segunda-feira, 7 de outubro de 2024

CARTÕES-POSTAIS

Hoje vamos dar uma olhada em cartões-postais do Rio antigo. Sempre há aspectos interessantes para serem observados.

FOTO 1: Este cartão-postal apresenta legenda em francês e italiano, o que é curioso. Destaques para a igreja da Imaculada Conceição, inaugurada em 1892, e para a imensa pedreira.

A pedreira parece ser a da Rua Assunção, em Botafogo. É citada no livro “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo. Entre outras finalidades suas pedras foram usadas em 1958, na gestão de Negrão de Lima, para o enrocamento e o restabelecimento da muralha que protegia os prédios do Leme contra as ressacas.

E, como nas outras pedreiras, a vizinhança reclamava: “O proprietário da pedreira está pondo a vida dos moradores vizinhos em real pânico. Visando um maior lucro o proprietário não titubeia em aumentar a dosagem de dinamite a fim de obter explosões mais compensadoras.”


FOTO 2: A Praia do Flamengo com pouquíssima areia e muitas pedras protegendo a calçada. Eram muito frequentes as ressacas que lançavam água do mar nas pistas. Fui testemunha de algumas. 

Conta a Claudia Gaspar que a Praia do Flamengo já teve as denominações: Uruçumirim, Pedro Martins Namorado, Carioca, Aguada dos Marinheiros, Leripe, Sapucaitoba, Sapateiro e Praia da Baía de Guanabara. Só no fim do século XVII se firmou com o nome de Praia do Flamengo.

Uns dizem que se deve à presença de flamingos (mas eram raros na América do Sul). Outros que se deve a imigrantes holandeses, que legaram à toponímia do Rio o seu apelido pátrio "flamengos".


FOTO 3: Aspecto da Av. Beira-Mar, na Glória. No alto do morro, à esquerda, usando a "Lupercia" (a lupa da tia Alcyone) pode se ler o anúncio da "Casa Sucena". 

Trata-se de um jardim com conceito francês, organizado, geométrico, valorizando o conjunto e as perspectivas, isolando os elementos que marcam como o coreto, fontes e monumentos. A maior parte dos jardins públicos da época era em estilo francês, de autores como Glaziou.

Seu contraponto era o jardim inglês, de tempero romântico, com ruínas e grutas, tudo se integrando à vegetação, sem levar em conta a simetria ou qualquer outro atributo clássico (o melhor exemplo aqui no Rio é o Parque Lage.


FOTO 4: A quase deserta Praia do Leme. A foto, do IMS, é de 1907. O carimbo do selo parece ser de 1908. Quem seria o destinatário? Qual seria o texto? Em que local seria entregue?

Os jornais da época assim descreviam o local da foto: "Os desertos do Saara das praias do Leme e de Copacabana logo se converterão em grandes povoações, para onde afluirá, de preferência, a população desta cidade na estação calmosa, devido à salubridade e à amenidade do seu clima e à excelência dos banhos de mar, como se pratica nas cidades balneários da Europa.

Não podemos duvidar da ação civilizadora dos nossos tramways, que têm levado aos bairros afastados e desertos o gosto e o conforto na edificação de prédios, a vida e o progresso".

Era o tempo em que Leme e Copacabana eram um vasto areal, cheio de pitangueiras, ingazeiros, cabanas de pescadores, sem iluminação, com bondes que circulavam até quatro e meia da tarde. Pão e carne só em Botafogo.



FOTO 5: Como era bonito este cantinho de Botafogo com o Pavilhão Mourisco, à direita, junto com os postes de iluminação e os trilhos de bonde.

O Pavilhão Mourisco, construído durante o período de Pereira Passos, em 1906, para servir de café-concerto, ficava iluminado todas as  noites, tendo, nos fundos, o Teatrinho de Marionetes, um carrosel e um ringue de patinação (este, por muitos anos, foi a sensação da cidade). 

O Pavilhão Mourisco, cujo estilo de construção era neo-persa, nada tendo de mourisco, foi que deu origem ao trecho do bairro até hoje conhecido como Mourisco. É importante observar, ainda, que o Pavilhão Mourisco, por iniciativa de Cecília Meireles, por volta da década de 1930, abrigou uma biblioteca infantil que, além do salão de leitura, tinha um setor de manualidades (modelagem, pintura, desenho), um de brinquedos e jogos, além de uma sessãozinha de cinema toda quinta-feira. 

O Pavilhão Mourisco foi demolido quando da construção do Túnel do Pasmado, no início da década de 1950.

FOTO 6: Curiosa a legenda com um "Sam Conrado" em vez de "São Conrado". Vemos a antiga Praia da Gávea. A igrejinha, construída por Conrado Niemeyer em 1903, já estava lá.

O acesso pela orla marítima a São Conrado é pela Av. Niemeyer. iniciada pelo inglês Charles Weeksteed Armstrong que instalou o Colégio Anglo-Brasileiro, na área do Vidigal, na década de 1910. Ele abriu o Corte do Leblon, além de construir cerca de mil metros da avenida. 

Mais tarde, o coronel Conrado Niemeyer prolongou-a até a Praia de São Conrado e, em 1916, doou-a à cidade.

31 comentários:

  1. Há muitos anos não tenho conhecimento de alguém receber ou enviar cartões-postais.
    A comunicação digital acho que foi a responsável por isto.
    Aliás sempre achei estranho as mensagens serem à mostra de todos que manipulavam os cartões e mais estranho ainda os cartões com belas fotos não serem roubadas.
    Era um mundo bem diferente do atual.

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    1. Bom dia!

      Cesar, acrescento que era um tempo em que se por acaso chegasse uma correspondência equivocada, em nossa residência, a mesma era separada e devolvida aos Correios, para que fosse entregue ao destinatário correto. Havia educação sobre o tema, desde tenra idade. Hoje, as pessoas amassam e jogam no lixo, sem nenhum remorso.

      Como diria o sumido JBAN, o mundo anda muito estranho.

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  2. Você sabia a diferença entre um jardim inglês e um jardim francês? Eu não sabia.

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  3. Eu também não sabia dessa diferença entre franceses e ingleses. Temos grutas no jardim do Palácio do Catete, no Campo de Santana e na Quinta da Boa Vista. Menciono de memória claudicante, deve haver mais.

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  4. Bom dia, Dr. D'.

    Dia de emoções contraditórias para muitas pessoas. Hoje é o dia estadual da mulata... Adele Fátima foi entrevistada sobre a data. Está atualmente em Portugal.

    O Rio é uma cidade vocacionada para os cartões postais. Recebíamos principalmente em datas especiais, como o Natal. Parentes e amigos enviavam quando estavam em viagem, na época pré redes sociais. Havia muitas bancas de venda de cartões postais na feira da Praça XV a preços proibitivos. Atualmente os cartões postais do Rio priorizam outro tipo de "paisagem".

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  5. Não havia uma gruta no morro do Castelo, ao lado (ou perto) da catedral?

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  6. Bom dia Saudosistas. Passada as eleições no Rio, graças a Deus não teremos segundo turno, logo espero que nesta data futuro tenhamos um domingo de sol e desfrutemos de muita tranquilidade.
    Cheguei a colecionar alguns cartões postais, não sei onde foi parar, se perderam com o passar dos anos.
    Os cartões postais antigos da cidade do Rio, eram realmente um colírio para os olhos, mostravam uma cidade recentemente urbanizada, limpa e ainda selvagem, outros tempos.
    Hoje acredito que ainda tenhamos áreas e locais que poderiam nos dar belos cartões postais.
    Uma ótima semana para todos.

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  7. Au dos de la carte postale, il est écrit :

    Monsieur Ferdinand Leblanc
    Rue Rambuteau 48
    3e. Arrondissement
    Paris

    Mon cher Ferdinand, je vous envoie cette carte postale montrant la belle plage de Leme depuis le restaurant Belle Vue. En arrière-plan, la plage de Copacabana, toutes deux pratiquement inhabitées.
    Rio de Janeiro est magnifique.

    Je séjourne à l’hôtel « Vista Alegre », dans le quartier de « Santa Theresa », qui a une belle vue sur la « Baie de Guanabara ».

    Nous retournons en Europe au début du mois prochain. Juliette adore aussi le voyage.

    Je vous embrasse.

    Charles


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    1. A Rue Rambuteau 48, esquina com a Rue Brantôme, é o endereço agora de um feioso prédio (parece comercial), com várias lojas no térreo, como o Restaurant Cafe Flunch, a Sunny Thé, a Movie Store e a Pazzi, auto-intitulada no cartaz da fachada como 1ére Pizzeria Robotisée au Monde”. (!)

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  8. Como o Luiz sabe, tenho o hábito de enviar cartões postais, ainda hoje. Faço teste de tempo. Para o Rio mesmo demora 1 semana. Já mandei para EUA e Europa (média 15 dias). Na época da pandemia, um para o interior da Argentina demorou 7 meses!!! Compro selos e procuro adequar a temática do selo ao destinatário. Enviei um para João Candido Portinari com selo do solar Grandjean de Montigny, sede do Projeto Portinari. Os destinatários gostam. O remetente também. Os que recebi guardo dentro de livros. De repente, uma lembrança. Bom dia! Mas que cidade a nossa! Olha a responsabilidade Eduardo Paes!

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  9. Bom dia.
    O coronel e o santo tinham o mesmo nome, o "santo de casa" nesse caso construiu uma igreja.

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  10. Cartões postais nos dias atuais caíram em desuso. Mas para um colecionador os cartões antigos tem seu valor.

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  11. Pra mim o destaque é o trecho bucólico de Botafogo, mostrado na foto 5.
    Nesse deserto do Leme e Copacabana (foto 4), só se for por recomendação médica para um banho em praia oceânica ao alvorecer do dia.

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    1. Concordo que a foto 5 se destaca. A delicadeza do traçado dos trilhos, os simpáticos postes de luz, o pavilhão Mourisco, nenhum dos horrorosos arranha-céus que viriam depois.

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    2. Foto 5, fiquei na dúvida
      Luz elétrica ? Bondes idem ?

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  12. As primeiras experiências com bondes elétricos no Rio foram em 1892. A inauguração da tração elétrica foi na linha do Flamengo. O bonde saiu do Teatro Lírico, foram pela Senador Dantas, Rua do Passeio, Lapa, Russell e Flamengo, até a altura da Dois de Dezembro.
    Em 1894 experimentou-se a tração elétrica na Rua do Catete. Depois em 1896 foi estendida a eletrificação da Rua Pedreira da Candelária e Laranjeiras.
    Em 1903 começaram a circular os bondes de tração elétrica das linhas do Leme e da Vila Ipanema.
    Como a foto é posterior a 1906 dada a presença do Pavilhão Mourisco...

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    1. Você esqueceu da antiga Cia. E.Ferro da Tijuca, que funcionou entre 1898 e 1907 e seu ponto inicial era localizado na altura da Conde de Bonfim com esquina a Dr. Otávio Kelly. Ela fazia a ligação entre esse ponto e o Alto da Boa Vista. Essa linha foi extinta em 1907, e após a Light assumir a concessão, implantou um linha direta entre as Barcas e o Alto da Boa Vista.

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    2. Apesar da tentativa de instalar uma linha de bondes eletricos para o Alto da Boa Vista, isso deu em nada e o primeiro bonde eleteico rodou pela JB em 1892.

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  13. O trecgo de Botafogo da foto 5 seria entre as atuais São Clemente e Voluntários da Pátria? O Colégio Anglo Americano (?), atual arquivo da cidade, pode ser?

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  14. Quando eu era gente e viajava, costumávamos manter segredo e durante a viagem enviar cartões postais para parentes e amigos, que só então ficavam sabendo que estávamos batendo perna no mundo. Enviei muitos para minha mãe, padrasto e tios. Como todos já faleceram, peguei-os de volta e estão guardados aqui em casa.

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  15. Esse segredo custou uma amizade nossa. Era um casal que morava a um quarteirão lá de casa e com quem costumávamos ficar jogando até alta madrugada, na casa deles. Aí fizemos uma viagem e procedemos como citei no comentário anterior. Na volta, a amiga ficou brava conosco porque interpretou que não tínhamos dito nada antes porque achávamos que eles iriam sentir inveja de nós. Não adiantou minha ex esclarecer o assunto. A amizade acabou.

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    1. Não se deve contar detalhes da vida pessoal indiscriminadamente. Você está certo. O mundo está repleto de energias negativas, e entre elas a inveja. Resumindo: "Olho grande não entra na China".

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    2. Acho que desta vez você não entendeu bem o "lance" de inveja,

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    3. Entendi. O receio está de ambos os lados, ainda que um deles seja inconsciente.

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  16. Uma vez esclarecida a diferença entre jardim francês e inglês, opto pelo francês. Não é à toa que Paris abunda de parques lindos e famosos.

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  17. Jardins, os franceses com certeza.
    Muito além dos jardins, da relação complicada entre França e Inglaterra:
    - Saída à francesa:
    A parte curiosa dessa história é o fato de, na França, a locução que expressa tal ação ser “filer à l’anglaise”, isto é, “sair à inglesa”.
    Antenor Nascentes garante, em seu livro “Tesouro da fraseologia brasileira” que tudo começou com o espanto dos franceses diante dos hábitos menos cerimoniosos adotados do outro lado do Canal da Mancha.
    “O inglês é um povo prático; dispensa cerimônias”, anota o filólogo brasileiro. Segundo ele, o espanto dos franceses com a saída à “l’anglaise” não demorou a virar fascínio, como é típico da relação de amor e ódio entre aqueles dois países.
    Diz Nascentes: “Este costume inglês (…) virou moda na França no século XVIII e da França passou a outras nações”. Surgiu assim o deslocamento geográfico que daria origem à nossa locução “sair à francesa”.
    - O vício inglês:
    A expressão francesa “le vice anglais” referia-se ao homossexualismo (e sadomasoquismo) como comportamento característico dos ingleses e também era frequentemente usada para significar qualquer falha ou fraqueza tipicamente inglesa.

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  18. Deu no RJ1 que o Rio "ganhou" mais uma praia, a "Prainha da Glória", no Aterro. Segundo o INEA a balneabilidade está em torno de mais de 80%. Alguém se arrisca?

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    1. Augusto, tenho ido a essa praia. Realmente está bem limpa.

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  19. A data fixada pelo carimbo no selo do quarto cartão-postal parece ser 14.1.08. O selo faz parte de uma série divulgativa da alegoria republicana e de figuras do início daquele período, com a única exceção de Pedro Álvares Cabral, no selo de valor facial de 50 réis. O selo em questão traz a efígie de Eduardo Wandenkolk, almirante, senador da República e ministro da Marinha, do primeiro governo republicano encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca. De cor vermelha possui o valor facial de 100 réis. Foi emitido entre 1906 e 1912, a partir de este ano foi substituído por um de cor rosa, no mesmo valor circulando até 1917. Toda esta série foi fabricada nos Estados Unidos, pelo American Bank Company.

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