O “post” de hoje é das
vizinhanças da esquina da Av. Atlântica com a Rua Figueiredo Magalhães na
primeira metade do século XX.
Na primeira parte
reproduzo uma estupenda pesquisa do Maximiano Zierer, um dos maiores “experts”
no passado da Av. Atlântica. Na segunda parte a pesquisa é minha.
Como o “Saudades do Rio”
entrará em “recesso de carnaval” haverá a possibilidade de lê-lo com
tranquilidade até o final da próxima semana.
Na foto abaixo vemos o Palacete
de May e Alexander Mackenzie na Av. Atlântica, quase esquina com a rua Figueiredo
Magalhães, Copacabana. Vizinho a ele, como descrito abaixo, bem na esquina, ficava a casa de meu tio James Darcy.
Alguns palacetes que
existiram no início do século passado na orla de Copacabana foram pouco
documentados em fotos, e como desapareceram há muito tempo, caíram no
esquecimento. Deste modo, os seus antigos moradores, assim como os fatos
históricos relevantes que ali ocorreram, são praticamente ignorados pelas
gerações atuais. Uma dessas residências era o palacete do casal de canadenses
May e Alexander Mackenzie. Era uma casa de dois pavimentos em estilo eclético,
que foi construída na década de 1910. Seu exato endereço era Av. Atlântica
antigo número 594, local onde está atualmente o edifício Sevilha, na Av.
Atlântica 2516, quase na esquina com a rua Figueiredo Magalhães (o prédio
localizado exatamente na esquina é o seu vizinho, o Ed. Vésper, na Av.
Atlântica 2492).
Alexander Mackenzie
nasceu em 1860 e faleceu em 13 de julho de 1943, em Kincardine, Canadá.
Advogado, iniciou sua carreira profissional junto à firma Blake, Lash and
Cassels, de Toronto, Canadá, responsável pela consultoria legal da São Paulo
Tramway, Light and Power Company, Ltda. Em 1899, veio ao Brasil estudar
questões jurídicas relacionadas às concessões para os serviços de bondes e
fornecimento de luz e força na cidade de São Paulo, adquiridas pela São Paulo
Light. Permaneceu no país como procurador desta empresa, tornando-se seu
vice-presidente, entre 1902 e 1912. Em 1904, idealizou a instalação, na cidade
do Rio de Janeiro, de uma empresa semelhante à São Paulo Light. Como
decorrência de sua iniciativa, foi constituída em Toronto, em 9 de junho
daquele ano, a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Ltda, com
capital canadense e norte-americano. Afastou-se das companhias em 1912, quando
retornou ao seu país natal. Voltou ao Brasil em 1914, como consultor jurídico e
advogado da Brazilian Traction, Light and Power Company, empresa holding do
grupo candense, constituída em 1912. Foi também procurador da São Paulo
Electric Company, empresa com sede em Toronto, organizada para instalar a Usina
Hidrelétrica Ituparanga.
Com a morte do Dr.
Pearson no naufrágio do Titanic, Alexander Mackenzie o sucedeu no comando da
empresa Brazilian Traction, Light and Power Company. Ele foi presidente da
Brazilian Traction, Light and Power Company entre 1915 e 1928, e é considerado
um dos principais responsáveis pela implantação e desenvolvimento do Grupo
Light no Brasil. Graças à dedicação de Alexander Mackenzie, houve um grande
progresso na distribuição de energia elétrica, na iluminação pública, no
transporte público por bondes (antes puxados por burros, e depois movidos a
eletricidade) e na evolução industrial da cidade do Rio de Janeiro. Ele também
foi presidente do Gávea Golf and Country Club, e recebeu, no Canadá, o título
de Sir Alexander Mackenzie. Por ocasião da sua saída do Brasil, em 1928, o
trabalho de Alexander Mackenzie obteve o merecido reconhecimento, tendo
recebido diversas homenagens de jornais e revistas pelos seus serviços em prol
do desenvolvimento do país, notadamente das cidades de São Paulo e da Capital
Federal, a época o Rio de Janeiro.
Sua esposa, May
Mackenzie, foi uma das pioneiras fundadoras (junto com Jerônyma Mesquita e
Adéle Lynch) do Movimento Bandeirante do Brasil. Em 13 de agosto de 1919 (data
oficial de fundação do Movimento Bandeirante no país), aconteceu a fundação da
Associação das ‘Girl Guides’ do Brasil (nome inicial do movimento), com a
Cerimônia de Promessa das 11 primeiras bandeirantes brasileiras na casa dos
Mackenzie, na Av. Atlântica em Copacabana. O primeiro Conselho Diretor da
Associação Girls Guides do Brasil era formado por May e Alexander Mackenzie,
Adéle Lynch, Anita Eugênio de Barros, Monsenhor Rangel e o Senador Mozart Lago.
O Movimento das “Girl
Guides” se apresentava como uma proposta de educação pioneira, por acreditar na
importância da mulher em assumir um papel mais atuante nas mudanças da
sociedade. Em 1919 o cenário no Brasil era de pós-guerra – mudanças de costumes
e valores propiciavam à mulher novas formas de se mostrar ao mundo. E o
Movimento Bandeirante foi uma delas. Nos anos 30 a entidade viria a mudar de
nome e se chamar ‘Federação das Bandeirantes do Brasil’ com o advento da
nacionalização dos nomes das entidades no período do Estado Novo.
No ano seguinte a
fundação do Movimento Bandeirante no Brasil, o casal Mackenzie participou de
outro evento histórico relevante. Foi durante a visita do Rei Alberto I e da
Rainha Elizabeth da Bélgica ao Rio de Janeiro (então a Capital Federal). A
permanência dos monarcas belgas ao Brasil durou de 19 de setembro a 15 de
outubro de 1920, tendo o rei Alberto visitado também os Estados de São Paulo e
Minas Gerais. No Rio de Janeiro, os monarcas belgas ficaram hospedados no
Palácio Guanabara. O Rei Alberto, grande entusiasta da natação, passou a se
dirigir diariamente, com a sua comitiva em seus respectivos carros, para ir
tomar banho de mar na Praia de Copacabana. Essa atividade recreativa do Rei
atraía multidões de curiosos, e era amplamente noticiada nos principais jornais
da época. Seus banhos de mar ocorriam por volta de 7:00h-7:30h da manhã, diante
da rua Valladares no Posto 6. (o nome atual dessa rua é Av. Rainha Elizabeth. A
mudança de nome da rua se deu por decreto de 7 de outubro de 1922 do Prefeito
Carlos Sampaio, visando homenagear e marcar na memória dos cariocas o local
onde os monarcas belgas mergulhavam no mar de Copacabana).
Os jornais noticiavam que
era no Palacete Mackenzie que o Rei Alberto (e, por vezes, também a Rainha
Elizabeth) trocava de roupa para o banho de mar na praia de Copacabana, tanto
na ida, como na volta, no pós banho. Nestas ocasiões, os Mackenzie, como bons
anfitriões, ofereciam um “lunch” a Suas Majestades Reais. (observação: o Rei e
a Rainha não tomavam banho de mar juntos, mas em horários distintos, cada qual
acompanhado da sua comitiva e ajudantes. O Rei era mais assíduo e freqüentava o
mar de Copacabana diariamente, enquanto a Rainha banhou-se somente algumas
vezes). O jornal “A Noite” de 25-9-1920 noticiou: “Uma gentileza do Sr. Mackenzie:
Como Sua Majestade Elizabeth tivesse elogiado o creme que, após o seu banho,
lhe tem sido servido no Palacete Mackenzie, aquelle diretor da Light tem
enviado ao Palácio Guanabara, diariamente, o mesmo creme, confeccionado na sua
propriedade de Ribeirão das Lages, para que Sua Majestade a Rainha continue a
apreciá-lo”. Em reconhecimento a hospitalidade prestada, os Mackenzie foram
convidados a participar de um almoço no Palácio Guanabara a convite dos
monarcas belgas (Jornal do Brasil, 26-9-1920).
Curiosamente, foi o casal
Mackenzie que teve o privilégio de acolher os monarcas belgas por ocasião dos
banhos de mar em Copacabana, embora houvesse outros palacetes próximos
pertencentes a pessoas de destaque na sociedade, como, por exemplo, o casarão
vizinho aos Mackenzie, pertencente ao Dr. James Darcy e a casa normanda de D.
Guilhermina Guinle, ambos na esquina com a rua Figueiredo Magalhães, além de
outras pessoas ilustres nas redondezas, como o rico empresário Conde Alessandro
Siciliano (com seu casarão na Av. Atlântica situado próximo a rua Santa Clara)
e o Conde de Paranaguá (com seu casarão na esquina da rua Barão de Ipanema com
a Av. Atlântica).
Uma questão não explicada
era o fato do Rei e Rainha trocarem de roupa em um Palacete no Posto 4, para em
seguida irem nadar no mar na extremidade final da praia, no Posto 6. Por que
não mergulhavam no mar ali mesmo, diante da esquina da rua Figueiredo
Magalhães? Provavelmente, por questão de segurança, o Rei e a Rainha foram
orientados a tomar os seus banhos de mar no Posto 6 por ali se encontrarem
águas mais calmas e abrigadas, enquanto que no Posto 4 eram abundantes os
relatos, naquela época, de casos de afogamento, sendo um local onde o mar era
mais aberto, revolto e perigoso.
Para encerrar a nossa
história sobre os Mackenzie no Brasil, Alexander Mackenzie precisou se afastar
da presidência da Light em 1928 para tratar problemas de saúde, e por
recomendação médica acabou indo embora do país e regressou ao Canadá junto com
sua esposa Lady Mackenzie (Correio da Manhã 3-8-1928, O Malho, 18-8-1928).
Finalmente, na segunda metade dos anos 30, Lady Mackenzie veio a falecer em
Londres (6-5-1937). Sir Alexander Mackenzie faleceu em 12-7-1943 em Kincardine,
Ontario, no Canadá.
No centro da cidade de
São Paulo, existe preservado o edifício Alexander Mackenzie, localizado entre o
cruzamento da Rua Coronel Xavier de Toledo com o Viaduto do Chá. O prédio, em
estilo eclético, foi sede da empresa distribuidora de energia elétrica São
Paulo Tramway, Light and Power Company e, posteriormente, da antiga estatal
Eletropaulo. Seu projeto contou com a autoria dos americanos Preston e Curtis,
e a execução do escritório de Severo, Villares & Cia. Ltda. Foi concluído
no ano de 1929 e ampliado em 1941. Desde 1999, após cuidadosa restauração,
abriga o Shopping Light.
Após os canadenses
deixarem o país, o Palacete Mackenzie pode ter sido alugado ou mesmo vendido
(não encontrei os registros), mas o fato é que a casa passou a ser, ainda no
início da década de 1930, a residência do Sr. H. D. Humpstone, presidente da
Standard Oil Company of Brazil (Almanak Laemmert, 1931). A casa acabou sendo
demolida no final dos anos 40, e em seu lugar foi construído, entre 1951-52, o
edifício Sevilha, que permanece no local até os dias atuais. Quem passa na calçada
diante desse prédio na Av. Atlântica dificilmente imagina que, em uma casa que
existiu naquele exato local, morou um estrangeiro que deixou uma grande
contribuição para o desenvolvimento da nossa cidade, que houve naquela morada a
fundação do movimento Bandeirante no Brasil, e que ali estiveram presentes os
monarcas belgas quando se dirigiam para os seus banhos de mar em Copacabana, há
mais de um século atrás.
Bônus: O curioso caso do
homem que mostrou a bunda para o Rei Alberto!
O meu amigo Francisco
Patrício, a quem devo todo o crédito, me enviou essa história (que eu
desconhecia), que é contada no livro “Quase-Memória” do já falecido jornalista
e escritor Carlos Heitor Cony. O livro nos mostra as memórias do pai do autor,
e conta, de forma alegre, muitas histórias interessantes. Segue um resumo de
uma dessas histórias: quando o Rei Alberto se dirigia para visitar São Paulo,
um sujeito entrou no seu vagão do trem durante uma parada à noite, indo até a
sua cabine particular. O que queria esse homem? Ele era um cidadão de ideologia
anarquista e que tinha muita raiva da monarquia. Aproveitando-se do fato que
tinha acesso total ao comboio, por ser ele justamente o chefe da estação de
Barra do Piraí, onde o trem faria uma parada noturna, ele se aproveitou da
situação e partiu para o atentado: entrou no vagão do Rei Alberto, como quem
fosse fazer uma vistoria, invadiu a cabine do Rei, que estava insone e
sonolento, e mostrou a bunda para Sua Majestade!
Nas palavras do próprio
Carlos Heitor Cony: “Dois oficiais, um brasileiro e um belga, o viram entrar.
Mas sabendo que aquele era o chefe da estação, continuaram no fundo do
corredor, imaginando que se tratava de inspeção rotineira nos equipamentos do
vagão.
Com sua mão forte, ele
abriu a porta, aproximou-se do leito real. À luz que vinha do lado de fora, viu
o soberano de camisola e gorro de dormir tentar levantar-se, temendo o punhal
assassino que mancharia Barra do Piraí com o sangue de um descendente da Rainha
Vitória.
Naquele instante, o Rei
deve ter pensado que, sofrendo um atentado tão traiçoeiro, seus primos,
cunhados e consangüíneos em toda a Europa logo providenciariam uma nova guerra
mundial, uma guerra terrível, letal, que lavasse a afronta e o crime de Barra
do Piraí. Ele, Rei, entraria na história, embora associado a Barra do Piraí.
Nada é perfeito.
Temeu em vão. Horácio
Dias de Morais se aproximou, deu as costas ao Rei apalermado dentro de sua
camisola, coberto pelo gorro, levantou o pesado capote esverdeado, capote de
ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, arriou as calças e
mostro-lhe a bunda.
O próprio Horácio Dias de
Morais gostava de imaginar a cara apatetada do Rei, contemplando aquela bunda
branca e enigmática, iluminada pela luz de um distante lampião de estação
ferroviária, nas profundezas de Barra do Piraí.”
Texto e pesquisa de
Maximiliano Zierer
Fontes da pesquisa:
Jornais A Noite, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Revista da Semana, O
Malho, Almanak Laemmert, AGCRJ, Blog Saudades do Rio e os sites:
sobre Sir Alexander
Mackenzie:
https://www.memoriadaeletricidade.com.br/.../alexander...
sobre a participação de
May Mackenzie no Movimento Bandeirante no Brasil: https://www.ccme.org.br/.../centenario-do-movimento.../
http://www.bandeirantesp.org.br/historico.php
A Cerimônia de Promessa
das 11 primeiras bandeirantes brasileiras, em 13 de agosto de 1919 na casa dos
Mackenzie na Av. Atlântica (May Mackenzie está no canto esquerdo e Alexander
Mackenzie no canto direito). Foto de autor desconhecido, do site do Movimento
Bandeirante de São Paulo.
O Palacete Mackenzie
recebe o Rei Alberto e a Rainha Elizabeth da Bélgica, Jornal Correio da Manhã,
21-9-1920.
O Rei Alberto da Bélgica
se dirige para o seu banho de mar na Praia de Copacabana, diante da esquina com
a antiga rua Valladares (atual Av. Rainha Elizabeth, no Posto 6). Foto de
Guilherme Santos, 1920.
O Rei Alberto, em traje
de banho, acompanhado por seus assessores e por uma multidão de curiosos, por
ocasião dos seus banhos de mar na Praia de Copacabana. Foto de 1920 do acervo
do Sergio Coimbra, publicada no Blog Saudades do Rio.
Casa da Mãe das
Bandeirantes do Brasil. Foto publicada na Revista da Semana no 3 de 5-1-1929.
Entre as construções em
destaque indicadas por setas, temos no lado esquerdo o Palacete dos
Mackenzie.Foto de Guilherme Santos, 1930, pertencente ao acervo do Instituto
Moreira Sales.
Esta fotografia me foi enviada
pelo Andre Decourt. Nela vemos o trecho da Avenida Atlântica nas vizinhanças da
Rua Figueiredo Magalhães na década de 40. Bem no centro da foto está a casa de
meu tio-avô, James Fitzgerald Darcy, cujo endereço era Rua Figueiredo Magalhães
nº 1. Ficava exatamente ao lado do Palacete Mackenzie. Foi demolida em meados da década de 50, para dar lugar ao Edifício
Vesper.
Esta é a casa de James
Darcy, numa das esquinas da Av. Atlântica com Rua Figueiredo Magalhães. Nesta época já não existia o Palacete Mackenzie, pois o arranha-céu já a havia substituído. A casa, por
alguns anos, teve só dois andares, mais tarde foi acrescentado o terceiro. Tenho
algumas poucas lembranças de quando estive lá. Era muito pequeno.
Assim escreveu Gilberto
Amado ("imortal" da ABL, poeta, diplomata e jornalista), por ocasião
da morte de meu tio:
"James Darcy nasceu
no Rio Grande do Sul em 1876, tendo sido um notável homem público. Foi
fulgurante expositor, na Federação de Porto Alegre, das ideias e programas de
Júlio de Castilhos. Foi jurisconsulto, Consultor Geral da República, sucessor
de Clovis Bevilaqua, colaborador de Rio Branco, que tantas missões difíceis e
de alto alcance internacional e nacional lhe confiou. Foi professor
universitário, administrador das Caixas Econômicas e presidente do Banco do
Brasil; homem múltiplo em tantos aspectos desdobrado ao longo de uma vida de
trabalho e atividade intelectual.
A sua casa, nas primeiras
décadas do século XX, cheia de sua biblioteca, uma das mais completas do Brasil
e certamente a mais completa do ponto de vista da bibliografia política e
literária, era uma espécie de abrigo espiritual e moral onde se viviam
instantes altos e simples, nobres e alegres. A mesa, certos domingos, tinha que
ser encompridada, de ponta a ponta da sala de janelas abertas sobre o mar
murmurante na praia deserta ainda não cortada de tanta buzina de
automóvel. No meio de todos, James Darcy
que a todos era superior em tanta coisa, por certo que de autoridade que nele
espontaneamente emanava, animava-os, guiava-os, fazia-os dar o máximo naquelas
horas fugidias.
James Darcy tinha
conhecimentos extensíssimos não só literários como de todas as belas artes.
Ouvir-lhe descrever uma visita ao Vaticano ou ao Palácio Pitti era um
encantamento. Sabia do que falava e só falava do que sabia. Sua voz esplêndida,
seu ar fidalgo, seus traços nobres sugeriam comparações. Pensava-se num
paladino, num navegador genovês. Sua carreira política foi breve; seu gosto por
ela efêmero. Dedicou-se aos livros e aos amigos. Aqueles, enriquecendo-lhes o
espírito, o tornaram a estes ainda mais querido. Sua importância foi grande.
Sua presença não se apagou com sua morte no Rio Grande do Sul em 1952; durará
para sempre na saudade dos que o conheceram.”
Vemos o Posto de
Salvamento entre as ruas Siqueira Campos e Figueiredo Magalhães, com destaque
da casa de James Darcy ao fundo.
Segundo Gilberto Amado,
“James Darcy sempre esperava os amigos no meio de seus livros e de lindas
crianças, uma das quais a adorável Ligia, sua filha cuja morte tão prematura
matou-lhe para a alegria; sua mãe, Josepha de Sá Darcy (minha bisavó), senhora
dos tempos antigos, leitora de romances, acolhedora e serena, gente boa e sã,
naquela casa boa do bom Brasil velho, incontaminado de modernismos e de
esnobismos. Às vezes, nos domingos, era uma festa a conversação, na plenitude
do convívio animado pelo dono da casa.
Os habitués, os infalíveis,
de todos os domingos, além da família em sua totalidade, irmão (meu avô) e irmã
(tia Ida) ambos já casados, eram Eloi de Souza, deputado, Pires Brandão, advogado,
Alberto Cunha, médico, Candido Campos, jornalista, Amarilio de Vasconcelos,
Edmundo da Luz Pinto e Gilberto Amado.
Nesta colagem vemos
aspectos do interior da casa de James Darcy.
Vemos a foto do acervo do
Sergio Coimbra, enviada para o SDR pela Lucia Simões, a tia Lu. Último banho em
Copacabana do rei Alberto em setembro de 1920. O Rei Alberto da Bélgica visitou
o Rio, tendo chegado no Cais do Porto no couraçado “São Paulo”, enviado para
fazer o transporte até o Rio. Foi uma visita bastante aguardada e, também,
polêmica, pois muito se criticou o valor da verba alocada para a recepção real.
Meses antes da visita o
Ministério das Relações Exteriores solicitou da Prefeitura a macadamização das
ruas do parque do Palácio Guanabara e bem assim a captação das águas
provenientes da montanha que fica nos fundos desse palácio, pois ali se
hospedaria o rei.
Foi o primeiro soberano a
visitar a América do Sul, alardeou a manchete do “Correio da Manhã”. A
programação foi extensa, com desfile militar, sessões comemorativas em diversos
locais, almoço na Embaixada da Bélgica na Praia de Botafogo, récita de gala no
Teatro Municipal para assistir à ópera “Aida” de Verdi, um torneio de atletismo
no campo do Fluminense promovido pela Liga Metropolitana de Desportos
Terrestres, a prova turfística “Grande Prêmio Rei Alberto” no Derby Club, etc.
Várias vezes o Rei
Alberto dirigiu-se pela manhã, muito cedo, à Praia de Copacabana para tomar
banho de mar, antes mudando de roupa no Palacete Mackenzie. Conta o “Correio da
Manhã” que grande multidão apreciou o banho matinal do soberano belga, que
chegou de volta ao Palácio Guanabara às 9h30.
A Rainha Elisabeth
visitou a Tijuca, fazendo o trajeto pela Estrada D. Castorina, indo à Vista
Chinesa, onde o landau em que viajava a soberana fez uma parada. Sua Majestade
não escondeu o grande entusiasmo que lhe causara o soberbo e magnífico
espetáculo. A volta foi feita pela Gávea, visitando as avenidas Niemeyer e Atlântica.
Em outro dia visitou o Instituto Oswaldo Cruz em Manguinhos.
O Rei Alberto foi à Floresta da Tijuca, onde fez um passeio vendo a Gruta Paulo e Virginia, a Estrada do Lampião Grande, Furnas e depois inaugurou a Avenida Niemeyer.