Localizado na Praça Mauá o “Flórida Bar”
era propriedade do Zica, uma figura polêmica do Rio. Antigo estivador e
taxista, o denominado “Rei da Praça Mauá”, chamava-se Manoel da Silva Abreu.
Em 1967 “Zica” aceitou a indenização para a desapropriação do local, através do Decreto-Lei nº 160, de 10/02/1967, que
“Autoriza o Poder Executivo a abrir, ao Ministério da Indústria e do Comércio,
o crédito especial de NCr$ 107.000 para cobrir despesas com indenizações
decorrentes de sentenças judiciais", que se referiam ao "Flórida Bar" e da "Casa Hanseática, do mesmo dono, ambos junto ao Edifício "A Noite".
Foi um bar famoso, pois à noite era frequentado por marujos, prostitutas e outras figuras do sub-mundo carioca. Era considerado o melhor local para fazer câmbio para os frequentadores do Porto do Rio.
Segundo está escrito no verso desta foto, ela foi tirada em
setembro de 1939 e os marinheiros são do navio R.M.S. Ajax.
"Zica" tinha um grande rival na região da Praça Mauá, em meados do século XX. Tratava-se de "Fernandinho", que o denunciou e fez com que fosse preso. "Zica", na ocasião, justificou sua fortuna com uma lista de suas propriedades:
Hotéis: Santista, Magé, Barão de Teffé, São Carlos.
Bares: Belavista, Flórida, Hanseática, Odalisca, Rio.
Confeitarias: Magé e Santista.
Lavanderia dos Hotéis e Similares, Brasilaves, Companhias de Material de Construção, de Transportes, Sociedade Agropecuária, Empresa de Garagens.
A Empresa de Garagens na Av. Presidente Vargas nº 2683.
Bar Rio, na esquina de Sacadura Cabral com Praça Mauá.
Bar Odalisca na Rua Sacadura Cabral.
Casa Simpatia, no Centro.
À noite, no "Flórida Bar" o ambiente era "barra pesada". A moça chamava-se Babel.
Esta foto mostra um
horário tranquilo no “Flórida Bar”. O chão quadriculado chama a atenção.
Algumas coisas que são realmente antigas no Rio e
podem ser observadas na foto:
- Fila imensa lá fora para pegar o ônibus;
- Cartaz tipo "A Gerência" no espelho à
direita;
- A cara de "pague no caixa" do gerente,
que fez o freguês largar o copo para pagar adiantado.
- A cara- de-pau do mesmo gerente usando a máquina
registradora como porta-tudo, mas sem registrar nada (a máquina está ao
contrário).
Historinhas do "Flórida Bar", contadas pelo AG:
"Contam que um dia foi apreendido um lote com 10 mil
baralhos de plástico no Porto do Rio. Naquele tempo baralho de plástico era
coisa fina que só tinha importado. Pois bem, o lote foi a leilão e um cara
arrematou por 20 mil cruzeiros.
Nessa mesma tarde, o Zica chamou o arrematador no bar Flórida e ofereceu-lhe
500 cruzeiros pelo lote. Mas o homem riu e, por saber de quem se tratava,
disse-lhe polidamente:
- Mas se eu arrematei por 20 mil cruzeiros porque iria lhe vender por 500 ?
- Aí o Zica tirou um pacotinho do bolso e disse com a voz sedosa:
- Porque todos os ases do lote estão aqui comigo."
A outra do Flórida é com o Sivuca, policial cana
dura; o tal do "bandido bom é bandido morto".
Pois conta o Sivuca que aí pelos idos de 1954, ele estava fazendo uma
diligência na área da Praça Mauá e viu um cara no Bar Flórida com um blusão
todo estampado. Imediatamente pensou: "ou esse cara é gringo embarcadiço;
ou é malandro; ou é viado".
Explicação: naquela época sujeito respeitável não usava blusão estampado ou de
cor viva; ou era branco ou era escuro.
Pois bem, o Sivuca, que sempre se dizia "um policial educado",
resolveu investigar. Chegou perto do "blusão de fresco" e disse:
- Cavalheiro, boa tarde. Por favor, poderia apresentar seus documentos? É a
polícia.
Na hora o cara respondeu: "Ora, vá à merda".
Sivuca, agarrou o vivente pelo colarinho e aos tabefes o levou para a
delegacia. Lá, de olhos arregalados o malandro justificava:
- Mas como é que eu ia saber que o senhor era
policial? Chegou me chamando de cavalheiro...”
FONTE: revistas "Manchete" e "O Cruzeiro".