Hoje
é sábado, dia da série “DO FUNDO DO BAÚ”. E de lá saem estas duas fotos de
eficientes ataques da década de 50. Consegui identificar com certeza todos os
atacantes do Flamengo e, com um pouco menos de certeza, também os cinco da seleção da Federação Metropolitana de
Futebol. Vamos ver se identificamos todos.
O
ataque do Flamengo está no campo da Gávea, com a pequena arquibancada mais
perto da Lagoa ao fundo. O fotógrafo está de costas para a arquibancada maior,
até hoje existente lá.
Nos
anos 50 a portaria era em frente à Praça N.S. Auxiliadora, pois não havia a Rua
Gilberto Cardoso - a Favela do Pinto ficava colada no terreno do Flamengo. Logo
após a entrada, à esquerda ficava o velho ginásio, sob a arquibancada do campo
de futebol. Ali assisti a jogos de basquete do espetacular time do Algodão, do
Waldir Boccardo, do Godinho, treinado pelo Kanela. No time feminino
destacavam-se, já na década de 60, a Norminha, a Angelina, a Luci, a Didi.
Também
o vôlei era imperdível, com o Lucio, o Feitosa, o técnico Sami Meliskhi, além
do Jonjoca, que foi meu técnico no juvenil. E o time feminino comandado pela
Leila, Norma Vaz, Marina, Rosinha O´Shea.
À
direita da entrada ficava a Gerência, com o "seu" Nelson e o sub-gerente
Jarbas (antigo ponta-esquerda da década de 40). Logo após, o pequeno bar e
restaurante, tendo em frente uma quadra de futebol de salão, onde jogávamos com
o Antonio Henrique Bria e o "Pelé", que se transformaria no Paulo
Cesar "Caju", que anos depois brilharia na seleção nacional.
Junto
à favela ficava o Depto.Hípico, com os cavalos de salto. A maior estrela era o
"Oiram", cavalo do campeão José Mário Guimarães, que veio a falecer
durante um salto. Em frente à portaria, a pista de bocha, comandada pelo
Gandini. Do outro lado da quadra de futebol de salão o Depto. Médico, com os
Drs. Paulo San Thiago, Madeira e Pelosi, os massagistas Luiz Luz e Luiz
Borracha (antigo goleiro). Por ali também ficava o vestiário dos juízes quando
havia jogo na Gávea.
O
campo de futebol não tinha alambrado. Acompanhávamos os treinos: físicos e
técnicos, às terças e quintas, "coletivos" de titulares e reservas,
às quartas e sextas. Ficávamos atrás do gol devolvendo as bolas G-18 que caíam
na "geral". No final do treino o peito de nossos pés ardia de tantos
chutes.
Numas
salas do 2º andar do ginásio havia a sede dos escoteiros, chefiada pelo Betim
Paes Leme e uma pequena biblioteca juvenil chamada de “José Lins do Rego”. Em
1960, quando de sua inauguração, fui o responsável por ler o discurso de
abertura.
Não
havia a Rua Mario Ribeiro e o terreno do Flamengo ficava colado no do Jockey.
Desse lado ficava o vestiário do futebol, com seu inconfundível cheiro de éter
e cânfora, além do ruído das chuteiras no chão de cimento. Para um menino era
fantástico ver passar os craques da época, como Dida, Indio, Evaristo, Zagalo,
Joel, Dequinha, Rubens, Moacir, Pavão, Tomires, Jadir, Jordan e tantos outros.
Em
volta do campo treinava o campeoníssimo do atletismo José Teles da Conceição e
o fundista Sebastião Mendes. A memória trouxe nomes que encontrava sempre como
Fadel Fadel, Hilton Santos, Helio Mauricio, Ivan Drumond, Aristeu Duarte,
delegado Jarbas Barbosa, Batista (gerente da Casa Meira), Martelotti (que tinha
um restaurante na Visc. de Pirajá, ali perto do Astória, chamado, salvo engano,
de “Velho Pescador”), Miceli (sua filha Luiza Helena foi uma atleta de
destaque), Ox Drumond.
Lá
perto da Lagoa, a garagem do remo, com o amigo de meu pai, o Buck (que quase me
"matou" quando foi meu técnico). Por onde andarão meus colegas
Oswaldo Aranha, Alex Molina e Suely Martelotti, da "diretoria mirim"?
Saudades
dos jogos dos juvenis, com o time campeão formado, entre outros, por Edmar,
Adilson, Norival, Clair, Gerson (que foi, anos depois, campeão do mundo),
Beirute, Manoelzinho, Germano (que casou com uma condessa e foi para a Itália).
Esta
era a Gávea do Mauricio Farah, funcionário que mais tempo trabalhou no Flamengo.
Todo 4 de Julho a Embaixada dos Estados Unidos fechava o clube para uma grande
festa para a colônia americana. Só uns privilegiados conseguíamos entrar nesse
dia para aproveitar Coca-Cola e sanduíches de graça, além de ver os fogos de
artifício ao final.
A
sede do Flamengo era pouquíssimo freqüentada nessa época e conhecíamos todo
mundo. Explorávamos, em brincadeiras de "polícia-ladrão", todos os
espaços sob a arquibancada. Durante os treinos íamos para as modestas cabines
de rádio e fingíamos irradiar a partida.
Nos
domingos chegávamos cedo, para assistir aos jogos dos juvenis, que começavam às
9 horas. Não havia o conjunto de piscinas, que só foram inauguradas no início
dos anos 60. Aproveitávamos o espaço livre para jogar bolinha de gude e soltar
pipa.
Havia
a "Comissão do Muro", que por anos batalhou para conseguir recursos
para construir o muro que cercaria a sede. Depois, nos anos 60, com a retirada
da favela, a abertura da Rua Mario Ribeiro (que deslocou o campo de futebol
algumas dezenas de metros para longe do Jockey), a abertura da continuação da
Av. Borges de Medeiros (com o deslocamento da garagem de remo para o local
atual), a construção do complexo de piscinas, das quadras de tênis e do vizinho
condomínio Selva de Pedra, tudo mudou. Mais adiante ainda, foi construída a
bela sede atual com vista para a Lagoa.
|