quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

CASAS CASADAS - LARANJEIRAS



Relembrando o "Saudades do Rio - O Clone" do Administrador Desconhecido, e o “Ontem e Hoje”, do Rafael Netto:

Vemos as Casas Casadas em fotos de Genevieve Naylor, nos anos 50, e do Rafa, em 2007.

As Casas Casadas, tombadas em 1994 pela Prefeitura, foram construídas em 1883 pela família Leal. O conjunto – cujo endereço atual é Rua das Laranjeiras nº 307 e Rua Leite Leal nºs 11, 19, 29, 33 e 45 - é um exemplar único de residência multifamiliar do século 19, análogo aos edifícios residenciais atuais.

Este enorme prédio eclético rosa foi um luxuoso palacete de construção primorosa e escadas altíssimas, que ocupa todo um quarteirão da Rua Leite Leal, nome de seu primeiro proprietário, o português Sr. Antônio de Oliveira Leite Leal. Quando o prédio foi construído, era para servir de moradia apenas à família Leite Leal, mas o patriarca, que tinha cinco filhos, dividiu o prédio para abrigá-los, em seis casarões, comunicando-se entre si.

As Casas Casadas tinham seis unidades residenciais autônomas, com rés do chão e mais três pisos, 14,60m de frente por 43,60m de fundos em centro de terreno. A área útil é de 2.400 metros quadrados. A arquitetura é neoclássica, privilegiando a simetria na composição, segundo dois eixos ortogonais, com grande unidade formal entre as fachadas principais (frente, fundos e as laterais). A cobertura em telhas de cerâmica, do tipo francesa, é arrematada por lambrequins sob os beirais, marcando os eixos da composição. Os umbrais de granito guarnecem as esquadrias de madeira e vidro. O pé direito alto, a posição das escadas no centro das unidades e a tiragem natural do ar, em conjunto com a iluminação obtida através das claraboias de vidro, contribuem para o conforto térmico e a boa aeração dos aposentos.

Em 1940 elas não eram endereços tão chiques como no séc. XIX, mas ainda abrigavam moradores de classe média alta. Talvez já nessa época as 6 unidades já tivessem sido adaptadas para o séc. XX e divididas em grandes apartamentos.

Podemos ver que as casas se mantinham bem conservadas e pintadas. A partir dos anos 60 a situação começou a se degradar, culminando com o abandono e transformação em cortiço nos anos 70. Oficinas mecânicas chegaram a ocupar puxadinhos de zinco onde eram os jardins fronteiros e os grandes apartamentos foram transformados em cortiços.

Tombado pelo Estado em 1979 e pela Municipalidade em 1995, passou por uma restauração integral em 1998, inclusive com técnicos vindos da Itália a convite da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro.

Após décadas de descuido as Casas Casadas chegaram ao final do século XX em total ruína, abrigando uma população sem-teto. A restauração que deixou a aparência externa da construção como nova, como também ocorreu com o Castelinho da Praia do Flamengo e o Vilino Silveira na Rua do Russell, provam que quando se quer, se faz. Por dentro, o imóvel foi equipado para se tornar um centro cultural voltado ao cinema e ao audiovisual, e uma das casas teve sua estrutura e divisão interna preservadas. A reforma começou em 1999 e foi inaugurada em setembro de 2004. No entanto as Casas ficaram algo perdidas em meio à burocracia estatal, e jamais foi efetivamente totalmente implantado o projeto do centro cultural, ficando as Casas apenas como sede da RioFilme.

PS: informações obtidas pelo AD em site do Governo do Rio, por mim no site do Sindegtur e comentários dos especialistas do Rio Antigo.

21 comentários:

  1. Bom Dia ! Mais um dia de aula. Vou falar para um Sobrinho-Neto, que faz Engenharia. FF Ontem errei feio.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Dr. D'.

    Área fora da minha jurisdição. Irei acompanhar os comentários.

    ResponderExcluir
  3. Bom dia! História muito interessante e de fato "quando se quer, se faz". Neste link há mais algumas informações sobre o prédio, como o nome ser alusão aos biscoitos casadinhos: http://www.riofilme.com.br/historia-das-casas-casadas/

    ResponderExcluir
  4. Eu acho esse construção uma obra-prima. Vim a conhecê-la em 1989, pois em frente a ela havia uma oficina autorizada VW, onde fiz revisão geral do meu Voyage, por duas vezes.

    Não me lembro de haver moradores na época.

    Posso estar enganado, ou minha mãe idem, mas tive a impressão de ela me haver contado que minha família (avó com os quatro filhos, inclusive minha mãe) tinham morado por algum tempo nessa casa, provavelmente na década de 1930. Seria uma casa de cômodos na época, porque minha família morou em várias delas, nas ruas do Catete, Laranjeiras, Santo Amaro e Pinheiro Machado.

    Será que houve um engano da parte dela ou minha quanto a isso?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. A concessionária Kuhn e Cia era um primor. Pequena, ótimo atendimento. Não sei se ainda sobrevive .

      Excluir
    2. Isso mesmo. Eu não lembrava o nome da concessionária, embora soubesse que era um nome alemão: Kühn. No Google Maps ela ainda está lá, mas não sei quando foi a passagem do carro filmador.

      Excluir
  5. Não é sem razão que os países europeus possuem o maior acervo histórico do planeta, já que as leis que regem a preservação de imóveis são draconianas e podem levar o transgressor à prisão. Na Itália o Departamento de Belas Artes possui "poder de polícia" para prender e processar qualquer um que invada, destrua, ou danifique um imóvel histórico. Os castelos medievais na Alemanha, Croácia, Eslovênia, Suíça, e em outros países são joias da arquitetura gótica cuidadosamente preservadas. Mas no Brasil imóveis históricos tiveram um destino diverso. Primeiro se transformaram em casas coletivas ou "casas de cômodos", depois veia a fase da depredação, e no Século XXI a fase da invasão. Quem passa pela região da Central do Brasil pode perceber que a quantidade de casarões invadidos é impressionante, quase uma "reencarnação" do finado 'Cabeça de Porco" arrasado em 1893. São habitados por "vitimas da sociedade", crackudos, maconheiros, pequenos traficantes, etc, tudo sob os auspícios de um assistencialismo eleitoreiro que tem sido uma das causas da "metástase" do câncer que tornou a cidade um "ser horripilante". Há solução? Sim, claro, as deveras amarga.

    ResponderExcluir
  6. Ao Erick: no dia 23 você comentou que tinha uma coleção com 1500 placas de carro. Devo entender que são realmente placas físicas? Sou vidrado nisso desde os 12/13 anos de idade. Também tenho uma coleção que chamo de "placas de carro", embora esse nome seja uma simplificação da realidade, pois não coleciono placas físicas.

    Gostaria de avançar nesse assunto com você, se lhe interessar. Meu email é italo.mayon@gmail.com.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom dia meu amigo Hélio. Sim são físicas,porém no momento todas embaladas,pois me separei e tive que tirar elas das paredes.Vou te mandar um email,temos muito que conversar. Forte abraço

      Excluir
  7. Minha dúvida quanto ao meu relato sobre as Casas Casadas é porque o texto da postagem diz que elas só viraram casas de cômodos a partir dos anos 1960, e minha familia teria morado nelas na década de 1930, após minha avó ter ficado viúva (meu avô contraiu doença nas minas de ouro de Passagem de Mariana, onde trabalhava) com três filhos, e veio para o Rio, onde teve mais uma filha.

    ResponderExcluir
  8. Uma obra prima de construção. Curioso, que na foto antiga, as duas janelas frontais do primeiro piso não tinham a moldura em sua parte superior.
    O bonito pinheiro sumiu e deu lugar a um simpático arbusto.

    ResponderExcluir
  9. Percorrendo a Rua Leite Leal na mão, via Google Street View, o lado direito, com exceção de um grande prédio, é todo composto de belas construções antigas.

    ResponderExcluir
  10. Um belo exemplo de que é possível preservar um imóvel antigo.
    Ontem mesmo o Docastelo citou a intenção das autoridades em recuperar o Centro. Vale a pena aguardar os próximos capítulos, pois o Porto Maravilha serve de amostra, apesar das polêmicas.
    A concessionária VW - Distac tem um site onde informa que tem a agência na Rua das Laranjeiras, 291, confirmando que é bem perto do endereço das Casas Casadas.

    ResponderExcluir
  11. Essa área é jurisdição da Tia Nalu. Pena que agora ela só tem frequentado outras redes internéticas. O local postado deve ficar a um ou dois quarteirões de seu residencial palace.

    ResponderExcluir
  12. Não sei se é impressão minha mas o Saudades do Rio voltou a ter gás. Comentários interessantes sem viés ideológicos, ausência de agressões, muita informação sobre o Rio de antigamente. Estou gostando desta fase e espero que continue assim.

    ResponderExcluir
  13. A respeito desse comentário do Joel, realmente o estado e prefeitura do Rio não "marcam em cima" na questão da preservação de construções históricas. Salvador, Recife e cidades históricas de Minas são mais atuantes.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aqui mesmo no nosso estado temos também o exemplo de Paraty.

      Excluir
  14. Se o SDR subir um pouco mais chega na Casa dos Abacaxis e Largo do Boticário . Este último vai virar hotel francês . O primeiro nem abacaxis tem mais.

    ResponderExcluir
  15. Conservar casa antiga custa dinheiro.A cidade tem muito casarão vazio e muita gente sem ter onde morar.A prefeitura pode deixar pessoas desabrigadas morarem nessas casas vazias e dar um salário para eles conservarem.É uma justiça social.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sua idéia é válida, somente se aplicada a imóveis de propriedade do estado, do município ou do governo federal. Os casarões particulares abandonados, normalmente estão atolados em ações de sucessão, onde os herdeiros não se entenderam quanto a venda ou partilha do patrimônio. Existem inúmeros nessa situação.

      Excluir