Nosso amigo e grande colaborador GMA me mandou um filmete da INA mostrando a chegada ao Rio, em 1954, de dois aventureiros franceses, Henri Lochon e Jacques Cornet. Alguns fotogramas reproduzo hoje.
Como qualquer imagem
enviada desperta o desejo de saber mais sobre o Rio de antigamente, fui procurar
mais detalhes sobre esta aventura e encontrei coisas interessantes, inclusive
uma reportagem na revista “Popular Mechanics”, de 1955.
Ao final desta postagem transcrevo o relato dos dois aventureiros a esta revista, no que se tornou a postagem mais extensa do "Saudades do Rio".
60 anos depois, outros
dois franceses, Pierre Pitoiset e Eric Carpentier, repetiram parte da viagem de
Henri Lochon e Jacques Cornet, por ocasião da Copa do Mundo de 2014. Cruzaram
as Américas ao longo de 25.000 km com um Citroën 2CV 6 Especial, fabricado
em 1988.
Mas vamos abordar a
viagem de 1954.
FOTO 1: Os dois jovens franceses
deixaram Paris e embarcaram para o Canadá, via Le Havre. No navio que os
conduzia para a América levavam além de seus pertences pessoais um pequeno
carro Citroën, modelo ainda não conhecido no Brasil. E de Quebec os dois
iniciaram um raid automobilístico que se estendeu por 13 países, num percurso
de quase 60 mil quilômetros.
Na Bolívia, numa estrada
primitiva dos Andes, eles bateram o recorde de altitude para automóveis,
subindo a 5420 metros.
Depois de descerem pela
costa do Pacífico, chegaram à Terra do Fogo, de onde subiram pela costa do
Atlântico, até chegar ao Rio de Janeiro.
FOTO 2: Saindo em 08/05/1953 de
Paris, Henri Lochon e Jacques Cornet percorreram 52 mil quilômetros em 367 dias
com Citroën 2 CV, com um motor de 425cc e 9 HP, na maior viagem jamais feita de
automóvel.
Segundo o blog do Bob Sharp este modelo 1954 ainda tinha o primeiro motor de produção, o bicilindro boxer de 375 cm³ e 9 cv, arrefecido a ar. É carro minimalista ao extremo. Mesmo pesando apenas 600 kg, seu desempenho é apenas suficiente para rodar, como o 0-40 km/h em 42,4 segundos e velocidade máxima de 64 km/h.
FOTO 3: O curioso é o carro estar com pneus Michelin X, radiais, com seu desenho de banda de rodagem inconfundível, o primeiro pneu radial do mundo, surgido em 1947.
A alavanca de câmbio sai
do painel e seu formato é aproximadamente o de um cabo de guarda-chuva, de
movimento para trás e para frente, e o “cabo” gira para os lados para fazer a
seleção de canais. É surpreendente como funciona bem. O diagrama das marchas é
Ré-1ª, 2ª-3ª e 4ª perna-de-cachorro para frente.
(Nossos comentaristas,
especialistas no assunto, poderão corrigir eventuais erros nas informações).
Foi numa época em que se
podia atravessar um monte de países quase que com 100% de segurança, o que
possibilitou esta fantástica aventura.
A viagem resultou de um desejo de Henri Lochon dirigir um
carro pela Rodovia Pan-Americana, do México até a Terra do Fogo, último ponto
de terra no sopé da América do Sul, enquanto Jacques Cornet, embora concordando
que a América do Sul era uma boa ideia, queria fazer uma turnê pela América do
Norte.
Resolveram juntar dinheiro e comprar um carro novo.
Planejaram, então, uma expedição de um ano por todas as Américas, fazendo um
“tour” que nenhum carro jamais havia percorrido.
Planejaram ir de navio para Quebec, descer pelo Canadá
até Nova York e Washington, seguir para o oeste através dos Estados Unidos, via
Chicago e Salt Lake City até São Francisco. A partir daí até Los Angeles,
depois para El Paso, para pegar o Pan-América e dirigir pela América Central e
do Sul até o fundo do mundo. Depois subir a costa leste até o Rio e navegar
para casa.
FOTO 4: Aqui começam os fotogramas do Citroën já no Rio. Por seu tamanho pequeno, peso leve e pelo fato de poder ser facilmente desmontado para ir a quase qualquer lugar, o Citroën parecia um bom carro para esta viagem. Ele tem um motor simples de dois cilindros refrigerado a ar e uma transmissão robusta de quatro velocidades. Comporta quatro passageiros.
Com os dois na frente, toda a retaguarda poderia ser
usada para o equipamento, comida e reserva de água e combustível. Outra
característica única é que as portas e painéis laterais desses carrinhos são
removíveis simplesmente deslizando-os para fora das ranhuras.
Na época, a representante dos "Automóveis Citroen
Ltda." ficava à Rua Bambina, número 37, no Rio de Janeiro -RJ. Lá
trabalhava Monsieur Michel Fondeville, pai do Claude, nosso prezado Rouen.
FOTO 5: As características citadas acima, para dirigir na lama ou em encostas íngremes, proporcionava uma redução de peso que significava a diferença entre ir a algum lugar ou dar meia-volta derrotado.
FOTO 6: O carro era padrão, exceto por uma modificação no sistema de suspensão. As rodas eram montadas em braços móveis, amarrados entre si por um sistema de hastes de mola semelhantes a barras de torção. Com a traseira do carro pesada, o movimento de balanço foi controlado, resultando em um passeio firme e plano e bastante espaço livre.
FOTO 7: Compraram equipamentos leves, jaquetas e calças de náilon, sapatos de lona, sacos de dormir leves de borracha e colchões de ar, uma pequena barraca de náilon, utensílios de alumínio, estojos de alumínio estanques para nossas câmeras, tanques de alumínio para armazenar combustível e água. Uma caixinha continha leite em pó, café, tabletes de trigo e chocolate, pílulas de vitaminas e alguns alimentos enlatados. Com essas poucas coisas e os dois o Citroën estava cheio.
A primeira etapa, em boas estradas do Canadá e dos
Estados Unidos, transcorreu sem contratempos. Passaram por Detroit, Chicago,
Salt Lake City, São Francisco, Los Angeles e El Paso. Ao longo do caminho
souberam que haveria complicações, pois não existia nenhuma rodovia
Pan-Americana ligando as Américas.
Passaram com dificuldade pelo México, El Salvador, Costa
Rica, Panamá. Depois Equador, Colombia, Chile, Bolívia, Argentina, Brasil.
FOTO 8: Em Copacabana atraíram a atenção dos cariocas.
FOTO 9: E chegaram de volta pela África, via Dacar, até Paris. A foto é defronte à igreja de Notre-Dame.
“Deux jeunes Lyonnais, Henri Lochon et Jacques Cornet,
après un périple de 52.000 km, fêtent leur retour dans la capitale à bord de
leur Citroën 2CV, Paris, le 10 mai 1954.”
E assim eles contam sua história:
Através de São Francisco, Los Angeles e El Paso ronronamos conforme planejado. As paisagens mentais ensolaradas do México giravam em um caleidoscópio panorâmico de imponentes montanhas e campos, cabanas e mansões. Índios coloridos e camponeses monótonos caminhavam penosamente pela beira da estrada, conduzindo pequenos burros abatidos, enterrados sob cargas prodigiosas.
Nós nos esquivamos e nos esquivamos dos
motoristas de táxi malucos da Cidade do México, cuja menor preocupação é outro
carro ou pedestre. Ainda assim, seguimos em direção ao sul com problemas...
através de Puebla, Mitla e Oaxaca, onde paramos por tempo suficiente para ver
os magníficos templos zapotecas que haviam sido destruídos pelos conquistadores
espanhóis, e para preparar nosso carro e verificar os pneus, o combustível e o
desempenho do motor para o muito à frente.
Em Tehuantepec, ficamos sem estrada de superfície dura e
nunca mais a vimos até Oran, 32.000 quilômetros depois.
Agora que a diversão começou, as montanhas fronteiriças da Guatemala se aproximavam. A estrada se estreitou para um caminho de bois rochoso e esburacado que rapidamente diminuiu para uma trilha a pé através de florestas imponentes.
Um carro normal nunca poderia ter feito o que o nosso pequeno Citroën conseguiu.
O primeiro rio foi facilmente atravessado. Então veio outro, profundo. Nós empurramos o Citroën para o outro lado. Depois outro e outro. A selva se fechou até que tivemos que alternar a caminhada na frente do Citroën com um facão para abrir caminho, sinalizando o caminho para o motorista. Avançando alguns metros de cada vez, chegamos à beira de um riacho caudaloso e entramos com confiança nele. Quase instantaneamente, o motor molhado morreu.
Quatro horas lutamos com corda, equipamento e macacos,
avançando nosso carro desmontado para a margem oposta enquanto olhos brilhantes
de feias iguanas de um metro e meio nos espiavam através da folhagem. Uma vez
do outro lado, Lianas se enroscaram em torno de nós. O carro afundou na terra
fofa. Nenhuma quantidade de corte ou transporte o libertaria. O calor fumegante
desceu como neblina e os mosquitos começaram a trabalhar em nós. Estávamos
presos, era isso. Henri ergueu as mãos. "De volta à Ferrovia Nacional
Mexicana", anunciou ele. "Não somos os primeiros."
As estradas em Columbia
eram pouco melhores do que amplos leitos de lama. Ficávamos presos várias vezes
ao dia e geralmente tínhamos que desmontar o carro antes de retirá-lo.
Aquela noite foi passada
na selva. Sem alimentos e equipamentos de emergência, poderia ter sido pior. No
dia seguinte, desmontamos o carro e o puxamos com a linha manual cerca de 10
milhas até os trilhos. Em seguida, outra viagem para embalar o resto do nosso
equipamento. Acenamos para o primeiro trem de carga e embarcamos para um
passeio de trem de meio dia pelas montanhas até a Guatemala.
Exceto pelas incríveis
inclinações de 45 graus que funcionaram com nosso pequeno motor de dois
cilindros com um calor ardente, exigindo muitas paradas para resfriamento, a
estrada montanhosa para a Cidade da Guatemala a partir da ferrovia era bastante
boa. Após a ignição e o conserto de pneus na Cidade da Guatemala, seguimos para
o sul novamente como novos. E por centenas de quilômetros através de El
Salvador e Nicarágua, tudo foi ótimo. Começamos a zombar das histórias escuras que
ouvimos.
Então vimos os picos irregulares que separam a Nicarágua da Costa Rica. Além do mais, a estação chuvosa estava em pleno andamento. À medida que avançávamos, a estrada se tornou um esgoto de lama, um metro de profundidade em alguns pontos. Atolamos uma dúzia de vezes, finalmente descarregamos.
Levantaram o Citroën e acorrentaram enquanto um grupo de índios molhados e sujos se reunia para assistir e balançar a cabeça. Nenhum homem, eles nos disseram, estava nessa estrada há quatro meses. Devemos estar loucos. Por um tempo, as correntes ajudaram. Em seguida, com a coxa cheia de lama, empurramos, puxamos e balançamos de um buraco de lama para o outro, avançando apenas alguns metros de cada vez. As rodas se agitavam contra o nada. O motor superaqueceu, o calor era nauseante.
Finalmente, o pequeno carro bateu em um enorme buraco e desistiu.
Foram necessárias seis mulas e tantos motoristas para nos tirar de lá -
decidimos ir para o mar. Batemos e aterramos até a costa, onde embarcamos em um
navio para a fronteira com o Panamá. De lá para a Cidade do Panamá, a estrada
era boa. E quando soubemos na chegada que um navio francês estava prestes a
partir para Buenaventura, Colômbia, desistimos de tentar a selva de Darien e
apenas dirigimos a bordo.
Em emergências, tínhamos
que improvisar. Quando o macaco quebrou no deserto do Atacama, nós o
substituímos por pedras.
Uma vez liberados pela alfândega, não perdemos tempo em sair de Buenaventura. Embora esburacada e lavada, a estrada era transitável. Mas as pontes de madeira podres e rangentes nos deram muitos escrúpulos. Fora de Cali, a caminho de Bogotá à noite, uma das antigas engenhocas finalmente se desfez sob nós. Com um estrondo estrondoso, o chão cedeu e caímos com o nariz na margem do rio, explodindo os dois pneus dianteiros, danificando as rodas e quebrando o eixo.
Tínhamos puxado o
carro para o lado da roda quando ouvimos tiros e cavalos galopando de uma
colina próxima. Alguém nos ouviu. Fomos avisados para não viajar à noite.
Guerrilhas à espreita
Dessas colinas atiravam em
qualquer um. Embora famosos por sua notável imprecisão com armas, os tiros
perdidos eram conhecidos por arranhar as pessoas de vez em quando. Apagamos as
luzes e esperamos. O primeiro cavaleiro passou por nós, trovejou direto pelo
buraco na ponte, bateu contra o aterro distante e ficou gemendo. Aqueles que o
seguiam refrearam bem a tempo e evitaram o mesmo destino, correram em seu
auxílio com muita tagarelice. A confusão jogou em nossas mãos, Henri ligou a
ignição, bateu no motor de arranque e o pequeno carro fiel acelerou em boa
forma. Pneus furados, rodas tortas, eixo quebrado, ela estremeceu na estrada em
um ótimo clipe. Esses cavaleiros nunca souberam o que decolou a partir daí.
Entramos mancando em
Bogotá na manhã seguinte e telegrafamos a um amigo em Paris para enviar peças
por via aérea. Eles chegaram em dois dias. Esperamos mais seis dias enquanto o
dano era reparado por um "mecânico" italiano que não conseguia nos
entender, nem nós a ele. Pode ser por isso que ele instalou o eixo de cabeça
para baixo - quem sabe? O erro veio à tona 5.000 milhas depois, quando,
passando por uma passagem nos Andes chilenos, o eixo de cabeça para baixo,
incapaz de suportar o estresse incomum imposto a ele, se partiu em dois e
deixou nossas rodas dianteiras com os joelhos.
O Citroën foi desmontado
para uma corrida em altitude. Depois de um passeio perigoso, alcançamos um
recorde de 17.000 pés (5420 metros), certificado pelo Automóvel Clube da
Bolívia.
Pois lá foi tudo ladeira abaixo, por 10 dias fizemos curvas fechadas e descemos trilhas de montanha de arrepiar os cabelos até a costa chilena. Em Iquique, estocamos suprimentos de comida e água para os 1.750 quilômetros de deserto entre nós e Santiago. Parando apenas para comer, dirigimos dia e noite pelas areias açoitadas pelo vento em uma imensidão de espaço. A essa altura, nossos pneus que eram novos na Colômbia estavam furando a uma taxa de quatro vezes por dia.
Depois de nos
recuperarmos em Santiago por duas semanas, seguimos para o sul até Puerto
Montt, onde a estrada e as praias deram lugar a encostas íngremes de montanhas
que mergulhavam verticalmente no mar.
Henri, eu e o Citroën embarcamos na pequena escuna de 100 toneladas do capitão Francisco navegando entre as ilhas. Fomos desembarcados várias centenas ao longo da costa em Puerto Aysén, uma cidade de pescadores de casas brancas, calçadas largas e marinheiros, uma reminiscência de uma centena de portos escandinavos.
A partir
daqui, a costa rochosa se ergueu até as estepes áridas da Patagônia. Ouvimos
falar dos ventos terríveis, varrendo os mares do Pólo Sul, que constantemente
atingem esta terra sem estradas de desolação rochosa. Mas não tínhamos ideia,
quando partimos em direção ao nosso objetivo da Terra do Fogo, o quanto isso
nos afetaria. Vendavais de 60 a 90 milhas por hora nos açoitaram com fúria por
toda a distância. Nossas mãos e rostos picaram de seixos até o tamanho de
bolinhas de gude - chicoteados no ar e conduzidos antes da explosão. Dirigimos
em grande parte pela bússola, já que o vento forte apagou tudo, exceto o menor
vestígio de trilhas. Exceto pelo ocasional fazendeiro refugiado, os únicos sinais
de vida eram alguns avestruzes, guanacos e coelhos fugindo. A vida era uma
sucessão de pneus furados.
No Natal, havíamos
percorrido as acidentadas 1.000 milhas até Punta Arenas, no Estreito de
Magalhães. Estávamos sujos e famintos. Aqui, onde a luz do sol durava 20 horas
por dia, usamos as escassas instalações da vila isolada para consertar nosso Citroën
e nos preparar para a corrida para a cidade mais civilizada do sul dos
continentes ocidentais: Ushuala, na costa sul da Terra do Fogo. Fomos
avisados de que nunca conseguiríamos. Não havia estrada. Penhascos rochosos
íngremes mergulharam em praias completamente inundadas na maré alta, e uma
cordilheira escureceu os últimos 10 quilômetros. Mas valeu a pena tentar.
Os fuzileiros navais chilenos concordaram em navegar pelo estreito em uma barcaça de desembarque. Então, em 03:00 horas uma manhã, para mais balançar a cabeça e previsões terríveis, navegamos para o sul. Seis horas depois, os amigos fuzileiros navais nos desejaram boa sorte e nos deixaram na praia de Marantiales.
Seguindo o conselho, batemos e esbarramos ao longo da margem de um
pequeno rio chamado Rio Grande e encontramos abrigo naquela noite em um rancho
isolado de propriedade de um belga refugiado que nos informou que não havia
nenhuma estrada a partir daqui. Teríamos que pegar a praia na maré baixa. Sair
às 08:00 nos daria quatro horas para percorrer 30 milhas - tempo suficiente se
os pneus aguentassem. Senão? Talvez tenhamos que escalar os penhascos e voltar
para casa.
A paisagem do deserto do Atacama, no Chile, faz pensar que se está dirigindo na lua.
A sorte estava conosco, os pneus retidos e ao meio-dia estávamos de volta à chamada estrada, fora da praia. Mas depois de 50 milhas, a estrada diminuiu para nada além de desperdício ilimitado: uma terra de pássaros, milhões deles, tão destemidos que tiveram que ser enxotados do caminho com paus. Então um rio caudaloso bloqueou o caminho e no meio do caminho o carro ficou preso. A bagagem flutuou pela corrente enquanto lutávamos por quatro horas, desmontando os painéis e portas dos carros para que pudéssemos retirá-la.
Mais horas foram perdidas para começar de novo. A chuva e a neve começaram a nos atingir, e a trilha se tornou um lamaçal que havia congelado. Uma dúzia de vezes arrancamos o carro dos buracos e valas em que ele derrapou. As correntes eram de pouca ajuda, nossos pés e mãos estavam azuis de frio, mas ainda assim avançamos lentamente por um país que nenhum carro jamais havia viajado.
Em três horas, havíamos percorrido três quilômetros em uma trilha de burros que levava até a última cordilheira. De repente, nos encontramos presos entre a parede do penhasco e um precipício de 500 pés. Não podíamos ir mais longe. A saliência à frente era mais estreita que o carro. No local precário, tivemos que virar o carro e encontrar refúgio antes do anoitecer às 22:00 horas. Três horas de folga. Era muito perigoso recuar.
Levantando, levantando e persuadindo, quase
conseguimos - então a roda traseira escorregou sobre a borda e ficou pendurada,
girando no espaço. Cavando a pé na fenda da parede do penhasco e usando uma
muda robusta como alavanca, Henri empurrou com força contra a roda pendurada
enquanto eu levantava e puxava o carro. Uma leve rajada agora teria feito o
veículo oscilante mergulhar na borda. Centímetro por centímetro ele apareceu.
Por fim, entorpecidos e cansados, subimos a bordo e descemos a trilha até a
cabana de um colono que havíamos passado no caminho.
O lento retorno de volta
através do Estreito em uma barcaça de desembarque, atravessando a Patagônia
varrida pelo vento e depois para a costa leste para Buenos Aires, São Paulo e
Rio, foi anticlimático. Nosso segundo conjunto de pneus se soltou em tiras nas
estepes desoladas, e dirigimos 2.000 milhas até Buenos Aires nas bordas,
batendo sobre as rochas como uma lata de lixo cheia de rebites.
Os banquetes, festas e hospitalidade das pessoas que nos receberam nas cidades glamourosas da Argentina e do Brasil rapidamente apagaram as memórias sombrias de nossa provação.
E com o Citroën mais uma vez soldado em uma única peça, equipado com
um novo conjunto de rodas e lavado, as coisas pareciam mais brilhantes. Tão
brilhante que é o Rio, tomamos a decisão imprudente de navegar para Dakar, em
vez da França, como planejado originalmente, e viajar de volta pelo deserto do
Saara para estabelecer outro recorde. Voltaríamos para casa pelo Senegal,
Sudão, Bamako no rio Níger, contornando a montanha até Oran, descendo até
Casablanca até Rabat e Tânger. Do outro lado de Gibraltar, passando pela
Espanha e Paris!
A maravilha é que já
conseguimos. Havíamos superestimado a capacidade de nosso pequeno veículo
robusto e de nós mesmos. Se o carro fosse novo, talvez não tivéssemos
problemas, mas com 25.000 milhas de punição horrível sob o capô, estávamos
pedindo demais. O Saara é um deserto cruel.
Nada parecia tão bom
quanto Paris, a Champs Elysées e o Arco do Triunfo.
A algumas centenas de
quilômetros de Dakar, nas areias escaldantes, nossos problemas começaram. Os
pneus novos superaqueceram e explodiram continuamente. A bateria acabou e
ficamos presos lamentavelmente uma e outra vez nos horizontes intermináveis de
areia solta e à deriva. Nosso escasso estoque de água potável foi rapidamente
consumido, enquanto trabalhávamos transpirando em um calor de 120 graus F para
empurrar o carro para fora das armadilhas de areia. Duzentos quilômetros de
qualquer lugar, a água havia sumido. Por dois dias, ficamos sem nenhuma enquanto
lutávamos para mover o carro alguns quilômetros miseráveis sobre os resíduos.
Nenhuma alma viva passou. Nossos lábios formaram bolhas e as línguas começaram
a inchar. Naquela noite, quando nos deitamos para dormir no lado fresco de uma
duna, nenhum de nós falou. Sabemos que outro dia significaria o fim.
A manhã não trouxe alegria até que, de repente, Henri deu um coaxar rouco e apontou para o horizonte. Lá, rastejando pelas dunas contra o céu, havia uma caravana de camelos vindo em nossa direção! Eles eram comerciantes Tuareg. Nenhuma visão no mundo poderia ter sido mais bonita. A água salobra de seus sacos azedos de pele de cabra tinha gosto de primavera fresca e cristalina da montanha para o nosso bocas ressecadas. Esses samaritanos do deserto nos alimentaram, nos descansaram, então com um jovem camelo atrelado à frente do Citroën fomos rebocados ingloriamente por 20 milhas até um oásis.
Fazendo reparos de emergência,
conseguimos entrar mancando em Bamako, onde o carro foi reparado e reequipado
com pneus novos. O restante da jornada para Oran foi um pesadelo cavando para
fora de poços de areia, pequenas avarias e esperando sob o sol escaldante que
os caminhões viessem e nos rebocassem para fora dos problemas. Então veio Oran
e os pesadelos se foram. Mais uma vez, dirigimos em estradas planas e com
capota rígida, ronronando como se nada no mundo tivesse nos impedido.
E assim voltamos para Paris em um passeio turístico, para a praça em frente à Notre Dame. Sob nossos cintos havia uma grande aventura e uma variedade de registros de compreensão. Faríamos isso de novo? Não posso falar por Henri, mas sei disso, por mim mesmo. Vou me contentar em me estabelecer na busca de minha nova profissão, a fotografia. Se isso me levaria ou não aos cantos do mundo novamente, quem sabe?
E o "link" para o filmete enviado pelo GMA é este:
https://www.ina.fr/ina-eclaire-actu/video/afe85005536/arrivee-a-rio-de-la-2-cv-qui-a-relie-les-trois-ameriques
Que odisseia
ResponderExcluirRealizar esta viagem nos anos 50 foi uma aventura que eu diria ser impossível. Estradas péssimas, lugares desconhecidos, sem estrutura de suporte, tudo contra e ainda assim foi realizada.
É uma história sensacional.
Como conseguiam combustível e peças de substituição?
Como não foram roubados ou não se perderam?
Tudo impressionante.
Assim é um historiador ! A gente puxa um fio e sai uma bobina ! Muito feliz em colaborar com o SdR, e mais ainda presenciar a construção de memória variada do país. O máximo que fiz foi viajar de carro até Recife.Os caras não tinha GPS, celular, patrocínio, blog, nada. Milagre. E ponto para a Citroen! Parabéns Luiz. Manda pro Consulado da França e para a Citroen !!
ResponderExcluir*tinham
ExcluirBom dia.
ResponderExcluirUm ano de viagem (08/05/1953 a 10/05/1954) e dezenas de milhares de quilômetros.
Que ano e que viagem!
Merecia um livro ao estilo Julio Verne.
Sensacional.
Matéria espetacular. Meu segundo carro foi uma furgoneta Citroën 2CV, exatamente de 1954, com os mesmos 9 HP de emoção mínima. Estes carros tinham a mesma concepção mecânica do carro da expedição e, embora raros no Brasil, não eram desconhecidos por aqui.
ResponderExcluirUsei durante o período do Fundão, entre 1970 e 72, quando a vendi para comprar outro 2CV, este de 1967, com 18 HP e uma sensacional embreagem centrífuga, que fazia o papel da embreagem no trânsito (em compensação, se precisasse pegar no tranco, bau-bau).
Não entendi a descrição da foto 6, pois a suspensão dos 2CV é exatamente assim. Acredito que o reforço tenha sido aplicado nos braços da suspensão, estes sim, um pouco frágeis. Não quebram, mas empenam com facilidade.
Sempre gostei de 2CV e ainda tive um em Manaus. Acho muito confortável, é econômico e ainda é conversível. Hoje é um cult-car e há muitos carros feitos na Argentina por aqui.
Como complementação:
ExcluirO motor 12B do 2CV entregava 9 cavalos de potência @ 3.500 rotações por minuto; o torque era de 20 NM.
Com 375 cm³, o motor de dois cilindros boxer era construído em liga de alumínio. os cilindros tinham aletas e contava com um ventilador axial acoplado diretamente ao virabrequim.
(O Fusca na época tinha 25 CV @ 3300 rotações por minuto.)
Mais uma coisinha: encontrar pneus 125x400, uma medida quase exclusiva do 2CV. Os aros 400 ficam entre 15 e 16 polegadas e é uma complicação a mais.
ResponderExcluirOUTRA COISINHA: a mala do 2CV de então era coberta com a continuidade da lona da capota. Você podia enrolar tanto uma, quanto a outra. Obviamente uma viagem desse porte exigiria um fechamento mais resistente e no mercado de peças de então podia-se comprar a tampa corcunda que aparece nas fotos.
ExcluirIncrível. Vou assistir ao filme. Quanto à travessia do Tampão de Darién, até hoje é impossível.
ResponderExcluirEsse carrinho é horrível mas eu não sabia de suas características incomuns. Ainda o considero um monstrengo em estética.
ResponderExcluirBom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirVou ficar recolhido à minha ignorância em relação ao tema e acompanhar os comentários. Uma viagem dessas é complicada nós dias atuais. Imagina há 70 anos.
Facada ou homenagem ao francês?
"Nos dias atuais"...
ExcluirUma aventura que eu não teria coragem de participar. É bom ressaltar que os tempos eram outros e o mundo ainda era regulado por conceitos normais. Quanto ao veículo, eu não gosto de carros franceses, principalmente os de marca Peaugeot e Citroen. Essa viagem, caso fosse realizada atualmente, poderia ter um final trágico, principalmente em terras brasileiras.
ResponderExcluirMenos, Joel. Eles não conseguiriam sequer atravessar o México.
ExcluirPura verdade ...
ExcluirÉ verdade, me esqueci do México. Lá os cartéis de drogas são mais poderosos, estão em todos os setores da economia, e seus representantes no parlamento e em demais setores do poder público atuam abertamente para proteger os interesses de seus "parceiros", uma situação bem diferente do que ocorre no Brasil, onde essa "associação entre integrantes dos Poderes da República e o crime "ainda é discreta e não ostensiva". Mas logo perderão o pudor e as "máscaras de papelão" de multas figurinhas carimbadas cairão como folhas secas...
ExcluirCalma, Joel. Ainda chegaremos lá.
ExcluirUma epopeia que deveria ser narrada em livro.
ResponderExcluirPor falar em viagem fantástica, uma do final dos anos 40 do século passado absolutamente memorável foi a do grupo de noruegueses liderados por Thor Heyerdahl, que a bordo de uma jangada construída com os mesmos materiais e métodos construtivos daqueles usados no Império Inca, alheios a qualquer avanço tecnológico, saiu do porto de Callao no Peru, navegou por cento e um dias percorrendo cerca de oito mil quilômetros no Pacífico Sul, até chegar ao atol de Raroia, na Polinésia.
ResponderExcluirO objetivo era demonstrar a viabilidade da tese do povoamento dos mares do Sul a partir de navegações empreendidas pelos povos da América pré-colombiana.
A Expedição Kon-Tiki (nome dado à jangada, do Deus Sol dos incas) foi um livro que "devorei" quando criança e é fascinante.
Em 2019 tive a oportunidade de visitar o Museu Kon-Tiki em Oslo, ver e entrar na jangada (original, perfeitamente preservada) toda construída em trocos de "pau de balsa" unidos por cordas de cânhamo e superfície coberta por esteiras de palha, com uma "cabine" de bambu e teto de folhas de bananeiras, um mastro maciço e uma enorme vela quadrada.
Foi fantástico, mais de 50 anos depois de ler o livro, estar ali com a Kon-Tiki "ao vivo e a cores"; minha mulher teve que me arrastar para fora do museu.
O site a seguir traz um interessante e bem feito resumo da aventura:
https://museudomar.com.br/2017/08/29/a-expedicao-kon-tiki/
O livro está disponível na Amazon.
site do museu: https://www.kon-tiki.no/
ExcluirSensacional . Viagem épica que merecia maior divulgação
ResponderExcluirTenho uma extraordinária admiração por esses aventureiros/exploradores.
ResponderExcluirJá li dezenas de livros e compro todos os novos que saem.
A viagem do Kon-Tiki foi extraordinária (o início foi devido a uma questão linguística, pois um estudioso encontrou semelhanças nas linguagens da Polinésia e da América do Sul e precisava provar que a viagem era possível).
A saga do Endurance de Shackelton foi outro milagre por ter acabado bem.
As conquistas do Polo Norte e do Polo Sul também são fantásticas. A descrição das viagens de Amundsen e Scott, uma exitosa e a outra um fracasso, é impressionante.
Todos os grandes navegadores também têm relatos incríveis. A expedição de Magalhães é empolgante.
Todos os que exploraram a África, como Livingstone, têm a minha admiração. E os navegadores que rumavam para destinos desconhecidos?
Algumas dessas histórias, como a do Kon-Tiki, viraram filmes. Mas os livros, como quase sempre, são melhores.
E o que dizer das expedições ao Everest ou dos navios de Nantucket na caça às baleias? Recentemente li o livro sobre o baleeiro "Essex", que inspirou Melville a escrever "Moby Dick", pois o navio afundou após ser atacado por um cachalote gigante.
A sobrevivência dos marinheiros do "Essex" que se dividiram em dois botes, cada um tomando um rumo, é impressionante também.
A saga do Endurance nem o mais ousado roteirista de Hollywood escreveria como ficção.
ExcluirA do Essex não conheço, vou procurar e ler,
E falando em filmes versos livros que lhes deram origem, cito duas exceções que confirmam a regra:
ExcluirO Poderoso Chefão, triologia de filmes soberbos a partir de um livro apenas "ok".
O Dia do Chacal, filme (o primeiro, de 1973, dirigido por Fred Zinnemann, com Edward Fox) e livro excelentes.
Fora de foco:
ResponderExcluirPara que gosta, serviço de "utilidade pública", Champions League:
• 01/10
13h45 - Red Bull Salzburg x Brest, em Salzburg (AUT)
13h45 - Stuttgart x Sparta Praga, em Stuttgart (ALE)
16h00 - Borussia Dortmund x Celtic, em Dortmund (ALE)
16h00 - PSV Eindhoven x Sporting, em Eindhoven (HOL)
16h00 - Slovan Bratislava x Manchester City, em Bratislava (EVQ)
16h00 - Barcelona x Young Boys, em Barcelona (ESP)
16h00 - Bayer Leverkusen x Milan, em Leverkusen (ALE)
16h00 - Inter de Milão x Estrela Vermelha, em Milão (ITA)
16h00 - Arsenal x Paris Saint-Germain, em Londres (ING)
• 02/10
13h45 - Shakhtar Donetsk x Atalanta, em Gelsenkirchen (ALE)
13h45 - Girona x Feyenoord, em Girona (ESP)
16h00 - Benfica x Atlético de Madri, em Lisboa (POR)
16h00 - Liverpool x Bologna, em Liverpool (ING)
16h00 - RB Leipzig x Juventus, em Leipzig (ALE)
16h00 - Lille x Real Madrid, em Lille (FRA)
16h00 - Sturm Graz x Brugge, em Graz (AUT)
16h00 - Aston Villa x Bayern de Munique, em Birmingham (ING)
16h00 - Dínamo Zagreb x Monaco, em Zagreb (CRO)
Acabei de ver o passeio do Arsenal sobre o PSG (que pode muito bem dançar logo na fase de liga, com sorte indo para o playoff). Teve 7X1 de alemão (Borussia) e goleadas de City, Barcelona e Inter de Milão, entre outros resultados.
ExcluirEsta semana não terá jogos na quinta-feira, provavelmente por causa da data Fifa depois do final de semana.
ExcluirO time do PSG é bem fraquinho.
ExcluirCom o dinheiro que tem, só várias gestões horrorosas e sucessivas podem explicar a situação atual.
E já que o tema se refere a uma velha aventura, além de várias outras citadas, não custa lembrar o "safari carioca" que acontece atualmente na favela da Rocinha e que é bastante concorrido. Apesar das circunstâncias, o tráfico de drogas "garante a segurança do empreendimento", pois afinal "negócio é negócio". Resta saber se o Estado leva "algum pichulé" na empreitada, mas tudo é possível....
ResponderExcluirO Tino pediu e o Lacoste, chefão do TCP no Juramento, devolveu um carro elétrico roubado de um motorista de aplicativo.
ResponderExcluirO carro foi roubado no Campinho, estava na Serrinha e o mosquito hoje parecia bêbado, não acertava as indicações do apresentador. Só quando já estava "escoltado" pela PMERJ que conseguiu acompanhar o trajeto até a 29DP.
ExcluirMário, 13:57 e 14:16 h ==> a história do Essex está narrada no livro "No Coração do Mar", de Nathaniel Philbrick.
ResponderExcluirQuanto ao filme "O Dia do Chacal", é um dos mais eletrizantes que já vi. Não confundir com o filme "O Chacal".
Obrigado, Helio.
ExcluirQuanto ao filme, revi há algum tempo e, acredite, não perdeu nada nesses quase 50 anos, continua ótimo.
"Os náufragos do Wager" é outro que fala de sobrevivência após naufrágio.
ResponderExcluirEstas histórias são extraordinárias.
ResponderExcluirA capacidade de sobrevivência e adaptação a condições extremas é característica da raça humana, caso contrário não estaríamos aqui hoje.
Boa noite Saudosistas. Só de ler o texto da aventura + os comentários já fiquei muito cansado. Não tenho essa índole aventureira, prefiro uma viagem de avião, um bom hotel , comer em um bom restaurante e passear a pé é a mina maior aventura em uma viagem.
ResponderExcluirTambém não tenho essa índole, porém não faço questão de tudo certinho. Já me meti em situações perigosas percorrendo estradas em construção ou vicinais, aqui e no exterior. Uma vez entrei numa estradinha alpina, estreitinha, e o carro começou a dar umas rateadas. Só tinha eu na estrada. O tempo estava chuvoso e com neblina baixa. Uma hora parei para fazer xixi, com um abismo de um lado e uma encosta de outro. Aí vi um movimento na vegetação da encosta. Era um veadinho, que saiu correndo.
ExcluirComeçou a escurecer e eu torcendo para chegar a uma autoestrada antes que o carro resolvesse parar de vez. Felizmente consegui isso.
Boa noite a todos!
ResponderExcluirHistória incrível e fantástica dos 2 franceses. Pena o vídeo ser tão curto.
Outra história do tipo retratada em filme é “Diários de Motocicleta” que conta a história de “Che” Guevara e Alberto Granado, que partem em uma viagem na América do Sul para conhecer a diversidade dos povos, saindo de Buenos Aires até a Amazônia peruana, pilotando a motocicleta La Poderosa.
Essa aventura em duas rodas foi em 1952, dois anos antes dos franceses.
ExcluirDe outra feita parei numa lanchonete de beira de estrada e dois rapazes mochileiros me pediram carona. Consenti. Lá fomos nós quatro: eu e minha ex no banco da frente, eles no de trás. Hoje eu não faria isso.
ResponderExcluirMesmo sabendo do final da história e mesmo sendo em 1954 acho inacreditável que os dois franceses tenham saído ilesos neste mais de um ano viajando. Passaram por tantos lugares desertos e perigosos que é difícil de acreditar que não tenham sido assaltados, roubados e até mortos.
ResponderExcluirEm outra ocasião eu estava indo no meu possante Chevette para visitar uma gruta com inscrições rupestres. A estrada de acesso era de terra. Num determinado ponto havia um trecho grande de areia branquinha. Uma Rural Willys estava parada no meio, atolada, com uns caras tentando tirá-la dali. Olhei aquilo e meio irresponsavelmente meti as caras. O Chevette atravessou o areal.
ResponderExcluirLá na frente havia uma curva em forte aclive à esquerda. Acelerei o carro e quando cheguei quase ao topo dei de cara com um grupo de bois fechando a estrada, numa curva à direita. Não os vi antes. Parei arrastando os pneus. Os bois passaram. Quando tentei sair de novo, os pneus rodaram no piso de cascalho e o carro não saía do lugar. Tive de descer de marcha-a-ré, pegar velocidade e subir a rampa.
Logo adiante havia uma pequena ponte de madeira podre sobre um riacho. A gruta estava logo adiante. Passei com o carro sobre a ponte rangente e paramos diante da gruta.
Na volta temi pelo trecho em areia. Já estava quase escuro. Mas consegui passar sem problema.
Helio "Indiana Jones" Ribeiro em estado puro.
ExcluirHelio, se eu visse um carro, qualquer carro, atolado na minha frente, sabe quando eu iria tentar passar ?
Nunca, unca.
Fui dar uma procurada na internet e parece que foi escrito um livro sobre esta viagem. Deve ter mais detalhes sobre o dia a dia da viagem como acidentes, doenças, ameaças. Afinal um ano viajando por lugares inóspitos é muito tempo.
ResponderExcluirPara registro:
ResponderExcluirOs grandes compositores para o cinema já foram objeto de comentários aqui.
Um deles, citado pelo gerente, é o assunto do documentário Music By John Williams que estreia em 1º de novembro no Disney+.
A Disney descreve o documentário como " a oportunidade de conhecer o homem por trás da música que mudou nossas vidas".
O projeto trará diversas imagens inéditas de bastidores de Williams em atuação, além de depoimento de colaboradores históricos da carreira de Williams, como George Lucas e Steven Spielberg.
Deve ser muito interessante. John Williams está entre os tops.
ResponderExcluirBom dia.
ResponderExcluirBom dia.
ResponderExcluirSe esses dias de primavera são um prenúncio do verão, alguém vai ter que fazer o filme "Rio, 50 Graus".
ResponderExcluirO filme do Nelson Pereira dos Santos é de 1955, então10 graus em 70 anos ..... é o aquecimento municipal....
De qualquer modo, a chapa já está quente no Rio há muito tempo.
ExcluirFui falar no filme, lembrei da música da trilha sonora, a clássica canção "A voz do morro" do Zé Keti.
ResponderExcluirEu sou o samba
A voz do morro, sou eu mesmo sim Senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei dos terreiros
Eu sou o Samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria
Para milhões de corações brasileiros.
O filme de Nelson Pereira dos Santos é "a cara do que o Rio de Janeiro foi um dia", e mostra situações típicas do passado carioca. A briga de rua entre o malandro Jesse Valadão e o feirante português, o romance entre o fuzileiro naval e a empregadinha doméstica, e o "coronel deputado" e sua amante, eram situações corriqueiras do cotidiano carioca. A cena mais insólita e "inacreditável", caso ocorresse nos dias atuais, mostra quando um Guarda Civil da Prefeitura do DF captura um dos pivetes que furtava em Copacabana e leva-o à presença de sua mãe, que morava no Morro da Cachoeirinha no Lins. O pivete não tomou jeito e acabou morrendo sob as rodas de um bonde em Copacabana. O excelente samba "A voz do morro" retrata a verdadeira imagem das favelas do Rio sem qualquer maquiagem. Um povo sofrido, pobre, trabalhador, e principalmente, honesto, uma realidade em que o samba tinha um lugar de destaque em suas vidas sofridas.
ResponderExcluirJece Valadão
ExcluirBoa e acurada sinopse do filme, Joel.
ExcluirObiscoitomolhado me mandou mais informações sobre aventuras de Citroën em viagens para o Rio citadas pelo Jason:
ResponderExcluir"Aventureiros franceses e seus 2CV no Rio
Jason Vogel
Em meados dos anos 30, Pierre Boulanger, vice-presidente da Citroën e chefe dos departamentos de estilo e engenharia da marca, concebeu um carro popular. Deveria ser capaz de levar dois camponeses “usando tamancos”, carregar 50 quilos de batatas e, além disso, ter suspensão tão confortável que permitisse superar vias esburacadas “mantendo intacta uma caixa de ovos levada no banco de trás”. O resultado foi o Citroën 2CV, lançado no Salão de Paris de 1948.
Não demorou para que jovens intimoratos descobrissem naquele carrinho extremamente simples e econômico o meio de transporte ideal ganhar o mundo.
Em fevereiro de 1954, Jacques Cornet e Henri Lochon passaram pelo Rio. Mal saídos da adolescência, eles haviam partido de Lyon, na França, embarcado seu 2CV para Québec, no Canadá, e feito a ligação por terra entre as três Américas. Na Bolívia, subiram a 5.420m em uma estrada primitiva dos Andes, batendo o recorde de altitude para automóveis. Daí, dirigiram até a Terra do Fogo, antes de apontar a proa para o Brasil.
Última cidade da aventura pelas Américas, o Rio recebeu os viajantes com festa (era carnaval, “un mois d’hystérie collective”) e, também, curiosidade: era a primeira vez que um 2CV passava por aqui. Da então Capital Federal, os jovens embarcaram o Citroën para Dacar, no Senegal, e cruzaram o Saara rodando para chegar à Europa. Cornet tomou tanto gosto pela coisa que acabou esticando até Tóquio com o carro.
OUTRO 2CV NO RIO...
Em 1959, outros jovens franceses vieram ao Rio em um 2CV. Jacques Séguéla e Jean-Claude Baudot já haviam atravessado a Europa e parte da África quando chegaram aqui, trazidos pelo navio holandês Ruys. Em 9 de janeiro de 1959, O GLOBO listava os percalços dos viajantes: “(...) no Congo Belga, um elefante correu no seu encalço (...). No Saara, o automóvel enguiçou a 500km da cidade mais próxima (...). Também foram atacados, dentro do carro, por um rinoceronte (...).”
Mas havia o desafio maior: superar a burocracia brasileira.
— O maior problema até agora foi a Alfândega do Rio. Tivemos que depositar £ 2 mil para desembarcar o veículo — lamentou Séguéla, que era recém-formado em Farmácia e queria conhecer as propriedades medicinais do nosso chá de quebra-pedra."
Algumas coisas não mudaram nada em quase 70 anos ...
ExcluirFalou em 2CV, está lá o Jason Vogel.
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