BONDES
A BURRO (2 de 2), por Helio Ribeiro
Esta postagem é
continuação daquela de ontem, inclusive quanto à numeração das fotos.
Década
de 1870
Virou febre na cidade a
formação de companhias de ferro-carril. Além das já citadas, na década de 1870
foram fundadas as companhias Locomotora (1872), Fluminense (1873), Santa
Theresa (1875) e Carioca e Riachuelo (1877). Todas elas eram de pequeno porte e
de rede pequena, basicamente rodando no centro da cidade, vizinhança imediata e
terminais ferroviários e portuários, transportando passageiros e carga (frete).
Todas usavam bondes pequenos, de bitola 820 mm por circularem em ruas
estreitas. A capacidade de passageiros era de 19, sendo 15 sentados em 5
fileiras de 3 passageiros por banco, e mais 4 na plataforma traseira.
01/01/1879
– Companhia Carris Urbanos
Nesta data entrou em
operação a Companhia Carris Urbanos (CCU), resultado da fusão das companhias
Locomotora, Fluminense, Santa Theresa (só a parte da planície, ficando de fora
a parte na montanha) e Carioca e Riachuelo.
Abaixo foto de um bonde
da CCU cruzando placidamente a Avenida Central.
FOTO 17
A estação principal da
CCU se situava onde posteriormente a Light construiu sua sede, na avenida
Marechal Floriano, então chamada de rua Larga. Foto da estação abaixo.
FOTO 18
Abaixo, foto de um
bonde da CCU, linha Hospício / Estrada de
Ferro / Visconde de Sapucahy, sendo que Hospício
era o nome da atual rua Buenos Aires, por haver ali um hospício (como era
chamado na época um albergue para padres) na rua do Rosário cujos fundos davam
para a Buenos Aires. Já Visconde de
Sapucahy era a atual Marquês de Sapucaí.
FOTO 19
A foto abaixo, do
acervo do Instituto Moreira Salles, mostra um bonde da CCU em local não
identificado.
FOTO 20
A bela foto abaixo
mostra dois bondes provavelmente mistos da CCU em frente à estação das Barcas
Ferry.
FOTO 21
Detalhe da foto acima,
visualizando melhor os dois bondes.
FOTO 22
Vários bondes da CCU em
frente ao prédio da gare Dom Pedro II.
FOTO 23
Embarque num bonde da
CCU, linha São Francisco x Praia Formosa. Observem a estranha vestimenta do par
de homens puxando um carrinho com dois latões, provavelmente de leite.
FOTO 24
A foto abaixo mostra um
bonde da CCU no ponto final na Lapa, em 1909.
FOTO 25
A foto abaixo, de
09/04/1908, mostra três bondes da CCU circulando por ruas da Lapa. A Mem de Sá
é a rua da diagonal noroeste-sudeste e a Visconde de Maranguape é a da outra
diagonal. Observe à frente do bonde no centro da foto a existência de três
trilhos. Isso era para permitir o tráfego de bondes de bitola estreita (820mm)
e de bitola larga (1435 mm). Foi muito comum até que a Light assumisse de vez o
serviço de bondes e retirasse o trilho supérfluo.
FOTO 26
Em novembro de 1905 a
The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited adquiriu o controle
acionário da CCU.
Pelo Decreto 1142, de
06/11/1907, a CCU foi absorvida pela The Rio de Janeiro Tramway, Light and
Power Company Limited, que assumiu todas as obrigações e condições do contrato
daquela empresa.
28/09/1911
– Linha Circular Suburbana de Tramways
Em 26/03/1910 rodou o
último bonde puxado a burro no Rio. Eis que pouco mais de um ano depois foi
fundada a companhia acima citada, com bondes puxados a burro comprados de
segunda mão da Light. O motivo disso é meio obscuro e parece envolver disputa
do fundador da companhia, o Barão de Santa Cruz, com a Light, que se recusou a
fornecer energia elétrica para a nova companhia. O Ronaldo Martins, se não me
engano, sabe os detalhes dessa história sinistra.
A concessão envolvia
linha partindo da estação de Magno (atual Mercadão de Madureira) da Linha
Auxiliar de estrada de ferro, em Madureira, com destino à freguesia de Irajá, num
trajeto de 5,7 km. O percurso era de 40 minutos.
A foto abaixo mostra o
largo próximo à estação de Magno, de onde partiam os bondes para Vaz Lobo e
Irajá.
FOTO 27
A foto abaixo, datada
de 31/08/1926, mostra a estação de Vaz Lobo, com um bonde de passageiro e um bem
menor, de formato estranho, talvez de segunda classe.
FOTO 28
Outra foto do mesmo
local, na mesma data.
FOTO 29
Um close do tal bonde
de formato estranho. As rodas parecem ser de madeira bruta.
FOTO 30
Abaixo um bonde da
linha Irajá.
FOTO 31
O serviço prestado pela
empresa era péssimo, com constantes descarrilamentos dos carros, atrasos, etc.
Em 28/03/1928 a
concessão foi passada para a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power
Company Limited, que no mesmo dia suspendeu o serviço e logo iniciou a
eletrificação da linha. Em 28 de junho do mesmo ano foi inaugurado o primeiro
trecho eletrificado, entre a estação de Magno e a rua Lima Drumond; em 12 de
outubro foi completado o serviço até Irajá.
Com isso, deixaram de circular
na cidade os bondes puxados a burro.
RESUMO
ESTATÍSTICO
O quadro abaixo resumo
alguns números citados no texto, para efeito de comparação. Os dados se referem
ao ano de 1895, o último do qual obtive informações. Para a JB os dados de 1893
e 1894.
Alguém mais arguto pode
estranhar o fato de a CCU ter muito mais bondes e no entanto a quantidade de
muares ser baixa. O fato é que os bondes da CCU, por serem de bitola estreita,
eram puxados por apenas um burro, enquanto os das demais exigiam dois, já que a
bitola deles era maior.
Além disso, como o
trajeto dos bondes da CCU era sempre no centro da cidade, não exigia troca de
muar por cansaço ao percorrer longas distâncias, o que acontecia com as demais
empresas. Isso diminuía a necessidade de muares de reserva.
TEMPOS
DE PERCURSO
Há sempre uma
curiosidade sobre o tempo que os bondes puxados a burro levavam para cumprir
seu itinerário. O quadro abaixo serve para tirar essa dúvida. A referência é o
ano de 1882. As linhas da CCU não estão listadas porque se encontravam em
processo de reestruturação. Os dados foram publicados em “O Indispensável”, da
tipografia Queirazza e Landi.
Quanto às tais cores do
farol, que aparecem numa coluna do quadro, é algo que nunca consegui esclarecer
direito.
LINHAS
NO ANO DE 1900
Os quadros a seguir
mostram as linhas de bonde existentes no ano de 1900, por companhia.
CONCLUSÃO
A história dos bondes
puxados a burro é mais complexa do que a dos elétricos, porque envolveu muitas
companhias, ao longo de 60 anos: de 1868, com os primeiros bondes da Botanical
Garden Rail Road Company, até 1928, com os últimos bondes a Linha Circular
Suburbana de Tramways.
O texto desta postagem,
embora longo, é mínimo em relação ao que pode ser consultado no site do Marcelo
Almirante, que faz um relato muito pormenorizado do assunto, sem contar de
outros que o site dele abrange. Especificamente para os bondes do Rio de
Janeiro, o link é https://memoria711.blogspot.com/.
Mas o link geral do site é https://infratp.blogspot.com/.
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FIM DA
POSTAGEM ----