O jornal
"Beira-Mar"assim se referiu ao prédio quando de sua inauguração:
"O primor da fachada, na sobriedade de suas linhas, a suntuosidade do hall
e varandas e o requintado modernismo da sala de projeção formam um admirável
conjunto em que, mais uma vez, patenteia-se a boa vontade da empresa Severiano
Ribeiro e a competência dos engenheiros da Companhia de Melhoramentos e
Construções".
Frequentei o Pirajá a
partir da década de 50, quando ele já era um "poeira" muito querido.
Acho que não tinha ar-condicionado, as cadeiras eram de madeira (mas reclinavam um pouco) e dos dois
lados da plateia havia portas com venezianas, através das quais entrava a luz
do dia na sala de projeção.
Mas seu dia de glória
eram as Sextas-Feiras Santas, quando exibia o filme "Vida e Paixão de
Jesus Cristo", que levava multidões ao cinema, com longas filas se
estendendo pela Rua Visconde de Pirajá, ainda calçada com paralelepípedos.
O filme era antiquíssimo, datado do início do século, do tempo do cinema mudo. O filme acompanha Jesus desde a cidade de Belém, onde Maria o concebe na manjedoura, até sua ressurreição, com todo rigor bíblico. O público acompanhava seus milagres, a integração dos Doze Apóstolos cm busca do bem, a última ceia, seu julgamento em praça pública e sua crucificação.
Filmado no ano de 1902, este filme foi um dos primeiros filmes sobre a vida de Jesus Cristo já feito. O diretor foi Lucien Nonguet e os atores foram Monsieur Moreau, Ferdinand Zecca, Madame Moreau, Robert Henderson-Bland, Percy Dyer, Gene Gauntier.
Até o início da década de
60 a Sexta-Feira Santa era um dia triste, com as rádios só tocando música
clássica. Não havia nenhum evento esportivo, os bares e restaurantes tinham
frequência mínima, boa parte dos cariocas praticava o jejum e a abstinência de
carne, as igrejas católicas cobriam todas as imagens com um pano roxo.
Se bem me lembro os
jornais não circulavam e todo o comércio ficava fechado. Havia pouco movimento
nas ruas e era um dia em que as brincadeiras das crianças tinham que ser mais
comedidas, todos procurando falar baixo.
Na TV a programação
também era adaptada para o dia de respeito pela morte de Jesus Cristo. Muitos
já preparavam os "Judas" que seriam malhados no dia seguinte.
À tarde havia solenidades
nas igrejas, com muito incenso e um clima de tristeza. A seguir, a "Via
Sacra" e o dia terminava com a procissão.
Hoje em dia é bem diferente.