sábado, 19 de agosto de 2023

DO FUNDO DO BAÚ - MAINFRAMES

COMPUTADORES ANTIGOS (MAINFRAMES), por Helio Ribeiro

Esta postagem trata de um assunto desconhecido da imensa maioria dos visitantes e é a primeira de um conjunto relativo a computadores antigos. O alvo são os mainframes, computadores de grande capacidade de processamento usados em empresas e instituições de pesquisa. O texto é um resumo do resumo do que se pode dizer a respeito dos mainframes, e deixa de lado vários modelos que um dia existiram, focando mais nos que se tornaram sucesso de mercado ou que foram os precursores da espécie.

1) MAINFRAMES DE PRIMEIRA GERAÇÃO

Esses computadores usavam válvulas, o que gerava alta temperatura e consumo excessivo de energia elétrica, além de outros problemas. A programação era feita diretamente neles ou através da leitura de fitas de papel, parecidas com as usadas em teletipos. Vejamos alguns dos tipos de mainframe dessa geração.

 1.1) COLOSSUS


O Colossus é considerado o primeiro computador eletrônico programável, embora isso fosse feito através de plugues e chaves, e não por programas armazenados. O protótipo do Colossus, denominado de Mark I, foi construído em 1943 pela Inglaterra e entrou em operação no início de 1944, como parte do esforço de decriptar as mensagens enviadas pela Wehrmacht durante a II Guerra Mundial. Esse assunto por si só merece muitas horas de leitura. Recomendo.

O Mark II entrou em operação em junho de 1944, na época do desembarque aliado na Normandia. Até o fim da guerra já havia dez Colossi em operação e um décimo primeiro em construção.

A foto mostra apenas parte do Colossus. Ele era formado por duas seções de 5,50 metros de comprimento por 2,30 metros de altura. Usava 2.400 válvulas. Por conta delas, o Colossus raramente era desligado: a quantidade de calor gerada no momento de ativação da máquina poderia fritar todos os circuitos e estourar as válvulas do aparelho, algo que seria muito custoso. Por isso o computador passava meses inteiros ligado – e quando tinha que ser reiniciado o processo era feito o mais lentamente possível.

Ele era considerado tão secreto que todos eles foram desmontados em peças pequenas na década de 1960, para não permitir inferir seu funcionamento. Todas as informações de projeto foram queimadas, incluindo as plantas e desenhos. Só na década de 1970 se soube da existência dos Colossi.

 1.2) ENIAC


O ENIAC (Electronic Numerical Integrator and Computer) entrou em operação em 14 de fevereiro de 1946, na Universidade da Pensilvânia. Tinha 40 gabinetes, com 100 mil componentes e 17 mil válvulas. Pesava 27 toneladas, tinha 24,40 metros de comprimento e ocupava 170 metros quadrados. A temperatura ambiente, apesar dos inúmeros ventiladores, chegava às vezes a 67 graus centígrados.

Sua programação era feita por fios e interruptores. Como tinha sido projetado para resolver cálculos de artilharia, quando uma nova exigência surgia sua reprogramação era muito lenta, tarefa executada por um grupo de mulheres, como se vê na foto abaixo. Por sinal, elas e mais cinco homens participaram do projeto do ENIAC.


1.3) UNIVAC

O UNIVAC (Universal Automatic Computer) entrou em operação em 1951. Foi o primeiro computador produzido em grande escala. Era programado por 6.000 chaves e conectando-se cabos a um painel. Usava 5.200 válvulas, 18.000 diodos de germânio, consumia 125kW e pesava 13 toneladas. Juntamente com os periféricos, ocupava 35 metros quadrados. Quando era ligado, as luzes da vizinhança momentaneamente diminuíam de brilho. Os projetistas do UNIVAC foram os mesmos do ENIAC.

Abaixo, foto de uma instalação com o primeiro modelo do UNIVAC. O computador é aquele grande armário ao fundo.

A console do operador é mostrada na foto abaixo.

O UNIVAC custava na época entre US$ 1,250,000 e US$ 1,500,000. No Brasil, ele foi um dos primeiros computadores adquiridos, no caso pelo IBGE em 1961, ao preço de US$ 2,976,351 incluindo alguns periféricos e acessórios, com a finalidade de ser usado no censo demográfico.

 1.4) ElectroData 205 e 220


O ElectroData 205 foi lançado em meados dos anos 1950. Era um computador de custo relativamente baixo, porém usava válvulas e era de processamento lento. Mesmo assim, fez muito sucesso. Foi sucedido pelo ElectroData 220, o último computador fabricado e lançado no mercado usando ainda válvulas, numa época em que outros fabricantes já usavam transistores. Em virtude disso, não teve muita aceitação. A ElectroData foi então comprada pela Burroughs.

A foto abaixo mostra um 205 comprado pela PUC-RIO e entrado em operação em 13 de junho de 1960. Ocupava uma sala inteira, pesava 1 tonelada e usava 3500 válvulas. Consumia 70 kVA. A PUC teve de construir um sistema de ar condicionado exclusivamente para ele. Tinha 16 kB de memória. Um operador está sentado diante da console do computador, que está fechado e parece ser aquele armário ao fundo.


Abaixo uma animação da console do computador.

2) MAINFRAMES DE SEGUNDA GERAÇÃO

Estes já usavam transistores em seus circuitos, o que implicava em menor tamanho, menos consumo de energia elétrica e menos aumento de temperatura ao operarem. Já aceitavam programas em algumas linguagens ainda rudimentares. Esses programas eram codificados em folhas de papel apropriadas, perfurados em cartões em máquinas destinadas a isso e lidos por leitoras de cartão, que alimentavam o programa para execução pela CPU.

Com a popularização do uso de computadores por empresas, já não fazia sentido comprar apenas a CPU. Por isso, eram fabricados vários periféricos que faziam parte então de um sistema integrado e modular, que cada empresa podia compor à vontade, sendo a CPU o elemento principal.

 2.1) IBM 1401


Foi apresentado ao mercado em 5 de outubro de 1959. Tinha 4 kB de memória padrão (extensíveis para mais 16 kB) e era totalmente transistorizado.

Era parte de um sistema completo, sendo o mais simples formado pelo processador, uma leitora/perfuradora de cartões de 80 posições IBM 1402 e uma impressora, a famosa IBM 1403. Também podiam ser acopladas unidades de fita magnética. O conjunto todo podia ocupar uma sala de consideráveis dimensões e era destinado a empresas de pequeno porte. Abaixo, foto de um desses conjuntos.


À esquerda vemos a leitora/perfuradora de cartões; ao centro, onde está a mão da senhorita, a CPU 1401 e acoplada a ela um gabinete de extensão de memória para 16 kB; em primeiro plano, a impressora e ao fundo uma unidade de fita magnética. Havia também uma console para o operador, não mostrada na foto.

2.2) BURROUGHS famílias 100/200/300/500

A Burroughs na época era a segunda maior fabricante de computadores no mundo, sendo a IBM a primeira. Ela lançou uma série de mainframes cujos códigos eram das famílias acima citadas. Não encontrei a respeito deles informações que interessassem a esta postagem.

Na foto abaixo, um B500, de cerca de 1963.


3) MAINFRAMES DE TERCEIRA GERAÇÃO

Essa geração já usava circuito integrado e entrou em operação na década de 1960. Os circuitos integrados possibilitaram uma grande diminuição do tamanho e peso dos computadores, e uma substancial melhoria na sua velocidade de processamento. Mas ainda se destinavam a empresas, em virtude da necessidade de resfriamento, do consumo de energia elétrica e do ainda razoável peso deles.

3.1) BURROUGHS

A Burroughs foi uma das primeiras empresas a fabricar computadores com circuito integrado. Ela estabeleceu três diferentes linhas de mainframes: a Small Systems, a Medium Systems e a Large Systems.

3.1.1) BURROUGHS SMALL SYSTEMS

Essa linha foi introduzida em meados dos anos 1970 e consistiu nos mainframes da família B1000, composta pelos B1700, B1800 e B1900. Foi descontinuada em 1987.

3.1.2) BURROUGHS MEDIUM SYSTEMS

Essa linha foi iniciada pelo B2500, lançado em 1966, ao qual sucedeu o B3500, que entrou em operação em 1968. O B2500 tinha 60kB de memória e pesava 270 kg; o B3500 tinha 500kB de memória e pesava 320 kg. Abaixo se vê uma instalação de B3500.


A foto mostra em primeiro plano à esquerda uma unidade horizontal de fita magnética e ao lado direito da foto duas impressoras. Ao fundo à esquerda, a console da CPU (o móvel fino com uma base à frente), ladeado pelas duas CPU's. O equipamento grande ao fundo é um conjunto de discos. Ao fundo, na extrema direita, vista parcial de uma perfuradora de fita de papel. Muito escondida, entre ela e a impressora de trás, uma unidade de perfuração de cartões.

A família B2500/B3500 foi sucedida pelos B2700/B3700/B4700 em 1972, B2800/B3800/B4800 em 1976 e pelos B2900/B3900/B4900 em 1980.

3.1.3) BURROUGHS LARGE SYSTEMS

Essa linha foi iniciada pelo B5000, lançado em 1961, seguido pelo B5500, em 1964, ambos ainda usando transistores. Em 1969 foi lançado o B6500, já agora usando circuitos integrados, ao qual se seguiram o B6700 em 1971 e outros mais até 1985.

Em 1986 a Burroughs comprou a Sperry e formou a Unisys, acrônimo de UNited Information SYStem.

3.2) IBM /360, /370 e /390

Talvez o computador de maior sucesso da história. Lançado em 07 de abril de 1964, tinha na sua primeira versão uma memória de 32kB. Com o /360 a IBM conquistou 70% do mercado mundial de computadores. O termo 360 foi usado para indicar que o computador podia ser usado por todos os tipos de consumidores, grandes ou pequenos, corporativos ou acadêmicos. O /360 revolucionou a indústria e a concepção dos computadores dali em diante. Seria longo detalhar o porquê disso.

A família /360 teve várias versões, como o IBM /360 modelo 91, o 125, o 145, o 148 e o 158. Abaixo, foto do /360 modelo 91.


Uma característica do /360 era sua escalabilidade, ou seja, a empresa podia comprar uma versão menor e depois migrar sucessivamente para versões maiores, sem necessidade de refazer algo já existente anteriormente. Também se caracterizava pela modularidade: a empresa podia comprar determinada quantidade ou espécie de periféricos e depois acrescentar outros.

Em 30 de junho de 1970 a IBM lançou o /370, uma versão aprimorada do /360 e que também constituiu uma família. E em 1990 lançou a família /390.

Abaixo, foto do /370.

Sendo este um Fundo do Baú, paramos por aqui o texto, eis que não devemos ultrapassar certa época em direção aos dias de hoje.

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PS: O "Saudades do Rio" mais uma vez agradece a colaboração do Helio Ribeiro.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

ONDE É?

 

FOTO 1 (enviada pelo Joel - quem viu a foto no Facebook está excluído)


FOTO 2 (acervo A. Decourt)

FOTO 3 (acervo João Carlos)


FOTO 4 (enviada pelo GMA)


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

ESCOLAS PÚBLICAS


Escola Praça 11de Junho 

Esta escola, típica do início do século XX, é eclética de tendência geral clássica. Houve outras com o mesmo partido, como a Escola Gonçalves Dias, que teve um andar extra acrescentado mais tarde, mas que originalmente era quase igual a esta. 

Tenho a impressão de que estava alinhada com o Canal do Mangue, pela posição das palmeiras ao fundo, o que a colocaria como alvo fácil das demolições feitas para a abertura da Pres. Vargas.

O conjunto escultórico sobre a entrada principal certamente mostrava o brasão da Guanabara (Districto Federal) e alegorias cercando um relógio.

Só um detalhe adicional, a Escola Gonçalves Dias ficava - e ainda fica - ao lado do Colégio Pedro II, no Campo de São Cristóvão. Essa é uma das escolas de Pedro Segundo, construídas com a verba que seria usada para a construção de uma estátua homenageando o monarca pela vitória da Guerra do Paraguai.


Nesta foto, do Acervo da Biblioteca do Estado do Rio de Janeiro, vemos a Escola Gonçalves Dias, em São Cristóvão, cujo prédio foi oferecido à municipalidade pelo comércio da Corte do Rio de Janeiro em 1872. Destaque para arquitetura do frontal, janelas e grades trabalhadas em ferro - reparar a conformação simétrica em alas e a presença do relógio acima da ala central.

O "site" da FAU-UFRJ nos lembra o emblemático episódio, ocorrido após a Guerra do Paraguai, no qual D. Pedro II doou o bronze da estátua equestre que seria erguida em sua homenagem para a construção de escolas.

As escolas então construídas, que ficaram conhecidas como "Escolas do Imperador", caracterizam-se pela imponência que resulta da escala e da implantação e pela nobreza em seu acabamento e materiais.

Continua o texto: a arquitetura obedece ao estilo classicizante (simetria, embasamento de cantaria, frontões, ordens clássicas, vergas em arco). A simetria é não apenas um recurso formal, mas consequência da necessidade de dividir o espaço da escola em ala feminina e masculina.

Os relógios engastados nos tímpanos, em substituição aos sinos, são bastante claros quanto à ruptura entre Estado e Igreja, inclusive caracterizando o primeiro com a marca da modernidade. Neste mesmo frontão encontravam-se ainda as armas imperiais. As duas torres laterais acabam por conferir um aspecto de vigilância, ou proteção, ao entorno do edifício.

O Campo de São Cristóvão já foi chamado de Campo de D. Pedro I e, depois de 1890, Praça Marechal Deodoro.

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

PARIS ERA AQUI

As obras de construção da Avenida Central (Av. Rio Branco) tiveram início em 8 de março de 1904, comandadas pela firma Antonio Jannuzzi, Irmão & Cia.

Esta avenida, a partir de 1912 chamada de Avenida Rio Branco, foi aberta no Governo Pereira Passos, com a grande colaboração do engenheiro Paulo de Frontin. Este, em 14 meses de trabalho, construiu esta avenida de 1800 metros de comprimento e 33 de largura, rasgada de mar a mar, do Largo da Prainha à Praia de Santa Luzia.

Segundo nos conta Gastão Cruls, ao contrário do que vaticinavam retrógrados e pessimistas diante daquele terrível bota-abaixo de 550 casas que, ao seu parecer, dificilmente seriam substituídas, já em 1908 não havia mais um só terreno a vender.

Datam, também, desta época o calçamento a asfalto, realizados em larga escala após uma experiência inicial, em 1905, na Rua Gonçalves Dias, entre Ouvidor e Sete de Setembro. Esta substituição dos paralelepípedos coincidiu com o aparecimento de automóveis que, de 12 em 1904, já eram 2522 em 1914.

Logo surgiram prédios que se distinguiram na Av. Central, tais como o da Escola de Belas-Artes, a Biblioteca Nacional, o Municipal, o Clube de Engenharia, a Caixa de Amortização, o Clube Naval, o Jockey Club, o Derby Club, o Jornal do Comércio, o Jornal do Brasil, a Equitativa, a Companhia Docas de Santos, entre outros.

Era o Rio da “Belle Époque”, o Rio que parecia Paris.

A Praça Marechal Floriano (1910), com o monumento de inspiração positivista idealizado pelo Clube Militar em homenagem ao segundo presidente da República. O Teatro Municipal (1909), a Escola Nacional de Belas Artes (1908) e a Biblioteca Nacional (1910).


À esquerda vemos a sede do Jockey Club, inaugurada em 1913. Ao lado do prédio do Jockey ficava a sede do Derby Club, projeto do mesmo arquiteto, inaugurada em 1916. Em 1932 os antigos rivais se uniram e o conjunto dos imóveis transformou-se na sede do Jockey Club Brasileiro. À direita vemos o prédio do Clube Naval que, modificado, ainda ocupa esta esquina até hoje. Esta sede do Clube Naval foi inaugurada em 1910. Mais adiante, à esquerda, o MNBA e a Biblioteca Nacional; à direita, o Teatro Municipal. 


Foto de 1923, com o Hotel Palace, à esquerda, e a sede do Jockey Club, à direita.


Foto por volta de 1920. Automóveis com volantes do lado direito, belos postes no canteiro central, à direita o edifício do Jornal do Brasil.


Esta foto parece a cena de um filme. Acho que o fotógrafo estava na altura da Rua São José, olhando em direção à Praça Mauá.

A decoração talvez fosse a da visita do Rei Alberto da Bélgica. A elegância dos cariocas era impressionante.


Ir à "cidade" era um acontecimento social na primeira metade do século XX.


terça-feira, 15 de agosto de 2023

LARANJEIRAS - HEBRAICA


O Clube Hebraica foi fundado em 1952. Na foto vemos a maquete da nova sede da Hebraica, em Laranjeiras, em reportagem de 1958. Projeto de arquitetura de Henrique Mindlin e parte estrutural a cargo do Prof. Antônio Alves de Noronha. Chulam Derbander foi o engenheiro fiscal da obra. A Comissão de Obra era composta por Scholem Becher, Bernardo Griner, Chil Brafman, Marcos Kaz, Salo Brand, Samuel Gandelman, Adolfho Fridman e Elias Steinberg.

Segundo texto de Arnaldo Niskier, na revista “Manchete Esportiva”, a obra foi concebida para ser realizada em três etapas, sendo que nos pilotis ficarão a escolinha de arte, bar, chapelaria, hall para exposições, vestiário para crianças, vestiário para instrutores, além de camarins para teatro. O salão de baile terá cerca de mil metros quadrados, com um balcão a três metros e meio do solo. Haverá um perfeito sistema de ar condicionado e o ginásio da Hebraica terá capacidade para 4 mil pessoas.”

Publiquei esta foto em 2011 e merece destaque o que alguns comentaristas escreveram:

Segundo José Roitberg, “os prédios foram construídos BASEADOS neste projeto, com as seguintes diferenças:

1) O prédio tem 5 andares ao invés de 4 do projeto. Não foi feita varanda no último andar, infelizmente, nem a laje superior jamais foi utilizada como área de lazer ou vista. Aparentemente o projeto previa um cineteatro voltado para os fundos, mas foi construído voltado para a frente e muito utilizado ao longo do tempo. A área envidraçada da frente é um enorme salão de festas com pé direito de mais de 7 metros, mas não foi construído o segundo salão que faria parte do ginásio. Até o início dos anos 1990, a casa original que ocupava a encosta do morro, ainda existia e servia para atividades infantis. O projeto previa duas piscinas inviáveis. Uma sobre o Salão de Festas e outra sobre o Ginásio. Não dá para imaginar como os arquitetos foram estúpidos a este ponto. Além do peso gigantesco da água, ambas precisavam de profundidade e isso não podia ser obtido no teto de outras obras. Assim, a piscina dianteira foi substituída por uma tosca quadra polivalente com piso em concreto, que ainda existe. Não houve sequer dinheiro para fazer uma cobertura desta quadra.

2) A piscina dianteira foi movida do telhado do salão para o solo, onde deveria ter existido uma grande área de passagem, praticamente sem utilização no projeto.

3) Notem que o terreno onde foi construído um prédio residencial que parece ser dentro do clube não estava contemplado no projeto. Uma estreita área do lado esquerdo deste prédio, sim. Este é o ponto fraco e terrível da Hebraica. O tal prédio poderia ter sido construído à esquerda e o clube teria ganho uma área muito útil. Até hoje não consegui descobrir o motivo disto.

4) Ao longo do tempo o clube adquiriu uma faixa larga à direita da piscina atual e nela fez dois ginásios cobertos sem qualquer possibilidade de arquibancada e com a largura um pouco superior a uma quadra de vôlei somente. Metade deste terreno se tornou o estacionamento do clube.

5) A antiga casa na encosta foi demolida na virada dos anos 1980 para 1990 quando foi construído o ginásio coberto com arquibancadas e um pequeno prédio anexo com salas para judô, ginástica e administração. Até os dias de hoje é uma obra inacabada.

6) A piscina de 25 metros foi projetada para saltos e havia trampolim e plataforma, retiradas no final dos anos 1980. Não é uma piscina passível de se nadar direito, pois a parte rasa mal tem 60 cm de profundidade. Neste caso também houve uma certa burrice no projeto, pois a quantidade de água necessária para encher, com um terço dela com mais de 4 metros de profundidade é enorme a um custo muito alto. Deveria ter sido construída uma piscina para lazer. Por outro lado, tanto esta piscina quanto a da Hebraica de Niterói eram muito avançadas possuindo iluminação abaixo da linha da água nas laterais e era um point judaico nas noites quentes do verão carioca.

7) A Hebraica está nesta localização estanha por alguns fatores. O primeiro deles é ter sido oferecido a comunidade judaica um espaço no entorno da Lagoa como para todos os clubes que assim o desejaram. O oferecido aos judeus foi a ilha onde hoje está o Caiçaras. Os judeus não quiseram ir para lá, pois era vizinha a favela da Praia do Pinto. Uns 25 anos depois os judeus queriam ser sócios do Caiçaras, mas eram proibidos por estatuto, até que uma diretoria aboliu tal cláusula racista.

Em relação aos esportes, tanto a quadra descoberta quando as cobertas não possuem dimensões corretas para nenhum dos esportes de quadra. Imaginar que se jogava vôlei numa quadra feita com placas de concreto é até bizarro.

O ginásio foi mal construído, tem um piso ruim com partes ocas onde uma bola de basquete pára de quicar, a iluminação é improvisada e errada com lâmpadas expostas, sem proteção de grade e a arquibancada parece ter sido feita pro pedreiro e não engenheiro. Principalmente devido à iluminação com risco de quebra das lâmpadas o ginásio não é homologado para jogos acima do infantil. Mesmo assim sempre foi a casa da seleção russa de voleyball em todas as vezes que esteve no Rio de Janeiro. Atualmente é muito utilizado para MMA, pois não há problema com as lâmpadas."

Jane Santucci comentou: "Excelente análise José Roitberg. O mais estranho é a entrada do clube por baixo da piscina, um tanto sufocante. Mas o importante é que é aberto a todos. De 2000 a 2012 frequentei a piscina, na época praticava natação 2 a 3 vezes por semana e discordo em relação a profundidade da piscina, a parte mais rasa tem mais de 0.60 cm, acho que chega a um metro. Não sou entendida em piscinas, mas adorava nadar no Hebraica."


Vemos a entrada da Hebraica nos anos 60. Naquela época era comum policiais militares em frente a colégios e, às vezes, em frente a clubes esportivos em caso de um evento especial.

Contam que há tempos alguns clubes restringiam a entrada de judeus, mas felizmente isto acabou. Hoje, até por conta da mudança de endereços e das novas gerações, vemos grandes núcleos judeus no Leblon e Ipanema, com muitos frequentando clubes como o dos Caiçaras e o Paissandu. Os tradicionais Hebraica, em Laranjeiras, e CIB (Centro Israelita Brasileiro), em Copacabana, perderam muitos sócios.


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

PALÁCIO DOS ESTADOS - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA


Este anúncio, do acervo do Rouen, mostra o Palácio dos Estados, em 1921, em construção para a Exposição Interncaional de 1922, que comemoraria o centenário da Independência do Brasil.  

Neste cartão-postal da coleção do Klerman Lopes vemos o “Pavilhão dos Estados”, inaugurado em 1922 para a Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil. Ficava na Praça XV, ao lado do Museu Histórico Nacional, entre o Largo da Misericórdia e a Ladeira da Misericórdia. 



O objetivo da Expo foi comemorar o centenário da nação brasileira, mediante a exibição de todos os avanços que o país conhecera nos mais variados campos, definindo-se, contudo, como principais os do Trabalho, da Educação, Saúde e Higiene. Durante os seus preparativos, a ideia de expor ao mundo um Brasil moderno e equiparável aos países mais desenvolvidos foi tema de grandes debates na Imprensa, em virtude dos altos custos que isso implicava.


Vemos o Palácio dos Estados em bela fotografia noturna de Bippus.

Autochrome de Marc Ferrez, do acervo do IMS, mostra o Palácio dos Estados ladeado pelos pavilhões da Administração e Distrito Federal.


De traço eclético, o estilo do edifício foi inspirado na Renascença Francesa e seu projeto foi do escritório do arquiteto Hippolyto Pujol Júnior (1880–1952). Tinha cinco andares, uma área aproveitável de 6.192 metros quadrados para os expositores dos estados e uma torre de 45 metros, onde aconteceu uma exposição de jóias. Apesar de se chamar Pavilhão dos Estados, a maior parte dos produtos exibidos era procedente de São Paulo. 



A foto é dos anos 60. Um ano após a realização da exposição, o prédio foi cedido ao Ministério de Agricultura. Com a transferência, no início da década de 1960, da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, o edifício ficou cerca de 15 anos esquecido.

 

Esta e as demais fotos abaixo foram tiradas pelo prezado FlavioM, antigo comentarista do "Saudades do Rio", em 1978, quando o prédio começou a ser demolido.

Arquitetos modernistas, dentre eles Lucio Costa, se engajaram, na década de 1970, em uma campanha para a demolição de diversas edificações do Rio Antigo e o edifício do Ministério da Agricultura foi um dos alvos, bem como o Palácio Monroe.

Segundo um parecer de Lúcio Costa, de 1972, "a demolição daquela almanjarra de concreto lhe seria do maior agrado. Em outro parecer, de 1978, afirmava que "por sua falta de estilo, por sua desproporção, por sua feiúra congênita, já nasceu bastardo." 

Finalmente, em julho de 1978, o prédio começou a ser demolido. O "Jornal do Brasil" de 19/06/1978 noticiava que: "Ao custo de Cr$ 3 milhões e 300 mil, o prédio dará lugar a uma área livre de 3 mil metros quadrados, valorizando o conjunto arquitetônico colonial da Igreja N.S. de Bonsucesso, do Museu Histórico Nacional e da escada remanescente do antigo Morro do Castelo. 

O Conselho Estadual de Cultura chegou a formalizar um tombamento prévio do prédio a ser demolido, mas voltou atrás, por se tratar de imóvel da União. Só o IPHAN poderia tombá-lo, mas não se interessou."

E o assunto deixou de ter importância para o Ministério da Agricultura porque, na época, estava envolvido numa gravíssima epidemia de peste suína.