GALÃS, ESTRELAS E PALHAÇOS, por Helio Ribeiro
Esta postagem remete
aos tempos do cinema nacional das décadas de 1950 e 1960, com seus atores e
atrizes mais famosos. Tempos das saudosas produtoras cinematográficas Vera Cruz
e Atlântida.
OSCARITO (16/08/1906 – 04/08/1970)
Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Tereza Diaz nasceu em Málaga, na Espanha, numa família circense. Com um ano de idade sua família emigrou para o Brasil. Em 1949 ele se naturalizou brasileiro.
Estreou no circo aos
cinco anos de idade, fazendo o papel de índio numa adaptação de O Guarani, de Carlos Gomes. Ali aprendeu
violino e foi trapezista, palhaço e acrobata.
Em 1932 estreou no
teatro de revista, na peça Calma, Gegê, que
satirizava o presidente Getúlio Vargas, de quem se tornou amigo.
No cinema estreou em
1935, no filme Noites Cariocas. Foi
nessa arte que ganhou popularidade e fama, trabalhando em dupla com Grande
Otelo em numerosos filmes estilo chanchada.
No Brasil, era
comparado a Chaplin e Cantinflas.
Na manhã de 15 de julho de 1970 machucou-se
ao realizar um salto durante uma apresentação. Foi internado, porém sofreu um AVC.
Ficou em coma até 04 de agosto, quando faleceu.
Trabalhou em 47 filmes,
entre os quais podemos citar Carnaval
Atlântida, Matar ou Correr, Vamos Com Calma, Colégio de Brotos, De Vento em
Popa, O Homem do Sputnik, Crônica da Cidade Amada, A Espiã que Entrou em Fria.
Sebastião Bernardes de Souza Prata era filho de um boiadeiro, do qual ficou órfão aos dois anos de idade. Sua vida artística começou em 1923 ou 1924, num picadeiro de circo na cidade de Uberlândia, onde nascera. Disse ele que já era conhecido como um palhacinho na cidade, com apelido Bastiãozinho.
Aos oito anos foi
levado para São Paulo pela dona de uma companhia de teatro. Lá fugiu várias
vezes, acabando sempre no Juizado de Menores.
Em 1927 participou da Companhia Negra de Revistas, fundada por
Jayme Silva e pelo artista negro De Chocolat e de onde Pixinguinha era o
maestro. Suas apresentações chamaram atenção e um comentarista do Jornal do
Commercio chamou-o de “grande Othelo”. O apelido pegou.
Ao longo das décadas de
1930 a 1950 participou de várias peças do teatro de revista. Em 1942, fazendo
um papel no filme inacabado “It’s All True”, de Orson Welles, este o considerou
o maior ator brasileiro. Em 1950 estava no auge da carreira.
No cinema, fez várias
parcerias famosas, entre as quais com Oscarito e depois com Ankito. Também
formou dupla em muitos espetáculos musicais e no cinema com Vera Regina, uma
negra alta que lembrava Josephine Baker. O fim dessa parceria com Vera Regina
gerou uma crise em Grande Otelo, da qual só se recuperou em 1969, na filmagem
de Macunaíma.
Participou de várias
novelas da TV Globo e do humorístico Escolinha
do Professor Raimundo. Seu último trabalho foi na novela Renascer¸ pouco antes de sua morte.
Tragicamente, essa
morte ocorreu devido a um infarto fulminante logo depois de desembarcar em
Paris no aeroporto Charles de Gaulle, quando seguia para o Festival dos Três Continentes, em Nantes, onde seria homenageado
num painel sobre negritude no cinema.
Sua vida teve várias
tragédias: seu pai morreu esfaqueado e sua mãe era alcoólatra. Em 1948 casou-se
com Lucia Maria Pinheiro, tendo o filho Elmar. No ano seguinte Lucia matou a
tiros a criança, então com seis anos de idade, e depois suicidou-se.
ANKITO
(26/02 ou 26/11/1924 – 30/03/2009)
Anchizes Pinto é considerado um dos cinco maiores nomes das chanchadas brasileiras. Nasceu no Brás, em família circense. Seu pai era o palhaço Faísca, sua mãe era atriz circense e seu tio era o famoso palhaço Piolim.
Passou a atuar no circo
aos quatro anos de idade como acrobata, e posteriormente no Globo da Morte. Onze anos depois atuou
em shows no Cassino da Urca como acrobata, na época considerado um esporte, o
que lhe valeu cinco vezes o título de Campeão Sul-Americano da especialidade.
Em 1952 estreia no
cinema com o filme É Fogo na Roupa, onde
faz um tipo ingênuo e divertido com o qual atuaria em mais de 30 filmes
posteriores. O sucesso foi enorme.
Entre esse ano e 1961 protagonizou dezenas de filmes, entre os quais Marujo por Acaso, Pé na Tábua, Um Candango
na Belacap, Pistoleiro Bossa Nova, Vai que é Mole e Metido a Bacana, onde pela primeira vez fez dupla com Grande Otelo,
no ano de 1957. Sua carreira estava no apogeu.
Em 1960 caiu de um
prédio durante a filmagem de Um Candango
na Belacap, sofrendo lesões que o impediram de continuar fazendo acrobacias
e abreviaram sua carreira cinematográfica.
Dali em diante
participou de poucos filmes, porém na TV fez presença em vários programas
humorísticos na Tupi, Record e Bandeirantes. Já na TV Globo participou de
várias telenovelas, como Gina, Marina,
Alma Gêmea, A Sucessora. Também participou de várias minisséries e fez
parte do elenco da primeira versão de O
Sítio do Pica-pau Amarelo, fazendo o papel do Curupira e do Soldadinho de
Chumbo.
Morreu em 30 de março
de 2009 em decorrência de câncer de pulmão.
MAZZAROPI
(09/04/1912
– 13/06/1981)
Amácio Mazzaropi foi nome marcante no cinema brasileiro, fazendo sempre o papel de jeca ou de matuto, tendo produzido, escrito, dirigido ou estrelado trinta e dois filmes entre 1952 e 1980.
Mazzaropi nasceu no
bairro de Santa Cecília, em São Paulo, mas aos dois anos sua família se mudou
para Taubaté. Seu conhecimento do modo de vida caipira se deveu ao avô materno,
que o levava a festas no bairro onde moravam.
Depois de algumas
atuações em circo, no início da década de 1930 ele estreou em sua primeira peça
teatral, A Herança do Padre João. Ao
longo do final dessa década e da seguinte formou uma trupe e percorreu o
interior do Estado de São Paulo.
Sua estreia no cinema
ocorreu em 1952, no filme Sai da Frente, a
cargo da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, com a qual fez mais dois filmes.
Com o fim da Vera Cruz, fez cinco filmes com outras produtoras.
Em 1958 fundou em sua
fazenda de Taubaté a PAM Filmes (Produções
Amâncio Mazzaropi), responsável pela maioria dos seus filmes. Após sua morte o
local virou o Museu Mazzaropi, contendo
todo o acervo de sua vida e carreira.
A primeira obra da sua
produtora foi Chofer de Praça. Em
1962 lançou seu filme mais famoso, o Jeca
Tatu. Seu primeiro filme a cores foi Tristeza
do Jeca, também o primeiro a ser exibido pela televisão, na TV Excelsior.
Seu próximo sucesso foi
O Corintiano, recorde nacional de
bilheteria.
Em 1974 construiu um
grande estúdio de gravação, com oficina de cenografia e hotel para atores e
técnicos. Ali produziu mais cinco filmes, até 1979.
Em três décadas ele produziu ou participou de 32 filmes. Seu 33º filme, Maria Tomba Homem, ficou incompleto.
Mazzaropi morreu de
câncer na medula óssea, após 26 dias internado.
CYLL
FARNEY (14/09/1925 – 14/03/2003)
Cilênio Dutra e Silva era irmão do cantor Dick Farney e foi o maior galã da companhia cinematográfica Atlântida.
Seu primeiro filme foi A Escrava Isaura, em 1949, e daí em diante destacou-se nas chanchadas da Atlântida ao longo da década de 1950. Sua presença atraía multidões de fãs femininas aos cinemas. Foram 41 filmes, entre 1949 e 1976. Entre eles encontram-se Carnaval Atlântida, Colégio de Brotos, De Vento em Popa, O Homem do Sputnik, As Sete Evas, A Infidelidade ao Alcance de Todos.
Na TV trabalhou durante
pouco tempo. Entre 1956 e 1958 era o ator principal na série O Jovem Dr. Ricardo, a primeira com
temática médica na TV. Contracenava com Tereza Rachel, no papel da enfermeira
Patrícia, e com Ribeiro Fortes, no papel do experiente Dr. Martim.
Em 1978 deixou a
carreira de ator e fundou a produtora Tycoon, pela qual lançou 14 filmes. A TV
Globo, antes de inaugurar seus próprios estudos de gravação, em 1995, muitas vezes alugava
as instalações da Tycoon.
Também produziu muitos
documentários sobre grandes nomes da música brasileira, como Francisco Alves,
Orlando Silva e outros, resgatando a memória de artistas de sua geração.
Morreu aos 77 anos, no
Rio de Janeiro, de causa não divulgada a pedido da família.
ELIANA
MACEDO (21/09/1926 – 18/07/1990)
Ely Macedo de Azevedo
foi uma das grandes estrelas do cinema nacional, no qual estreou em 1948, com o
filme E o Mundo se Diverte, dirigido
por seu tio Watson Macedo, ao lado de Carlos Manga, responsável pela época de
ouro da Atlântida. Watson Macedo dirigiu Eliana durante quase toda a sua vida
artística.
Seu grande momento foi
no filme Carnaval no Fogo, de 1949,
quando interpretou dois papéis. Watson Macedo preferia Maria Della Costa e
Cacilda Becker, mas os diretores da Atlântida impuseram Eliana. E foi um
sucesso.
Em 1954, por sua
participação no filme A Outra Face do
Homem, foi vencedora do Prêmio Saci, a
maior premiação cinematográfica da época.
Era a principal atriz
da Atlântida Cinematográfica, maior produtora de filmes naqueles tempos.
Estrela das chanchadas lançadas
no período, trabalhou em 26 filmes e atuou ao lado de artistas como Oscarito,
Anselmo Duarte, Grande Otelo, José Lewgoy e Cyll Farney.
Em 1950 casou-se com
Renato Murce, muito mais velho, causando comentários.
Faleceu em 1990, vítima
de infarto.
ANSELMO
DUARTE (21/04/1920 – 07/11/2009)
Anselmo Duarte Bento é considerado um dos grandes nomes do cinema brasileiro. Começou como figurante no inacabado filme de Orson Welles “It’s All True”, de 1942, em que também trabalhava Grande Otelo. Logo após fez Querida Susana, com Tônia Carrero e Nicete Bruno. Com Carnaval no Fogo, em 1949, dirigido por Watson Macedo e no qual também trabalhou a supracitada atriz Eliana, tornou-se um dos maiores galãs que o cinema nacional já teve.
Em 1951 foi contratado pela Companhia
Cinematográfica Vera Cruz com o maior salário da produtora, e no ano seguinte
foi lançado Tico-Tico no Fubá, um
grande sucesso. Fez mais três filmes na Vera Cruz.
Em 1957 estreou como diretor em Absolutamente Certo.
Em 1962 ganhou a Palma
de Ouro e o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes com o filme O Pagador de Promessas. François
Truffaut foi o maior defensor do prêmio especial para Anselmo.
Sua carreira entrou em
declínio em virtude de divergências ideológicas com os adeptos do Cinema Novo.
Em 22 de junho de 2009 foi feito Cavaleiro da Ordem
do Ipiranga pelo governo do Estado de São Paulo.
Morreu em 07 de novembro de 2009 em decorrência de
complicações originadas pelo terceiro AVC que o acometeu.
"O Saudades do Rio" mais uma vez agradece a colaboração do Helio Ribeiro