sábado, 3 de agosto de 2019

REMO



Estas fotos, de minha autoria, são do tempo em que meu irmão e eu resolvemos remar.
Os primeiros dias eram os piores. Acordar noite escura ainda, ali pelas cinco da manhã, e ir para a sede do Flamengo, na Lagoa. Colocar o pesadíssimo "iole" na água, buscar o remo, ajustar o "finca-pé", experimentar o "carrinho", aprender a remar sem "enforcar", dar várias voltas pela lagoa, recolocar o barco na garagem após o treino. Logo ficar com bolhas nas mãos e pensar em desistir.
Fazer a "preparação física": naquele tempo não havia especialistas e os exercícios eram conforme a "lua" de algum remador mais antigo. Usualmente fazíamos 100 flexões, 200 abdominais, um sem número de "polichinelos". Para arrematar, subir e descer as arquibancadas, já quase sem sentir as pernas. Como "prêmio", uma gemada na garagem de barcos e sair correndo a tempo de assistir às aulas na faculdade.
Meses depois chegava o grande dia: na véspera nem conseguir dormir tamanha a tensão, acordar cedo no domingo e, pela primeira vez, vestir o "manto sagrado". Colocar o barco na água, ouvir incentivos de toda a família, dos amigos e companheiros, nem perceber bem tudo o que se passava.
Aquecer no caminho para a plataforma de largada, lá perto da Igreja de Santa Margarida Maria, mal ver a prova anterior, posicionar o barco, ouvir o tiro de partida. Aí era só fazer força, acompanhar o voga, ouvir o "patrão", pensar que fosse morrer, sentir a torcida no Estádio de Remo, cruzar a linha de chegada, olhar para os lados, confirmar a vitória e "botar os bofes para fora", tamanho o esforço.
 A alegria de remar até o pódio, receber a medalha, tirar foto e "dever cumprido"!
Confesso que logo desisti e passei a ser fotógrafo das provas de meu irmão.

16 comentários:

  1. Dos comentaristas do SDR sei que o Conde di Lido e o JBAN foram grandes remadores, sendo que o JBAN agora disputa provas de veteranos.

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  2. Bom dia, Dr. D'.

    O tempo hoje estaria propício para a prática do desporto? Chuva e frio... Já tive que encarar para comprar pão.

    Também estou mais para fotógrafo (bem amador) do que para "atleta".

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  3. Como "pano de fundo" aparece a favela da Ilha das Dragas, uma das três que havia na Lagoa. Certamente não havia risco de assaltos naquele tempo, bem diferente da realidade atual.

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  4. Vemos o retrato da miséria que o Brasil sempre teve, quer coisa mais africana que favela de palafitas. Depois escutamos gente falando que no passado tudo era melhor.

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  5. Bom dia a todos.
    Realmente é um esporte de força o Remo.
    Quanto a questão do profissional de Educação Física, nesse ponto o Brasil andou para a frente.
    Ainda peguei o tempo em que o sujeito não tinha formação nenhuma mas servia para ser instrutor de artes marciais, futebol, basquete, e por aí vai.
    No quartel era pior. Sargento burro velho dando instrução de educação física sem ter um curso na área.
    Se para o Luiz e seu irmão era um sufoco na Lagoa, imagina na Escola Naval.
    O esporro era constante.

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  6. Só de ler o texto fiquei exausto.E tem jogador de futebol que reclama da rotina...Também quero ser incluído entre os comentaristas remadores: quase todos os dias estou remando contra uma imensidão de tarjas verdes,que definitivamente acabaram com os dizimistas!!!

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  7. É sempre interessante saber das dificuldades do dia a dia de um atleta, principalmente daqueles que não recebem nada pela prática do esporte.
    Fui uma vez ao Estádio de Remo, no último dia de disputa de 1970, quando o Vasco foi campeão, embora naquele domingo o Flamengo tenha vencido por 5 regatas contra só duas do clube da Cruz de Malta, que aliás, foi o Campeão de Terra e Mar naquele ano após um certo jejum no remo e no futebol.
    Pela listagem de campeões do remo carioca, o Botafogo vem dominando há um bom tempo e já é heptacampeão. No campeonato brasileiro tem divisão de barcos curtos, onde só dá Flamengo, e longos sob o domínio do Botafogo.

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  8. Não recordo da favela... Zona Sul para um habitante da Ilha do Governador, parecia ser um outro mundo.

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    1. E continua a ser, Jaime Moraes. Desde de que "Isaías Caminha" excursionava por lá acompanhando seu patrão lá pelos idos de 1890, as coisas mudaram para pior. Lugar paradisíaco, possuía apenas uma única linha de bonde que servia diversos bairros. Com apenas uma entrada, a Ilha do Governador era nos anos 60 o local mais seguro do Rio em razão da existência do aeroporto do Galeão e principalmente da base militar. Quando meu avô chefiou a fiscalização da Alfândega nos anos 60, muitas vezes nos leva a passear pela Ilha. Hoje em dia as favelas destruíram a vida civilizada no Rio e a Ilha foi engolida pela desordem urbana, pela decadência, e pela insegurança. Quanto ao comentário das 9:15 proferido por um "desconhecido neste sítio", pobreza sempre existiu no Brasil, mas nunca na quantidade industrial como a atual. No passado era possível uma família educar muitos filhos, já que a carga tributária era infinitamente menor, os empregos por mais humilde que fosse a atividade, permitiam que o trabalhador se mantivesse razoavelmente e também a sua família. As escolas públicas eram boas, a saúde pública era excelente, e a vida passava sem sobressaltos. Todavia "os tempos mudaram", o crime se instalou nos três poderes, as favelas são o resultado disso, e a Ilha do Governador vive sob o jugo da criminalidade, onde as águas límpidas descritas por Isaías Caminha são parte integrante de uma imensa cloaca. E ainda tem gente que abomina o passado onde além do já retro-descrito, pelo menos "cada um conhecia o se lugar"...

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    2. A vida era mais barata porque muito poucos tinham carro, não existia TV a cabo, comia-se arroz com feijão e uma "mistura" barata, as frutas eram pegas no pé, usava-se água do poço, a luz era mais barata pois existiam poucos eletrodomésticos, um par de sapatos era para cinco anos de uso, costurava-se e remendava-se até as meias, lavava-se com sabão português sem amaciante, o anil substituía o clarificante, xampú era um luxo, coador de pano lavável substituía os atuais filtros de papel, não existia shoppings, cursos de idiomas eram raríssimos e muito caros, muitas plantas substituíam os atuais remédios, brinquedos eram artesanais e lúdicos, muitos ainda cozinhavam com lenha, areava-se as panelas com areia mesmo e os padres substituíam os atuais psicólogos...

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    3. As coisas não eram bem assim como você descreve. Os relatos de comentaristas desse blog não mencionam tamanha frugalidade ou penúria. Eu também não convivi com tantas privações e eu estou me referindo a pessoas de uma classe média. O Gerente, por exemplo, já narrou aqui suas rotinas na infância e na juventude sem qualquer tipo de privação. Sempre existiu "algum tipo de desigualdade" na sociedade brasileira mas não "do tipo africana" como agora. Palafitas não existem mais e foram substituídas por casas de alvenaria, que rapidamente se transformam em esconderijos do tráfico, todas com "gato net", wi-fi, ar condicionado, e tudo mais que crime pode financiar. E enquanto isso a classe média paga fortunas por um plano de saúde, contas de luz exorbitantes, colégio particular de custo proibitivo, e muito mais, numa total inversão de valores e lugares. Parece um "sonho de consumo vermelho". Mas como todo sonho, um dia acaba...

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  9. Bom dia ! Muito boa a narrativa do Dr.D a respeito de sua ligação com o esporte em questão. Assim como o Belletti, também fiquei exausto só com a narrativa.
    Favela da Ilha das dragas, onde ficava ? Perto da da Praia do Pinto ?
    Só consigo imaginar o Conde de Lido, como integrante de uma equipe de remadores, no papel de patrão...

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  10. Ficava entre a Praia do Pinto e o Caiçaras.
    O Conde di Lido, antes de iniciar a conhecida vida devassa, era um atleta.

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  11. Essa do Muller em relação ao Conde é um espanto!!!.Muito bom.No papel se patrão vamos concordar...

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  12. O DI LIDO era um excelente atleta do levantamento do copo. Ao que consta nos anais dos tempos dourados o esporte preferido era andar num Belair conversível emanando vapores de um Lancaster intenso. Em tempo: A Lagoa hoje está bem melhor pois já não existem palafitas mas sim puxadinhos de abonados.

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  13. Foram incluidas outras fotos no grupo do FB pelo JBAN.

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