CARROS ESPORTIVOS NACIONAIS (2), por Helio Ribeiro
Esta postagem é
continuação daquela de ontem.
1) BRASINCA UIRAPURU
Fundada em setembro de 1949 pela Gil & Schüler, uma das maiores revendas Ford do interior de São Paulo, a Inca – Indústria Nacional de Carrocerias de Aço S/A foi a primeira firma do país a fabricar carrocerias metálicas para ônibus. Por volta de 1952, para não ser confundida com a Incar, pequena fábrica de carrocerias de madeira então existente, mudou de nome para Brasinca.
Embora
não fosse a finalidade da Brasinca, ela resolveu apostar num veículo esportivo.
Usando o chassis do Aero Willys, projetou um automóvel de duas portas, que
batizou de Boulevard. Oferecido à
Willys Overland, foi recusado de pronto. Mas a Brasinca insistiu e daí surgiu o
projeto Uirapuru.
Lançado
no Salão de Automóveis de 1964 com a sigla 4200 GT, projetado e construído por
Rigoberto Soler, a produção teve início em março de 1965. Usava mecânica
Chevrolet de caminhão, com motor de 4.217 cc, seis cilindros em linha, tripla
carburação e 155 CV. Na época era o carro de série mais veloz do Brasil,
atingindo 200 km/h. Foto abaixo.
A crise brasileira de meados dos anos 1960 forçou o abandono do projeto em 1966, após 50 unidades comercializadas. O projeto foi vendido para a STV – Sociedade Técnica de Veículos Ltda, de São Paulo, que o relançou com o nome Uirapuru. Várias alterações foram efetuadas, embora poucas na parte externa.
No
V Salão do Automóvel foi lançada a raríssima versão conversível do carro, da
qual só foram produzidas 3 unidades.
A produção almejada de 20 unidades mensais das três versões do Uirapuru jamais se concretizou e já em 1967 a empresa suspendeu a fabricação delas, após construídas 76 unidades no total, inclusive as da época da Brasinca.
2) HOFSTETTER
Talvez o automóvel de estilo mais radical já fabricado até hoje no Brasil, o Hofstetter foi desenhado em 1973 na Suíça, pelo brasileiro de ascendência suíça Mário Richard Hofstetter, na época com apenas 16 anos de idade. O motor era um Cosworth Brian Hart, normalmente usado em Fórmula 1. As portas eram no estilo gaivota e os vidros fixos, de modo que o ar condicionado era ligado automaticamente quando se dava partida no motor. Foto abaixo.
Hofstetter inspirou-se nos moderníssimos carros-conceito italianos da época, em especial o Alfa Romeo Carabo e o Maserati Boomerang, projetado por Giugiaro para a Ital-Design. Abaixo vemos fotos desses dois carros: Carabo em cima e Boomerang embaixo.
Embora construído o primeiro protótipo em 1973, o segundo só foi completado em 1982, já no Brasil. Sua carroceria de fibra de vidro mal atingia 1,03 m de altura. A parte mecânica era uma mistura total: motor 1.6 do Passat, suspensão dianteira do Chevette, suspensão traseira McPherson do Passat, arrefecimento da Kombi diesel.
Apresentado no XIII
Salão do Automóvel em 1984, a produção foi iniciada em meados de 1986, pela Hofstetter
Indústria e Comércio de Veículos Ltda, com produção limitada prevista para 30
carros por ano. Até o final de 1987 haviam sido vendidas 13 unidades.
Abaixo uma vista do interior do modelo Turbo do Hofstetter.
Por volta de 1987 o fabricante passou a ser a Tecnodesign Mecânica, Indústria e Comércio Ltda e foi lançado o modelo Hofstetter Cortada, sobrenome do proprietário da firma.
O último exemplar de que se tem notícia estava à venda em 1993.
3) VENTURA
A firma L’Automobile Distribuidora
de Veículos Ltda, de São Paulo, foi fundada em 1975, com o objetivo de fabricar
réplicas de carros históricos.
No XI Salão de
Automóveis, em 1978, foi apresentado o Ventura,
sobre plataforma VW Brasília com motor de Variant II.
Os faróis eram do Dodge Polara e as lanternas traseiras eram do Alfa Romeo 2300. O interior era rebuscado, com painel, console e túnel revestidos de couro. Os bancos eram reclináveis, de couro com veludo cotelê. Os alto-falantes eram acoplados aos encostos de cabeça. Havia itens pouco comuns à época: toca-fitas, ar condicionado, vidros elétricos e teto solar deslizante.
O modelo agradou inclusive a estrangeiros. Para atender à demanda, a fábrica se mudou para São Bernardo do Campo. Eram produzidas 60 unidades por mês.
Com a recessão da
década de 1980, no ano de 1983 a L’Automobile se desfez. Sua sucessora foi a L’Auto
Craft, que continuou a produzir o Ventura, nas suas instalações em Barra do
Piraí.
4) BIANCO
Ottorino (Tino) Bianco fundou em 1974 a Toni Bianco Competições, com oficina em Diadema. Era projetista e construtor de carros esportivos. Em 1976 lançou no X Salão do Automóvel o Bianco S, que teve grande aceitação e vendeu 180 unidades naquele salão. A carroceria era de plástico reforçado com fibra de vidro. A plataforma era a da VW Brasília, com motor de 1600 cc, dupla carburação e 65 CV de potência.
A firma não conseguiu dar conta da grande procura e a vendeu, mantendo o logotipo e a marca por mais três anos.
No XI Salão do
Automóvel, em 1978, a nova fabricante lançou o Tarpan, adaptado para atender a normas de exportação. O modelo não
foi bem aceito. Em 1983 a firma encerrou as atividades.
5) AURORA
Em 1989 a firma Aurora
Projetos Automobilísticos Ltda, de Valinhos (SP) projetou um automóvel
fora-de-série inspirado nos GTs Ferrari e Porsche. Concebido por Oduvaldo
Barranco, auxiliado por dois projetistas de carros de competição argentinos, o
carro foi apresentado no XVI Salão do Automóvel, em 1990, ainda sob a forma de
maquete, e no salão seguinte, em 1992, já na forma definitiva. O projeto era
ambicioso e a construção complexa. O motor era o 2.0 do Monza, com cilindrada
aumentada para 2184 cc e equipado com turbocompressor Garret, elevando a
potência para 214 CV. O modelo atingia 205 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em menos
de nove segundos, superando todos os modelos nacionais em aceleração e
velocidade máxima.
Por azar, a empresa lançou o carro justamente quando o governo Collor liberou as importações. Somente três unidades foram vendidas. A firma fechou em 1993.
6) SANTA MATILDE
A Companhia Industrial Santa
Matilde é uma firma muito antiga, fundada em 1916, com objetivo de explorar
manganês na área de Conselheiro Lafaiete. Em 1926 entrou no ramo ferroviário, reformando
e fazendo manutenção de vagões. Em 1946 passou a fabricá-los. Em 1968 ingressou
no ramo de máquinas agrícolas, tendo grande sucesso durante anos.
Mas foi a partir de
1975 que a Santa Matilde resolveu construir carros esportivos, ao lançar o SM
4.1, com componentes mecânicos do Opala. O projeto foi de Ana Lídia Pimentel,
filha do presidente da empresa, tendo como responsável pela construção do
protótipo o piloto Renato Peixoto.
O carro foi apresentado
na Expo-77 e lançado oficialmente no XI Salão do Automóvel. A imprensa
especializada se dividiu: parte elogiou o carro, parte o criticou.
Ao longo dos anos foram sendo lançados modelos ligeiramente diferentes. Abaixo, um SM ano 1984.
Um SM conversível.
Um SM 1992.
Um horrendo SM 1997, construído sob encomenda e supervisão do comprador.
Este foi o último modelo fabricado. Em 2005 a Santa Matilde entrou em falência.
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POSTAGEM -----