Com
a colaboração do Jason Vogel, Gustavo Lemos, Dieckmann e antigos moradores de
Ipanema e Copacabana, aí vai um pouco da história do folclórico Urubu, mecânico
que durante anos atendia a Zona Sul carioca:
"Urubu"
e "Pega Firme" moravam juntos na boléia de um velho caminhão
International. O carro tinha pneus carecas e por mais de vinte anos, caindo aos
pedaços, vivia pedindo pintura - e água para o radiador não ferver. Mas, nunca
deixou de atender, de dia ou à noite, as chamadas para reboque, ou trabalhos de
pequena mecânica. Os fregueses eram Cadillacs e Impalas de Copacabana, ante os
quais o International formava pitoresco contraste na Zona Sul do Rio.
Isaias da Silva é o preto de cavanhaque, sempre vestido com o mesmo macacão
sujo de graxa, a quem o carioca apelidou de Urubu. Era ele o dono do mais
engraçado carro-reboque do Rio.
E
Pega Firme? Não é gente, mas um cãozinho, talvez o único amigo sincero de
Urubu. Era um vira-latas branco, a princípio; tempo e graxa o foram tonando
cinzento e lhe deram uma cor indefinível. Sua missão: montar guarda ao
"Soneca", que não dorme (Soneca é o carro-reboque).
Todo
mundo conhecia o Urubu, seu carro e seu cão. Muita gente sabia de cor o
telefone do bar Igrejinha, em frente à TV-Rio, onde davam recados ao mecânico,
que estava sempre ali pelo Posto 6, perto da boate Pigalle e da TV Rio.
"Soneca" atendia a uma média de 8 pedidos de socorro por dia e o
preço de Urubu variava de acordo com a cara do freguês. Mas não era extorsivo.
Mesmo assim, ele não confirma, nem desmente a história: que estaria rico e já
seria dono de um apartamento luxuoso.
Conta
o Gustavo que o pai dele acompanhou a vida do Urubu por muitas décadas. “Ele
começou trabalhando na oficina Meridional, na Rua Francisco Otaviano, onde
depois foi construído o bingo Arpoador. A oficina pertencia ao lendário Gino
Bianco, que foi seu protetor até uma briga feia que tiveram por causa da
bebida, vício maior do mecânico. No seu cartão vinha escrito "Seu carro
enguiçou? Chame o Urubu (vulgo Isaías)".
Todos
os clientes que ligavam para o meu pai na sua concessionária de veículos
dizendo que o carro estava enguiçado na rua eram atendidos pelo Urubu. Meu pai
já o havia advertido diversas vezes sobre o vício cada vez mais presente do
álcool. Um dia ele apareceu transportando um carro completamente embriagado.
Nunca mais foi chamado.
Também era viciado em jogo do bicho, razão pela
qual não prosperou, já que clientes não lhe faltavam. Faleceu de cirrose nos
anos 80. Um ajudante continuou o serviço por alguns anos, depois da morte do
Urubu. O carro das duas primeiras fotos é um Mercury 53, com rodas de um Dodge
Dart.”da
|
As ameaças do SDRL se concretizam...
ResponderExcluirLembro bem da Mercury, sempre parada na Francisco Otaviano. Do caminhão, não tenho a mesma imagem. Seja como for, ninguém desconhecia o Urubu. Era o tempo dos reboques do Touring e do Automóvel Club e, quem não era sócio, tinha que chamar um reboque particular. Eu só lembro do Urubu.
Cães e mecânicos são companheiros naturais. A cor adquirida é apenas uma consequência. Lembro bem dos Irmãos Carvalho - os Oak Brothers, no nosso linguajar antigomobilista. O Rogério Carvalho dá um livro exclusivo, mas aqui relembro o cão e tartaruga (jabuti) que coabitavam, sujíssimos, a oficina, no Éden. A gente ia no Éden, sem o menor temor, até os anos 90. Nem penso em adentrar o conglomerado atualmente, mas pode ser apenas preconceito.
Dieckmann, não é preconceito e sim amor à vida. Éden, São Mateus, Anchieta, e Pavuna, fazem parte integrante da "área do Chapadão", o que dispensa comentários. Não é tão "problemática" quanto a "área do BRT" mas chega perto...
ExcluirJardim do É den era o nome completo. E é amor à vida sim.
ExcluirEu usava o reboque MARRETA, indicado pelo Luigi Sciai para levar o carro para a oficina da Praça da Bandeira.
ResponderExcluirSuponho problemas crônicos decorrentes da propriedade de automóveis italianos. Afinal, com o Sciai na linha...
ExcluirCarlos Alberto Torres, o vivo, lembrou do Skipper, amigo e frequentador da oficina dos Oak Brothers, que contava casos ocorridos na oficina, alcunhada pelo mesmo Skipper de "sítio".
Um foi a sugestão para o dono da arara, tão cinzenta quanto o cão e o jabuti: "-Rogério, acho que a arara está precisando trocar o óleo."
Outro foi sobre um cidadão que apoiou a perna em uma pedra do pátio. Passados alguns segundos, a pedra se moveu. Era o jabuti camuflado.
Este caso pode ter ocorrido com o Sergio Fortes. Incauto, o Sergio bebeu incontáveis caipirinhas preparadas por um vizinho que tinha uma semi-birosca. Tendo passado mal, na semana seguinte (íamos lá todo fim de semana) reclamou com ele da qualidade da vodca.
"- Sergio, não pode ter sido a vodca! Fui eu mesmo que a fiz, na banheira lá de casa!""
Mito ou não, não sabemos se havia sequer banheira na casa da figura em pauta, mas dá uma imensa saudade desse Rio que não desfrutamos mais.
São coisas de um passado inimaginável para os mais novos e que não volta mais. Esse tipo de "socorro mecânico" talvez possa ser encontrado onde ainda existam carros muito antigos circulando e em regiões mais carentes onde carros antigos sejam a tônica, já que em carros mais novos, só com equipamento computadorizado. Estive há pouco tempo na região da Estrada do Pau da Fome e vi que ali proliferam "fuscas", "Brasílias", "Chevettes", etc. Além do mais, mesmo que fosse possível fazer esse tipo de serviço na rua, quem se arriscaria? Quase todo mundo que possui um carro "mais recente" tem um seguro cujo "pacote de serviços" cobre situações de emergência. Mas parece que o "cidadão" aí da foto tinha uma boa clientela. FF. As forças armadas ocupam nesse momento a região do Jacarezinho, alvo da postagem de ontem do "Foi um Rio que passou em minha vida". Também as Favelas da Maré e do Alemão fazem partes a operação.
ResponderExcluirTeve uma época que o reboque do Urubu tinha na traseira flâmulas de todos os times cariocas e não só do Flamengo e Vasco.
ResponderExcluirBom Dia! Diziam que o urubu só tomava banho no dia 31 de Dezembro.
ResponderExcluir"Bom dia".
ResponderExcluirO Dr. D' relembra o Reboque do Urubu em dia de clássico lá na Ilha da Fantasia do cerrado.
Irônico comentarem sobre áreas "problemáticas" depois de ocorrências recentes em Vila Isabel, Engenho Novo, Rocha e Grajaú, entre outras regiões "problemáticas"...
Bom dia a todos. Tempos saudosos ou não tão saudosos para os que o seu automóvel teve pane e necessitou deste serviço. Até bem pouco tempo, víamos diversos reboques parados em pontos estratégicos da cidade com bastante movimento, como a Radial Oeste depois do Maracanã, na Av. Brasil em diversos pontos da mesma, porém hoje com este serviço oferecido pelas seguradoras e pelas próprias concessionárias, estes prestadores de serviço se agregaram a estas companhias. Vi o Urubu algumas vezes em Copacabana, mas nunca fiz uso dos seus serviços, acho que só usei reboque umas duas vezes, uma para trazer meu carro da estrada Rio Juiz de Fora para o Rio e outra em uma batida na Av. Brasil, de um carro que me bateu na traseira. Já quanto ao alcoolismo, é uma doença que destrói muitas carreiras de bons profissionais, além de invariavelmente levar a morte do usuário.
ResponderExcluirEste Urubu já andou pousando por aqui e com ele as mudanças na tecnologia dos autos.Melhorou anos luz a indústria de autos e só lembrar das regulagens de carburador dá arrepios.
ResponderExcluirTalvez o Urubu ainda tivesse algum serviço nos locais citados pelo Joel.Quem não evoluiu nesta área,dançou.Dois deste estilo,Toninho e Renato,foram meus carrascos entre meados dos anos 70 e 90.Sinceramente nao sei que fim levaram,mas os seus ninhos mudaram de local...
Como todo bom prestador de serviços e comerciante, esse também fazia média com os grandes clubes da cidade.
ResponderExcluirFusca, Brasília e Variant ainda podem ser vistos em estradas vicinais do interior. Quando houve desmoronamentos na rodovia de acesso à Visconde de Mauá em Resende a opção era uma estrada de chão. Em época de chuvas de verão, na gravação da reportagem só se via no desvio carro com aparência de 4x4 e veteranos VW.
Urubu era um ótimo mecânico. Era comum consertar o carro no local sem precisar rebocá-lo. Tinha no seu reboque um pequeno estoque de velas, correias, platinados e fusíveis, que eram as causas mais frequentes de enguiços. Foi uma grande figura.
ResponderExcluirFlamengo mais uma vez fazendo a alegria do pessoal do Z4.
ResponderExcluirTenho assistido a propaganda eleitoral do Sr. Eduardo Bandeira de Melo e faço uma indagação: com que dinheiro? Estariam os "fundos negros" sendo saqueados? A lavagem de dinheiro estaria em pleno andamento?
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