A seleção brasileira
havia conquistado anteriormente os títulos das copas da Suécia (1958) e Chile
(1962), assim, com a conquista no México, o Brasil teve o direito de permanecer
em definitivo com Taça Jules Rimet.
Havia uma regra a respeito da aquisição da taça: o
primeiro país que conquistasse três edições de Copas do Mundo teria o direito
de adquirir em definitivo a taça Jules Rimet. Fato era que o então presidente
da FIFA Jules Rimet não acreditava que algum país pudesse ganhar três
edições da Copa. Atualmente as regras são outras, o país campeão leva uma
réplica da Taça FIFA e a original fica guardada na Suíça.
A taça Jules Rimet, que tinha 30 centímetros de altura,
aproximadamente dois quilos de ouro e quase quatro quilos no total, foi roubada em dezembro de 1983.
Segundo reportagens dos jornais “O roubo causou
comoção nacional, mas tanto a Confederação Brasileira de Futebol quanto os
assaltantes e a polícia deram provas inequívocas de incompetência em situações
que beiraram o tragicômico.
A começar pela inexplicável decisão da CBF de deixar a Taça Jules Rimet original exposta em uma vitrine à prova de balas na sede da entidade, enquanto uma réplica do troféu era guardada dentro de um cofre.
Não demorou para que essa informação chegasse
a Sérgio Pereira Ayres, conhecido como Sérgio Peralta, na época representante
do clube Atlético Mineiro. Ele traçou um plano do roubo e recrutou dois
comparsas para executá-lo: Francisco José Rocha Rivera, o Barbudo, e José Luiz
Vieira da Silva, o Bigode. Eles invadiram o prédio, renderam o vigia noturno,
arrombaram a moldura e roubaram a Julio Rimet, além de outras três taças.
O depoimento de Antônio Setta, o
Broa, considerado pela polícia um dos melhores arrombadores de cofres do Rio de
Janeiro, acabou sendo a chave para que os ladrões da Jules Rimet fossem
encontrados. Ele havia sido convidado por Sérgio Peralta para o assalto, mas
recusou. Quando a polícia pôs as mãos nos culpados, a Jules Rimet já havia sido
comprada e derretida pelo comerciante de ouro Juan Carlos Hernandez. O ouro,
resultado do derretimento da taça, foi apreendido. Mas acabou sendo roubado no
decorrer do processo.
O crime foi julgado em 1988. Sérgio Peralta, Barbudo
e Bigode foram condenados a nove anos de prisão.
Aquele domingo 29 de junho de 1958 nasceu nublado.
Para mim, menino ainda, não era um bom presságio. A final da Copa do Mundo só
iria começar lá pela hora do almoço e, de manhã, fui com meu pai lá para o
subúrbio assistir a um jogo do time juvenil do Flamengo contra o Anchieta. Era
comum o juvenil jogar contra times amadores do Departamento Autônomo. Os
campos eram de grama, meio carecas, com uma cerquinha em volta e sempre havia uma banquinha vendendo laranjas. Ficávamos sempre
atrás do gol, junto do banco dos reservas. Muitas vezes íamos no lotação que levava o time, lotação dirigido pelo Russo.
Mas neste domingo a preocupação era com o jogo do Brasil. Meu pai estava nervosíssimo, pois vinha das decepções das copas de 50 e 54. Lembro-me como se fosse hoje um amigo dele dizendo que nem iria ouvir o jogo: iria para uma estrada deserta, lá pela Barra da Tijuca, e ficaria andando de carro para lá e para cá até terminar a partida.
Voltamos para almoçar em casa e ouvir o jogo. Subi para o 3º andar para ficar com meu avô, pois meu pai queria torcer sozinho. Começa a partida, a qual acompanhamos pela Rádio Continental, e logo a Suécia faz 1 x 0. "De novo, não, de novo, não!", resmungou meu avô.
Mas logo o Brasil virava o jogo e acabaria por golear por 5 x 2. Festa, muita festa. Campeão do mundo pela primeira vez!
Na foto, da revista Manchete, vemos Bellini, Gilmar e Nilton Santos, três grandes daquele time. Foram sempre titulares, embora o time tenha tido muitas mudanças durante a Copa. No último jogo jogaram Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos. Zito e Didi. Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. Mas antes já tinham jogado De Sordi, Dino, Joel, Mazzola e Dida.
No dia seguinte, comprei todos os jornais e, através de escuras radiofotos, vi as imagens da grande conquista. A chegada da delegação vitoriosa no Rio, dias depois, transmitida ao vivo pela TV Tupi, foi inesquecível. Recentemente consegui comprar a gravação de todo o jogo desta final - uma preciosidade para quem gosta de futebol.
Como dizia Drumond:
"Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.
Bem-aventurados os que, por não
entenderem, não se expõem ao risco de assistirem às partidas, pois não voltam
com decepção ou enfarte. Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois
não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas uma colherinha de alegria a título
de bálsamo, ou nem isso.
(...)
Bem-aventurados os surdos, pois não
os atinge o estrondar das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o
matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.
(...)
Bem-aventurados os que, na hora da
partida, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois deste é o reino do céu.
Bem-aventurados os que, depois de ler
este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a
vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo,
como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o
diabo vá a razão quando o futebol invade o coração".