sábado, 31 de maio de 2025

DO FUNDO DO BAÚ

 

ANTEONTEM, ONTEM E HOJE, por Helio Ribeiro

Postagem 1 de 2

Esta postagem e a que se lhe seguirá mostram os diferentes estágios de mudança ocorridos com objetos ou outros assuntos ao longo das décadas. Na postagem de hoje trataremos dos meios de transporte.

As fotos não terão texto associado. Fica a critério dos visitantes tecer comentários para elas. Para indicar a foto à qual se refere o comentário, indique o número da foto e acrescente a letra A, B ou C para ser referir ao estágio de anteontem, ontem e hoje, respectivamente. Exemplo: “Foto 4 A” indica a aparência de anteontem da foto 4.

Vamos a elas.


FOTOS 1 ==> ÔNIBUS RODOVIÁRIOS





FOTOS 2 ==> BICICLETAS





FOTOS 3 ==> BONDES





FOTOS 4 ==> CARROS





FOTOS 5 ==> MOTOCICLETAS





FOTOS 6 ==> SCOOTERS





FOTOS 7 ==> AVIÕES




FOTOS 8 ==> NAVIOS





FOTOS 9 ==> TRENS




----  (conclui  na  próxima postagem)  ----

quinta-feira, 29 de maio de 2025

"CONNIES"

A postagem de hoje conta com a colaboração do JBAN, do Rouen e de outros admirados dos "Constellations", um dos mais bonitos aviões de todos os tempos.

FOTO 1: Um Super Constellation, avião-símbolo de uma época de charme e "glamour". Estes aviões chegaram a partir dos anos 1940. Um pouco adiante foi inaugurada a linha para Nova York. Voava a 480 km/hora! O voo, que durava 16 horas, começava em Porto Alegre e incluía São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Port of Spain, Ciudad Trujillo, até chegar a Nova York.


FOTO 2: Em foto dos anos 1950 vemos o Constellation da Panair do Brasil que "representa um símbolo vivo do Brasil moderno. Honra da aviação comercial brasileira, a Frota Bandeirante liga o Brasil ao mundo, servindo quatro continentes, dezesseis países, oitenta e sete cidades. Panair do Brasil, em seus 22 anos de existência, ofereceu mais um recorde ao seu país, ao completar dois mil saltos sobre o Atlântico Sul".


FOTO 3: Um Constellation da Panair, um hidroavião, a Ilha Fiscal e uma Cantareira.

O Constellation, da Panair do Brasil, foi um dos aviões a hélice mais bonito. 

FOTO 4: Em março de 1946 a PANAIR recebeu seu primeiro Lockheed Constellation 049, sendo a primeira companhia aérea fora dos Estados Unidos a operar esta aeronave. O primeiro vôo decolou a partir de Rio de Janeiro para Recife, Dakar, Lisboa, Paris e Londres.

Vindo dos Estados Unidos o gigantesco avião “Constellation”, o mais veloz aparelho comercial em uso na época, chegou ao Rio em 29/03/1946. A bordo do grande quadrimotor veio um grupo de jornalistas especializados brasileiros e técnicos norte-americanos da empresa fabricante. Também o presidente da Panair, Paulo Sampaio e uma tripulação brasileira.

A chegada do “Constellation” foi um espetáculo para os cariocas que puderam vê-lo planando, rápido e elegante, sobre a cidade.   O voo Nova York-Rio durou 19 horas e 55 minutos e foi comandado por Paulo Lefevre e Coriolano Tenan, acompanhados por Generoso Leite de Castro (radiotelegrafista), Salomão Stur (mecânico) e Emilio Vega (comissário). Houve escala na Guiana Inglesa e foi estabelecido novo recorde de tempo de voo.

O “Constellation” tinha as seguintes características: Envergadura 37,50m; comprimento 29,8m; peso equipado 40800k; altura 7,20m; velocidade máxima 560km; velocidade de cruzeiro 498km; raio de ação 7824km; potencia total dos 4 motores Wright Cyclone 8800 HP; diâmetro de hélice 4,50m; capacidade de combustível 18170 litros. A aeronave dispunha de um sistema de comunicações telefônicas internas, assim como para contato com a terra.

O primeiro voo para os Estados Unidos decolou do Rio nos primeiros dias de abril de 1946.


FOTO 5:  O primeiro "Constellation"


FOTO 6: Nesse postal-propaganda do Hotel Novo Mundo, vemos um Constellation sobrevoando o local em baixa altitude. Não era um avião barulhento. O som de seus motores era uma sinfonia, diziam os admiradores.


FOTO 7: Publicada no “Voando para o Rio”, do JBAN, do acervo de Fernando de Souza Dantas. Vemos o Comandante Decio Vilhena no PP-PCB da Panair do Brasil.

Digno de nota é que as aeronaves desta época ainda não possuíam radar meteorológico. Voar num pais tropical em meio ao mau tempo, rachando uma frente fria, entre 12000 e 16000 pés de altitude, era para poucos. 


FOTO 8: Constellation da Panair do Brasil, prefixo PP-PCF, que pousou de barriga no Galeão em julho de 1962. Lances de emoção viveram os passageiros do Constellation da Panair no aeroporto do Galeão, devido a uma pane no sistema hidráulico do avião. Vindo de Belo Horizonte, sobrevoou a cidade por duas horas para esgotar o combustível. Viaturas dos bombeiros e ambulâncias foram mobilizadas. Felizmente não houve vítimas.


FOTO 9: Em 11/1/1959 ocorreu a queda de um Lockheed L-1049G Super Constellation durante a aproximação para o aeroporto internacional do Rio de Janeiro, com 36 mortos e 3 sobreviventes (dois comissários e o navegador).

FOTO 10: A revista "O Cruzeiro" publicou um gráfico sobre o acidente da foto anterior, acontecido com um "Constellation" da Lufthansa.


FOTO 11: Lockheed "Constellation"L-049, o “Domingos Alfonso Sertão”, voou até novembro de 1965, sendo encostado e parcialmente "canabalizado"para que seus sobressalentes fossem utilizados em outras aeronaves iguais. No início de 1969 foi desmontado e vendido como sucata.

Vendo esta foto é impossível não lembrar da famosa canção do Tom Jobim:

Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio teu mar, praias sem fim
Rio você foi feito pra mim

Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar

Rio de Sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto
Estaremos no Galeão

Este samba é só porque
Rio eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar

Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando
E vamos nós
Aterrar

terça-feira, 27 de maio de 2025

BONDE A BURRO (2)

 BONDES A BURRO  (2 de 2), por Helio Ribeiro

Esta postagem é continuação daquela de ontem, inclusive quanto à numeração das fotos. 

 

Década de 1870

Virou febre na cidade a formação de companhias de ferro-carril. Além das já citadas, na década de 1870 foram fundadas as companhias Locomotora (1872), Fluminense (1873), Santa Theresa (1875) e Carioca e Riachuelo (1877). Todas elas eram de pequeno porte e de rede pequena, basicamente rodando no centro da cidade, vizinhança imediata e terminais ferroviários e portuários, transportando passageiros e carga (frete). Todas usavam bondes pequenos, de bitola 820 mm por circularem em ruas estreitas. A capacidade de passageiros era de 19, sendo 15 sentados em 5 fileiras de 3 passageiros por banco, e mais 4 na plataforma traseira.

 

01/01/1879 – Companhia Carris Urbanos

Nesta data entrou em operação a Companhia Carris Urbanos (CCU), resultado da fusão das companhias Locomotora, Fluminense, Santa Theresa (só a parte da planície, ficando de fora a parte na montanha) e Carioca e Riachuelo.

Abaixo foto de um bonde da CCU cruzando placidamente a Avenida Central.

FOTO 17

A estação principal da CCU se situava onde posteriormente a Light construiu sua sede, na avenida Marechal Floriano, então chamada de rua Larga. Foto da estação abaixo.

FOTO 18

Abaixo, foto de um bonde da CCU, linha Hospício / Estrada de Ferro / Visconde de Sapucahy, sendo que Hospício era o nome da atual rua Buenos Aires, por haver ali um hospício (como era chamado na época um albergue para padres) na rua do Rosário cujos fundos davam para a Buenos Aires. Já Visconde de Sapucahy era a atual Marquês de Sapucaí.

FOTO 19

A foto abaixo, do acervo do Instituto Moreira Salles, mostra um bonde da CCU em local não identificado.

FOTO 20

A bela foto abaixo mostra dois bondes provavelmente mistos da CCU em frente à estação das Barcas Ferry.

FOTO 21

Detalhe da foto acima, visualizando melhor os dois bondes.

FOTO 22

Vários bondes da CCU em frente ao prédio da gare Dom Pedro II.

FOTO 23

Embarque num bonde da CCU, linha São Francisco x Praia Formosa. Observem a estranha vestimenta do par de homens puxando um carrinho com dois latões, provavelmente de leite.

FOTO 24

A foto abaixo mostra um bonde da CCU no ponto final na Lapa, em 1909.

FOTO 25

A foto abaixo, de 09/04/1908, mostra três bondes da CCU circulando por ruas da Lapa. A Mem de Sá é a rua da diagonal noroeste-sudeste e a Visconde de Maranguape é a da outra diagonal. Observe à frente do bonde no centro da foto a existência de três trilhos. Isso era para permitir o tráfego de bondes de bitola estreita (820mm) e de bitola larga (1435 mm). Foi muito comum até que a Light assumisse de vez o serviço de bondes e retirasse o trilho supérfluo.

FOTO 26

Em novembro de 1905 a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited adquiriu o controle acionário da CCU.

Pelo Decreto 1142, de 06/11/1907, a CCU foi absorvida pela The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited, que assumiu todas as obrigações e condições do contrato daquela empresa.

 

28/09/1911 – Linha Circular Suburbana de Tramways

Em 26/03/1910 rodou o último bonde puxado a burro no Rio. Eis que pouco mais de um ano depois foi fundada a companhia acima citada, com bondes puxados a burro comprados de segunda mão da Light. O motivo disso é meio obscuro e parece envolver disputa do fundador da companhia, o Barão de Santa Cruz, com a Light, que se recusou a fornecer energia elétrica para a nova companhia. O Ronaldo Martins, se não me engano, sabe os detalhes dessa história sinistra.

A concessão envolvia linha partindo da estação de Magno (atual Mercadão de Madureira) da Linha Auxiliar de estrada de ferro, em Madureira, com destino à freguesia de Irajá, num trajeto de 5,7 km. O percurso era de 40 minutos.

A foto abaixo mostra o largo próximo à estação de Magno, de onde partiam os bondes para Vaz Lobo e Irajá.

FOTO 27

A foto abaixo, datada de 31/08/1926, mostra a estação de Vaz Lobo, com um bonde de passageiro e um bem menor, de formato estranho, talvez de segunda classe.

FOTO 28

Outra foto do mesmo local, na mesma data.

FOTO 29

Um close do tal bonde de formato estranho. As rodas parecem ser de madeira bruta.

FOTO 30

Abaixo um bonde da linha Irajá.

FOTO 31

O serviço prestado pela empresa era péssimo, com constantes descarrilamentos dos carros, atrasos, etc.

Em 28/03/1928 a concessão foi passada para a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited, que no mesmo dia suspendeu o serviço e logo iniciou a eletrificação da linha. Em 28 de junho do mesmo ano foi inaugurado o primeiro trecho eletrificado, entre a estação de Magno e a rua Lima Drumond; em 12 de outubro foi completado o serviço até Irajá.

Com isso, deixaram de circular na cidade os bondes puxados a burro.

 

RESUMO ESTATÍSTICO

O quadro abaixo resumo alguns números citados no texto, para efeito de comparação. Os dados se referem ao ano de 1895, o último do qual obtive informações. Para a JB os dados de 1893 e 1894.

Alguém mais arguto pode estranhar o fato de a CCU ter muito mais bondes e no entanto a quantidade de muares ser baixa. O fato é que os bondes da CCU, por serem de bitola estreita, eram puxados por apenas um burro, enquanto os das demais exigiam dois, já que a bitola deles era maior.

Além disso, como o trajeto dos bondes da CCU era sempre no centro da cidade, não exigia troca de muar por cansaço ao percorrer longas distâncias, o que acontecia com as demais empresas. Isso diminuía a necessidade de muares de reserva.

 

TEMPOS DE PERCURSO

Há sempre uma curiosidade sobre o tempo que os bondes puxados a burro levavam para cumprir seu itinerário. O quadro abaixo serve para tirar essa dúvida. A referência é o ano de 1882. As linhas da CCU não estão listadas porque se encontravam em processo de reestruturação. Os dados foram publicados em “O Indispensável”, da tipografia Queirazza e Landi.

Quanto às tais cores do farol, que aparecem numa coluna do quadro, é algo que nunca consegui esclarecer direito.



LINHAS NO ANO DE 1900

Os quadros a seguir mostram as linhas de bonde existentes no ano de 1900, por companhia.






CONCLUSÃO

A história dos bondes puxados a burro é mais complexa do que a dos elétricos, porque envolveu muitas companhias, ao longo de 60 anos: de 1868, com os primeiros bondes da Botanical Garden Rail Road Company, até 1928, com os últimos bondes a Linha Circular Suburbana de Tramways.

O texto desta postagem, embora longo, é mínimo em relação ao que pode ser consultado no site do Marcelo Almirante, que faz um relato muito pormenorizado do assunto, sem contar de outros que o site dele abrange. Especificamente para os bondes do Rio de Janeiro, o link é  https://memoria711.blogspot.com/. Mas o link geral do site é https://infratp.blogspot.com/.

 

---- FIM  DA  POSTAGEM  ----