O “post” de hoje revisita
o prédio do “Elixir Nogueira”, com fotos e textos já publicados no “Saudades do
Rio” e por ilustres estudiosos do Rio Antigo, entre eles o Decourt, o Rouen, o
JBAN, o Bouhid, o Tumminelli, o Zierer, o Derani, o Nickolas e alguns mais a quem
peço desculpas pela omissão. Algumas fotos são do acervo do “Correio da Manhã”.
Planta original da fábrica do Elixir Nogueira, projeto do arquiteto italiano Antonio Virzi - Rua da Glória nº 214.
No projeto inicial da fachada da fábrica, não constava a rica ornamentação com os grupos escultóricos, os quais foram acrescidos posteriormente.
Foto feita pelo turista americano Mark Ackley e garimpada pelo Nickolas.
O conjunto de esculturas
do térreo reunia imagens de homens, mulheres, crianças e diversos animais, além
de haver outras esculturas mais simples nos andares superiores, incluindo
gárgulas no topo do prédio.
O poeta Carlos Drummond
de Andrade comoveu-se com esta arquitetura de sonho, ou pesadelo, segundo ele,
e carpiu a sua morte, despedindo-se do edifício em uma coluna publicada no JB:
“O horror da imagem compensava-se até certo ponto pela arquitetura plantada a
cavaleiro do mar, no centro do Rio: uma casa feita para filial e depósito da
firma de Pelotas, que produzia o elixir mágico. Ali, o estilo art nouveau,
florescente na Europa por volta de 1900, e decalcado com um espírito brasileiro
que às vezes consegue nacionalizar a cópia introduzindo-lhe uma pitada de
tropicália, criou um composto delirante de volumes, com esculturas se
alastrando pela fachada em meio ao torcicolo geral e colorido de elementos
decorativos. Não se identificava na obra a marca de um Gaudi, por exemplo, que
deixou na Espanha construções nascidas do sonho (ou do pesadelo) de um
arquiteto capaz de inverter e subverter as leis da matéria, como já se disse.
Mas quem passasse em frente parava e espantava-se. Não tinha por onde fugir: a
coisa impunha-se ao espectador bestificado. Era a mais curiosa, a mais
imprevista, a mais sensacional construção levantada na Guanabara, onde
costumava brotar do chão coisas que vou te contar. [...] Adeus, edifício do
Elixir de Nogueira. Não és o primeiro marco do passado urbano a quem dedico uma
elegia. Já me chamaram mesmo de carpideira de casas e coisas velhas. [...] O
progresso é às vezes uma espécie de sífilis, que corrói e mata. E contra esta o
remédio de Pelotas, da Viúva Silveira & Filho, não pôde”. (“Adeus Elixir de
Nogueira”, publicado no JB de 17 de janeiro de 1970).
O prédio da fábrica do
Elixir de Nogueira foi construído em 1916 e, por seu valor arquitetônico, foi
tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico da Guanabara em 9 de fevereiro de
1966. Inexplicavelmente, porém, o prédio foi destombado em 19 de dezembro de
1969, por um decreto do então governador Negrão de Lima, sendo demolido
rapidamente ainda no mês de janeiro de 1970, fato que os jornais Correio da
Manhã e Jornal do Brasil chamaram de demolição-relâmpago. “No Rio de Janeiro,
para evitar alguma reconsideração por parte do Governo quanto ao destombamento
do prédio do Elixir de Nogueira, na Glória, o proprietário deu ordens para uma
demolição-relâmpago. O resultado é que não se salvaram sequer as estátuas da
fachada do prédio, que o diretor do Patrimônio Histórico e Artístico da
Guanabara queria levar para o Museu de Arquitetura na ilha do Fundão. Assim se
consumou o drástico atentado a um importante marco arquitetônico do Rio do
período art nouveau.” (JB de 14 de janeiro de 1970).
Anualmente era distribuído o Almanaque Silveira, oferta do Elixir de Nogueira.
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirMais um, entre muitos absurdos causados pela especulação imobiliária que assolaram a cidade principalmente entre as décadas de 60 e 70. Podia-se discutir o gosto arquitetônico mas esses destombamentos "a jato" sempre são suspeitos, não importa a época...
Sem dúvida era interessante e merecia ter sido preservado, mas realmente era bastante extravagante e devia incomodar a muita gente. Foi muito estranha a história de destombarem o prédio e rapidamente demolirem. Podia desagradar a muitos mas era melhor do que o prédio que fizeram em seu lugar.
ResponderExcluirFF: e não é que teremos em breve o lançamento de um livro de crônicas no qual um dos escritores é um ilustre comentarista do "Saudades do Rio"? Ficamos no aguardo da noite de autógrafos.
ResponderExcluirBom Dia ! Quem sabe esse elixir também servisse para espinhela caída e mau olhado.
ResponderExcluirMuito boa essa postagem! Pelo que entendi, o proprietário era o maior interessado em acabar com o prédio. O que seria um "depurativo do sangue"? Parece mais uma panaceia, como algumas listadas na postagem do dia 11 último.
ResponderExcluirA lista de males que poderiam ser curados com o dito Elixir era imensa, e pelo que se pode observar tratava-se de um grande propaganda enganosa, já que não havia antibióticos, penicilina, ou antiinflamatórios com fórmulas eficazes. Naquela época os embustes eram frequentes e não havia uma legislação eficaz que combatesse esse tipo de propaganda.
ResponderExcluirO interessante é que não fazia menção de cura em "disfunção erétil e anomalias prostáticas". Essas assuntos eram tratados como um "tabu" e os homens "morriam como moscas" por falta de tratamento adequado.
ExcluirA bem da verdade, embustes farmacêuticos existem em muito maior número hoje em dia. Haja visto os medicamentos antirrugas tipo Cicatricure, fortalecedores sexuais do tipo Forteviron, etc. Com a diferença que os antigos podiam não curar, mas não faziam mal; muitos dos atuais curam a doença A mas causam a B. Ou acabam com seus rins ou fígado ou afetam o SNC ou atacam o estômago ou... ou... ou...
ExcluirA tal "espinhela caída" ainda é tratada com o "emplastro Sabiá" por muita gente. Os "fortalecedores sexuais" são vendidos em farmácias e a procura é grande. Existe ainda o Pramil, um estimulante sexual proibido pela Anvisa, tem origem no Paraguai, e é vendido nos "camelódromos" da Uruguaiana, Madureira, e Caxias, e apresentado em cartelas com 20 comprimidos. Como se trata de uma substância cuja importação é proibida, sua comercialização é encarada como tráfico, e tem penas que variam de cinco a quinze anos de prisão.
ExcluirDiante do obelisco pirulito do César Maia, dos barracos das favelas que avançam nas vias, da Catedral escorredor de macarrão e de outros "monumentos" da cidade, até que esse prédio do Virzi não era tão horroroso assim...
ResponderExcluirTaí, gostei: "Escorredor de Macarrão" é um bom apelido para o mais horroroso entre os projetos arquitetônicos pretensiosos do Rio.
ExcluirBom dia Saudosistas. Conheci bem este prédio, era muito feio, sou um grande admirador dos prédios antigos da cidade e sempre sou a favor de que sejam preservados, mas este era um verdadeiro espanta nenem.
ResponderExcluirExcelente texto do Carlos Drummond, concluído com maestria.
ResponderExcluirImaginem o susto de algum passante desavisado pela calçada desse prédio, principalmente nas primeiras décadas de sua existência, quando não tinha tantos edifícios camuflando sua presença.
No endereço da Conselheiro Saraiva agora tem um edifício garagem.
Fora do Rio: nos alfarrábios internéticos vi que onde era a matriz na antiga Praça do Mercado, atual Cel. Pedro Osório, o prédio no n°. 3 está totalmente conservado, apenas "retrofitado" por dentro, mas com poucos detalhes moderninhos, como é possível ver em fotos captadas no Maps.
ResponderExcluirAo que eu saiba o que sobrou a obra de Virzi no Rio foram o prédio Vilino Silveira no Russel, uma casa na Sá Ferreira em Copacaban, a igreja de N.S. de Lourdes em Vila Isabel e um galpão no Catumbi.
ResponderExcluirSurpreende que o Negrão de Lima, um mineiroca tem feito isso. Conheço história de prédio na Rua Marques de São Vicente em que todo o processo de licença de construção tramitou nas 24 horas em que durou a lei de aumento do gabarito da rua. A Mozak é a nova Gafisa. O público comprador de imóveis , com $, é de influencers, youtubers, cantoras e cripto investidores, jovens que querem ap pequeno , sem garagem pois usam UBER ou alugam carro pra viajar. A lei das empregadas domésticas acabou com o quarto de empregada nos imóveis novos. E o custo de manutenção criou as áreas comuns de lazer. o Elixir era um pedaço de Barcelona, mutatis mutandis.
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