LOCUTORES E APRESENTADORES (Primeira parte), por Helio Ribeiro
A postagem de
13/05/2023 versou sobre programas de auditório e naturalmente citou seus
apresentadores, de passagem. A postagem de hoje é dedicada a alguns deles.
César Rocha Brito Ladeira nasceu em Campinas e iniciou a carreira em 1931. Ainda estudante de Direito, foi convidado pela Rádio Record para fazer um teste e, em vez de ler anúncios, proferiu um discurso contra Getúlio Vargas, ditador da época. Foi contratado não só por isso como por sua bela voz.
Durante a Revolução
Constitucionalista de 1932, a Record juntou-se à Mayrink Veiga para realizar
programas políticos, e César Ladeira era o locutor encarregado de fazer
veementes discursos contra o governo e exortar a população à revolta. Vencido o
levante, César Ladeira acabou preso, ocasião que aproveitou para escrever o
primeiro livro sobre rádio.
Em 1933 foi contratado
pela Mayrink Veiga como locutor e diretor artístico, mudando-se então para o
Rio de Janeiro.
Em 1948, já na Rádio
Nacional, estreou o programa “Seu criado, obrigado”, levado ao ar durante 10
anos, ao lado de Daisy Lúcidi.
Em 1956 foi fundador e
diretor da Rádio Relógio do Rio de Janeiro.
Morreu de hemorragia
cerebral em 1969.
CÉSAR
DE ALENCAR (06/06/1917 – 14/01/1990)
Hermelindo César de Alencar Mattos nasceu em Fortaleza e começou sua carreira em 1939, na emissora carioca Rádio Clube do Brasil, tendo passado para a Rádio Nacional em 1945, onde atuou em comerciais e narrações, com pequenas participações em radionovelas.
Com a saída de Paulo
Gracindo, passou a ter seu próprio programa aos sábados, tornando-se este a
maior atração da emissora, onde contava com a participação de Emilinha Borba.
A música de entrada do
programa fez história: "Essa canção nasceu pra quem quiser cantar / Canta
você, cantamos nós até cansar. / É só bater, e decorar / Pra recordar vou
repetir o seu refrão / Prepara a mão / Bate outra vez / Este programa pertence
a vocês".
O auditório lotava durante
a apresentação do programa.
A partir de 1948 gravou
vários discos e compôs algumas músicas. Em 1954 inaugurou em Copacabana a casa
noturna “A Cantina do César”, onde se apresentaram grandes nomes da Rádio
Nacional.
Na TV Excelsior, foi o
apresentador do Programa César de
Alencar.
Com a instalação do
regime militar em 1964, César de Alencar foi acusado de delatar vários colegas
da Rádio Nacional. Embora sempre tivesse negado isso, em depoimento prestado
por ele em 25 de maio de 1964 junto à Diretoria de Costa e Artilharia Antiaérea
ele reclamou de colegas esquerdizantes na emissora, citando vários deles. E na
Revista do Rádio de 16 de maio de 1964 ele deu uma entrevista comprometedora,
colocando-se ao lado da “defesa de democracia”.
Após esses fatos, sua
carreira declinou, seu programa da Rádio Nacional foi extinto e mesmo suas
tentativas posteriores de retornar à carreira artística deram em nada.
Morreu no ostracismo.
CHACRINHA
(30/09/1917
– 30/06/1988)
José Abelardo Barbosa de Medeiros, pernambucano de Surubim, teve uma vida merecedora de várias laudas. Aqui se encontra um resumo dela.
Carreira
Em 1936, aos 19 anos,
ingressou na Faculdade de Medicina de Pernambuco e no ano seguinte teve seu
primeiro contato com rádio, ao dar uma palestra sobre alcoolismo na Rádio Clube
de Pernambuco.
Após vários eventos, em
1939 resolveu embarcar para a Alemanha a bordo de um navio. Porém o início da
II Guerra o fez desembarcar na capital federal, onde se tornou locutor da Rádio
Tupi.
Em 1943 lançou na Rádio
Clube Fluminense o programa de marchinhas carnavalescas Rei Momo na chacrinha, que fez muito sucesso e a partir daí ele
passou a ser conhecido como Abelardo
“Chacrinha” Barbosa.
Nos anos 1950 lançou o
programa Cassino do Chacrinha, onde se
apresentavam músicas de sucesso na época.
Em
1956 estreou na televisão com o programa Rancho de Mister Chacrinha na TV
Tupi, uma série de faroeste infanto-juvenil, na qual interpretava o papel do
xerife. Naquela mesma emissora começou a fazer também a Discoteca do Chacrinha. Na década de
1960 seu programa foi exibido nas TV's Paulista, Rio e
Excelsior e em 1967 foi contratado pela TV Globo. Chegou a fazer dois
programas semanais: Buzina do Chacrinha, no qual apresentava
calouros, distribuía abacaxis e perguntava "Vai para o trono ou não
vai?", e Discoteca do Chacrinha. Cinco anos depois voltou para
a Tupi. Em 1974, teve uma breve passagem pela TV Record, retornando em seguida
para a Tupi. Em 1978 transferiu-se para a TV Bandeirantes e em 1982
retornou à Globo, onde ocorreu a fusão de seus dois programas num só, o Cassino do Chacrinha, que fez grande
sucesso nas tardes de sábado.
Ganhou o apelido de
“Velho Guerreiro” em virtude de uma música de Gilberto Gil que o citava assim.
Frases e bordões
Criou frases e bordões
que se tornaram famosos, como “Vocês querem bacalhau?”, “Quem não se comunica
se trumbica”, “Terezinha!” e “Eu vim para confundir, não para explicar”.
Origem do “Vocês querem
bacalhau?”
As Casas da Banha eram
seu patrocinador na TV Tupi e as vendas de bacalhau haviam encalhado. Ele então
teve ideia de criar a frase “Vocês querem bacalhau?”, após o que atirava peças
do peixe para o auditório, que as disputavam a tapa. As vendas explodiram.
Morte
Chacrinha tinha câncer
de pulmão e morreu de infarto do miocárdio e insuficiência respiratória no dia
30 de junho de 1988.
JAIR
DE TAUMATURGO (28/02/1918 – 04/09/1970)
OBS: Quase não há informações sobre ele na Internet. Inclusive a data de nascimento apresenta contradições: alguns sites citam o ano de 1918 e outros 1920.
Como radialista na
Mayrink Veiga, apresentava o programa Alô,
Brotos, destinado a cantores de rock. Por isso é considerado muito
importante para a Jovem Guarda, assim como Carlos Imperial, que tinha um programa
concorrente, chamado Brotos no 7.
Posteriormente, já na
TV Rio, apresentou os programas Festa do
Bolinha e Hoje é Dia de Rock, ambos
famosos na época, e neles possibilitou a fama de cantores como Roberto Carlos,
Wilson Simonal, Erasmo Carlos, Cely Campelo, Ronnie Cord e muitos outros.
Curiosidade: um dia foi
apresentado a Jair um conjunto chamado “Bacaninhas do Rock da Piedade”. Ele não
gostou desse nome e rebatizou o conjunto como “Renato e Seus Blue Caps”. E com
esse nome o grupo fez muito sucesso.
Em agosto de 1970
sofreu um infarto agudo do miocárdio e faleceu em 4 de setembro.
LUIZ
JATOBÁ (05/01/1915 – 09/12/1982)
Alagoano de Maceió, Jatobá se formou em Medicina. Tinha uma voz privilegiada, grave e cavernosa. Em 1940 foi convidado para ser locutor da CBS (Columbia Broadcasting System) em Nova Iorque, onde era o brasileiro que transmitia notícias sobre a II Guerra Mundial e apresentava trailers para a Metro Goldwyn Mayer.
De volta ao Brasil, foi
para a TV Globo, onde era o locutor do Jornal
da Globo, junto com Hilton Gomes e Nathalia Timberg. Comandou a primeira
edição do Jornal Hoje, ao lado de Léo
Batista. Durante o governo militar sofreu perseguição, retornando aos EUA e
retomando a narração de trailers cinematográficos.
Era sua a voz cavernosa
que se ouvia durante a exibição de trailers nos cinemas brasileiros. Também
narrava parte do noticioso Hora do
Brasil.
Durante 45 anos atuou
no rádio brasileiro, época em que esse era o meio de comunicação mais usado no
país. Influenciou na geração de muitos locutores não apenas de rádio mas também
de TV, cinema e vídeo. Sua voz era considerada uma das mais célebres no
continente americano e certamente era o timbre masculino mais famoso no Brasil.
------------- FIM DA POSTAGEM -----------
O "Saudades do Rio" agradece a colaboração do Helio Ribeiro.