Segundo Paulo Berger não se sabe quando foi aberta a Rua São Clemente, cuja denominação invoca a Capela de São Clemente, existente desde 1685 na antiga Quinta de São Clemente, de propriedade do Padre Clemente Martins de Matos. Foram seus herdeiros que no início do século XIX cederam o caminho particular que dava acesso à casa e à capela de São Clemente, permitindo uma comunicação melhor para a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Antigamente a rua terminava no lugar denominado Piaçaba. Em 1868 foi desmembrada a parte entre a Lagoa e o Largo dos Leões, que passou a chamar-se Rua Humaitá. Por volta de 1895 passou a chamar-se Rua Raul Pompeia e em 1917 teve o nome de Rua Rui Barbosa. Em 1922 foi restabelecido o nome tradicional de Rua São Clemente.
Esta foto é obra do Conde di Lido que uniu as duas fotos abaixo enviadas pelo prezado Francisco Patricio. São do acervo do grande colecionador A. Silva. A ambos o "Saudades do Rio" agradece. Mostram o início da Rua São Clemente por volta de 1908.
À esquerda temos o
estabelecimento comercial onde se vendiam produtos como os "biscoutos e
chocolates Leal Santos " e o "delicioso café de café Leal
Santos". Notem o puro falar/escrever lisboeta em "à venda em toda
parte".
Este "café de
café" tem uma explicação, segundo Toty Maya: "Quando o resultado
desejado, não é um pó de café puro, misturam-se aos grãos as cascas do mesmo e
folhas de chicória no processo de torrefação, para acentuar o sabor
amargo".
O próprio Silva, dono da
foto, esclarece que "Café de Café" é uma expressão que foi muito
usada em Portugal para distinguir de outras bebidas "visualmente"
semelhantes tais como chicória e cevada. Geralmente era feito um
"blended", por motivos econômicos, do tipo: 20% de café (para dar
aroma), 40% de chicória e outro tanto de cevada".
Leal Santos era uma indústria
alimentícia do Rio Grande do Sul, que produzia petit-pois, enlatado em vários
tamanhos (começava com 0/0, que eram minúsculos e saborosíssimos) e outras
guloseimas como pêssegos em calda.
Do lado direito do início da Rua São Clemente, além da Padaria Guanabara, vemos na foto uma série de carroças para variados fins. Será que eram para transportar mercadorias do cais que existia no largo do início da São Clemente, cais este onde encostavam as barcas que faziam a ligação daquele bairro com a Praça XV (Cais Pharoux)?
No século XIX, na Praia de Botafogo,
existiam 3 pontes de atracação para embarque e desembarque dos passageiros das lanchas
que, com os ônibus de tração animal, eram os únicos transportes coletivos entre
o Centro e a Zona Sul, antes do aparecimento dos bondes a burro da Cia. Jardim
Botânico em fins de 1868. Das três pontes, a mais movimentada era a que ficava
à entrada da São Clemente. Ou seja, naquela época usava-se um meio de
transporte adequado para a geografia do local. Por que foi abandonado?
Alguns
anos depois (talvez na década de 50) vemos este local no início da Rua São Clemente. Não mudou demasiado. O borracheiro da esquina ficou por
muitos e muitos anos no local. Os proprietários dos imóveis da esquerda eram
amigos do Rouen e ele conta que houve uma grande conscientização do arquiteto
em não descaracterizar ou modificar o prédio para fazer a instalação no local.
P.S.: seria um Morris ou um Chevrolet estacionado na frente do borracheiro?
Preso no prédio da
borracharia, na pilastra junto a senhora, temos uma caixa de correio, tal como a outra que vimos esta semana.
Esta foto e a seguinte são de um trabalho escolar, para o Colégio Santo Inácio, feito pelo JBAN, já nos anos 70. Em ambas vemos o início da Rua São Clemente, em Botafogo. O "Saudades do Rio" agradece ao JBAN o envio das fotos.
A foto mostra a entrada da Rua
São Clemente, com o Morro do Corcovado ao fundo, numa posição semelhante a uma
clássica foto de Malta.
Notar, à direita, a placa indicativa da Guarda Noturna, feita pelo Touring Clube.
A Guarda Noturna teve sua época de ouro no Rio de Janeiro nos anos 50 e 60
quando milhares de casas ostentavam em suas fachadas a plaquinha metálica com
as letras G.N., garantindo que eram protegidas por seus guardas, famosos pelos
apitos que se ouviam durante as rondas.
O JBAN mexe na caixa de memórias e lembra seus tempos de menino em Botafogo: "Nos casarões à esquerda tínhamos a Pneu Sola (borracheiro), Madeiras Bissau, Panificação Industrial, Ao Quebra Galho (ferragens), Auto Escola Duarte, Academia Kobu-kan, entre outras casas comerciais.
No prédio à direita a Foto Olivéra e a Ótica Suissa de Precisão (óculos e revelações), mais adiante o restaurante Bismarque (Cozidos e Peixadas), no predinho “déco”, uma sapataria super antiga que fazia sapatos para senhoras à mão e pertencia a uns senhores alemães. As vitrines eram belíssimas e a loja fechou com a morte dos velhinhos.
E a Malharia Mena e o
Cajado de Ourto. Ainda à esquerda havia o "Hospital das Bonecas”, que
consertava bonecas, brinquedos e restaurava objetos. Um pouco depois à direita,
a Velha Bahia, de móveis coloniais, onde nos fundos havia um encadernador que
encadernou muitos livros e nossa coleção da Conhecer, que mantenho comigo até
hoje. Seguindo à direita, antes da Bambina, uma papelaria que chamávamos
"do Arrumadinho", uma alusão ao dono, português, super metódico, que
mantinha em um espaço exíguo um super estoque de papéis, materiais escolares e
de escritório, brinquedos e miudezas em geral. As estantes de madeira iam até o
teto e eram muito interessantes."
Como o Rafael Netto já não mais fotografa os locais das fotos antigas usamos uma imagem do Google Maps para mostrar o aspecto do local atualmente.
Bom dia.
ResponderExcluirA junção das fotos ficou muito boa.
Excelente postagem, uma verdadeira viagem no tempo.
P.S Cadê o Joel?
Olá, Dr. D'.
ResponderExcluirJá fui nessa Amoedo... A São Clemente, junto com a Voluntários e a própria Praia de Botafogo, eram as ruas que eu mais ia no bairro. Desde 2018 posso contar nos dedos das mãos as vezes que fui lá, diferente do período anterior. Várias atrações culturais.
Outras vezes era só caminho para chegar à região do Jardim Botânico e Gávea, vindo do centro.
Bom Dia! Meu Pai teve um sócio que antes havia trabalhado em uma oficina de automóveis na São Clemente. Segundo ele,chamava-se Oficina Pinta-Ratos.
ResponderExcluirEm tempo, misturar outras substâncias no café vem de longe...
ResponderExcluirMuito boa postagem! O gerente tem se esmerado.
ResponderExcluirBom dia Saudosistas. Curiosamente a alguns dias atrás li na internet um relato sobre a origem da R. São Clemente. O nome da rua se deve a um padre picareta, que era filho de família abastada da época, foi estudar em Portugal num seminário e foi expulso por se envolver com mulheres e outras badernas, a família conseguiu que concluísse os estudos em Roma, ao voltar teve rápida evolução nos cargos eclesiásticos da Igreja, chegando a ser o Tesoureiro Mor da Igreja, cargo em que desviou dinheiro da igreja conquistando uma grande fortuna e assim comprou as terras do então hoje bairro de Botafogo. O Morro de Santa Marta que era parte da sua propriedade foi batizado com este nome em homenagem a mãe do padre.
ResponderExcluirQuanto as fotos a montagem do mestre Conde de Lido ficou excelente, Leal Santos esta marca era muito comum em vários produtos na década de 50 e 60 .
Invadindo a seara alheia.
ResponderExcluirPenúltima foto:
Corcel 2 portas com teto de vinil(?)
Opala 4 portas
TL
Kombi
Última foto:
Kombis, fuscas e Zé do Caixão?
Cadê o Joel? Como antigo morador das vizinhanças poderia contribuir muito com as recordações.
ResponderExcluirEm 17 de janeiro de 1628 era batizado na Igreja Matriz de São Sebastião, no Morro do Castelo, o inocente Clemente Martins de Matos, segundo filho do Capitão e Vereador Álvaro de Matos, e de Da. Marta Filgueira. Foram padrinhos os avôs maternos, D. Antônio Martins Palma e Da. Leonor Gonçalves, o casal que em cumprimento de uma promessa edificou a Igreja de Nossa Senhora da Candelária, em 1609.
ResponderExcluirComo era costume naqueles tempos, o filho mais velho herdava a profissão do pai, ficando Clemente destinado a ser padre, profissão de muito prestígio, haja vista ser a igreja ligada ao estado. Clemente, ainda adolescente, foi matriculado em seminário lisboeta. Lá não completaria seus estudos, sendo expulso, ao que se consta, por ter se envolvido com mulheres. Com ajuda do avô rico e do pai, Capitão e Vereador, terminou
Clemente seus estudos num seminário em Roma, voltando ao Rio por volta de 1650 como padre, mas pobre como um monge.
Por influência familiar, logo Clemente abiscoitou importantes cargos no cabido da Sé, sendo nomeado Vigário Geral, Arcediago e Tesoureiro-Mór (naqueles tempos, todo cargo importante no Brasil era obtido por “pistolão”), atividades bem remuneradas e de
grande projeção pessoal, principalmente depois de 1676, pois nesse ano foi criado o bispado do Rio de Janeiro, sendo Clemente a figura logo abaixo do Bispo, substituindo-o em suas ausências.
Como tesoureiro, Padre Clemente foi um desastre, pois durante sua gestão deixou o velho prédio da Sé cair aos pedaços, a ponto de ser interditado e finalmente abandonado em 1703. Entretanto, Clemente ficou rico o suficiente para adquirir em c.1680 a sesmaria de Botafogo, cujas terras tinham como limite a enseada de Botafogo, a “Lagoa de Sacopenapã” (rebatizada em 1703 para Rodrigo de Freitas, seu dono), bem como os morros que depois se chamarão de São João e Santa Marta. Fundou Clemente
a “Fazenda do Vigário Geral”, ou de “São Clemente”, numa imodesta homenagem ao seu santo onomástico. Não satisfeito, ergueu em suas terras uma capela dedicada à São
Clemente, que existiu até o princípio do século XX no final da Rua Viúva Lacerda. Como se fosse pouco, abriu Clemente um caminho da enseada de Botafogo até sua capela,
caminho batizado de ...São Clemente!
Em homenagem à sua veneranda mãe, que morreu no Rio de Janeiro em 1698 aos 92 anos (idade excepcional para a época), Clemente batizou o morro circundante de suas posses como “Morro Dona Marta”. Nome que ficou até época recente. Em 1980, os favelados da “Favela Dona Marta”, surgida em 1930 e hoje uma das mais conhecidas na cidade, em comum acordo, rebatizaram o morro para “Santa Marta”, o que deve muito ter
agradado o Padre Clemente, esteja ele onde estiver.
Padre Clemente faleceu a 8 de junho de 1702, aos 74 anos, sendo velado e enterrado na Igreja Matriz que tanto se descuidara enquanto tesoureiro. No ano seguinte, o Bispo Frei Francisco de São Jerônimo transferiria a Sé da arruinada Igreja de São
Sebastião para a Capela da Santa Cruz dos Militares, na “Rua Direita”, atual Primeiro de Março.
Herdou as terras de Botafogo o irmão de Clemente, Francisco Martins, que vendeu as terras em 1606 ao casal Afonso Fernandes e Domingas Mendes, os quais deviam gostar de praia, pois no mesmo ano adquiriram da Câmara as terras que iam do Leme aoLeblon. Em 1609 Da. Domingas, já viúva, doou todas suas terras à Câmara dos Vereadores, tendo esta arrendado tudo ao Governador Geral Martim de Sá, que não esquentou com elas. A orla oceânica ele arrendou em 1611 ao dono do “Engenho de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa”, Sebastião Fagundes Varela, que destinou a orla ao pasto de suas vacas, que ruminavam entre cajueiros, pitangueiras e ananases.
Que história!! Quanto ao irmão ter herdado e vendido as terras de Botafogo, não teria sido em 1706 em vez de 1606?
ExcluirAcho que houve confusão com anos. Como o irmão Francisco Martins vendeu as terras do padre Clemente em 1606, se o dito cujo nasceu em 1628?
ExcluirO carro posto em dúvida é um Chevrolet 47-48. A dúvida é razoável.
ResponderExcluirTá de brincadeira ...
ExcluirHoje é dia do padre. Um espanto, como diria o saudoso pastor...
ResponderExcluirSempre achei a São Clemente uma rua problemática, pois a conheci em várias épocas da minha vida e minha impressão nunca melhorou. Em 1965 ela já tinha um trânsito complicado, mas não tenho certeza se nessa época já tinha sido aberto o prolongamento da Muniz Barreto que serviu para escoar o trânsito do recém inaugurado Túnel Santa Bárbara. As calçadas são exíguas e caminhar por elas é perigoso. Existem algumas vilas bem interessantes e antigas, uma delas do lado esquerdo de que sobe pouco antes da altura da Rua Bambina. Os colégios existentes fazem da rua o "inferno dos carros".
ResponderExcluirA foto 1 tem o dedo do DI LIDO, expert em juntar ou afastar cenas de foto. Tenho uma foto familiar onde eu, com 5 anos de idade, estava ao lado de meu pai , e uma fila de ascendentes indo até uma tataravó com cento e fumaça de anos. Ele teve a habilidade de colocar meu filho, então com 5 anos de idade também a meu lado. É histórica essa foto que guardo com maior carinho. Agora temos que ser "amigos" do DI LIDO pois se ele cismar de juntar alguém com outra mulher que não seja a titular vai dar BO.
ResponderExcluirA favela do Morro Santa Marta é talvez o maior óbice que impede a valorização dos imóveis da região. Como a São Clemente e a Voluntários da Pátria são "corredores" que servem para o escoamento do trânsito, os criminosos que agem região usam esses corredores para ficarem "a salvo" na favela. Eu estava um dia na Rua das Palmeiras que fica em frente à entrada da favela a assisti a uma troca de tiros na São Clemente na qual os tiros atingiram diversos carros. Como a sede do segundo BPM que ficava na esquina da Real Grandeza foi desativado, a segurança da região se sustenta mesmo é pelo programa Segurança Presente.
ResponderExcluirNa segunda foto, acho estranho ser de 1908 e não haver fiação de bondes, que já eram elétricos desde 1892. Embora a expansão deles ocorresse ao longo de anos, acho que dezesseis anos depois a São Clemente já contasse com eles.
ResponderExcluirJerominho baleado no Rio. Assalto no Museu do Trem.. Roubo de trilhos do metrô. Escândalo pagamento no Ceperj.
ResponderExcluirFilhos presos por 17 anos em casa.
Banco é explodido em Vila Isabel.
Pai diz que a moto do filho estava a 100km/h
Rio, cidade maravilhosa.
Não seja tão pessimista. Não está tão ruim assim. O Flamengo está no G4, a gasolina baixou, mais pessoas estão recebendo o auxílio Brasil, e levanta as mãos para o céu se você não foi assaltado.
ExcluirAtualizando a informação de 17:11, o baleado não resistiu aos ferimentos. Em breve teremos desdobramentos.
ExcluirFaltou incluir na lista a prisão do filho do bicheiro pela PF.
Aleluia!! Finalmente encontrei alguém que vê o Rio como ele é na verdade, e não como alguns com antolhos insistem em vê-lo. Bem-vindo à diminuta comunidade dos amantes da verdade, Anônimo.
ExcluirAo menos na Zona sul o costume de estacionar na calçada foi superado.
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