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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

POSTO 4 - COPACABANA

 

O “post” de hoje é das vizinhanças da esquina da Av. Atlântica com a Rua Figueiredo Magalhães na primeira metade do século XX.

Na primeira parte reproduzo uma estupenda pesquisa do Maximiano Zierer, um dos maiores “experts” no passado da Av. Atlântica. Na segunda parte a pesquisa é minha.

Como o “Saudades do Rio” entrará em “recesso de carnaval” haverá a possibilidade de lê-lo com tranquilidade até o final da próxima semana.

Na foto abaixo vemos o Palacete de May e Alexander Mackenzie na Av. Atlântica, quase esquina com a rua Figueiredo Magalhães, Copacabana. Vizinho a ele, como descrito abaixo, bem na esquina, ficava a casa de meu tio James Darcy.

Alguns palacetes que existiram no início do século passado na orla de Copacabana foram pouco documentados em fotos, e como desapareceram há muito tempo, caíram no esquecimento. Deste modo, os seus antigos moradores, assim como os fatos históricos relevantes que ali ocorreram, são praticamente ignorados pelas gerações atuais. Uma dessas residências era o palacete do casal de canadenses May e Alexander Mackenzie. Era uma casa de dois pavimentos em estilo eclético, que foi construída na década de 1910. Seu exato endereço era Av. Atlântica antigo número 594, local onde está atualmente o edifício Sevilha, na Av. Atlântica 2516, quase na esquina com a rua Figueiredo Magalhães (o prédio localizado exatamente na esquina é o seu vizinho, o Ed. Vésper, na Av. Atlântica 2492).

Alexander Mackenzie nasceu em 1860 e faleceu em 13 de julho de 1943, em Kincardine, Canadá. Advogado, iniciou sua carreira profissional junto à firma Blake, Lash and Cassels, de Toronto, Canadá, responsável pela consultoria legal da São Paulo Tramway, Light and Power Company, Ltda. Em 1899, veio ao Brasil estudar questões jurídicas relacionadas às concessões para os serviços de bondes e fornecimento de luz e força na cidade de São Paulo, adquiridas pela São Paulo Light. Permaneceu no país como procurador desta empresa, tornando-se seu vice-presidente, entre 1902 e 1912. Em 1904, idealizou a instalação, na cidade do Rio de Janeiro, de uma empresa semelhante à São Paulo Light. Como decorrência de sua iniciativa, foi constituída em Toronto, em 9 de junho daquele ano, a Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Ltda, com capital canadense e norte-americano. Afastou-se das companhias em 1912, quando retornou ao seu país natal. Voltou ao Brasil em 1914, como consultor jurídico e advogado da Brazilian Traction, Light and Power Company, empresa holding do grupo candense, constituída em 1912. Foi também procurador da São Paulo Electric Company, empresa com sede em Toronto, organizada para instalar a Usina Hidrelétrica Ituparanga.

Com a morte do Dr. Pearson no naufrágio do Titanic, Alexander Mackenzie o sucedeu no comando da empresa Brazilian Traction, Light and Power Company. Ele foi presidente da Brazilian Traction, Light and Power Company entre 1915 e 1928, e é considerado um dos principais responsáveis pela implantação e desenvolvimento do Grupo Light no Brasil. Graças à dedicação de Alexander Mackenzie, houve um grande progresso na distribuição de energia elétrica, na iluminação pública, no transporte público por bondes (antes puxados por burros, e depois movidos a eletricidade) e na evolução industrial da cidade do Rio de Janeiro. Ele também foi presidente do Gávea Golf and Country Club, e recebeu, no Canadá, o título de Sir Alexander Mackenzie. Por ocasião da sua saída do Brasil, em 1928, o trabalho de Alexander Mackenzie obteve o merecido reconhecimento, tendo recebido diversas homenagens de jornais e revistas pelos seus serviços em prol do desenvolvimento do país, notadamente das cidades de São Paulo e da Capital Federal, a época o Rio de Janeiro. 

Sua esposa, May Mackenzie, foi uma das pioneiras fundadoras (junto com Jerônyma Mesquita e Adéle Lynch) do Movimento Bandeirante do Brasil. Em 13 de agosto de 1919 (data oficial de fundação do Movimento Bandeirante no país), aconteceu a fundação da Associação das ‘Girl Guides’ do Brasil (nome inicial do movimento), com a Cerimônia de Promessa das 11 primeiras bandeirantes brasileiras na casa dos Mackenzie, na Av. Atlântica em Copacabana. O primeiro Conselho Diretor da Associação Girls Guides do Brasil era formado por May e Alexander Mackenzie, Adéle Lynch, Anita Eugênio de Barros, Monsenhor Rangel e o Senador Mozart Lago.

O Movimento das “Girl Guides” se apresentava como uma proposta de educação pioneira, por acreditar na importância da mulher em assumir um papel mais atuante nas mudanças da sociedade. Em 1919 o cenário no Brasil era de pós-guerra – mudanças de costumes e valores propiciavam à mulher novas formas de se mostrar ao mundo. E o Movimento Bandeirante foi uma delas. Nos anos 30 a entidade viria a mudar de nome e se chamar ‘Federação das Bandeirantes do Brasil’ com o advento da nacionalização dos nomes das entidades no período do Estado Novo.

No ano seguinte a fundação do Movimento Bandeirante no Brasil, o casal Mackenzie participou de outro evento histórico relevante. Foi durante a visita do Rei Alberto I e da Rainha Elizabeth da Bélgica ao Rio de Janeiro (então a Capital Federal). A permanência dos monarcas belgas ao Brasil durou de 19 de setembro a 15 de outubro de 1920, tendo o rei Alberto visitado também os Estados de São Paulo e Minas Gerais. No Rio de Janeiro, os monarcas belgas ficaram hospedados no Palácio Guanabara. O Rei Alberto, grande entusiasta da natação, passou a se dirigir diariamente, com a sua comitiva em seus respectivos carros, para ir tomar banho de mar na Praia de Copacabana. Essa atividade recreativa do Rei atraía multidões de curiosos, e era amplamente noticiada nos principais jornais da época. Seus banhos de mar ocorriam por volta de 7:00h-7:30h da manhã, diante da rua Valladares no Posto 6. (o nome atual dessa rua é Av. Rainha Elizabeth. A mudança de nome da rua se deu por decreto de 7 de outubro de 1922 do Prefeito Carlos Sampaio, visando homenagear e marcar na memória dos cariocas o local onde os monarcas belgas mergulhavam no mar de Copacabana).

Os jornais noticiavam que era no Palacete Mackenzie que o Rei Alberto (e, por vezes, também a Rainha Elizabeth) trocava de roupa para o banho de mar na praia de Copacabana, tanto na ida, como na volta, no pós banho. Nestas ocasiões, os Mackenzie, como bons anfitriões, ofereciam um “lunch” a Suas Majestades Reais. (observação: o Rei e a Rainha não tomavam banho de mar juntos, mas em horários distintos, cada qual acompanhado da sua comitiva e ajudantes. O Rei era mais assíduo e freqüentava o mar de Copacabana diariamente, enquanto a Rainha banhou-se somente algumas vezes). O jornal “A Noite” de 25-9-1920 noticiou: “Uma gentileza do Sr. Mackenzie: Como Sua Majestade Elizabeth tivesse elogiado o creme que, após o seu banho, lhe tem sido servido no Palacete Mackenzie, aquelle diretor da Light tem enviado ao Palácio Guanabara, diariamente, o mesmo creme, confeccionado na sua propriedade de Ribeirão das Lages, para que Sua Majestade a Rainha continue a apreciá-lo”. Em reconhecimento a hospitalidade prestada, os Mackenzie foram convidados a participar de um almoço no Palácio Guanabara a convite dos monarcas belgas (Jornal do Brasil, 26-9-1920).

Curiosamente, foi o casal Mackenzie que teve o privilégio de acolher os monarcas belgas por ocasião dos banhos de mar em Copacabana, embora houvesse outros palacetes próximos pertencentes a pessoas de destaque na sociedade, como, por exemplo, o casarão vizinho aos Mackenzie, pertencente ao Dr. James Darcy e a casa normanda de D. Guilhermina Guinle, ambos na esquina com a rua Figueiredo Magalhães, além de outras pessoas ilustres nas redondezas, como o rico empresário Conde Alessandro Siciliano (com seu casarão na Av. Atlântica situado próximo a rua Santa Clara) e o Conde de Paranaguá (com seu casarão na esquina da rua Barão de Ipanema com a Av. Atlântica).

Uma questão não explicada era o fato do Rei e Rainha trocarem de roupa em um Palacete no Posto 4, para em seguida irem nadar no mar na extremidade final da praia, no Posto 6. Por que não mergulhavam no mar ali mesmo, diante da esquina da rua Figueiredo Magalhães? Provavelmente, por questão de segurança, o Rei e a Rainha foram orientados a tomar os seus banhos de mar no Posto 6 por ali se encontrarem águas mais calmas e abrigadas, enquanto que no Posto 4 eram abundantes os relatos, naquela época, de casos de afogamento, sendo um local onde o mar era mais aberto, revolto e perigoso.

Para encerrar a nossa história sobre os Mackenzie no Brasil, Alexander Mackenzie precisou se afastar da presidência da Light em 1928 para tratar problemas de saúde, e por recomendação médica acabou indo embora do país e regressou ao Canadá junto com sua esposa Lady Mackenzie (Correio da Manhã 3-8-1928, O Malho, 18-8-1928). Finalmente, na segunda metade dos anos 30, Lady Mackenzie veio a falecer em Londres (6-5-1937). Sir Alexander Mackenzie faleceu em 12-7-1943 em Kincardine, Ontario, no Canadá.

No centro da cidade de São Paulo, existe preservado o edifício Alexander Mackenzie, localizado entre o cruzamento da Rua Coronel Xavier de Toledo com o Viaduto do Chá. O prédio, em estilo eclético, foi sede da empresa distribuidora de energia elétrica São Paulo Tramway, Light and Power Company e, posteriormente, da antiga estatal Eletropaulo. Seu projeto contou com a autoria dos americanos Preston e Curtis, e a execução do escritório de Severo, Villares & Cia. Ltda. Foi concluído no ano de 1929 e ampliado em 1941. Desde 1999, após cuidadosa restauração, abriga o Shopping Light.

Após os canadenses deixarem o país, o Palacete Mackenzie pode ter sido alugado ou mesmo vendido (não encontrei os registros), mas o fato é que a casa passou a ser, ainda no início da década de 1930, a residência do Sr. H. D. Humpstone, presidente da Standard Oil Company of Brazil (Almanak Laemmert, 1931). A casa acabou sendo demolida no final dos anos 40, e em seu lugar foi construído, entre 1951-52, o edifício Sevilha, que permanece no local até os dias atuais. Quem passa na calçada diante desse prédio na Av. Atlântica dificilmente imagina que, em uma casa que existiu naquele exato local, morou um estrangeiro que deixou uma grande contribuição para o desenvolvimento da nossa cidade, que houve naquela morada a fundação do movimento Bandeirante no Brasil, e que ali estiveram presentes os monarcas belgas quando se dirigiam para os seus banhos de mar em Copacabana, há mais de um século atrás. 

Bônus: O curioso caso do homem que mostrou a bunda para o Rei Alberto!

O meu amigo Francisco Patrício, a quem devo todo o crédito, me enviou essa história (que eu desconhecia), que é contada no livro “Quase-Memória” do já falecido jornalista e escritor Carlos Heitor Cony. O livro nos mostra as memórias do pai do autor, e conta, de forma alegre, muitas histórias interessantes. Segue um resumo de uma dessas histórias: quando o Rei Alberto se dirigia para visitar São Paulo, um sujeito entrou no seu vagão do trem durante uma parada à noite, indo até a sua cabine particular. O que queria esse homem? Ele era um cidadão de ideologia anarquista e que tinha muita raiva da monarquia. Aproveitando-se do fato que tinha acesso total ao comboio, por ser ele justamente o chefe da estação de Barra do Piraí, onde o trem faria uma parada noturna, ele se aproveitou da situação e partiu para o atentado: entrou no vagão do Rei Alberto, como quem fosse fazer uma vistoria, invadiu a cabine do Rei, que estava insone e sonolento, e mostrou a bunda para Sua Majestade!

Nas palavras do próprio Carlos Heitor Cony: “Dois oficiais, um brasileiro e um belga, o viram entrar. Mas sabendo que aquele era o chefe da estação, continuaram no fundo do corredor, imaginando que se tratava de inspeção rotineira nos equipamentos do vagão.

Com sua mão forte, ele abriu a porta, aproximou-se do leito real. À luz que vinha do lado de fora, viu o soberano de camisola e gorro de dormir tentar levantar-se, temendo o punhal assassino que mancharia Barra do Piraí com o sangue de um descendente da Rainha Vitória.

Naquele instante, o Rei deve ter pensado que, sofrendo um atentado tão traiçoeiro, seus primos, cunhados e consangüíneos em toda a Europa logo providenciariam uma nova guerra mundial, uma guerra terrível, letal, que lavasse a afronta e o crime de Barra do Piraí. Ele, Rei, entraria na história, embora associado a Barra do Piraí. Nada é perfeito.

Temeu em vão. Horácio Dias de Morais se aproximou, deu as costas ao Rei apalermado dentro de sua camisola, coberto pelo gorro, levantou o pesado capote esverdeado, capote de ferroviário da Estrada de Ferro Central do Brasil, arriou as calças e mostro-lhe a bunda.

O próprio Horácio Dias de Morais gostava de imaginar a cara apatetada do Rei, contemplando aquela bunda branca e enigmática, iluminada pela luz de um distante lampião de estação ferroviária, nas profundezas de Barra do Piraí.”

Texto e pesquisa de Maximiliano Zierer

Fontes da pesquisa: Jornais A Noite, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Revista da Semana, O Malho, Almanak Laemmert, AGCRJ, Blog Saudades do Rio e os sites:

sobre Sir Alexander Mackenzie:

https://www.memoriadaeletricidade.com.br/.../alexander...

sobre a participação de May Mackenzie no Movimento Bandeirante no Brasil: https://www.ccme.org.br/.../centenario-do-movimento.../

http://www.bandeirantesp.org.br/historico.php


A Cerimônia de Promessa das 11 primeiras bandeirantes brasileiras, em 13 de agosto de 1919 na casa dos Mackenzie na Av. Atlântica (May Mackenzie está no canto esquerdo e Alexander Mackenzie no canto direito). Foto de autor desconhecido, do site do Movimento Bandeirante de São Paulo.


O Palacete Mackenzie recebe o Rei Alberto e a Rainha Elizabeth da Bélgica, Jornal Correio da Manhã, 21-9-1920.


O Rei Alberto da Bélgica se dirige para o seu banho de mar na Praia de Copacabana, diante da esquina com a antiga rua Valladares (atual Av. Rainha Elizabeth, no Posto 6). Foto de Guilherme Santos, 1920.


O Rei Alberto, em traje de banho, acompanhado por seus assessores e por uma multidão de curiosos, por ocasião dos seus banhos de mar na Praia de Copacabana. Foto de 1920 do acervo do Sergio Coimbra, publicada no Blog Saudades do Rio.


Casa da Mãe das Bandeirantes do Brasil. Foto publicada na Revista da Semana no 3 de 5-1-1929.


Entre as construções em destaque indicadas por setas, temos no lado esquerdo o Palacete dos Mackenzie.Foto de Guilherme Santos, 1930, pertencente ao acervo do Instituto Moreira Sales.


Esta fotografia me foi enviada pelo Andre Decourt. Nela vemos o trecho da Avenida Atlântica nas vizinhanças da Rua Figueiredo Magalhães na década de 40. Bem no centro da foto está a casa de meu tio-avô, James Fitzgerald Darcy, cujo endereço era Rua Figueiredo Magalhães nº 1. Ficava exatamente ao lado do Palacete Mackenzie. Foi demolida em meados da década de 50, para dar lugar ao Edifício Vesper. 


Esta é a casa de James Darcy, numa das esquinas da Av. Atlântica com Rua Figueiredo Magalhães. Nesta época já não existia o Palacete Mackenzie, pois o arranha-céu já a havia substituído. A casa, por alguns anos, teve só dois andares, mais tarde foi acrescentado o terceiro. Tenho algumas poucas lembranças de quando estive lá. Era muito pequeno.


Assim escreveu Gilberto Amado ("imortal" da ABL, poeta, diplomata e jornalista), por ocasião da morte de meu tio:

"James Darcy nasceu no Rio Grande do Sul em 1876, tendo sido um notável homem público. Foi fulgurante expositor, na Federação de Porto Alegre, das ideias e programas de Júlio de Castilhos. Foi jurisconsulto, Consultor Geral da República, sucessor de Clovis Bevilaqua, colaborador de Rio Branco, que tantas missões difíceis e de alto alcance internacional e nacional lhe confiou. Foi professor universitário, administrador das Caixas Econômicas e presidente do Banco do Brasil; homem múltiplo em tantos aspectos desdobrado ao longo de uma vida de trabalho e atividade intelectual.

A sua casa, nas primeiras décadas do século XX, cheia de sua biblioteca, uma das mais completas do Brasil e certamente a mais completa do ponto de vista da bibliografia política e literária, era uma espécie de abrigo espiritual e moral onde se viviam instantes altos e simples, nobres e alegres. A mesa, certos domingos, tinha que ser encompridada, de ponta a ponta da sala de janelas abertas sobre o mar murmurante na praia deserta ainda não cortada de tanta buzina de automóvel.  No meio de todos, James Darcy que a todos era superior em tanta coisa, por certo que de autoridade que nele espontaneamente emanava, animava-os, guiava-os, fazia-os dar o máximo naquelas horas fugidias.

James Darcy tinha conhecimentos extensíssimos não só literários como de todas as belas artes. Ouvir-lhe descrever uma visita ao Vaticano ou ao Palácio Pitti era um encantamento. Sabia do que falava e só falava do que sabia. Sua voz esplêndida, seu ar fidalgo, seus traços nobres sugeriam comparações. Pensava-se num paladino, num navegador genovês. Sua carreira política foi breve; seu gosto por ela efêmero. Dedicou-se aos livros e aos amigos. Aqueles, enriquecendo-lhes o espírito, o tornaram a estes ainda mais querido. Sua importância foi grande. Sua presença não se apagou com sua morte no Rio Grande do Sul em 1952; durará para sempre na saudade dos que o conheceram.”


Vemos o Posto de Salvamento entre as ruas Siqueira Campos e Figueiredo Magalhães, com destaque da casa de James Darcy ao fundo.

Segundo Gilberto Amado, “James Darcy sempre esperava os amigos no meio de seus livros e de lindas crianças, uma das quais a adorável Ligia, sua filha cuja morte tão prematura matou-lhe para a alegria; sua mãe, Josepha de Sá Darcy (minha bisavó), senhora dos tempos antigos, leitora de romances, acolhedora e serena, gente boa e sã, naquela casa boa do bom Brasil velho, incontaminado de modernismos e de esnobismos. Às vezes, nos domingos, era uma festa a conversação, na plenitude do convívio animado pelo dono da casa.

Os habitués, os infalíveis, de todos os domingos, além da família em sua totalidade, irmão (meu avô) e irmã (tia Ida) ambos já casados, eram Eloi de Souza, deputado, Pires Brandão, advogado, Alberto Cunha, médico, Candido Campos, jornalista, Amarilio de Vasconcelos, Edmundo da Luz Pinto e Gilberto Amado.


Nesta colagem vemos aspectos do interior da casa de James Darcy.


Vemos a foto do acervo do Sergio Coimbra, enviada para o SDR pela Lucia Simões, a tia Lu. Último banho em Copacabana do rei Alberto em setembro de 1920. O Rei Alberto da Bélgica visitou o Rio, tendo chegado no Cais do Porto no couraçado “São Paulo”, enviado para fazer o transporte até o Rio. Foi uma visita bastante aguardada e, também, polêmica, pois muito se criticou o valor da verba alocada para a recepção real.

Meses antes da visita o Ministério das Relações Exteriores solicitou da Prefeitura a macadamização das ruas do parque do Palácio Guanabara e bem assim a captação das águas provenientes da montanha que fica nos fundos desse palácio, pois ali se hospedaria o rei.

Foi o primeiro soberano a visitar a América do Sul, alardeou a manchete do “Correio da Manhã”. A programação foi extensa, com desfile militar, sessões comemorativas em diversos locais, almoço na Embaixada da Bélgica na Praia de Botafogo, récita de gala no Teatro Municipal para assistir à ópera “Aida” de Verdi, um torneio de atletismo no campo do Fluminense promovido pela Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, a prova turfística “Grande Prêmio Rei Alberto” no Derby Club, etc.

Várias vezes o Rei Alberto dirigiu-se pela manhã, muito cedo, à Praia de Copacabana para tomar banho de mar, antes mudando de roupa no Palacete Mackenzie. Conta o “Correio da Manhã” que grande multidão apreciou o banho matinal do soberano belga, que chegou de volta ao Palácio Guanabara às 9h30.

A Rainha Elisabeth visitou a Tijuca, fazendo o trajeto pela Estrada D. Castorina, indo à Vista Chinesa, onde o landau em que viajava a soberana fez uma parada. Sua Majestade não escondeu o grande entusiasmo que lhe causara o soberbo e magnífico espetáculo. A volta foi feita pela Gávea, visitando as avenidas Niemeyer e Atlântica. Em outro dia visitou o Instituto Oswaldo Cruz em Manguinhos.

O Rei Alberto foi à Floresta da Tijuca, onde fez um passeio vendo a Gruta Paulo e Virginia, a Estrada do Lampião Grande, Furnas e depois inaugurou a Avenida Niemeyer.



ESCOLA ARGENTINA

OBS: como o tema é Educação provavelmente o nome de Paulo Freire será citado, como tantas vezes anteriormente. Face às divergências de opinião entre os comentaristas, já devidamente discutidas por aqui, não serão publicados comentários que envolvam este educador brasileiro.

Foto de Malta mostrando o prédio da Escola Argentina, construído em 1929. A Escola Argentina foi fundada em 1924 por Carneiro Leão, mas somente em 1929 mudou-se de uma casa na Rua Jockey Club, nas imediações da Rua São Francisco Xavier, para instalações condignas na Rua 24 de Maio, no Engenho Novo. À época o endereço era Rua 24 de Maio nº 595. O prédio foi construído pela firma Meanda, Curty & Cia, teve como engenheiros fiscais Nerê & Fernandes, com doze salas com a capacidade para 40 alunos em cada. Tinha duas oficinas, salas para museu, biblioteca e cinema escolares, gabinete médico e dentário, pavilhão de ginástica, etc.

Com uma arquitetura neocolonial, a nova escola foi inaugurada em 03/12/1929. Durante a gestão de Anísio Teixeira torna-se experimental em 1932. Esta escola-modelo muda de endereço em 1935, indo para a Av. 28 de Setembro, em Vila Isabel.

Segundo M. W. Chaves I(Doutora em História da Educação pela PUC-RJ), a Escola Argentina é uma escola do Rio de Janeiro que, apesar de ter sido inaugurada na gestão de Carneiro Leão, em 1924, ganha visibilidade quando, em 1929, durante a administração de Fernando de Azevedo, adquire um prédio próprio em estilo neocolonial na Rua 24 de Maio, no Engenho Novo, e posteriormente, com Anísio Teixeira no Departamento de Educação, quando adota o Sistema Platoon5, torna-se experimental e transfere-se, em 1935, para um outro edifício inspirado em uma concepção arquitetônica moderna e arrojada, em Vila Isabel, mais exatamente na Avenida 28 de Setembro.

O sistema “platoon5” era constituído de salas de aula comuns e salas especiais para auditório, música, recreação e jogos, leitura e literatura, ciências, desenho e artes industriais; e o seu funcionamento dava-se pelo deslocamento dos alunos, através de “pelotões”, pelas diversas salas, conforme horários pré-estabelecidos.

Nos anos 30 a escola publicava a “Revista Escola Argentina” que funcionava como um ótimo veículo de propaganda, tanto da Escola Argentina quanto das Administrações Públicas a que se vinculava; principalmente a de Anísio Teixeira, já que é durante a sua gestão que a revista ganha força e amadurece.

 Anísio Teixeira foi personagem central na história da educação no Brasil, nas décadas de 1920 e 1930, difundindo os pressupostos do movimento da Escola Nova, que tinha como princípio a ênfase no desenvolvimento do intelecto e na capacidade de julgamento, em preferência à memorização.

O prédio ainda existe e hoje abriga a escola Sarmiento. Tem na fachada uma curiosidade que poucos conhecem, que é um mapa de parte do entorno da baía de Guanabara onde está registrado o contorno original, sem os aterros.


Foto encontrada na Internet com marca d´água do site Cascadura. A Escola Argentina funcionava num prédio de três pavimentos, em uma grande área, tendo ao fundo belo campo arborizado. Na fachada principal tem dois belos mosaicos com os mapas do Distrito Federal e do Brasil.

Em 1929 o “Correio da Manhã” descrevia o prédio da escola como “amplo, confortável, arejado, com todos os requisitos que a moderna hygiene impõe. É um palacio onde mais de um milhar de creanças irá diariamente receber o pão do espírito.”

Como o local sofria com alagamentos a Prefeitura realizou obras para canalizar o excesso de água para o rio Jacaré, com manilhas de 0,60, além de abrir quaro bocas de lobo no muro da Central do Brasil.

Aos interessados no tema recomendo o artigo “A Escola Argentina no antigo Distrito Federal durante nos anos de 1930: um torrão argentino em solo brasileiro” de Miriam W. Chaves em

https://www.scielo.br/j/rbedu/a/PZLLbGGgqnsgvFbkBQ6WtvH/?lang=pt

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

RUA GUILHERMINA

Nesta foto de Malta vemos a Rua Guilhermina, no Encantado, na década de 20. Parece uma cidade do interior. Ao fundo, a igreja de São Pedro Apóstolo que foi tema do "post"

http://saudadesdoriodoluizd.blogspot.com/2018/07/aover-esta-semana-no-fb-fotografia.html

Vemos que à época da foto havia lampiões dispostos em lados alternados da via, perto da esquina há um outro e mais à frente, forçando a vista, mais um outro. A região já era servida por luz elétrica, mas em muitos arrabaldes a iluminação a gás sobreviveu até 1928 quando o último lampião da cidade se apagou para sempre. Os lampiões desta rua pelo visto teriam vida curta.

A foto de Malta mostra o arruamento da via: já vemos o meio-fio no local e paralelepípedos na calçada, que certamente seriam instalados em breve na rua. Juntamente com as melhorias a rua ganharia iluminação elétrica, pois os postes também seriam deslocados, pois acabaram ficando no meio da calçada.

A foto foi tirada do início da subida, próximo e antes, da Teixeira de Azevedo. A primeira à esquerda seria a Almeida Bastos (onde morava a cantora Aracy de Almeida, maior intérprete de Noel Rosa) já que a igreja se situa na esquina da General Clarindo e a nova igreja seria construída nesta rua no nº 632.

Do Encantado só conheço o “Rei do Bacalhau”, que era ótimo, mas não sei como está atualmente. Era a antiga Adega São Roque. 

Quanto à igreja que aparece na foto atualmente me parece estar totalmente abandonada, apesar de em algum momento ter sido tombada. Esta igreja é visível da Linha Amarela, não muito distante do Engenhão. 


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

RUA REDENTOR

Vemos a Rua Redentor, em Ipanema. Foi aberta em 1928, começando na Rua Joana Angélica e terminando na Av. Epitácio Pessoa, no Jardim de Alá. Seu nome provavelmente se relaciona com a estátua do Cristo Redentor, que estava em construção na época.

As duas primeiras fotos são da casa do prezado Lavra, o Bispo Rolleiflex. Ficava no nº 181 da Rua Redentor. A casa, muito simpática como tantas em Ipanema, deu lugar a um prédio de apartamentos. Nem o nº 181, salvo engano, existe mais: agora do nº 179 pula para o nº 185. O Lavra comenta que "fora as pessoas, é claro, esta casa é uma das coisas das quais mais tenho saudades. Você poderá observar as pequenas árvores em frente. Minha mãe e eu plantamos e, durante muito tempo, ficamos tomando conta para que não fossem depredadas. As duas cresceram e se tornaram lindas. Hoje, uma delas ainda está lá, em frente do edifício que assumiu o lugar da casa (que pena). A outra foi vitimada por um vazamento de gás. O interessante é que alguém plantou um ficus, que é uma árvore fortíssima, no mesmo canteiro. Pois desde então as duas disputam o mesmo espaço na terra, mas cresceram abraçadas. As duas são os maiores monumentos vegetais da rua". 

A casa do Lavra na Rua Redentor nº 181. Mais adiante um pouco, em direção ao Jardim de Alá, nesta época morava o Marechal Dutra. Esta rua super-tranquila é ainda um dos melhores lugares para se morar em Ipanema, embora desde as obras do metrô tenha mais movimento, pois foi feita uma ponte sobre o Jardim de Alá, unindo as ruas Humberto de Campos no Leblon com a Redentor em Ipanema.


Foto também do Lavra mostrando a esquina da Rua Redentor com Rua Garcia d´Ávila, em Ipanema, provavelmente da década de 60. O local, por incrível que pareça, mantém um aspecto muito parecido com esse. O imóvel à direita, onde funcionava a "Casa Guarujá", que era conhecido como o "armazém do "seu José", está praticamente intocado. Atualmente, com pouquíssimas modificações, funciona no lugar da Casa Guarujá um restaurante (acho que o Mimolette, onde antes funcionou uma filial do Alessandro&Frederico) - é o nº 175 da Rua Redentor. O imóvel da esquerda, do outro lado da rua, tem como endereço Rua Garcia d´Ávila nº 160, está ainda lá, mas bastante modificado. Ainda tem dois andares, mas perdeu o muro, trocou as janelas por vitrines e ganhou umas alterações no telhado. Funciona ali uma loja Hermés, onde antes era a Trousseau.

Esta foto da Rua Redentor acho que é do acervo do Candeias e é do ano de 1951. Se ele passar por aqui poderá dar mais informações.


Esta foto achei na Internet com a legenda de Rua Redentor, mas não consegui identificar a esquina.


Vemos o jovem Lavrinha em frente de casa, no como da tia. Rua calma, sem trânsito, todos se conheciam. Existiam, ainda, alguns terrenos sem construções e com pitangueiras. O pão era vendido na porta. O leite, em mini caminhões, chamados "vaca-leiteira". Quando chegava, pessoas acorriam portando jarras. A fila não era grande e os clientes aproveitavam para colocar os assuntos em dia.


Os telhados de Ipanema. Sem edifícios altos a vista era magnífica para a lagoa. Alguns anos mais tarde o Bispo Rolleiflex caminharia sobre as águas.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

CORPO DE BOMBEIROS

Como conta Dunlop, até 1856 não havia no Rio serviço organizado de combate ao fogo. Os incêndios eram extintos da maneira mais rudimentar possível, com voluntários em fila, baldes de água passando de mão em mão, toscas escadas para retirar moradores de prédios mais altos. No ano de 1856 foi criado o Corpo Provisório de Bombeiros da Côrte.

Os avisos de incêndio eram dados por três tiros de peça de artilharia de grosso calibre, disparados do alto do Morro do Castelo, com intervalos de cinco minutos. Para indicar a freguesia onde lavrava o fogo, o sino grande da igreja de São Francisco de Paula dava badaladas convencionais> um toque (Sacramento), dois toques (São José), três toques (Candelária), quatro toques (Santa Rita), cinco toques (Santana), seis toques (Engenho Velho), sete toques (Santo Antonio), oito toques (Glória), nove toques (Lagoa). Também o sino maior da freguesia onde havia o fogo repetia o toque de incêndio de minuto em minuto.

Aqui vemos o novo quartel do Campo da Aclamação (hoje Praça da República), ali instalado em 1908.


Foto de Malta, do início do século XX,  mostrando o quarteirão da Praça da República onde fica o Quartel Central do Corpo de Bombeiros. O bonde "Barcas", com seu reboque, passa tranquilamente pela Rua Visconde de Rio Branco em direção à Praça XV. 

Renovado, melhorado e ampliado o quartel foi inaugurado pelo Presidente da República, Dr. Afonso Augusto Moreira Pena, que foi recebido pelo Coronel-Comandante Feliciano Benjamin de Souza Aguiar.


Neste postal da coleção de Klerman Wanderley vemos a fachada posterior do quartel do Corpo de Bombeiros. A sede dos Bombeiros é um primor. Sua torre é do tempo em que se podia avistar um incêndio em qualquer ponto da cidade bastando postar um sentinela lá no alto.

No seu interior há uma segunda construção em estrutura metálica típica da Inglaterra ou Alemanha que também existe no Quartel de Botafogo e no de Niterói. Parece daquelas estruturas em ferro pré-fabricados que eram fabricadas em série, importadas e montadas no local.

Em foto do acervo do A. Silva, enviada pelo prezado Francisco Patricio, vemos o interior do quartel-central do Corpo de Bombeiros. Não sei se continua permitida a visita ao quartel, mas era um ótimo programa.


A banda do Corpo de Bombeiros. Houve uma época que bandas militares se apresentavam com frequência, tal como a banda dos Fuzileiros Navais. Mais recentemente esses espetáculos diminuíram muito. Foto do acervo do Silva.


Mais uma foto do acervo do Silva, desta vez mostrando antigos equipamentos dos bombeiros. Até pouco tempo muitos bombeiros achavam um risco morar em prédios com mais de cinco andares. Com equipamentos mais modernos certamente esta orientação mudou.

O Corpo de Bombeiros, acho eu, tem boa imagem entre a população. A maioria deles é formada por abnegados, que expõem a própria vida para salvamentos. Desde há alguns anos é responsabilidade do Corpo de Bombeiros o atendimento nos Postos de Salvamento nas praias e também guarnecem as ambulâncias de primeiros-socorros com eficiência.

Infelizmente, também nos últimos anos, episódios reportados na Imprensa de envolvimento de alguns bombeiros com as milícias empanou de certo modo a imagem da corporação.

domingo, 20 de fevereiro de 2022

PETRÓPOLIS


Triste pela situação da querida Petrópolis, onde passei inúmeras férias nesta casa da Rua Padre Siqueira. À esquerda ficava o jardim e o campinho de futebol de três contra três. Esta era vista que tinha da varanda de casa. Ao fundo fica o Palácio de Cristal.


Esta era vista que tinha da varanda de casa. Ao fundo fica o Palácio de Cristal. 

O restaurante Copacabana era o preferido de meus avós. Ficava na Avenida XV que agora é a Rua do Imperador.


Casa D´Angelo: sempre que minha avó ia tomar chá comprava para nós os caramelos de goiaba ou de chocolate ou de leite. Era um dos lugares da moda nos anos 50 e 60.

O "rink" Marwill, na Praça da Liberdade, era ótimo para patinação. Aos domingos me encantavam os jogos de hóqueis sobre patins.


A zona do comércio era na Avenida XV, onde ficavam cinemas como o Petrópolis e o Capitólio. As Lojas Americanas ficavam perto do prédio dos Correios. Lá numa extremidade ficava a estação de trem.


A Catedral, ainda incompleta, era o local da missa de domingo. 


Na Praça da Liberdade ficavam os cavalos, charretes e "bodinhos" de aluguel.