Dando uma olhada nos meus
registros não sei a razão de não ter publicado essas fotos enviadas pelo M. V.
Faria. São histórias assim, como vocês poderão ver, que dão um toque diferente
ao “Saudades do Rio”. Peço desculpas ao M.V.Faria pela demora na publicação. Ele
fala sobre a Rua João Afonso, no Humaitá, que começa no nº 90 da Rua Humaitá e
termina sem saída, com 385 metros de extensão. Era a antiga Travessa João
Afonso, aberta em 1897 em terrenos de propriedade de João Afonso Canindé.
As fotos vieram
acompanhadas de um texto saboroso sobre os velhos tempos da Rua João Afonso: “Estou
sempre pesquisando sobre a Rua João Afonso onde vivi com muita felicidade minha
infância e puberdade, podia escrever um livro sobre tanta coisa vivida ali
naqueles anos maravilhosos entre 1961 e 1977. Sou saudosista de carteirinha e
tenho bastante pra contribuir com pessoas tão boas e que têm consideração,
respeito, saudade e orgulho daquele tempo.
Luiz, estou te passando
em primeira mão esta foto fornecida por Camilo Bezerra meu amigo de infância
morador da João Afonso nº 21 que a recebeu de seu irmão provavelmente tirada
pelo seu falecido pai que sempre tinha uma máquina fotográfica, tão rara
naquele tempo, até porque nossa condição social naquela rua era de uma maioria
classe média e baixa e alguns pontos.
A foto denota uma
luminosidade diria assim, divina, maravilhosa que parece santificar aquele
momento e local. Esta fantástica foto de um amigo de infância, o Camilo. É o
garoto que aparece à esquerda. O outro é seu primo, tirada aí pelos 1970 no
largo do Humaitá em frente à minha amada rua João Afonso.
A carrocinha da Kibon era do Sr. Walter e
fazia ponto na esquina da rua, bem como na porta do Colégio Abílio borges, no
Humaitá.
Devido a haver
pouquíssimos carros jogávamos futebol em várias partes da rua. Os gols eram
feitos com pedras na rua ou nos postes.”
O nome do prédio à
esquerda era Mercado Oliveira, do Sr. Oliveira, um cara com atrofia no braço.
Era um armazém que ainda pesava com pesinhos de metal na balança e grãos nos
tonéis ensacados com saquinhos de papel. A gente roubava umas coisinhas lá...
Quando o cara do triciclo subia a rua para fazer entrega a gente ajudava na
ladeira e ele dava carona para a gente quando descia. Era emocionante e ninguém morreu.
O prédio é o mesmo até
hoje e depois virou uma lanchonete nos anos 70. Até hoje está lá a Sanduka. O
prédio à direita não existe mais pelo menos a fachada superior virou uma outra
lanchonete muito boa até sempre lancho lá, era o boteco do Sr. Waldir. cuja filha
casou com o Roberto, irmão do Camilo da foto.
Um pouco mais atrás 3 traços eram 3 lojinhas
pequenas: um aviário onde todos compravam a galinha de domingo, matavam em
casa e cozinhavam como minha vozinha
Rosa. Uma outra lojinha acho que era de um gasista e a terceira era do
relojoeiro onde comprávamos vidrilhas dos relógios para jogar botão.
Ao fundo ofuscado pelo
sol o enorme prédio construído de 14 andares, que a gente batizou de pombal,
foi uma merda na rua, pois encheu de carros. A rua parece que foi tombada, é de
paralelepípedo.
Toda vez que vou lá, como
fui sábado passado, subo até o final, é sem saída, e de lá vêm todas boas
recordações. Ainda tem moradores e casas originais em sua maioria. É uma viagem
no tempo, mas aquela coisa de famílias em comunhão não tem mais. Tem muito nerd
e pseudo-intelectuais, tem muita casa que virou firma, meu tio mora lá, mas os
valores são altos, tipo 1 milha pra cima para uma compra e aluguel na faixa de
2000 reais...”
Engraçado todas a as
arvores do Humaitá estão lá agora grandes, mas eu as vi como esta que aparece
na foto. Certa vez peguei um pedacinho da casca de uma delas e guardei comigo,
penso quantas coisas elas viram todos estes anos. A rua Humaitá já tinha sido
asfaltada para encobrir os trilhos dos bondes (meu avô era motorneiro) e depois
vieram os tróleis com ligação nos fios.
Leonardo na rua: Meu
irmão mais velho, tirada provavelmente no início de 1961, devia estar com um
ano, em frente a nossa casa de que era no nº 36 (hoje um estacionamento) na
direção do início da rua, vislumbrando o Humaitá ao fundo.
Em frente à casa de nº 24,
onde está estacionado o carro preto, não existe mais era a entrada dos alunos
do Colégio Pedro II que é fundos de toda extensão da rua até o número 60.
Minha mãe comigo, Marcos,
no colo e meu irmão Leonardo andando, tirada entre abril, quando nasci, e junho
de 1961, em frente a nossa casa de nº 36, na direção do início da rua
vislumbrando o Humaitá ao fundo. Detalhe: o único carro nesta parte da rua um
Gordini. Simplicidade, tranquilidade, paz.
Eu à esquerda, Marcelo e
Leonardo, sentados na calçada em frente ao nº 35, antiga clínica médica
denominada Clínica Psiquiátrica Dr. Brum. Ano da foto provavelmente 1964, pois
o Marcelo de chupeta nasceu em novembro de 1963. Mostra a parte de cima da rua
até o início da ladeira no nº 56.
Nota: o nº 56 era
denominado cortiço e era onde moravam todos funcionários que trabalhavam no
Colégio Pedro II. Havia uma porta que dava para o final do terreno do colégio. Tinha
o formato de vila, as casas foram demolidas e no local atual é a entrada para
carros e fundos do Colégio.
Detalhes: os poucos
carros na rua, o segundo carro preto era um taxi do morador do nº 42. A mata
escura que aparece à esquerda mais acima era da casa denominada Casa do
Ministro (a pesquisar). Foi demolida no final dos anos 60 dando lugar a um
prédio de 14 andares totalmente em dissonância com a rua e que prejudicou muito
a mesma.
Mais acima à esquerda a
construção que aparece com umas pontas, era a primeira casa numa vila de 6
casas nº 52. Não existe mais, foi reformada e é uma casa de 2 andares pertence
ao meu tio Carlos.
Imagem atual do Google Maps mostrando a Rua João Afonso.