sexta-feira, 22 de novembro de 2024

IGREJA DA GLÓRIA - LARGO DO MACHADO

Nunca entrei na igreja da “Paróquia Matriz de Nossa Senhora da Glória”, somente passei defronte a ela. O texto de hoje, então, é em sua maior parte o disponível pelo Sindegtur. Sei que há um livro com muitas informações sobre ela: “O Rio de Janeiro: sua história, seus monumentos, homens notáveis, usos e curiosidades”, de Moreira Azevedo. Também há muitas notas no “site” da própria igreja.

A freguesia de Nossa Senhora da Glória foi criada pelo Decreto da Assembleia-Geral nº 13, de 09 de agosto de 1834, e desmembrado na mesma data o seu território da de São José. A igreja Matriz, ereta no Largo do Machado, está sob a invocação da padroeira da paróquia. A Irmandade do Santíssimo Sacramento de Nossa Senhora da Glória foi fundada em 26 de janeiro de 1835, aceitando a Capela de Nossa Senhora dos Prazeres como Matriz provisória. Esta capela pertencia a Antônio Joaquim Pereira Velasco, na rua das Laranjeiras.

Em 04 de abril de 1835 foi comprada pela quantia de 5:187$686, inclusive despesas de transmissão de propriedade, a capela de Antônio José de Castro, construída em 1720, próxima ao Largo do Machado e reconstruída em 1818, pela Rainha Carlota Joaquina. Nessa capela esteve a Matriz de 1835 a 1837, quando a mesma foi vendida ao Comendador José Batista Martins de Souza Castelões, que a demoliu e aí construiu uma bela residência, então na Rua das Laranjeiras nº 9.

O terreno para a nova Matriz foi cedido por Domingos Carvalho de Sá, com frente para o Largo do Machado, entre a Rua das Laranjeiras e Gago Coutinho (antiga Carvalho de Sá).


Imagem do Google Maps com a localização da igreja no Largo do Machado.


Em 18 de julho de 1842 teve lugar a cerimônia da colocação da pedra fundamental da Matriz.

O projeto geral do templo, em estilo neoclássico, bastante inspirado na Igreja da Madalena em Paris, foi elaborado pelos arquitetos Júlio Frederico Koeler e Charles Philippe Garçon Riviére.

Em 1844, os alicerces de madeira queimada estavam colocados, e começou-se então a obra pela capela-mor.  A 27 de abril de 1851 o projeto foi alterado pela Mesa “para se corrigir os seus defeitos”. Dois anos depois, começava-se a obra da frente da igreja. A capela-mor já deveria estar pronta, pois em 1855, o escultor Honorato Manuel de Lima era contratado para a obra dos estuques artísticos da capela-mor. Deveria existir um primitivo altar-mor, tirado da velha capela, pois este é citado no ano seguinte, quando um irmão anônimo ofereceu a pia batismal e o douramento do nicho da padroeira no altar-mor. 

Em 12 de junho de 1864, passou a dirigir as obras o arquiteto Francisco Joaquim Bethencourt da Silva, que nesse ano orçou o madeiramento do templo e começou a assentar as colunas da fachada. Depois de uma curta interrupção dos trabalhos, as obras recomeçaram em 1865, sem interrupções. Nesse ano, em novembro, cuidavam-se dos capitéis de pedra das colunas da fachada. Em 1866 o templo foi finalmente coberto. Em 26 de maio de 1867, trabalhava-se já na base da torre sineira. Em 11 de agosto seguinte, terminam todas as obras das paredes. Passava-se agora à decoração interna.


Em 18 de novembro de 1868, foi aceita pela Mesa a proposta de Etienne Bernarchut Sobrinho para modificação do coro da igreja. No dia 08 de agosto de 1869 assinou-se contrato com o escultor Manoel Chaves Pinheiro para a execução do painel do arco-cruzeiro. A 22 de agosto do mesmo ano, a Mesa aprovou a maquete da decoração interna, de autoria de Chaves Pinheiro, para as obras do coro, o alargamento da porta principal, a construção de seis janelas na fachada, as obras da abóbada superior, cujo contrato de execução foi entregue ao arrematante Bernarchut Sobrinho. Tudo seria executado com material do país, à exceção do coro, feito com madeiras vindas da França. 

No mesmo contrato, acertou-se a fatura dos seis altares do templo com Antônio Jacy Monteiro. A 25 de outubro de 1870, Bernarchut Sobrinho arrematou as obras do coro e tribunas. O escultor Antônio do Couto Vale arrematou a cantaria para a cimalha da fachada e empenas. O assentamento das pedras foi arrematado por Bernarchut Sobrinho. No mesmo ano foram colocados os capitéis dos pilares internos, por Salgueiro & Irmão. 

Foi comprado pela Mesa na França um lustre de 49 luzes, para a nave-mór e encomendados na Europa pisos, estátuas de mármore para os nichos do arco-cruzeiro e imagens para os altares. Pagou-se o entalhador Antônio Jacy Monteiro pela execução do altar-mor definitivnco altares colaterais. Em 03 de setembro de 1871, a Mesa resolveu encomendar na França o emblema em pedra da ordem, para o frontispício, bem como a obra dos púlpitos. Ainda no mesmo ano chegou o lustre de cristal, mas não todas as imagens.

Antiquíssima e bela foto de Auguste Stahl, feita em 1863, no Largo do Machado. Ao fundo a igreja neoclássica ainda sem a torre sineira. Dois operários estão assentando "pedras portuguesas" na alameda central da praça. 

Vemos a entrada da missa das 10 horas, em torno de 1900, na Igreja Matriz de N. S. da Glória. 

Tempos da missa em latim, começando com: 

Padre: Introibo ad altare Dei. 

Coroinha: Ad deum qui laetificat juventutem meam.

Padre: Judica me Deus, et discerne causam meam de gente non sancta: ab homine iniquo et doloso erue me.

Coroinha: Quia tu es Deus fortitudo mea: quare me repulisti, et quare tristis incedo, dum affligit me inimicus? 

Os "coroinhas", habitualmente crianças entre 8 e 12 anos, decoravam todas as respostas e as repetiam com um som aproximado, como papagaios. Os fiéis realmente "assistiam à missa" pois também não compreendiam as palavras (pelo menos o sermão era feito em português). 

Até a década de 60 não era permitido às mulheres entrar nas igrejas católicas com blusas sem mangas ou comungar sem véu. 

Consta que algumas comentaristas deste espaço foram "Filhas de Maria", com seus vestidos brancos e fita azul no pescoço ou membros do "Apostolado da Oração", com suas fitas vermelhas. Alguns poucos comentaristas pertenceram à "Congregação Mariana". A maioria, entretanto, imaculadamente vestida de branco, fez a "Primeira Comunhão", empunhando a vela, o terço, o livro de madrepérola.

Vemos um evento militar em frente à igreja. Ocorria ali pois o Largo do Machado chamava-se na ocasião Praça Duque de Caxias e havia um monumento em homenagem a Caxias no meio da praça. Hoje ele está na Praça da República.


Os fiéis, elegantemente vestidos, na entrada da igreja. Consta que após a missa havia um "footing" pela praça.

19 comentários:

  1. Também nunca entrei nesta igreja mas ela chama a atenção. É de impressionar a forma com que as pessoas se vestiam naquela época.
    Lendo como era ir à missa há 50/60 anos é voltar no tempo. Por isso foi um choque deixar de ser feita em latim, virar o altar de frente para os bancos e criar a missa com músicas populares.
    Mesmo assim o catolicismo meio que perdeu o bonde da história para os evangélicos brasileiros que se espalharam pelo mundo.

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    1. Alguns ramos perceberam que podiam falar o que os fiéis queriam, em troca de módicas "contribuições".

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    Sou mais um dos que passavam em frente mas nunca entraram. Via sua imponência a caminho do IPP. Vou acompanhar os comentários.

    Hoje é aniversário de Niterói (451 anos).

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  3. Como era trabalhoso deixar uma igreja completa.
    O estilo eu acho estranho para uma igreja católica. Parece mais que aproveitaram um templo greco romano, colocando uma torre com o sino.
    Fiz a primeira comunhão. A camisa era branca, mas calça preta. E mais a tradicional vela com laço e outros detalhes que não lembro mais.

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    1. A expressão "obra de igreja" não foi criada à toa. A catedral de Barcelona ainda não foi concluída.

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    2. A catedral está pronta, a igreja da Sagrada Família segundo fontes deve ficar pronta até 2030.

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    3. Como curiosidade:
      Igreja designa o local em que o padre exerce influência sobre uma paróquia (equivalente administrativo a um bairro).
      A catedral é a principal igreja de uma diocese (conjunto de paróquias), de onde o bispo repassa aos padres as instruções do papa; ou seja, só há catedral com bispo.
      Por fim, a basílica é uma igreja com importância espiritual, histórica e estrutura para receber o papa; para uma catedral ou igreja receber o título de basílica, é necessária a aprovação do papa.
      A Igreja da Sagrada Família tem o título de Basílica e – se concluída de acordo com recente previsão em 2026 – sua construção terá levado 140 anos.
      A basílica foi reconhecida como Patrimônio Material da Unesco em 1984 e foi consagrada pelo papa Bento XVI em 2010, permitindo a realização de missas.

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    4. Questão de semântica, só para provar que obra de igreja é sinônimo de algo demorado.

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  4. Nunca entrei nessa igreja. O César disse tudo em seu comentário quando disse que "o catolicismo perdeu o bonde da História". Quando criança costumava ir à Igreja com meu pai, e quando estudei no São Bento era obrigatório ir à missa aos Sábados. Mas depois de adulto e com um entendimento da vida e dos misteres da espiritualidade, raras vezes fui à missa, e sempre em ocasiões sociais.

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  5. Eu fiz a Primeira Comunhão na Igreja de Santa Therezinha na Rua Mariz e Barros. Nessa época eu estudava no Instituto de Educação, quase em frente à igreja, e a cerimônia a minha turma inteira. Calças curtas, uma camisa de mangas compridas branca, e uma gravatinha preta, compunham o traje.

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  6. Fiz na Igreja São Paulo Apóstolo.
    Vela, terço, livro de madrepérola, calças curtas brancas e camisa de manga comprida também branca, santinho comemorativo, foto posada em estúdio, tive todo o pacote.
    Também nunca entrei na Igreja da Gloria.
    A foto do Auguste Stahl em 1863 é notável e o comentário do Paulo Roberto a respeito do estilo, perfeito.

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  7. Fiz primeira comunhão lá pelos treze anos. Minha irmã foi um pouco antes de mim, chegou a ser "Filha de Maria". Na vida adulta depois de conhecimentos de História e da hipocrisia que sempre norteou as ações da igreja fui abandonando tudo que se relacionava a religiões. O livro "Os Templários", que li umas três vezes, foi um "divisor de águas" para mim. Paradoxalmente, adoro visitar igrejas históricas. Salvador, Olinda, Ouro Preto, e outras cidades possuem grandes exemplares para nos contar o quanto a igreja de São Pedro dominava corações e mentes nos primórdios dessa nossa terra.

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  8. Sobre missas em latim lembro muito vagamente, inclusive do padre mais de costas para os fiéis do que falando de frente.
    E pelo que entendo os fundamentalistas cristãos, os que ainda se dizem católicos apostólicos romanos, insistem na volta aos tempos anteriores ao Concílio Vaticano II.
    Inclusive nas pautas ultraconservadoras em geral, quando conveniente, costumam se aliar aos evangélicos.
    É o sonho da volta da Idade Média.

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  9. A foto de 1863 me passa uma paz e uma tranquilidade. Passaria as frescas tardes primaveris ali, sentando num banco (se houvesse) e ouvindo os passarinhos cantando.

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    1. A foto que vem antes deve ser de uns 40 anos à frente, já que traz a inscrição:
      Jardim da P. D. de Caxias e abaixo Rio– 23 - ? – 01(ou 07 ?).
      Nela não faltam bancos.

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  10. Minha Primeira Comunhão foi em Madureira mesmo, na São Luiz Gonzaga, com 9 anos. Há muito tempo não frequento igreja, ao contrário da minha irmã, que, se pudesse, iria sempre. Vou em ocasiões especiais. Que eu me lembre, a última foi ano passado, quando minha tia fez 90 anos. Antes disso, na missa de um ano de falecimento da minha mãe, coincidindo com a de vinte anos do meu pai.

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  11. Sobre a inspiração na Igreja da Madalena em Paris, que - quem diria - tem ligação com D. Pedro I e com a Igreja do Senhor do Bonfim (Wikipédia)
    "A Igreja da Madalena (Église de la Madeleine), situada perto da Praça da Concórdia, em Paris, na França, é uma igreja católica consagrada a Santa Maria Madalena.
    Se destaca pela arquitetura em forma de templo clássico grego.
    Nela teve lugar o funeral de D. Pedro II, em 1891. No local, ocorre a tradicional Lavagem da Madeleine na qual brasileiros radicados na capital francesa e franceses comparecem ao desfile de música e folclore, inspirada pela lavagem das escadarias da Igreja do Senhor do Bonfim, na Bahia.

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  12. Também fiz 1ª Comunhão na Igreja São Paulo Apóstolo, como fizeram os alunos do colégio Curso Infantil, que frequentei, assim como nosso Diretor Fundador. Estive uma vez nessa Igreja e não me recordo muito. O local poderia ser ais agradável, mas creio que há uma desproporção entre as ruas, o tráfego e o parque. Não dá para apreciar o Largo naquele fluxo atravancado de veículos, temendo assalto ou se enfiando nas brechas para não perder sinal, ou não deixar espertinhos furarem as faixas. A impressão é de que o parque ficou meio abafado. No mais a Igreja devia servir aos integrantes do Palácio do Catete. Curioso ter na lateral a Rua Marquesa de Santos, logo quem. Mas o post serviu de estímulo para visita que breve farei. Domingo que vem já e dezembro. Foi-se o ano! Por último, mais uma bela pesquisa do Luiz, concatenada . Salvo engano, só não vi referência aos jardins de Glaziou, mencionados na postagem anterior.

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    1. Descrição perfeita:
      " .... fluxo atravancado de veículos, temendo assalto ou se enfiando nas brechas para não perder sinal, ou não deixar espertinhos furarem as faixas."
      É isso aí.

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