Recebi um email de Eustáquio
Nardini contando que, quando criança morava no interior de Minas e tinha
de vir ao Rio para umas consultas anuais por conta de uma bronquite crônica.
Após as consultas o pai dele o levava para conhecer algum lugar.
Numa dessas vindas visitou um “Museu
de Cera” muito interessante para uma criança de 5 anos e que o marcou muito. Procurando
na internet acabou achando algumas informações sobre o referido museu, que foi
montado provisoriamente na Rua do Passeio entre 1956 e 1958.
Como não achou nenhuma
informação no “Saudades do Rio”, enviou algumas reportagens e fotos do referido
museu, perguntando se o “Saudades do Rio” tinha novas informações. Com a ajuda
do Gustavo Lemos, que enviou mais um excepcional trabalho do Cau Barata,
conseguimos mais algumas informações.
Desde já agradeço ao Eustáquio Nardini pela gentileza de enviar este tema.
Em 1955, após ser exibido no
Parque Ibirapuera, durante a Exposição do IV Centenário de São Paulo, com mais
de um milhão de visitantes, a Sociedade “Les Grands Musées”, de Paris, trouxe
para o Quitandinha um novo “Museu de Cera, com alguns quadros expostos em São
Paulo e mais outros inéditos. Para presidir a montagem veio o diretor dos “Grands
Musées”, o Sr. Tudor Procopiu, a bordo do navio “Bretagne”. Às 40 figuras de
cera exibidas em São Paulo foram acrescidos 22 quadros de autores célebres. Um destaque é o quadro de “Lady
Godiva”, reproduzido em tamanho aumentado, com 8 metros de profundidade,
havendo casas de 6 metros de altura.
Após este período no Quitandinha, o museu veio para o Rio, instalando-se na Rua do Passeio nº 84, entre o Cinema Plaza e o Automóvel Clube do Brasil, em um prédio cedido pela Prefeitura do Distrito Federal. Atualmente no local há um espaço vazio.
Anúncio publicado no "Diário de Notícias" informando que a inauguração do "Museu Tudor Procopiu" se daria em 14/07/1956.
Esta reprodução fotográfica
publicada no jornal “A Noite” em 16/07/1956 tem a seguinte legenda, aqui
resumida:
“Foi inaugurado ontem, perante
autoridades, inclusive D. Helder Câmara, arcebispo do Rio de Janeiro, o “Museu
de Tudor Procopiu”. O museu, instalado no pavilhão existente ao lado do Cinema
Plaza, foi inspirado na história, na religião, na literatura e nos grandes
pintores. Parte da renda será destinada à “Cruzada São Sebastião”. Na foto
vê-se D. Helder ao lado da figura de cera de Sua Santidade o Papa Pio XII.
O “Jornal do Brasil” de 23/10/1957
noticiou que o “Museu de Cera” virou “Museu de Arte”. Adicionou novos elementos
como vestimentas e figuras perfeitas em cera. Mais adiante, em algum momento, a exposição aparentemente se mudou para o prédio do Automóvel Clube do Brasil, no nº 90 da Rua do Passeio, como vemos neste anúncio.
Cena do filme “De pernas pro ar”,
rodado usando o prédio do museu. Estrelado por Ankito, Grande Otelo, Wilson
Grey, Renata Fronzi. O filme acompanha a saga de Benedito e Faísca, uma dupla
de amigos que trabalham como camelôs vendendo muamba e se envolvem, sem saber,
com um grande esquema de especialistas em assaltos a bancos.
Cena gravada no interior do "Museu Tudor Procopiu" para a comédia de Ankito.
Este colunista do "Correio da Manhã" não gostou nada do prédio erguido no local.
Mas, segundo o mesmo “Correio da Manhã”, o “Museu
Tudor Procopiu” recebeu elogiosos comentários da imprensa carioca, não só pelo
seu valor artístico, com também por seu espírito educativo.
A arte, em si mesma, é o mais
elevado veículo de educação dos povos através da emoção que a impressão do
belo.
Entre as atrações do museu temos o túmulo de Romeu
e Julieta com sua tristeza reinante, o pavor altamente revelado na face do
enterrado vivo, o fascinante das figuras lendárias, a pateticidade do
assassinato em Paris e a melancolia e resignação estampada em São Sebastião
santificado.
Também encontramos pedaços da
história do Brasil, contados ao vivo da cera, em que se vê Anchieta e Tiradentes
perpetuado com o gesto que o fez o mais humano dos heróis brasileiros.
Aspecto da Rua do Passeio nos anos 1950. Depois que se encerrou a
exposição o prédio deu lugar ao Teatro Cinelândia, em 1958, onde foi
apresentada a peça “Ladrão por engano”, com Eleonor Bruno e Luís D´Avila,
seguido de “Aí vem o show”, com Black-Out, Trio Nagô, Claudia Moreno e outros.
Vemos uma rara fotografia do "Solar do Conde da Barca", ao lado do Automóvel Clube do Brasil.
A história deste solar, é brilhantemente contada pelo Cau Barata nas imagens abaixo. O "Saudades do Rio" agradece ao Gustavo Lemos pelo envio e parabeniza o Cau Barata, grande historiador do Rio Antigo.
Aspecto 29/05/2024 11:40h - encontrei agora esta foto de 1962, mostrando o espaço vazio ao lado do Automóvel Clube do Brasil.