Esta postagem tem origem no acervo da Casa de Oswaldo Cruz, Fundo Virginia Portocarrero.
Para atuar no
cenário da 2ª Grande Guerra, foi criado o Decreto-Lei nº 6097, de 13 de dezembro de 1943, com o Quadro de Enfermeiras de Emergência da Reserva do Exército (QEERE),
cujas candidatas deveriam ser brasileiras natas, solteiras ou viúvas, ter entre
18 e 45 anos de idade e alguma formação prévia em enfermagem.
Deste modo,
67 enfermeiras, sendo 61 hospitalares e 6 no transporte aéreo, foram integradas
ao Serviço de Saúde da FEB, além de cerca de mil e trezentos médicos,
dentistas, enfermeiros, farmacêuticos e padioleiros.
No mesmo voluntariado,
mas em situação administrativa diferente, foram incluídas na Força Aérea
Brasileira outras seis enfermeiras.
Poucos conhecem a história dessas bravas moças brasileiras.
Esta é Virginia Portocarrero que nasceu em 23 de outubro de 1917, no Rio de Janeiro, filha de Tito
Portocarrero e Dinah de Niemeyer Portocarrero. Viveu sua infância na Tijuca, estudou no Colégio Maria Imaculada, no Pedro II e na Escola Politécnica Nacional de Engenharia. Faleceu no Rio de Janeiro aos 105 anos.
O Governo solicitou voluntários e Virginia inscreveu-se sem o conhecimento da
família e foi selecionada. Uma vez escolhida, era preciso realizar capacitação
através de cursos e treinamentos e foi matriculada no Curso de Emergência de
Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE) - Quadro de Emergência de
Enfermeiras da Reserva do Exército Brasileiro (QEERE).
A conclusão do curso foi
em 2 de junho de 1944 e após essa data ficou à disposição do Primeiro Escalão
da Força Expedicionária Brasileira, cujo contingente total era de 25.334
cidadãos, sendo 67 enfermeiras. Em 7 de julho de 1944, seguiu para Nápoles,
Itália.
O treinamento não se
limitava aos serviços pré-médicos e de socorro, mas abrangem também os
exercícios corporais e as táticas de movimentação em campanha. O local deste treinamento foi na Fortaleza de
São João, onde foram instruídas pela Sra. Iris Rodrigues Belo, entre outros.
A primeira turma de 50
enfermeiras se destinava a acompanhar a 1ª Divisão de Infantaria
Expedicionária,. A parte militar tinha como instrutor o Capitão Carlos de Meira
Matos, designado pelo General Mascarenhas de Moraes, auxiliado pelos
sargentos Bacelar e Willy.
O Curso de
Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE), comportava três
módulos: parte teórica, preparação física e instrução militar. O
treinamento oferecido representou uma estratégia de homogeneização do
comportamento das candidatas, mediante a absorção de um habitus militar
e possibilitando-lhes enfrentar um cenário simulado, com as implicações que
pudessem advir de uma zona de conflito.
As enfermeiras serviram nos hospitais militares,
comandados pelos norte-americanos. A proximidade com a linha de fogo variava de
acordo com o tipo de hospital (estacionamento, campanha, evacuação). Isso não
as livrou dos perigos da guerra, já que as áreas hospitalares também foram
atingidas por bombardeios, incêndios, alagamentos e explosões de minas. Algumas
enfermeiras sofreram ferimentos graves em serviço, como Graziela Afonso de
Carvalho, evacuada de volta ao Rio de Janeiro.
As
enfermeiras (67 jovens) que se juntaram às tropas brasileiras da FEB e à Força
Aérea Brasileira (seis do Grupo de Caça Aéreo da FAB) rumo à Itália serviram em
quatro diferentes hospitais de campanha do exército norte-americano, montados em
Nápoles, Valdibura, Pisa, Pistoia e Livorno.
As jovens, formadas nas escolas de enfermagem do Rio (Anna
Nery, Alfredo Pinto (UniRio), Cruz Vermelha Brasileira) e de São Paulo (Escola
de Enfermagem da USP), tornaram-se as primeiras mulheres a ingressar no serviço
ativo na história das Forças Armadas no país.
Os requisitos não eram simples.
Para inscrever-se, a jovem devia ser brasileira nata, solteira ou viúva, sem
filhos, e ter entre 20 e 40 anos. Era preciso apresentar diploma de enfermeira
ou certificado de curso de samaritana, voluntária socorrista ou declaração de
um estabelecimento de saúde atestando o exercício da função de enfermeira.
Aqui temos uma listagem de 50 voluntárias que fizeram o curso. As que se casaram durante o curso foram dispensadas.
A programação de uma semana do curso preparatório.
A distribuição das alunas no estágio no Hospital Central do Exército.
Vemos nesta foto Elza Cansanção Medeiros, uma das mais destacadas e condecoradas mulheres do Exército Brasileiro. Tive o prazer de conhecê-la muitos anos depois da guerra em alguns eventos realizados no Hospital da Cruz Vermelha.
A colorização da foto foi feita por Johann Bauermann.
A montagem fotográfica pelo amigo Gustavo Lemos
e homenageia a Major Elza Cansanção Medeiros, veterana da FEB - Força
Expedicionária Brasileira. Ela foi a primeira brasileira a se apresentar como
voluntária na Diretoria de Saúde do Exército, para lutar na Segunda Guerra
Mundial, aos dezenove anos de idade.
Embora sonhasse em lutar na linha de
frente, teve que se conformar em seguir como uma das setenta e três Enfermeiras
no Destacamento Precursor de Saúde da Força Expedicionária Brasileira, uma vez
que o Exército Brasileiro, à época, não aceitava mulheres combatentes.
Conta o
Gustavo: "Tenho certeza que os mais velhos vão reconhecer a importância
dessas mulheres que foram um exemplo para toda uma geração. Elas abriram portas
para muita gente e raramente são lembradas."
A Major Elza atuou como
Oficial de Ligação e Enfermeira-Chefe no 7th. Station Hospital, em Livorno. Foi
a mulher mais condecorada do Brasil, com mais de 200 medalhas.