domingo, 8 de outubro de 2017

DOMINGO NA PRAIA DA BARRA


 
As fotos mostram uma ida à praia na Barra da Tijuca nos anos 70.
Um programa sensacional, aguardado com ansiedade por toda a família, pela fama daquelas praias de mar aberto, numa região ainda pouco conhecida. Os preparativos se iniciavam na véspera com consulta à previsão do tempo e o preparo do farnel.
No domingo de manhã nunca se consegue sair no horário, seja por alguém que dormiu demais, seja porque a comida não ficou pronta.
Todos, então, se dirigem para o carro, já com as primeiras discussões das crianças sobre quem vai na janela, quem vai no meio. Enfim, a partida.
Mal virada a esquina há que voltar, pois a esposa não tem certeza se desligou o gás ou se apagou as luzes e fechou as janelas. Tudo estava nos trinques, pode-se partir rumo ao posto de gasolina para encher o tanque.
A ida foi pela Av. Niemeyer, onde certamente o trânsito seria tranquilo naquela hora (como podemos ver na foto 2). Começam então as perguntas, constantemente repetidas: falta muito? Chegando à Barra um engarrafamento monstruoso, como o que se vê na foto 1. Após quase uma hora para andar poucos quilômetros, a batalha para se conseguir um local para estacionar. Afinal, uma vaga. Foi tal a dificuldade que o marido nem se aborrece muito com a extorsão do flanelinha.
Colocado aquele protetor de sol no para-brisa dianteiro e também no traseiro, todos para a areia. Mal conseguiram colocar a barraca e as crianças já pararam o sorveteiro, que cobra três vezes o preço normal. Ainda bem que há comida no isopor, bem como refrigerantes e cervejas. Pasta de Lassar no nariz, Rayito de Sol pelo resto do corpo.
Mamãe recomenda aos pimpolhos muito cuidado, pois as ondas estão fortes. A briga que era pela janela no carro agora é pela bóia de câmara de ar. Por fim faz-se um sorteio e quem perdeu nem quer entrar na água e fica emburrado sentado junto à barraca.
A água está gelada, as ondas fortíssimas, a praia cheia, a esposa leva uma bolada de frescobol, reclama, mas o marido deixa prá lá ao ver o tamanho dos jogadores.
Voltando para a barraca a família observa que tinham estendido toalhas quase dentro da barraca deles. Nova discussão, chega prá lá, chega prá cá, “mal-educado”, “grosso”, “esse pessoalzinho”, insultos vão e vêem.
Por fim a hora de ir embora. Alguém esqueceu a sandália e a areia queima os pés. O baldinho com água para lavar os pés chega quase vazio na calçada. Junto do carro, o flanelinha já desapareceu e um pneu está furado. Palavrões! Troca-se o pneu, entram no carro cuja temperatura interna está em uns 60º C. Nova briga para ver quem vai na janela. O pai histérico porque não lavaram os pés nem colocaram toalhas nos bancos, molhando o estofamento. Como não havia ar-condicionado as janelas são abertas e um bafo quente entra.
Mal saem da praia a esposa começa a reclamar do jeito que o marido olhou a vizinha de barraca, a morena de biquíni mínimo. Começa então a grande discussão do dia, entre marido e mulher. As crianças, no banco de trás, cansadas e irritadas, se estapeiam. Para culminar o rádio transmite a derrota do Flamengo.
Por fim chegam em casa e há um caminhão estacionado na porta da garagem que impede a entrada e nenhuma vaga na rua.
Um domingo perfeito!

14 comentários:

  1. Acordar cedo, meu domingo perfeito e já cheio de trabalho... Na primeira foto, um Karmann-Ghia TC, um Chevrolet Amazona e uma Mercedes 190. Alguns Opala, um Aero, lá no meio um Ford 51 pro Gustavo achar e o resto é Fusca e Corcel.
    Na segunda foto, um Chevrolet 51, com luz de ré e teto de vinil !!! Mais adiante, um Karmann-Ghia da safra 1500. E muita Kombi.

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  2. Bom dia!

    Nosso personagem havia morrido e não foi pro céu.

    Bom domingo a todos!

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  3. E o pior é que era assim mesmo. Só faltou o almoço na churrascaria cheia e a prancha de isopor.

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  4. Império de fuscas é o que parece. A traseira de um K.Ghia TC na decida do elevado mostra que o ano da foto é no mínimo 1972, mas certamente 1974. O engarrafamento no Itanhangá também era grande e nem a construção da segunda ponte era suficiente para suavizar. Só discordo da estória do "flanelinha": Não eram tantos nem tão agressivos, já que tinham ciência do que poderia acontecer caso fossem flagrados danificando veículos. Em 1976 eu presencie um caso em que um desses flanelinhas arranhou um Corcel de uma senhora que se recusou a pagar. Era a esposa de um coronel da Aeronáutica que rapidamente chegou em companhia de vários homens, que depois de uns "cascudos" colocaram o homem em uma Kombi e o levaram embora. O Coronel era um primo de meu pai que estava no "stand" de vendas do que seria o futuro condomínio Barramares. Mas vou encerrar o comentário antes que ele seja "censurado" ou não publicado. Afinal, os dias "são assim"...

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  5. E ainda dizer que foi um grande programa...Mas esta é uma fase da vida.Depois muda,quem sabe para pior.Hoje,sem futebol,o negócio é umas cervas e um bom sono depois..Minhas duvidas em relação aos autos,totalmente desfeitas.O Biscoito chegou cedo.
    O flanelinha chegou antes do nada,como diria Nelson Rodrigues e é uma figura amplamente democrática e onipresente.Na verdade um espanto....

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  6. Voltei.Plinio,tem lá um reclame da Churrascaria Chamego do Papai,confere?Quem se habilita?

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  7. Que grande cronista nossa imprensa está perdendo.

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  8. Este Blogger tem uma caixa de spam a qual nunca verifico. Não sei os critérios do Blogger para lançar comentários lá. Hoje, por acaso, fui lá e encontrei varias conentarios antigos. Liberei todos. Vou ter que me acostumar a passar lá. Muitos comentaristas devem ter estranhado não ver comentários simples não serem publicamos.

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  9. ótima crônica. e o termômetro colocado com imã no painel metálico do carro marcando 45º C.....

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  10. Boa tarde a todos.
    Lendo o texto, parecia que estava lendo uma crônica a lá Nelson Rodrigues.
    Sugiro o Luiz escrever livros. Escreve bem.
    O enredo, confesso de que é típico de habitante do RJ e do próprio brasileiro em si: Gostar de sofrer.
    Aliás, o brasileiro é sadomasoquista. Ele adora sofrer de qualquer forma.
    Programas como o descrito acima é algo comum a nossa cultura.
    Outro programa típico é aquele dos grandes feriados.
    Toda a vez que há um, principalmente os maiores, a maioria das pessoas desejam assim viajarem.
    Esse hábito, já expliquei aqui há muito tempo, foi adquirido na década de 70 quando a classe média começou a imitar o que a classe rica fazia que era viajar.
    Nos anos 80 foi a vez da classe média baixa imitar o que a classe média alta fazia desde a década anterior e que logo depois, na segunda metade dos anos 80 a classe pobre Descente resolveu imitar a classe média baixa e perdurou por toda a década de 90.
    Na virada do século, chegando ao fim do reinado do Presidente que conseguiu colocar dentadura na boca do povo e frango na mesa, avizinhava-se a era petista quando a classe pobre Indecente começou a ganhar outros ares e a viajar também, principalmente quando o RJ e o país viram ressurgir à gloriosa época dos transatlânticos atracados ao porto do RJ, tendo Roberto Carlos a bordo fazendo shows e pessoas fazendo prestação em 10 anos para poder fazer uma viagem daqui até a Bahia, por exemplo.
    Se esse sofrimento todo fosse convertido em sofrimento de melhoria da nação e da sociedade, eu veria lógica quanto a isso. Mas sofrer por sofrer é algo que não faz parte de minha vontade.
    É mais gostoso ficar em casa lendo um bom livro ou encarar um programa menos povão pois aí sim você relaxa e se diverte para valer.


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  11. Tem outra coisa: Nos anos 70 posto de gasolina não abria aqui no Rio,mas em Niterói...

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    1. O Rafael Netto já havia observado isto. Mas permita-se uma licença poética.

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  12. Boa noite a todos.

    As fotos indicam carros do então estado da Guanabara.

    No final dos anos 70 ia para o Recreio com familiares, pelo menos essas são as minhas memórias. Já nos anos 80, um pouco maior, ia para a Barra, mais especificamente no trecho da então Avenida Alvorada.

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  13. Olha....
    Ao ver e sentir tudo isso fico emocionadissimo. Puxa vida, como era bom....!!

    Sem celular
    Sem internet
    Pouca maldade
    Pouca polêmica
    Pouca crueldade
    Todo mundo empregado
    Quem tinha faculdade e um Fusca com rádio Blaupunkt era um rei.

    E para completar o assunto volta da praia:
    Se o carro quebrasse, esperar de 4 a 5 horas pelo Touring clube....kkkk

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