão e dali em diante tive de evoluir sem chapéu. Fiquei super-envergonhado com o fato.

Abaixo, foto do pessoal da quadrilha, eu dentro da elipse vermelha. Acima de mim, entre os dois garotos de cartola, Vânia, que será citada no tópico seguinte. A noiva, facilmente vista na foto, se chamava Vera Lúcia. Ela sofria de paralisia infantil e andava de muletas. 


c) Recebimento de medalhas

Todo final de ano os três melhores alunos de cada turma (ou série, não me lembro bem) recebiam medalhas: de "ouro", de "prata" ou de "bronze". Da primeira à quarta série, eu recebi a de ouro, exceto na terceira série, que foi a de prata. Havia uma cerimônia de entrega das medalhas, à qual os pais deveriam comparecer. Minha mãe ia até lá muito envergonhada, porque era tão tímida quanto eu. E lá ia eu, também envergonhado, receber a medalha do ano, perante aplausos das mães e após breve locução da professora. Até há pouco tempo eu ainda tinha algumas guardadas, mas as joguei fora. Lamento.

Na foto abaixo, tirada em 1957, na quarta série primária, estou eu com várias medalhas no peito. 


XI) MINHAS "NAMORADINHAS"

Este tópico talvez não seja do agrado de algumas pessoas, que podem ver nele manifestação de presunção ou de gabolice, mas vou em frente assim mesmo.

Durante minha vida escolar (exceto na faculdade), todo ano eu escolhia uma "namoradinha". Em virtude de minha extrema timidez, nunca elas souberam disso. Vou postar aqui as fotos delas, ano a ano, durante o primário. As fotos nem sempre correspondem aos anos, em virtude de algumas delas estarem muito esmaecidas. Escolhi assim a foto do ano em que a menina está mais nítida.

No jardim de infância eu gostei de uma garota chamada Sônia, mas não tenho fotos da turma daquele ano nem da primeira série. No ano seguinte não mais a vi. Não sei se saiu do colégio ou se mudou de turno.

a) Primeira série primária, ano 1954, eu com 7 anos de idade ==> também se chamava Sônia, mas não era a mesma do jardim de infância. Por acaso, nesta foto eu estou logo abaixo dela.


b) Segunda série primária, ano 1955, eu com 8 anos de idade ==> a princípio, Regina Coeli, uma garota muito bonitinha, que quando sorria mostrava covinhas no rosto. A Regina Coeli tinha um algo a mais que me encantava. Reencontrei-a anos depois no Colégio Pedro II, porém ela era do turno da manhã e eu do turno da tarde. 


Mais à frente fiquei atraído pela Lia, cabelos e olhos cor de mel. Mas não deixei de gostar da Regina Coeli. Era bígamo (kkkk).


c) Terceira série primária, ano 1956, eu com 9 anos de idade ==> comecei com a bigamia do ano anterior, até que me encantei com a Vânia, alourada, olhos azuis. Morava no famoso edifício Del Monte, na rua Uruguai, 339 e que ainda existe. Interessante que eu lembro de todos os seus sobrenomes, mas não da ordem deles. Eram Pimenta, Leitão e Bueno. Mas não sei se era Vânia Pimenta Leitão Bueno, ou Vânia Leitão Pimenta Bueno, ou outra sequência qualquer.

Foi a primeira garota de quem gostei com mais intensidade. Tanto que minha filha se chama Vânia, e não é por coincidência.


d) Quarta série primária, ano 1957, eu com 10 anos de idade ==> continuei com a Vânia durante bastante tempo, mas depois passei para a Diana. Bem morena, cabelos negros, jeito de índia, olhos escuros, bem magra. Era sobrinha da professora.


Tenho gratas lembranças de todas e não sei quais ainda estão vivas. Mas quem conquistou e depois despedaçou meu coração eu só conheceria em 1959, no Colégio Pedro II. Aos meus 12 anos de idade, ora vejam só!!  Prova de que amor não tem idade.

 -------------------  FIM  DO  TEXTO  -------------------

Eis que termino aqui meu longo texto. Agradeço a quem teve a paciência e curiosidade para lê-lo de fio a pavio. Espero que sirva de incentivo para outros visitantes fazerem o mesmo com relação a suas escolas.

 

BÔNUS PARA O LINO COELHO E PARA O DOCASTELO

Embora não se refira à Escola Soares Pereira, aproveitei esta postagem para inserir aqui duas fotos das turmas do meu irmão, no Colégio Estadual Souza Aguiar. Não sei o ano exato, mas devia ser meados da década de 1960. Talvez o Lino e o Docastelo reconheçam pessoas nas fotos.



Gostaria de agradecer ao Helio Ribeiro pela lembrança da Escola Soares Pereira, bem como por todas suas outras colaborações com o “Saudades do Rio”.

Desta forma, e com os comentários diários dos ilustres comentaristas, vamos recontando a história da cidade por quem nela viveu. Fica bem diferente do que vemos nos livros de História, mas não menos interessante.

PS: se alguém ficar desconfortável por aparecer nas fotos é só enviar um email ou comentar no blog que farei uma edição.

quinta-feira, 10 de março de 2022

ESCOLA SOARES PEREIRA (PARTE 1)

ESCOLA SOARES PEREIRA (parte 1 de 2), por Helio Ribeiro.

ATENÇÃO, POR FAVOR ==> sei que muitas pessoas não têm paciência para ler textos e preferem apenas ver figuras ou fotos. Mas hoje peço a todos que pelo menos leiam o prólogo que se segue.

PRÓLOGO

Estudei na Escola Soares Pereira desde o jardim da infância até a quarta série primária, entre 1953 e 1957, mas nunca me ocorreu obter maiores informações sobre a escola. Há alguns dias o SDR fez uma postagem sobre a Escola Argentina, atual Sarmiento. Isso me aguçou a curiosidade para saber mais sobre a escola onde eu estudara. No Google só encontrei uma brevíssima referência de quatro linhas numa página do Facebook. Pensei em desistir da pesquisa. Então resolvi entrar na hemeroteca da Biblioteca Nacional e ali fui surpreendido com uma quantidade imensa de informações sobre a escola. Fiquei muito impressionado e emocionado com o que li. Nunca imaginei quão bela é a história da escola e a importância dela para os alunos de seus arredores. É essa história que passo a narrar doravante e que espero mereça a atenção de todos. Eu, que não sou de me orgulhar de nada, senti orgulho de ter estudado em escola de tão nobre história.

Por ser texto grande, com muitas fotos, dividi o material em duas partes, publicadas em dias seguidos: a primeira descreve a história da escola, obtida da hemeroteca; a segunda contém meus relatos pessoais da época em que lá estive.

Espero que outros visitantes se animem e também descrevam suas respectivas escolas. Seria um bom material para o SDR, além de tirar do armário gratas recordações que todos nós temos da nossa infância e adolescência.

 I) O SENHOR JOSÉ ANTÓNIO SOARES PEREIRA

O senhor José António Soares Pereira nasceu em 22 de março de 1840 na vila de Arcos de Valdevez, freguesia de Santa Marinha de Prozelo, no Alto Minho. Emigrou para o Brasil em 1855 e casou-se em 27 de julho de 1872 com dona Maria do Nascimento Soares Pereira, brasileira.

A foto abaixo, com as limitações típicas da imprensa da década de 1920, mostra o casal.

Nos primeiros anos no Brasil não há registro de sua atividade. Mas em fins de 1883 ele virou árbitro nas questões de calçado, couros e malas. E posteriormente foi considerado perito nesse métier.

Em 24 de junho de 1885 leiloou todo o mobiliário de sua residência e foi para a Europa com sua família, a bordo do paquete Congo. Retornou meses depois e foi morar na rua Conde de Bonfim, número 186 (atual 706), na esquina com a rua Uruguai, ali residindo durante os 40 anos seguintes.

Ao longo dos anos adquiriu grande fortuna: tornou-se comendador e era sócio, irmão, provedor ou conselheiro de muitas empresas, entidades beneficentes e instituições religiosas. Migrou para o ramo de tecidos e posteriormente para o de seguros.  Seria longo relacionar aqui todas as suas atividades profissionais e de benemerência, que são impressionantes.

Doou sua antiga casa em Prozelo para ali ser instalada uma escola mista, dotando-a de todo o equipamento necessário e deixando 50 apólices da Dívida Pública Brasileira para manutenção da escola, que foi inaugurada em 1 de janeiro de 1922.

Faleceu em 18 de janeiro de 1925, em sua residência, sendo enterrado no Cemitério de São Francisco de Paula.

O senhor José dava muita importância à educação e à filantropia, não só no Brasil como além-mar. Um mês antes de morrer, doou para o Retiro da Velhice da Beneficência Portuguesa, situado em Jacarepaguá, a importância de 5:000$000. Mas já vinha fazendo doações para lá, antes. 

Em testamento, deixou muito dinheiro para várias instituições de caridade e religiosas.  

Também em testamento deixou um legado para a Santa Casa da Misericórdia de Arcos de Valdevez, para construção de um asilo para inválidos na freguesia onde nascera, Santa Marinha de Prozelo. As fotos abaixo mostram o Lar Soares Pereira, em dois momentos, após grandes reformas ocorridas em 1980 e 2004. Abriga 85 pessoas.



Em vista de sua preocupação com a educação, pediu a sua esposa que quando ele morresse uma parte do espólio fosse usado na construção de uma escola na área onde eles moravam, seguida da doação da escola à municipalidade. Na época a Tijuca abrigava muitas fábricas e os filhos dos trabalhadores pobres não tinham opções de estudo. 

II) A IDEIA POSTA EM PRÁTICA

Uma vez falecido o senhor José António, sua esposa cumpriu a promessa: entrou em contato com o prefeito Alaor Prata e expôs sua intenção. O prefeito, em 1926, cedeu um terreno de 3.000 metros quadrados para a construção da escola, no entroncamento da avenida Maracanã com a rua Pinto Guedes. Esse entroncamento é em ângulo, formando um "V". Ao lado desse terreno estava prevista a construção de uma praça, em terreno cedido à Prefeitura pelo general Serzedello Corrêa. A praça foi construída por volta de 1928 e batizada como Praça Comandante Xavier de Brito. É conhecida como "praça dos cavalinhos" e todo tijucano a conhece.

O arquiteto paulista José Amaral Neddermeyer foi o autor do projeto do prédio, em estilo neo-colonial luso-brasileiro.

Foto da escola, na época de sua fundação. O corpo principal permanece inalterado até hoje.

O prédio apresenta planta em "V" e tem em destaque o pequeno acesso avarandado com seis colunas toscanas de granito e frontão ondulado, ostentando na parte de cima o nome da escola. O projeto previa oito salas de aula, sendo quatro em cada lado do "V", com capacidade para 400 alunos por turno. Cada sala tinha 46 metros quadrados, com duas altas portas de acesso. Em virtude de o rio Maracanã atravessar a parte traseira do terreno, duas salas não puderam ser construídas e a capacidade da escola foi reduzida para 300 alunos por turno. Parte da escola (o corpo principal e o pátio de recreio) ficou em uma das margens do rio e na outra ficaram o pavilhão sanitário e a casa do zelador, sendo essas partes ligadas por uma ponte coberta. Cerca de dois anos após a inauguração foi mudado o curso do rio e as duas salas previstas foram construídas, retornando assim ao projeto original.

Mapa da região da escola, mostrando o rio cortando o terreno da mesma antes da retificação.


III) A INAUGURAÇÃO

A inauguração se deu às 10 horas da manhã do dia 22 de março de 1927, com a presença do prefeito, senhor Prado Júnior. Era a mesma data do nascimento do senhor José António Soares Pereira, idealizador da escola. Na ocasião foi feita a doação para a municipalidade. Tanto a construção quanto o mobiliário da escola, considerado pela imprensa como de primeira qualidade, correu às expensas da esposa do senhor José António, dona Maria do Nascimento, que faleceu a 4 de outubro de 1932.

A escola foi enquadrada no 7º Distrito Educacional e recebeu inicialmente os alunos da escola Casimiro de Abreu, a de número 10 do distrito educacional, daí ter como nome oficial Escola 10-7 Soares Pereira. Posteriormente foi reclassificada como 4-7. Na época em que lá estudei, era a 5-7.

IV) IMPORTÂNCIA DA ESCOLA

O 7º Distrito Educacional cobria vasta área, desde o Engenho Velho até a Usina. Em virtude disso, as escolas distavam muito umas das outras. Na área da Muda da Tijuca não havia nenhuma. Os alunos daquela região tinham de andar até quinze minutos para chegar a uma escola. Daí a importância que a Soares Pereira adquiriu na época.

V) INICIATIVAS PIONEIRAS DA ESCOLA

a) Copo de Leite ==> em 31 de agosto de 1930, os professores, um grupo de pais de alunos e de amigos da escola se reuniram e resolveram a partir daquela data distribuir um copo de leite aos alunos, no recreio, por haverem percebido que muitos chegavam à escola em jejum e sem merenda, ou subnutridos. Em boa parte, eram filhos de trabalhadores das indústrias dos arredores e muitos moravam nos morros adjacentes. A despesa era bancada pela Caixa Escolar, mantida pelos próprios professores, pelos amigos da escola e pelo Círculo de Pais. A iniciativa foi notícia em vários jornais da época.

b) Estádio esportivo ==> há tempos a inspetora do 7º Distrito Educacional pensava em construir um campo de esportes para os alunos daquele distrito. Um grupo de alunos da Soares Pereira tomou a si a tarefa e para isso se valeram do grande espaço livre existente na parte traseira do terreno da escola. Em 21 de julho de 1931 foi inaugurado na escola um estádio com aparelhos de ginástica e de jogos, construídos pelos próprios alunos, sob supervisão dos pais. Para isso, trabalharam aos domingos e às quintas-feiras, além de nos 15 dias das férias de junho. Foi criado assim o Club Sportivo Soares Pereira, com regulamento e tudo. A matéria completa se encontra na edição de 16 de julho de 1931 do Diário da Noite. É impressionante o que ali está descrito.

Abaixo, uma foto do estádio, com as deficiências de resolução típicas de fotos de jornal.


c) Centro Cívico ==> em 04 de novembro de 1940 foi inaugurado na escola o Centro Cívico Affonso Celso, fundado pelos alunos, sob a direção da senhora Ermelinda da Silveira Tomás Alves, na época diretora da escola. Não encontrei descrição sobre os objetivos desse centro, mas foi notícia em vários jornais da época.

d) Material didático ==> em agosto de 1956 as professoras Joselyta Araújo de Assis Mascarenhas e Maria Ignês de Castro Gonçalves idealizaram e publicaram o "Meu Álbum de Conhecimentos Gerais", considerado inédito na didática brasileira. Eram várias folhas soltas contendo desenhos sobre aspectos culturais brasileiros os mais diversos: flora, fauna, festas populares, etc. A professora que usasse o álbum escolhia um tema, distribuía as folhas e dissertava sobre eles.

VI) CORPO DOCENTE DA MINHA ÉPOCA

OBS: Os nomes completos das pessoas foram obtidos da hemeroteca da Biblioteca Nacional, em vasta pesquisa.

Quanto ingressei no jardim da infância, em 1953, a diretora era a sra. Dulce Diniz do Nascimento e Silva, que faleceu em 23/06/1954. A ela se sucedeu a senhora Ocília Chaves.

Lembro-me de várias professoras, e aqui expresso meu preito de gratidão a elas, pelos ensinamentos que nos ministraram e que nos acompanham a vida toda. Seguem fotos delas, com indicação da série em que as tive como professora.

Professora Alayde Soares Freire, primeira série primária, ano 1954.


Professora Celina Carneiro Leão dos Reis, segunda série primária, ano 1955.


Professora Marita Gomes Costa, terceira série primária, ano 1956.


Professora Marina Assumpção, quarta série primária, ano 1957.


Professora Adiléia Araújo Góis de Matos. Lembro-me dela, mas não sei se foi minha professora. Porém o foi do meu irmão, no jardim de infância. Talvez tivesse sido minha também, naquela época. 


Abaixo segue foto da turma de jardim da infância do meu irmão, porque não disponho de fotos da minha turma da época. Professora Adiléia à direita. Não me lembro se tínhamos de usar essa roupa branca no jardim da infância.



quarta-feira, 9 de março de 2022

SIRIUS

Estas fotos foram compartilhadas por meu amigo Cesar Gonçalves em seu FB e foram garimpadas por A. Modesto Junior e o texto é o que se segue, entre aspas.

“Visita Presidencial!!!

No dia 6 de junho de 1958, estando o Navio Hidrográfico Sirius atracado no Molhe da Ilha Fiscal, o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira visitou o navio após sua chegada ao País. O Presidente Juscelino foi um dos principais responsáveis pela aquisição do Sirius, o primeiro navio de grande porte construído e concebido para a atividade de hidrografia.

Na despedida, uma curiosidade, o Presidente observa a aeronave orgânica do Navio pousada no convôo e relata ao então Ministro da Marinha, Almirante de Esquadra Alves Câmara: “Almirante, nunca andei de helicóptero”. Então de forma improvisada JK deixa o Sirius de uma maneira nada convencional, voando.

Fotos coloridas digitalmente.”




O curioso é que fui pesquisar sobre o Sirius e encontrei no “Correio da Manhã” uma notícia do dia anterior, 05/06/1958, dando conta que na véspera “o helicóptero do navio hidrográfico Sirius, ao regressar para bordo, perdeu a potência do motor nas proximidades da Ilha Fiscal. Os tripulantes, comandantes Wigando Engelke, Roberto M. Monerat e um sargento da guarnição do navio saíram nadando enquanto o helicóptero mergulhava lentamente. O helicóptero foi recuperado e levado a bordo do Sirius”

Terá sido o mesmo helicóptero que levou o presidente no dia seguinte?

Felizmente tudo correu bem. O presidente recebeu honras militares, foi apresentado aos oficiais que serviam na Diretoria de Hidrografia e Navegação, percorreu as dependências do Sirius e sobrevoou a cidade de helicóptero.

O Sirius foi o primeiro navio que a Marinha do Brasil fez construir especialmente para levantamentos hidrográficos. Passaria a constituir junto com outros de sua classe, o Canopus e com outros três menores que estavam em construção no Arsenal de Marinha, o Argus, o Orion e o Taurus, o novo grupo de navios que completariam o levantamento do extenso litoral do Brasil.

O Sirius tinha as seguintes características: deslocamento, 1875 ton; comprimento, 78,70m; boca, 12m; calado 3,70m; velocidade máxima, 15 nós; velocidade de cruzeiro, 11 nós; raio de ação, 8000 milhas; propulsão, 2 motores Diesel de 1350 HP. Dispunha de um helicóptero, três lanchas hidrográficas, uma lancha de desembarque e dois jipes. Estava equipado com agulha giroscópica, radar, loran, ecobatimentos e raydist.

O Sirius teve sua quilha batida em 13/12/1956, foi lançado ao mar em 30/07/1957 e incorporado à Marinha de Guerra em 17/01/1958. Saiu de Tóquio em 8 de fevereiro com destino ao Rio de Janeiro, escalando em Kobe, Honolulu, São Francisco,Acapulco, Balboa, Curaçau, Belém e Recife. Sua guarnição compunha-se de 86 homens.

terça-feira, 8 de março de 2022

LUIZ x DECOURT

Não haver tido carnaval foi ótimo, pois o Nickolas andou garimpando ótimas fotos como a de hoje, que foi publicada por ele no Facebook.

Tive a oportunidade de marcar um gol no Decourt na identificação do local. Como todos sabem há alguns doutores em Copacabana como o próprio Decourt, o Zierer, o Tumminelli, o JBAN, entre outros. Agora o placar marcar Decourt 117 x 2 Luiz. O outro gol meu, faz alguns anos, foi quanto ao local da antiga igrejinha de Ipanema que havia na Francisco Otaviano, em frente à TV Rio. Quem sabe eu ainda vire o jogo...

Vemos o bonde da linha 20, Leme-Ipanema, nº de ordem 1807, cujo trajeto era Praça Almte. Júlio de Noronha - Gustavo Sampaio - Antônio Vieira - N. S. de Copacabana - Francisco Sá - Gomes Carneiro – Visconde de Pirajá (até a Henrique Dumont).

À direita vemos a Farmácia Natal, no nº 74 da N. S. de Copacabana. No lado par da N.S. de Copacabana temos um simpático caminhão Opel da Plus-Vita (segundo o Jason) e do lado ímpar um lotação com o letreiro de “garage”.

O Decourt achava que era na altura da Dias da Rocha, mas o que me levou a crer ser quase na esquina da Princesa Isabel, além do “jeitão” do lugar, foi que:

1)      Havia uma placa de “contra-mão”, o que não condizia com a Dias da Rocha, pois a rua seguinte é a Rua Raimundo Correia e não haveria razão para esta placa neste local. Mas sim perto da Princesa Isabel.

2)      Se fosse perto da Dias da Rocha à direita teria que aparecer o ponto de bonde que ficava em frente à Spaghettilandia.

3)      Os trilhos dos bondes mostram um desvio para a esquerda. Isto só ocorreria na Inhangá ou na Princesa Isabel. Mas o quarteirão curto entre a Princesa Isabel e a Prado Junior ajudavam a localização.

4)      Reconheci a senhora de preto: D. Silvia, que morava nesta quadra...

 

segunda-feira, 7 de março de 2022

AV. RIO BRANCO

Esta foto colorida, garimpada pelo Nickolas, mostra um aspecto da v. Rio Branco por volta de 1960. Um dos destaques é o prédio do Teatro Nacional de Comédia, à esquerda.

O TNC foi criado no governo de Juscelino Kubitschek, pelo Decreto nº 38912 de 21/03/1956 e tinha o objetivo de facilitar a representação de obras clássicas e modernas, nacionais e estrangeiras, a fim de torná-las acessíveis a todas as camadas sociais. Era um tempo em que a Cultura era devidamente valorizada. 

Inicialmente apresentou peças em teatros como os da Maison de France e do Serrador. No final dos anos 50 o Teatro Nacional de Comédia comprou e remodelou o prédio onde funcionou o Cinema Parisiense, na Av. Rio Branco. O preço de aquisição foi de 36 milhões de cruzeiros.

No novo prédio o Teatro Nacional de Comédia teria 300 poltronas, ar refrigerado, 3 palcos giratórios, numa profundidade de nove de fundo por oito de boca e catorze de urdimento. O projeto foi de Paulo Alberto Rodrigues. O endereço é Av. Rio Branco nº 179, onde hoje funciona o teatro Glauce Rocha. O prédio está tombado definitivamente desde 24/06/1994.

Segundo o INEPAC, atualmente, além do teatro original com plateia, balcão e varanda, o edifício abriga a Sala Glauber Rocha, o salão Memória Aluísio Magalhães e, no térreo, a livraria Carlos Miranda. Nos demais andares, funcionam as repartições administrativas ligadas ao teatro. A difícil implantação em terreno triangular foi habilmente resolvida internamente. A grade da fachada oblíqua resolve maravilhosamente a esquina. Transforma o que era uma confluência esconsa da velha rua com a Avenida Rio Branco em um todo dotado de sentido urbanístico. 

A criação do Teatro Nacional de Comédia foi o coroamento do esforço por um espaço dedicado especialmente à comédia em um período de brilhantes temporadas nos palcos cariocas.

Sua sala de espetáculos recebeu o nome de Machado de Assis e duas peças dele foram apresentadas no dia da inauguração: “Não consultes médico” e “Lição de Botânica”.

Além de Glauce Rocha, o elenco das duas peças contava com nomes como Paulo Goulart, Teresa Raquel, Diana Morell, Isabel Teresa, Sebastião Vasconcellos, Magalhães Graça, Beatriz Veiga, Suzana Negri, Elizabeth Gallotti, direção de Armando Couto, com cenários e figurinos de Napoleão Moniz Freire.

A inauguração foi em 20/12/1960 com a presença do Ministro da Educação e Cultura, professor Clóvis Salgado, do diretor do Serviço Nacional de Teatro, Dr. Edmundo Muniz, entre outros.

A seguir viria a ser encenada a peça “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues.

Esta é a capa da publicação “Programa em Revista”, que divulgou a peça de Maria Wanderley Menezes, uma autora apaixonada por temas bíblicos.



Aspecto do prédio do Cinema Parisiense (1907-1953), que ficava na antiga Rua Chile, atual Rua da Ajuda, esquina com a Av. Rio Branco.

domingo, 6 de março de 2022

PRAIA DE COPACABANA

Esta foto mostra a delegação de futebol da Inglaterra em frente ao hotel em que se hospedaram na Av. Atlântica. Vieram para a disputa da Copa do Mundo de 1950.


Outra foto de uma tranquila Av. Atlântica, nas imediações da Rua Sá Ferreira, entre os postos 5 e 6. À esquerda, fora da foto, o Hotel Miramar. Do outro lado da Sá Ferreira vemos o Posto Texaco.