sábado, 17 de maio de 2025

DO FUNDO DO BAÚ - ANTIGAMENTE ERA ASSIM

 

Ilustríssimo comentarista do "Saudades do Rio" foi obrigado, como castigo, a "fazer cem linhas" por mau comportamento: "Não devo falar durante a explicação das matérias."

 Será que o castigo foi eficaz?


"Classificação periódica dos elementos" e uma "régua de cálculo". Há muito tempo  sabia como manejá-las, mas hoje... 

Quantas coisas tínhamos que aprender e quantas serviram para a vida adulta? 

Encontrei um caderno de provas da década de 1960, do ginásio do Colégio Santo Inácio e não consegui responder a quase nenhuma das perguntas das diversas matérias. Somente consultando o Google saberia responder a todas. E vocês?

1) Quem criou os éfetas? A paz de Callia foi feita em que época? Onde morreu Ciro, o Jovem? Quando foi a paz de Antálcidas (História – 3º ginásio).

2) No “mapa-mudo” localizar a Península de Taitao, a Península Paraguamo, o Rio Negro (platino) e o Cabo Correntes (Geografia-2º ginásio). 

3) Quais os seis pecados contra o Espírito Santo? (Religião-2º ginásio). 

4) Conjugue o “présent du subjonctif du verbe savoir” (Francês-2º ginásio).

5) Determine a perspectiva paralela de um cone reto 0,06m de altura, sabendo-se que o diâmetro da base vale 0,06m e o afastamento do centro é igual a 0,05m (Desenho-2º ginásio). 

6) Numa proporção contínua o produto dos termos é 104976. O quarto termo é igual à soma dos meios. Escrever a proporção (Matemática-3º ginásio). 

7) Inscreve-se um triângulo ABC numa circunferência de centro O. Traça-se a bissetriz interna do ângulo A que corta a reta BC no ponto E e a circunferência no ponto D. Liga-se D a O. Mostrar que DO é mediatriz do segmento BC (Matemática-4º ginásio). 

8) Traduza: proelia contra finítimos civitatem perturbaverant (Latim – 4º ginásio). 

9) Qual a importância da lei de Proust para diferenciar uma mistura de uma combinação? (Ciências – 4º ginásio). 

10) Qual a diferença entre latria, hiperdulia, dulia e protodulia? (Religião-3º ginásio). 

11) Qual destes reis assírios conquistou Israel? Sargão II, Senaqueribe ou Assaradão (História – 3º ginásio). 

12) Defina e exemplifique substantivos epicenos (Português-4º ginásio). 

13) Hodie mira spectacula incolis praebebuntur (Latim-4º ginásio). 

14) Utilizando somente sódio, etanol e pentacloreto de fósforo, obtenha o éter dietílico (Química-2º científico). 

15)Enuncie e demonstre o teorema de Varignon (Ciências-4º Ginásio).

Poderíamos ser bem sucedidos ignorando tudo isto?

Muito antigamente eram assim os cadernos do Colégio Santo Inácio. Acabaram lá pelo início dos anos 1960.


Depois os antigos cadernos foram substituídos por estes da FENAME - Fundação Nacional de Material Escolar. Por que FENAME e não FUNAME?

Havia nas cores verde e amarela.

No final do curso já se usavam aqueles fichários da Papelaria União.


Na minha época eram assim as salas de aula do Colégio Santo Inácio. Abaixo do crucifixo ficava a imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho. Usava-se paletó, todos os alunos deveriam ficar de pé e em silêncio quando o professor entrava na sala. A disciplina era muito rígida.

Nessas carteiras, divididas por dois alunos, ainda havia um buraco bem no meio da mesa, onde anos antes eram colocados os tinteiros. As cortinas das janelas pareciam velas de um barco.

Evidentemente havia muitas brincadeiras, sempre severamente punidas. Uma delas era colocar a mesa do professor o mais próximo possível da borda da plataforma, para que ela caísse no meio da aula. A chamada, que ocorria a cada aula, era pelo nome completo do aluno. O resultado é que todos sabem, até hoje, o nome completo dos colegas, tantas foram as repetições.


sexta-feira, 16 de maio de 2025

LUMINOSOS

 

FOTO 1: Em 2007 nosso prezado amigo Rouen publicou esta fotografia no estupendo "fotolog ARQUEOLOGIA DO RIO" com o seguinte texto: 

“Em meados dos anos 1950 eu morava na Av. Rui Barbosa e vivia incansavelmente debruçado na varanda vendo aquela vista fantástica. Passei a reparar uma mudança na paisagem em certa área acima da Av. São Sebastião, na Urca. Eram uns poucos painéis esverdeados que cresciam até formar um enorme retângulo. Ninguém imaginava o que poderia ser. Até que o jornal “O Globo” inaugurou o “Jornal Luminoso”, no final de julho de 1956.”

Lembro que muito se discutiu naquela postagem do Rouen como funcionava aquela “geringonça”, com todos os comentaristas palpitando. Recentemente descobri uma reportagem que explicava o funcionamento:

“Os jornais luminosos começaram no Japão, nos anos 50, quando um engenheiro que trabalhava com projetores coloridos de propaganda, inventou o jornal luminoso colorido.

Utilizando o mercúrio, que é um metal líquido, para fazer os contatos elétricos, o engenheiro eliminou a necessidade das chaves individuais de cada lâmpada, tornando possível a confecção de matrizes mais simples.

Em uma fita de papel “crafto” especial, medindo 22,5 cm de largura, são desenhadas as letras formando as palavras e as frases. Com uma ponta de fogo e seguindo a orientação de uma matriz, o técnico perfura o papel de acordo com o desenho prévio, correspondendo cada furo a uma lâmpada que se deverá acender no luminoso para a formação da letra ou do desenho previsto.

Depois de feitas as perfurações, letra por letra, de todo o noticiário ou do anúncio a ser reproduzido, procede-se a um lixamento da fita “crafto”, aparando-se as rebarbas e pulverizando-se sua superfície com um talco especial. Esta fita é colocada em uma máquina composta de vários cilindros, deslizando rapidamente até a caixa de comando. A caixa de comando tem forma retangular, medindo 25cm de largura por um metro de comprimento. Esta caixa tem como fundo uma placa de cobre com 5040 pontos de contato, ligados às 5040 lâmpadas do gigantesco luminoso.

A fita “crafto” desliza sobre a superfície de cobre, separando os pontos de contatos de uma camada de mercúrio carregada de eletricidade. Essa camada de mercúrio, que pesa vinte quilos, entra em contato com a chapa de cobre apenas nos pontos perfurados, estabelecendo assim a ligação e acendendo as lâmpadas correspondentes no painel. O contínuo movimento da fita, cujas pontas são emendadas, reproduz no luminoso tudo o que nela estiver gravado.

O primeiro jornal luminoso instalado no Rio tinha as seguintes medidas: 78 metros de comprimento por 12 metros de altura (936 metros quadrados), sendo suas letras coloridas visíveis a mais de quatro quilômetros de distância. Na sua estrutura foram empregados 2520 refletores de metal, 50 toneladas de ferro e 5040 lâmpadas de 120 volts.”

FOTO 2: A empresa responsável pelo “Jornal Luminoso” era a “Rainbow”. Este jornal fazia muito sucesso, mas aconteceu um fato curioso em abril de 1957, como comentou o Decourt: um gaiato qualquer ligou para o operador do letreiro, dizendo que era da redação de "O Globo", e mandou colocar a seguinte notícia "Rússia invade Turquia", ou seja, na época de Guerra Fria a 3ª Guerra Mundial poderia estar começando. A notícia ficou algumas horas no ar, apavorando muita gente...

FOTO 3: O "Jornal Luminoso da Rainbow" aparece bem à esquerda.

FOTO 4: Mas havia outros luminosos que chamavam a atenção. O anúncio da Salutaris com o copo se enchendo de água com gás, no Morro do Pasmado, era conhecido por todos que passavam pela vizinhança. 

Nesta foto vemos ainda o anúncio "Cinzano" atrás do prédio da Policlínica de Botafogo e, mais à direita, as sedes dos clubes Guanabara e Botafogo.


FOTO 5: Ainda na região do Pasmado, vemos os luminosos "Salutaris", "Cinzano", "Coca-Cola", "Mido".


FOTO 6: No Morro da Viúva, antes de ser cercado pelos arranha-céus, havia luminosos "Pilot" e "Chapeos Serricchio". O logotipo da Texaco do Posto Amendoeira aparece só um pouquinho, atrás das árvores.


FOTO 7: Bem à direita, no alto dos prédios, vemos mais dois luminosos que chamavam a atenção: o da "ESSO" e o do "Novo Mundo".

quarta-feira, 14 de maio de 2025

LAGOA

Há poucos dias recebi este email: "Olá, Luiz, meu nome é André Maurício e acompanho o seu blog de fotos antigas do Rio faz tempo, mas só agora fui incentivado a mandar foto para ver se tem interesse, tenho outras que estou escaneando. 

São fotos da família que meu Pai fez, ele gostava de filmar e fotografar, Bias Francisco Gonçalves. Essa foto que estou mandando acho que é do ano de 1970, sou eu em um carrinho ao lado do tobogã amarelo que tinha na altura da favela da Catacumba.

Grato pela atenção
André Maurício"

Agradeço ao André Maurício, pois as fotos familiares são sempre interessantes, por mostrar o cotidiano do Rio antigo.


FOTO 1: Vemos o André Maurício pilotando um bólido na pista que ficava entre o Corte do Cantagalo e a antiga Favela da Catacumba. 
Com uma boa lupa é possível me ver lá naquele prédio ao fundo fotografando as mudanças da Lagoa após a construção do viaduto Augusto Frederico Schmidt.


FOTO 2: Aqui, em foto do acervo do "Correio da Manhã", vemos que antes da conclusão das obras do espaço projetado para a Lagoa, vários equipamentos temporários foram instalados para diversão, tais como uma pequena pista de kart, pedalinhos e mini-golfe. 
Lá no fundo, junto ao Corte do Cantagalo, ainda funcionava o famoso posto de gasolina Ipiranga.



FOTO : Da janela de casa, pouco tempo depois das fotos anteriores, tirei esta fotografia. A remoção da Favela da Catacumba já tinha acontecido e não havia sido iniciada a construção dos atuais prédios de luxo entre o Corte e a Curva do Calombo. 

O posto da Petrobrás e o tobogã, que teve um sucesso estrondoso e efêmero, lá estavam, diante do que hoje é o Parque da Catacumba. Os restos do aterro feito para a duplicação das pistas da Epitácio Pessoa e para a construção do Viaduto Augusto Frederico Schmidt ainda enfeiavam esta área. 

E, solitária, a casa do amigo do Lavra a tudo testemunhava. E da janela, do lado de cá, eu também.


segunda-feira, 12 de maio de 2025

PRAÇA GENERAL TIBÚRCIO

A Praça General Tibúrcio, situada no final da Rua Pasteur, já foi chamada de Praça Major Ribeiro Pinheiro e Praça Adalberto Ferreira. Já apareceu inúmeras vezes no “Saudades do Rio”.

O homenageado é o general Antônio Tibúrcio Ferreira de Souza, militar que lutou na Guerra do Paraguai.



FOTO 1: Vemos a Praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, em 1938. Ali atrás vemos o prédio em construção onde se instalaria em 1942 a Escola Técnica do Exército que até então funcionava em outro local.

Já sob a influência norte-americana, foi criado o Instituto Militar de Tecnologia (1949). Iniciavam-se, então, programas de estudo, pesquisa e controle de materiais para a indústria.  

Da fusão da Escola Técnica do Exército com o Instituto Militar de Tecnologia, em 1959, nasceu o atual Instituto Militar de Engenharia (IME).

Atualmente o IME é reconhecido como um centro de excelência no ensino da Engenharia.


FOTO : Garimpada pelo Nickolas. Vemos a Praça General Tibúrcio com o monumento aos heróis do drama épico da Retirada da Laguna e de Dourados, capitaneados pelo tenente Antônio João. Data de 1920. O primeiro projeto proposto foi de autoria do general Maciel de Miranda, e deveria ser erguido no pátio interno do Quartel-General do Rio de Janeiro, depois Ministério da Guerra.

O atual monumento, em bronze e granito, foi uma iniciativa do coronel Pedro Cordolino Ferreira de Azevedo. Sobre uma base circular está uma cripta onde se encontram os restos mortais do coronel Camisão, do guia Lopes e do tenente Antônio João, desde 15 de novembro de 1941, quando foi inaugurada. Dessa base ergue-se a coluna onde está a alegoria da Vitória.

Ao centro da coluna estão as estátuas dos três principais heróis: o tenente Antônio João, no momento em que, baleado, cambaleia; o guia Lopes, recurvado, apoiando o queixo no dorso da mão esquerda; e o coronel Camisão, com a fisionomia de quem tem uma grave decisão a tomar, tendo numa das mãos a espada e na outra o mapa de campanha. Mais acima, do ponto onde parte a coluna, erguem-se três grandes alegorias em bronze, representando a Pátria, a Espada e a História.

Diversos artistas participaram da execução do Monumento. A grade à entrada da cripta é de Curzio Zani. A porta de entrada do recinto é de Calmon Barreto; a imagem de Cristo sobre a lápide é do mesmo artista; o lanceiro guardando o sarcófago é de Leão Veloso, e os sete medalhões com efígies e nomes dos heróis são de Adalberto de Matos.


FOTO 3: Esta bela fotografia da Praça General Tibúrcio foi enviada pela Cristina Pedroso e publicada pelo desaparecido Derani. Ao fundo o saudoso prédio da Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, posto abaixo pelos militares na década de 1970. Um solitário Cadillac contorna a praça.


FOTO 4: Nesta foto, garimpada pelo Rouen, vemos a praça com sua configuração antiga. Podemos observar os trilhos do “rodo” para retorno do bonde 4 até o Tabuleiro da Baiana. Aparentemente há uma fila para entrada na bilheteria do bondinho do Pão de Açúcar.


FOTO 5: Um belo cartão-postal com o Morro do Pão de Açúcar, o IME e o monumento aos heróis de Laguna e Dourados.


FOTO 6: Um bonde da linha 4 - P. Vermelha, no "rodo" da Praça General Tibúrcio. O pequeno reboque, aberto, será objeto de comentários do Helio Ribeiro.


FOTO 7: Conta Dunlop que no final do século XIX a Cia. Jardim Botânico conseguiu autorização para o prolongamento da linha de bondes até a antiga Escola Militar, na Praia Vermelha.

O primeiro bonde “Praia Vermelha” trafegou em 26/06/1890. Os trilhos assentados foram obtidos da Cia. de São Cristóvão, pois não os havia nos depósitos da Jardim Botânico. 

Nesta colorização do Nickolas Nogueira vemos o bonde, o Helio poderá confirmar, que fez a última viagem da linha 4, em 28 de setembro de 1962.


FOTO 8: Segundo o Rouen, esta fotografia foi publicada em uma edição do "Cadernos de Automóveis", do jornal "O Globo". Mas tia Milu, embaixadora plenipotenciária da Urca e Adjacências, garante nunca ter havido, nesta época, bodes ou assemelhados para aluguel na Praça General Tibúrcio.


FOTO 9: Terminamos esta série com esta estupenda colorização do Nickolas Nogueira sobre uma foto de sua família: a mãe e as tias dele, elegantemente vestidas, num passeio à Praça General Tibúrcio.