Otelo Caçador foi um cartunista que durante décadas tinha uma página inteira no Caderno de Esportes de "O Globo", às segundas-feiras. O título era "PENALTY" e o sub-título era "Penalty não é coisa que se perca".
Boêmio, era figura assídua do bar "Degrau", quando este ainda era do lado par da Av. Ataulfo de Paiva (depois atravessou a rua e existe até hoje no Leblon).
Seus papos com o jornalista e compositor Luiz Reis, o "Cabeleira", grande amigo e também flamenguista fanático, foram antológicos.
Escreveu um livro de sucesso, chamado "Livro Negro do Penalty", que tenho aqui em algum lugar, mas não consegui encontrar.
Um de seus desenhos mais famosos é o "Caneco Bela Vista", que vemos abaixo, que era ofertado a times grandes perdedores.
Após a conquista da Copa do Mundo de 1958 os europeus, encantados com o futebol brasileiro daquela época, contratavam excursões de times brasileiros, que passavam mais de mês jogando em vários países.
O esperto empresário Zé da Gama, que presidiu o Madureira, "vendeu" o time mineiro "Bela Vista", como um grande time (na época os meios de comunicação eram deficientes, vendendo-se por isso gato por lebre). Segundo jornais da época, em determinado momento o empresário deixou de honrar os compromissos (cota para o clube, diárias para os jogadores), o que ocasionou uma rebelião dos membros da delegação que chegaram a tentar voltar para o Brasil. Como não tinham dinheiro para tanto, continuaram a jogar, ou melhor, a dar vexame , comprometendo a conquista brasileira de 1958.
O time perdia mais que o famoso "Ibis". O Bela Vista, da cidade de Sete Lagoas-MG tomou goleadas incríveis, como para Newcastle da Inglaterra, sendo o placar de 12 x 2. Na volta, diante do grande vexame, teve o seu registro cassado pela CBD.
Um dos times que ganharam este troféu de ruindade foi a própria seleção brasileira quando da sua fracassada excursão em 1963, que teve como ponto mais baixo a derrota para a Bélgica por 5x1.
Na ocasião o chefe da delegação, o folclórico Mendonça Falcão, deu entrevista dizendo que “os belgicanos jogaram muito”!
Mendonça Falcão, presidente da Federação Paulista de Futebol, rivalizava nas frases com o imbatível Vicente Matheus, presidente do Corinthians, que disse coisas como:
“Comigo ou sem migo o Corinthians será
campeão”
“Quero agradecer à Antarctica, pelas Brahmas
que mandou de graça pelo nosso aniversário”
“Depois da tempestade, vem a ambulância”
“Peço aos corintianos que compareçam às urnas
para naufragar nossa chapa”
“Tive uma infantilidade muito difícil”
Na página também escalava, à semelhança do "escrete da rodada", o seu "escrete de pernas-de-pau" (onde havia lugar cativo para qualquer jogador que perdesse um "penalty").
Criou também a coluna do "placar moral", onde colocava o resultado que achava justo para determinada partida (ali o Flamengo nunca perdia).
O sucesso de Otelo era como o brilhante futebol que o Brasil apresentou nas décadas de 50 a 70.