JOIAS DA PROPAGANDA (3), por Helio Ribeiro
Esta postagem é
continuação da publicada no sábado passado. Amanhã será postado o quarto grupo
de propagandas, encerrando esta série.
Ao contrário das duas
postagens anteriores, em que procurei destacar os autores dos comerciais,
nessas duas que ora inicio me concentrei em descrever os produtos e seus
fabricantes, quando consegui informações sobre eles. São histórias muito interessantes
e que gostei bastante de conhecer. Espero que vocês, idem.
Tive dificuldade de
encontrar vídeos para essas duas últimas postagens, pois os mais conhecidos e
famosos já haviam sido publicados nos dois últimos sábados. Devido a
insistentes pedidos, dei prosseguimento à série acrescentando mais algumas
propagandas sugeridas por ilustres comentaristas, além de outras que consegui
coletar.
INSETISAN
Especializada em
controle de pragas, sanitização e higienização de reservatórios de água, desde
1952 liderando esse mercado. O telefone do comercial abaixo foi o que mais
marcou as propagandas, porém ao longo do tempo esse número mudou várias vezes.
Atualmente é 2569-6969.
CALÇAS
FAR-WEST
Em 1948 uma empresa
paulista, de nome “Roupas AB”, lançou a primeira calça brasileira feita de brim
azul e grosseiro, batizando-a com o nome Rancheiro.
Não deu certo. Anos depois a Alpargatas lançou sua calça de nome Rodeio, confeccionada com um tecido azulão
grosso chamado Brim Coringa. Só em
1956 a mesma Alpargatas lançou sua nova versão desse tipo de calça, agora com o
nome de Far-West. O baixo preço
ajudou e o sucesso veio rápido.
Era o jeans brasileiro, já que o americano só
aportou aqui tempos depois, com o nome Levi’s.
Dizia a propaganda que o brim coringa não encolhia nunca. Mas há muitos relatos
em contrário, inclusive quanto a desbotar.
Inicialmente esse tipo
de calça só era usado por homens. Apenas nos anos 1960 passou a ser usado
também pelo público feminino.
Antes usado apenas para
o trabalho, em virtude de seu tecido resistente, depois passou a ser traje do
dia-a-dia de jovens e adultos, independente de sexo.
BICICLETAS
CALOI
Fundada pelo italiano
Luigi Caloi em 1898, no início apenas importava bicicletas da Europa, que eram
usadas pelos elegantes senhores e senhoras paulistas, numa época em que ainda
não havia automóveis no Brasil.
A Segunda Guerra trouxe
dificuldades de importação e a Caloi resolveu montar uma fábrica no bairro do
Brooklin, em São Paulo, no ano de 1945. Foi a primeira fábrica de bicicletas no
país.
Em 1972 a empresa
lançou o modelo Caloi 10, primeira bicicleta no país do tipo esportivo com dez
marchas e guidão rebaixado.
Em 1975 a Caloi inaugurou
outra fábrica, agora no Polo Industrial de Manaus, e lançou o modelo Mobylette,
outro sucesso de vendas.
Em 1978 lançou a primeira
peça da famosa propaganda que será mostrada abaixo e que eternizou o bordão “Não
esqueça a minha Caloi”, lembrado e usado até hoje pelos que viveram aquela
época. O garotinho era chamado de Zigbim. Neste ano também foi lançado o modelo
Caloi Ceci, para o público feminino.
Nos anos 1990 foi inaugurada
a fábrica na Flórida, EUA.
Em 2013 a Caloi passou
a fazer parte da Dorel Sports, a divisão de bicicletas da empresa canadense
Dorel Industries Inc. Em 2017 a Dorel assumiu a gestão da Caloi.
DUCHAS
CORONA
Nos anos 1960 a Corona
teve a ideia de lançar um chuveiro feito de plástico de engenharia, na época
usado apenas em baldes, mamadeiras, etc. Isso tornou o produto bem acessível às
camadas mais baixas da população e as vendas explodiram.
Em 1972 a Corona encomendou sua primeira propaganda de rádio e TV à agência Marcel’s. Esta repassou o briefing à Publisol, uma das maiores produtoras de som de São Paulo. A encomenda caiu nas mãos de Francis Monte (nome artístico do músico Francisco Monteiro). Música pronta, Francis a apresentou ao staff da agência, que a recusou porque começava com “Apanho o sabonete....”, dando a impressão de que era propaganda de sabonete e não de um chuveiro. Um amigo de Francis, que o havia indicado para a agência, ficou inconformado com a recusa e levou a propaganda ao dono da Corona, Amilcar Yamin, que adorou a música e a aprovou imediatamente, transformando-a na trilha sonora de todos os demais comerciais da empresa pelos doze anos seguintes.
Muito tempo depois a
empresa tirou do ar a campanha, pois havia sofisticado outros produtos e achava
que a música associava a marca às camadas mais baixas da população. Porém um
levantamento mostrou que isso não era verdade e todas as camadas a aceitavam
bem. Assim, a Corona manteve a campanha no ar.
ESSO
A Esso é o nome
comercial da Exxon Mobil Corporation e de suas empresas relacionadas. Esso é
resultado da pronúncia da abreviação de Standard Oil (SO).
Ela se instalou no
Brasil em 17 de janeiro de 1912, com o nome de Standard Oil Company of Brazil,
vendendo gasolina e querosene em latas e tambores.
A Esso foi a primeira
empresa a patrocinar um programa jornalístico no país, o Repórter Esso, sendo por isso uma das pioneiras na publicidade
brasileira.
O comercial de TV abaixo
é um dos mais antigos da empresa. Notem que as duplas de bonequinhos sempre
destacam a grande diferença entre os países que eles representam, seja em
termos de geografia, seja em termos culturais.
O Nycron foi um produto
lançado em 1961 pela Sudamtex – S.A. Cotonifício Gávea, inaugurada em 1921 e com
fábrica instalada na rua Marquês de São Vicente, número 83. Era uma empresa de
capital americano fabricante de tecidos sintéticos. Faliu em meados da década
de 1980, não só no Brasil como também na Venezuela e Uruguai.
Houve uma época em que
abundavam no mercado tecidos sintéticos como Nycron, Tergal, Ban-Lon, Lycra.
O comercial abaixo é de
1968, produzido pela Lynxfilm. A propaganda do Nycron se notabilizou pelas frases “senta, levanta, senta, levanta” e "não amarrota nem perde o vinco".
Q-SUCO
O Q-Suco tem uma
história incrível. Sua origem é americana, remontando ao ano de 1922, quando o
casal Edwin e Kitty Perkins, no Estado do Nebraska, lançaram um suco
concentrado, pronto para beber. O produto era vendido em garrafas de vidro, sob
o nome Fruit Smack. Foi um fracasso,
pois o custo de distribuição era alto e muitas garrafas se quebravam no
transporte. Em 1927 Edwin teve a ideia de retirar a água do produto e
transformá-lo em pó, o que reduziu drasticamente o custo e as perdas de
transporte. O produto foi batizado de Kool-Ade
e inicialmente só era distribuído dentro do próprio Estado do Nebraska. No
ano seguinte, passou a ser distribuído nacionalmente. Tinha seis sabores:
laranja, framboesa, uva, morango, limão e morango.
Em 1934 o produto foi renomeado para Kool-Aid e registrado oficialmente. Nessa
época o mundo passava por grande recessão econômica, o que levou Edwin a
reduzir o preço do produto de 10 para 5 centavos de dólar. As vendas
explodiram.
Em 1953 a empresa e a
marca foram vendidas para a General Foods.
Em 1954 foi criada a
mascote da marca, um jarrinho sorridente cheio de suco e com alguns cubos de
gelo.
Em 1961 o produto foi
lançado no Brasil com o nome de Q-Suco, feito pela Kibon, que também pertencia
à General Foods. Em algum momento na segunda metade dos anos 1970 o nome mudou
de Q-Suco para Ki-Suco. Por sinal, esse nome já tinha sido utilizado pela
Kibon, tendo sido registrado em 12/11/1951.
Um envelope dava para
dois litros de suco, porém exigia duas xícaras cheias de açúcar, além de gelo à
vontade, para ficar pronto.
Na década de 1980 o
Ki-Suco era um sucesso de vendas. Também nessa época a General Foods se fundiu
com a Kraft, dando origem à Kraft Foods, o que levou a marca para o portfólio dessa
empresa. O produto teve uma nova versão, que já vinha adoçada.
Com o passar dos anos e
com o aparecimento de concorrentes, o Ki-Suco saiu do mercado brasileiro, porém
nos EUA o Kool-Aid continuou a ser
vendido.
Em 2017 o Ki-Suco
retornou ao mercado, com nova fórmula e com os sabores laranja, maracujá, uva,
limão, morango e abacaxi. Porém no ano seguinte foi novamente retirado de venda
e comprado pelo grupo brasileiro Enova Foods, que o relançou em 2021, com nove
sabores, sendo os seis originais e mais manga, groselha e mix de frutas. Mas
hoje em dia o produto não tem relevância no Brasil.
SABONETE
LUX
Apesar de “Lux”
significar “luz” em latim, a origem do nome não é essa, e sim uma abreviação da
palavra luxury (luxo). O sabonete Lux foi lançado no mercado americano
em 1925, época em que ainda se usava sabão para o banho diário. A fabricante
era a Lever Brothers, que quatro anos depois seu origem à multinacional
anglo-holandesa Unilever. A campanha publicitária lançou mão das divas do
cinema, além de ser um produto bem mais barato que os concorrentes importados
da França, comuns na época.
Foi lançado no Brasil
em 1932, sob o nome Lever. Mas o
produto não foi bem sucedido, pois na época o segmento de higiene e beleza
estava engatinhando no Brasil, onde ainda era mais usado o clássico sabão. Na
década de 1940 a Lever criou um grupo de demonstradoras para percorrer o país e
convencer as mulheres a usar o novo sabonete. Eram conhecidas como Senhorinhas Lever. Graças a isso, na
década de 1950 a marca já estava consolidada no país.
Em 1963 o nome mudou de
Lever para Lux. A marca ainda hoje é líder de mercado no Brasil.
TODDY
Em 1916 um furacão
mudou a vida do imigrante espanhol Pedro Erasmo Santiago, que viu a plantação
de cacau da família ser devastada em Porto Rico. Ele e família resolveram então
emigrar para os EUA. Pedro achou emprego como limpador de banheiros.
No início de 1919 o jovem
empreendedor americano James Willian Rudhard desenvolveu uma bebida inspirada
em duas outras: uma de origem escocesa e outra de origem caribenha. A nova
bebida podia ser tomada quente ou fria e tinha como ingredientes principais
leite e chocolate, e algum tempo depois foi identificada no mercado com o nome
Toddy. O produto foi muito bem aceito e as vendas aumentaram ano a ano.
James resolveu expandir
a marca para outros países, porém descobriu que isso não era tão fácil assim e
achou melhor negociar o direito de uso da marca Toddy. Em 1928 Pedro Santiago
era funcionário de James e adquiriu o direito de uso da marca para a América
Latina. Dois anos depois o produto foi lançado nos mercados mexicano e
argentino, fazendo muito sucesso junto ao público infantil.
No dia 15 de março de
1933 Pedro conseguiu autorização para comercializar o produto em território
brasileiro. Até aviões foram contratados para escrever a marca Toddy com fumaça
nos céus das cidades, tornando-a conhecida pela população. Porém desde o início
o Toddy enfrentou acirrada concorrência com seu similar Nescau, na época
escrito como Nescao, criado em 1932 pela Nestlé.
Na década de 1940 a
marca foi introduzida na Venezuela, fazendo muito sucesso. Mais tarde também
foi comercializada no Uruguai, Portugal e Espanha, além de Cuba e nas ilhas
caribenhas.
Durante décadas foram
feitas várias promoções ligadas ao consumo da bebida, como brindes, bonecos,
vestimentas de índio e índia, etc.
A marca ficou sob controle
da família Santiago até 1981, quando foi vendida para a Quaker, que no ano
seguinte lançou o famoso Toddynho.
Em 2001 a Pepsi Co.
adquiriu a Quaker e todo o seu portfólio. A partir daí foram lançadas inúmeras
variedades e novos produtos baseados no Toddy, como Toddy Light e biscoitos.
Em 2002 a Pepsi lançou
propagandas associando o Toddy a vaquinhas, que passaram a ser as mascotes da
marca até hoje.
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