O "post" de hoje, na porcentagem de 50%, é baseado em postagens do prezado Andre Decourt.
A foto mostra um
pequeno pedaço do interior da enorme garagem da Light do Largo dos Leões.
Essa garagem junto com a do Largo do Machado eram na região sul da cidade os
maiores espaços ocupados pela Light para guarda de veículos, pois embora muito
indentificadas com os bondes, essas garagens muitas vezes guardavam ônibus.
Havia inúmeras outras de médio ou pequeno porte espalhadas pelos bairros da
cidade, algumas ainda ficaram praticamente intactas até os anos 90 como a do
Leblon, e outras perfeitamente preservadas como a de Botafogo, hoje Arquivo
Público do Estado.
A Viação Excelsior, uma das maiores da cidade nos anos 20 e 30 era de
propriedade do "Polvo Canadense", como assim era chamada a companhia
canadense, que dominava vários serviços da cidade, do Gás à Luz passando pelos
transportes.
Com o fim do serviço de bondes grande parte das garagens passou ao poder
público, por desapropriação, ou por terem sido os terrenos anteriormentes
doados pela municipalidade para o fim de garagens, retornando ao patrimônio
público com o fim dos serviços.
O grande espaço da Garagem do Largo dos Leões ou do Humaitá como era também
chamada foi dividida, entre a CEDAE, a COBAL, e a Secretaria Estadual de
Educação.
A foto é curiosa
pois mostra dentro da imensa garagem alguns ônibus da Viação Excelcior,
também de propriedade da Light, algo que não era difícil de ocorrer nas grandes
garagens da cidade.
Vemos a fachada
principal da garagem, localizada na Rua Voluntários da Pátria na frente da
esquina da Rua Capitão Salomão, segundo o Decourt. Eu não me lembro deste lado da garagem, mas lembro bem do lado que dava frente para a Rua São Clemente.
A imagem, aparentemente dos anos 10, mostra um bonde da Light com reboque
passando defronte à garagem. No chão vemos os trilhos que se dirigiam à
entrada principal para os carris, embora a fachada indique claramente que o
arco principal da estação é o localizado mais à esquerda, onde não há trilhos e
o meio-fio é elevado.
Certamente tal entrada deveria ser a sala para os passageiros, onde também
havia bancas de revistas e vendas de jornais, num esquema muito parecido com a
garagem do Largo do Machado, Botafogo e Copacabana. A de Copacabana possuia
inclusive um hotel em seus andares superiores.
Junto ao meio fio vemos um poste de iluminação, que tinha uma base usada em bem
poucas ruas, sendo que a base é muito parecida com os postes da Expo de 1908 na Praia
Vermelha. Não descartando que, após desmonte da Expo, os postes foram adaptados
para a altura das ruas e instalados em vias públicas dos bairros de Botafogo e
Flamengo, onde eles são vistos em fotos antigas.
Com a demolição da
garagem a geografia do local mudou bastante, a rua é muito mais larga, com
recuos não só no local da antiga garagem, mas também junto à calçada oposta,
onde prédios construídos nos anos 70 obedeceram o PA novo da Voluntários da
Pátria, dos anos 50, permitindo nesse trecho o alargamento da via para a
instalação de baias de ônibus e táxis.
Foto da estação do Largo dos Leões já no século XX. Anteriormente, em 1871, a Companhia "Botanical Gardens" solicitou à Câmara
Municipal licença para construir a estação do Largo dos Leões.
Enquanto não ficava pronta, foi construído um telheiro provisório, a fim de se
guardar os carros e os animais que, por falta de lugar próprio, ficavam
expostos ao tempo.
A linha de carris entre a Praia de Botafogo e o portão do Jardim
Botânico foi inaugurada em janeiro de 1871. Pouco depois a linha foi estendida
até o local conhecido como "Três Vendas", que ficava no começo da Rua
Marquês de São Vicente, próximo da Praça Santos Dumont.
Dunlop conta uma curiosidade: é que no ano de 1871, o Chefe de Polícia da
Corte, oficiou à "Botanical Garden" que era proibido que as pessoas
viajassem nos estribos, exceção feita aos empregados encarregados da direção
dos bondes, "visto ser aquela prática vexatória às pessoas que entram e
saem, além de poder ocasionar acidentes e aglomeração de passageiros nos ditos
estribos".
Foi uma grita geral, inclusive com a participação dos jornais. Tal foi o clamor
que o presidente da "Botanical Garden" oficiou ao Ministro da
Agricultura pedindo a revogação da ordem. Os incidentes entre condutores,
policiais e os que desejavam viajar nos estribos aumentavam, fazendo com que um bonde ficasse retido, assim como os outros que vinham atrás.
Nem mesmo a polícia conseguia resolver a questão e, pouco a pouco, foi
afrouxando sua atitude contra os renitentes passageiros dos estribos. Abaixo-assinados foram organizados para pedir a revogação da medida, o que
acabou acontecendo.
A fotografia, do Arquivo
Nacional, mostra a área onde existia a garagem de bondes e que, nos dias de
hoje, abriga a COBAL. Devemos estar nos últimos anos da década de 60. Ainda não
existiam os grandes prédios comerciais da esquina da Rua Voluntários da Pátria
com Rua Capitão Salomão. Um deles, o "Guilherme Romano", abriga além
de lojas nos pavimentos inferiores, um grande número de consultórios médicos.
Quase mais nada restava da
estrutura da garagem de bondes (trilhos, rodos, praticamente tudo foi
retirado), exceto um pedaço de pavimento, junto das Rurais ( que são sucatas,
como as Kombis), que aparentemente são sobras de fossos ou plataformas de
manutenção dos bondes (há trechos de trilhos ainda ali).
Neste espaço funcionou também,
depois dos bondes, uma garagem de ônibus elétricos. Das casas antigas ao fundo,
as duas da extrema direita ainda sobreviviam até há pouco tempo (não sei se
agora ainda estão lá). Na época esse
terreno pertencia a Botafogo. Hoje é Humaitá. A rua que divide os bairros é a
Conde de Irajá. Entre o desmanche da garagem e a construção da Cobal, o terreno
chegou a ser utilizado para a instalação de um circo.