quarta-feira, 31 de agosto de 2022

POSTOS DE SALVAMENTO EM COPACABANA

No início do século XX as praias atlânticas, como a de Copacabana, eram consideradas perigosíssimas. A Imprensa dizia que “não há em país algum civilizado uma praia nas condições de abandono em que se encontra a de Copacabana já que as autoridades não pensaram em proteger os banhistas”. Eram frequentes as notícias nos jornais e revistas sobre os inúmeros afogamentos.


Os próprios moradores criaram o “Barracão da Sociedade de Socorros Balneários” na esquina da Av. Atlântica com a atual Rua Siqueira Campos, que vemos na foto acima. Mais tarde também os moradores criaram a “Associação de Sauvetage de Copacabana”.

Em 1917 o Prefeito Amaro Cavalcanti, sancionou o Decreto 1143 determinando a construção de seis postos de salvamento em trechos demarcados com bandeirinhas e guarnecida por uma embarcação no mar e um poste de observação na areia, onde trabalhariam os “banhistas”. 

Nos anos 50, a localização dos postos era a seguinte:

1 – Rua Aurelino Leal, no Leme.

2 – Lido.

3 – Rua Hilário de Gouveia.

4 – Rua Santa Clara.

5 – Rua Bolivar.

6 – Rua Rainha Elizabeth.


Foto de Malta, do Acervo do MIS. Este precário Posto de Salvamento (Posto de Sauvatage) da Avenida Atlântica, ainda antes da construção da calçada junto à praia, que se deu quando do alargamento de 1919. Mestre Decourt observa que, nesta foto, há curioso defletor na lâmpada superior do poste de luz (seria para proteger as casas da iluminação excessiva?). O salva-vidas, então chamado de "banhista", no topo do seu posto de observação, protegido por uma barraca e com binóculos, vigia os que entram no mar. Uma bóia, com uma corda, além de um pequeno barco, são instrumentos de auxílio ao salva-vidas. 


Foto do acervo do Correio da Manhã, dos anos 30, onde vemos o trecho entre as ruas Figueiredo Magalhães e Siqueira Campos, pois a mansão à direita era a de meu tio, James Darcy, no nº 1 da Rua Figueiredo Magalhães. Foi demolida na década de 50 para a construção do edifício Vésper.

Nesta época, lembram o Professor Pintáfona e o General Miranda: "Íamos pelos bars, pelos cafés, pelos logradouros de Copacabana, de chapéo na mão, a passos lentos, em passeios intermináveis. Não nos faltavam excellentes espectaculos em theatros, em music-halls, com musica, com alegria, com mulheres. Bebiamos pelas compoteiras! No calor, para refrescar, no frio, para aquecer. Vinhos fortes e capitosos, procedentes do Porto e da Madeira; aguardente de canna que malbaratava o figado, causticava o estomago, pondo em petição de miseria todo o systema vascular; cervejas como a Pá e a Dois Machados, da Alemanha; a Guiness e a Porter, da Inglaterra; a Alliança Pal Ale, da Dinamarca; a Norvegian, da Noruega. Bons tempos!"



Foto de Preising mostrando um posto de observação de salva-vidas alguns anos depois. Observar os trajes, elegantíssimos, mesmo para um simples passeio pela calçada da praia. Curiosamente a calçada não é de pedras portuguesas, mas sim de mosaico cerâmico (foi uma das experiências feitas no período das grandes ressacas). 


Nesta foto de 1956 vemos um Posto de Salvamento, provavelmente o de nº 4, que ficava na altura da Rua Santa Clara. No térreo do prédio havia um pequeno bar que só vendia cachorro-quente e guaraná Antarctica. Num tempo em que quase ninguém levava relógio para a praia, todos nos informávamos pelos relógios afixados nos postos. 

Por esta época, o "Brasil Revista" assim descrevia Copacabana: "Olhemos, de relance, a grandiosa Copacabana. Vemos, defronte, o oceano aberto, sem fim, e as ondas se quebrando na praia, que é branca como um floco de algodão da mata. Vemos, nos dias de bom tempo, os seus passeios e as suas pequenas dunas, cheios de uma multidão arisca, que se agita, que palreia, que se diverte, que troca amabilidades e namoros. 

E, à noite, essas formigas humanas, ao contrário dos verdadeiros himenópteros, nada querem com o trabalho e procuram, como as cigarras, o prazer, o bulício, o zig-zag dos passeios, à luz dos candelabros que, como um colar de pérolas monstro, enfeitam o dorso nu da praia imensa. Abrem-se as "boites". As orquestras ciganas, os violinos, os stradivarius, ao pizicato das suas músicas venenosas e tentadoras, convidam os que se desejam ao enleio, ao enlaçamento dos tangos, das rumbas, das congas e também do nosso samba de morro. Este, todavia, ao som do pandeiro, das cuícas, dos crachás. A vida noturna de Copacabana é um remoinho, mas, às vezes, uma aventura suave e deliciosa, que dá vontade de se experimentar, ao menos uma noite apenas".


O antigo Posto 6 em colorização do Conde de Lido. Curiosamente hoje em dia é um dos postos que não existe mais, embora a região ainda seja identificada com Posto 6.

27 comentários:

  1. A Copacabana descrita no "Brasil Revista" não existe mais, provavelmente aquela realidade não mais voltará, e as razões são muitas. Aquela Copacabana está nas brumas de um tempo que muitos gostariam que retornasse. Na última foto o Edifício Egalité onde morei aparece. A janela do meu quarto fica no terceiro andar e dela assisti o andamento da obra de duplicação da Avenida Atlântica.

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  2. Olá, Dr. D'.

    Mais uma aula sobre Copacabana e suas peculiaridades. De vez em quando preciso ser lembrado de onde era o "Posto 1". Na minha infância, havia uma série de livros infanto-juvenis da Ediouro chamada "A Turma do Posto Quatro", mas só li um deles. Nela uma turma de moradores jovens de Copacabana se envolvia em aventuras pelo Brasil.

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    1. Em tempo, li dois livros mas somente um chegou aos dias de hoje. O outro se perdeu em algum momento.

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  3. Deveriam ter tombado um desses postos de salvamento art deco, arquitetura bem interessante.

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  4. Uma das coisas que achava útil era a boia dos salva-vidas. Fácil de ser lançada com uma corda e um alívio para quem estava em dificuldade.
    Acho o trabalho dos salva-vidas excepcional.

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  5. Saudades dos escritos do general e do professor. Por onde andará Mme. Simmons?

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  6. E olha que Copacabana não é exatamente a praia mais brava da cidade do Rio; o seu ponto mais perigoso é na Praia do Diabo, cujas ondas costumam ser fortes e grandes, sendo um local adequado para a prática do surf. Uma pena que essa praia fica dentro do espaço militar do Forte de Copacabana, ao lado da Pedra do Arpoador, e o acesso a ela é restrito.
    Grumari, Prainha e Barra, sobretudo na região da Reserva, "batem" mais e são mais perigosas.

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    1. A Praia do Diabo nos anos 70 era aberta ao público, antes disso não sei. A area interditada era a sua esquerda até o Forte de Copacabana.

      A praia do Arpoador até o Castelinho a qual frequentava agora é frequentada pelos moradores da favela Pavão-Pavâozinho. Sinceramente, não me sinto seguro e confortável indo lá, a dois anos atrás fui ver o pôr do sol no Arpoador e vi dois arrastões.

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  7. Como a faixa de areia era estreita dava tempo do salva vidas descer da cesta e ir ao resgate do incauto. Hoje não teria como atravessar o Saara e chegar no mar. Acho que se justificaria reerguer o Posto 6¨no local, para mostrar como era. Monumento real a velha Copacabana. Vi outro dia o apertado complexo Salvamar, Marimbás, Forte, da bela varanda do Fairmont Hotel . Uma nesga densamente ocupada.
    Campanha para reerguer o Posto 6, o original!

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  8. Interessante saber sobre a origem dos salva-vidas do Rio.
    Nas fotos 2 e 3 alguns fizeram pose mal disfarçada.

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  9. Hoje vou poluir o SDR com inúmeros comentários pessoais sobre praias, do Brasil e do exterior. Comecemos.
    1) LEME ==> em meados da década de 1950 meu irmão e eu íamos à praia do Leme, quase esquina com Princesa Isabel, levados pelo meu tio, tia e em companhia da filha deles, na época com cerca de três anos de idade. Para chegar lá, morando na Tijuca, íamos de bonde até a Usina e pegávamos o lotação Usina x Copacabana ou o Usina x Leblon, saltando logo que ele entrasse na Barata Ribeiro.
    Outras vezes, íamos até a casa da família do meu tio, na rua Paulino Fernandes quase esquina com General Polidoro, e nos juntávamos aos irmãos dele e partíamos para a praia, via General Polidoro, rua da Passagem e Túnel Novo, a pé. Interessante que na família dele as mulheres tinham nome começado pela letra A. Eram duas: Albele e Anete. Já os homens tinham nomes começados pelo fonema Jê: João, José, Jáder, Jair e Geraldo.

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  10. 2) ANGRA DOS REIS ==> entre 1959 e 1970 minha família ia no Carnaval e em outros feriados para Angra dos Reis, de ônibus, via estrada Rio - São Paulo e através de Rio Claro, Passa Três e Lídice. Estrada de terra, tempo de viagem 5 horas e meia. Em Angra, íamos à praia do Bonfim, num trajeto de 40 minutos a pé, passando em frente ao Colégio Naval. A praia era quase deserta, em virtude da distância até a cidade. Eu me queimava igual a camarão e depois tinha de colocar leite de magnésia nas costas e ombros. Na volta ao Rio, passava dias e dias descascando bolhas d'água resultantes das queimaduras.

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  11. 3) LEBLON/IPANEMA/ARPOADOR ==> em 1970 enjoei de Angra e até 1975 passei a frequentar as praias do Rio. Inicialmente Leblon, onde na primeira vez paguei o mico de ir de calça comprida, camisa e sapato. Depois passei a ir ao Arpoador ou a Ipanema, em frente à Farme de Amoedo. Ia sozinho ou com minha tia. Levava um radinho de pilha Kobe Kogyo e um livro de série sobre a II Guerra Mundial. Sem saber nadar, cometia a imprudência de entrar no mar e varar ondas que às vezes me deixavam sem pé após passarem, tendo eu de ficar pulando para poder respirar.

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    1. Ah, então era você. De 1965 a 2005 joguei volei na Rede Lagosta, a mais antiga e a que ficava mais perto da Farme de Amoedo, onde era o Posto 8. Quantos grandes amigos fiz lá. Mais de uma centena de jogadores passaram por lá naqueles 40 anos.

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  12. 4) CAMBOINHAS ==> em 1974 fui com uma colega de trabalho a Camboinhas. Nunca havia ouvido falar dessa praia, mas como a colega morava em Icaraí, a conhecia bem. Fomos no fuscão dela. Para chegar até a praia pegamos um caminho estreito de terra, cercado de um alto capinzal em ambos os lados. Não se via nem o mar, durante o trajeto. Na praia só havíamos nós dois e mais um casal. Era um dia de semana, à tarde. Hoje em dia Camboinhas é um alvoroço só.

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  13. 5) GRUMARI ==> em 1975 e 1976 fui umas duas ou três vezes a Grumari. Passeio deslumbrante, mas o mar é perigoso e não sei nadas.

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  14. 6) GRÉCIA ==> em 1981 fiz juntamente com minha esposa e um casal uma viagem de 27 dias à Grécia, durante a qual fomos à ilha de Paros, integrante do arquipélago das Cíclades. Lá assisti a dois episódios estranhos para nós, brasileiros.
    O primeiro foi na praia principal da ilha, quando um navio de cruzeiro lançou âncora ao largo e muitos turistas foram para a praia em embarcações menores. Um desses turistas, com pinta de nórdico (gordinho, muito branco, barba e cabelos ruivo/louros) chegou na areia, tirou a bermuda, ficou inteiramente nu, vestiu uma sunga e ficou tomando sol. Após algum tempo, fez o inverso e voltou para o navio.
    O segundo episódio foi na praia de Naoussa, também na ilha. Vimos no meio das pedras duas mulheres tomando sol deitadas e com os seios de fora. Não estavam à vista geral e sim em pedras um pouco afastadas do centro do lugarejo.

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    1. O curioso na Europa é que as mulheres ficam de topless mas a parte de baixo de biquini é imensa.

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    2. Exatamente: as duas que vi estavam justamente assim.

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    3. em Portugal topless é "mamas ao léu". Comportada na rua e despeitada na praia. Aqui usam sutiã na praia, mas a blusa da night fica com as mamas ao léu...

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  15. 7) FORT LAUDERDALE ==> em 1982 fomos à praia lá, e vimos duas coisas interessantes. A primeira foi uma mulher, com pinta de americana mesmo, que chegou à praia portando um cobertor e um travesseiro. Colocou o cobertor na areia, botou em cima o travesseiro e se deitou ao sol.
    Na mesma praia, havia um guarda-vida num tipo de guarita acima do chão, com acesso via uma escadinha. Lá ele ficava sentado, portando um binóculo, um apito e uma bandeirola vermelha. Quando algum banhista entrava longe no mar ou alguma embarcação ou jet ski se aproximava muito da areia, ele se levantava, apitava longamente e apontava a bandeirola para o infrator.
    Uma patrulha num quadriciclo passava constantemente dando segurança aos banhistas, que eram poucos, pois era inverno.

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  16. 8) WAIKIKI ==> em 1983 foi a vez do Havaí. Na praia de Waikiki, no centro de Honolulu, um japonês chegou de sunga e blazer. Sentava na areia assim vestido. Quando resolvia entrar na água, tirava o blazer, banhava-se, voltava para a areia e vestia novamente o blazer.

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  17. 9) ILHA DO HAVAÍ ==> também em 1983, vi na ilha do Havaí uma praia de areia preta. Na verdade, não se trata de areia e sim de lava triturada pela ação do mar. É nigérrima. A paisagem era lindíssima: oceano azul, ondas brancas, areia negra e palmeiras verdes ao longo da areia. Quando lá voltei em 1994, a praia havia desaparecido, coberta pela lava expelida pelo vulcão Kilauea. A lava havia passado por cima de toda a paisagem e agora caía diretamente dentro do oceano. Que pena!

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  18. A ocupação da Praia de Copacabana no início do século XX era prioritariamente para "terapêutica marítima". Segundo um famoso Dr. Debay, "a balneabilidade não deveria exceder os limites de sua necessidade, numa relação marcada pelo comedimento e pela cerimônia".
    As roupas eram de tecido grosso, em geral azul-marinho ou de debrum vermelho, calças até os pés, espadrilles de lona e touca, o uniforme baneário confundia-se com uma verdadeira armadura, conta Julia O´Donnell em "A invenção de Copacabana".

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  19. A praia de Copacabana apesar de ser a mais famosa do Brasil e levando-se em conta que é onde mais se concentram grandes efetivos de forças de segurança, é atualmente um local perigoso para se transitar, principalmente pela maneira ineficaz como o efetivo é distribuído. Também uma legislação leniente onde se privilegia o bem estar de criminosos e de menores contribui para esse estado de coisas. Como eu já havia comentado várias vezes, a "Princesinha do Mar" cantada em prosa e verso nos quatro cantos do planeta, morreu gradativamente ao longo de mais de 50 anos e sua agonia lenta teve vários motivos, entre os quais a duplicação da Avenida Atlântica, os grandes túneis, as grandes vias expressas, a Ponte Rio-Nitéroi, e vários outros que são conhecidos mas que prefiro não mencionar, já que certamente "alguns ânimos podem se acirrar"...

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