ASPECTO DE IPANEMA NA DÉCADA DE 70
Este loteamente de Ipanema, da Companhia Constructora Ipanema,
encaminhado pelo prezado JBAN, a quem o "Saudades do Rio" agradece, é
de 1919.
Ele apresenta algumas curiosidades: bem à esquerda, vemos o
"Parque Oceânico", na região que hoje abriga o Jardim de Alá.
Os nomes antigos das ruas também são interessantes: Rua 20 de Novembro
(atual Visconde de Pirajá), Rua 28 de Agosto (atual Barão da Torre), Avenida
Ipanema (atual Epitácio Pessoa), Rua Projectada (atual Saddock de Sá), Rua
Dario Silva (atual Anibal de Mendonça), Rua Pedro Silva (atual Garcia D´Ávila),
Rua Octavio Silva (atual Maria Quitéria), Rua Oscar Silva (atual Joana
Angélica), Rua Montenegro (atual Vinicius de Morais), Rua 4 de Dezembro (atual
Teixeira de Melo), Rua 16 de Novembro (atual Jangadeiros) e Praça Souza
Ferreira (atual Nossa Senhora da Paz). As atuais ruas Redentor e Barão de
Jaguaribe estão assinaladas no loteamento, mas não abertas. A Rua Farme de
Amoedo aparece como aberta até a Lagoa, mas tal nunca aconteceu.
Aquela marca em marron, que começa no lote 34 e termina depois do 29, é
uma dobra do papel quando da digitalização.
No final do século XIX o Barão de Ipanema organizou um loteamento que
seria vendido por Antonio José da Silva. As denominações das ruas de Ipanema
seguiram três critérios: homenagear membros e efemérides da família do Barão de
Ipanema, homenagear os integrantes da família do sócio do Barão, o Coronel A.
J. Silva, e homenagear todos os que tiveram envolvidos no deferimento do
processo de construção de Ipanema, desde o presidente Floriano Peixoto (atual
Praça General Osório) ao presidente eleito Prudente de Morais, incluindo o
prefeito e engenheiros da Prefeitura.
Foram pouco mais de 40 quadras, divididas em 40 lotes que, na maioria,
tinham 10m x 50m. A atual Visconde de Pirajá foi a primeira rua a ser aberta,
onde foi colocado um trilho desmontável de madeira até o Bar 20, que permitia
que um pequeno trole puxado a burro conduzisse os interessados em comprar
terrenos. Foi difícil vender os terrenos "naquele fim do mundo".
Alguns, entretanto, acreditaram no anúncio que dizia que "dentro de um lustro aqueles desertos
do Sahara se converterão em grandes povoações, para onde afluirá a população
desta cidade. Não podemos duvidar da acção civilizadora dos nossos tramways,
que têm levado aos bairros afastados e desertos o gosto e o conforto na
edificação de prédios, a vida e o progresso, dilatando assim o seu percurso,
com aumento de renda".
Estes foram os que tiveram visão de futuro.
A denominação das ruas é um capítulo à parte. Vê-se que seguia-se o
hábito, comum na cidade, de homenagear os donos das terras, familiares e
agregados. Isso acaba perpetuando nomes que não representam nada para a
história da cidade e do país. Também é curioso que a única rua cujo nome foi
efetivamente implementado foi a Montenegro, que acabou rebatizada décadas mais
tarde.
Vê-se que o Parque Oceânico não correspondia exatamente ao Jardim de
Alá, a última rua era a Henrique Dumont, não havendo a Paul Redfern e o trecho
inicial da Epitácio Pessoa. Talvez venha daí a lenda, alimentada pelo Cesar
Maia, que "Ipanema acaba no Bar 20", e que motivou a construção do
infame obelisco.
Os jornais da época anunciavam ainda: "Magnifique promenade hors la Barre, du Copacabana à Ipanema, au bord de la plage, recommandée pour l´air pur et vivifiant qu`on y respire et les superbes points de vue qu´on y découvre. Endroits splendides pour pique-niques. Les dimanches tramways de 10 en 10 minutes et jusqu´à heure avancée de la nuit".
O acesso poderia ser pelo bondinho que passava pela Rua da Igrejinha e pela Avenida Vieira Souto e Rua Teixeira de Melo até a Praça Marechal Floriano Peixoto (hoje Praça General Osório).
Para almoço a opção poderia ser o recém-inaugurado Hotel Silva, em Ipanema: "Ancien Restaurant Ipanema - Hotel Silva - Villa Ipanema. Fondé par Mr. le colonel Antonio José da Silva c´est le plus ancien et le meilleur restaurant de Villa Ipanema. Parc, avenues, parterres fleuris, jeux, balançoires, jardins. À côte des bains de mer. Service de 1er. ordre, à la carte, à toute heure".
As ruas Redentor e Barão de Jaguaribe parecem ser mais imposições do Poder
Público para tentar criar mais vias no bairro e eliminar os lotes profundos e
com pequena testada ( na proporção) algo que a Prefeitura queria extinguir na
cidade.
Nesta época os lados da Lagoa ainda eram um vasto areal sem as ruas
urbanizadas e terrenos vendidos, onde viviam por desocupados e pescadores em
choupanas. Cabe salientar que Copacabana e Ipanema têm várias ruas sepultadas
em projetos de alinhamento que foram abandonados ou, então, com o traçado deslocado
como foi o caso da Av. Vieira Souto e a Av. Copacabana, que a partir da Rua
Inhangá correria bem perto do mar, sendo a Gustavo Sampaio no Leme parte do seu
traçado (com isso a Praça do Lido seria dividida em duas).
Ainda há muitas vilas e servidões por Ipanema. Há belas casas
escondidas por trás de prédios de 4 andares. No processo de verticalização do
bairro, muitos terrenos foram unidos para permitir a construção de prédios
maiores.
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