Localizava-se na Rua
General Bruce (esquina com a Rua Santa Catarina, atual Rua Esberard), junto ao
Campo de São Cristóvão. Manteve-se ativa até 1940. Fabricava vidros (foi a
primeira grande fábrica de vidros do país) para lampiões, janelas, copos e
artigos de mesa. Importava máquinas da Europa para fabricar garrafas e frascos.
Seu cristal era comparado ao da tracional Bacarat.”
Fui dar uma pesquisada e
descobri que a Fábrica era propriedade de François Antoine Marie Esberard e, segundo o "Correio da Manhã", situava-se na Rua General Bruce número 1 e 6.
Em 1905 o repórter do “Correio
da Manhã” assim descreveu uma visita a esta fábrica:
“Marcava o nosso relógio exactamente
10 horas da manhã quando saltámos no ponto terminal dos bondes de S. Luiz
Durão, em frente ao novo edifício da Intendencia Geral de Guerra, na praia de São
Christovão; um minuto após penetravamos, pelo largoportão do lado da rua
General Bruce, na importante fabrica de louça, objectos de vidros e crystaes.
O dia amanhecera triste,
carrancudo, o céo coimado de grossas placas cinzentas e os morros, ao longe,
enrodilhados em brumas ameaçadoras.
No mar, levemente frisado
pela aragem, esbatiam-se as velas das embarcações pondo manchas escuras no
espelho faiscante das aguas; pela praia, entre o ruido rytmado das machinas de
serrarias e fabricas, o fervilhar de dezenas de pessoas demandando a parte
central da cidade.
Dentro da fabrica, num
largo olhar de conjunto e synthese impressionista, sentimos a sensação de que
penetravamos num estabelecimento modelar, tal a ordem, um quér que seja
tranquillo e harmonico no meio do borborinho natural de uma grande manufactura.
O sr. Esberard, activo e
diligente, andava pelas oficinas inspecionando, na faina diaria; avisado,
porém, de nossa presença, veio presto, sorridente e cavalheiroso, o sympathico
rosto emoldurado no alvor cuidada da barba.”
A extensa reportagem
segue descrevendo toda a fábrica e termina com o seguinte parágrafo:
“Era 1 hora da tarde
quando no portão da fabrica apertámos, em despedida, a mão do honrado
industrial que é o sr. Esberard, dando-lhe os nossos parabens pela excellencia
do seu estabelecimento fabril e gratíssimos á fidalga distincção com que tratou
o representante do Correio da Manhã”.
Transcrevo informações
obtidas na Internet: “As primeiras peças de vidro fabricadas no Brasil foram
produzidas por vidreiros da Holanda que chegaram ao país com Mauricio de Nassau
em 1637. Os holandeses conquistaram militarmente a então capitania de
Pernambuco em 1630 e por lá ficaram até 1654, quando foram expulsos pelos
portugueses. Nassau administrou a região de 1637 a 1643. Com o seu retorno para
a Europa, a nascente indústria do vidro desapareceu.
Só no final do século 19 pode-se dizer que, efetivamente, foi introduzida a fabricação de vidro em moldes industriais: em 1878, François Antoine Marie Esberard fundou, no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, a fábrica Vidros e Crystaes do Brasil. Nessa indústria, com a modernização dos processos fabris, eram fabricados desde garrafas até serviços de mesa em cristal com qualidade comparável ao produto europeu.
Em São Paulo, em 1895, foi fundada a Vidraria Santa Marina para a produção de garrafas. Desde então, com a crescente industrialização do Brasil, diversas fábricas de vidro foram sendo implantadas principalmente em São Paulo.
Hoje
existem centenas de transformadoras de vidro no Brasil, mas somente quatro
empresas fabricam a matéria-prima, ou seja, o vidro plano: Cebrace, AGC Brasil,
Vivix e Guardian Glass.”
PS: o nosso prezado Lino Coelho não trabalhou na CISPER - Companhia Industrial São Paulo e Rio de Janeiro, fundada em 1916 por Olavo Egydio de Souza Aranha Junior e Alberto Monteiro de Carvalho?
Como a língua portuguesa era bem usada antigamente. Nessa reportagem temos uma bela amostra.
ResponderExcluirO mundo mudou com o advento do plástico. Tornou as embalagens mais práticas mas surgiu o problema do descarte e da poluição. Impressionam muito aquelas imagens das gigantescas ilhas de plástico nos oceanos.
Por outro lado como era chato ter que devolver os cascos de garrafas de cerveja e refrigerantes.
Postagem sensacional. Houve então, pelo menos, três iniciativas na produção de vidro, a dos holandeses, a do Sr. Esberard e a moderna, será que houve outra?
ResponderExcluirDas quatro fábricas de matéria prima citadas, três ficam no estado de São Paulo e uma em Pernambuco, a Vivix.
ResponderExcluirCada estabelecimento comercial tinha uma historia familiar. O linguajar bem típico de época tranquila. Postes de energia elétrica, mas veículos de tração animal. O "apito da fábrica" regulava o horário do bairro as vezes. De copos, lembro da Nadir Figueiredo. Quanto aos Monteiro & Aranha, a sociedade de origem era outra....
ResponderExcluirA expulsão dos holandeses provocou um atraso de um quarto de milênio na fabricação de vidros. Em que mais?
ResponderExcluirO trabalho com vidro remonta a milênios. Objetos desse material são encontrados em escavações antiquíssimas. Até hoje o artesanato em vidro é fonte de turismo em vários pontos do globo.
ResponderExcluirUm dos mais famosos é a ilha de Murano, "encostada" em Veneza.
ExcluirOs cristais belgas e da Boêmia também são famosos.
ExcluirBom dia, Dr. D'.
ResponderExcluirDia de acompanhar os comentários.
Bom dia Saudosistas. Falar da Industria Vidreira no Brasil, tem que se falar na Cisper e Olavo Egídio de Souza Aranha e Alberto Monteiro de Carvalho, seus fundadores e introduziram a fabricação automática de garrafas no Brasil.
ResponderExcluirA história na verdade vem um pouco antes, eles compraram a Vidraria Carmita (fundada por volta de 1905/6), passando a fabricar especificamente embalagens de vidro de boca estreita e boca larga, em 1949 foi inaugurada a fábrica da Cisper em SP, até hoje a maior fábrica de Vidro da América Latina, nos anos 60 a O-I Owens Illinois (maior fabricante mundial de embalagens de vidro) comprou cerca de 80% da Cisper, porém manteve o nome Cisper devido a grande referência da marca no mercado nacional, em 2000 obrigou a troca do nome para O-I Owens Illinois devido a crescente onda da globalização, em 2011 a O-I veio a comprar os restantes 20% que ainda pertenciam a família Monteiro Aranha.
Faleceu hoje Cid Moreira, uma das maiores vozes do tele jornais brasileiros.
ResponderExcluirPosso estar errado mas acho que ele fez aniversário por estes dias.
ExcluirTambém faleceu aos 93 anos o ex-prefeito Saturnino Braga.
O JN dos locutores Cid Moreira e Sérgio Chapelin fez parte de minha vida cotidiana ao longo de décadas.
ExcluirLi que o Cid Moreira apresentou diariamente o JN durante 26 anos consecutivos.
Você está certo, Augusto.
ExcluirEle completou 97 anos no domingo, 29 de setembro.
Pós JN, ficou marcado pela dublagem para a Globo dos programas do Mister M. E, claro, dos áudios de passagens da bíblia.
ExcluirBom dia.
ResponderExcluirHélio, pelo que entendi a fabricação de vidros acabou com a saída do Nassau, 11 anos antes da expulsão dos holandeses.
ResponderExcluirA americana Guardian tem uma unidade industrial em Porto Real, RJ.
Sim, mas só fabrica vidros planos.
ExcluirFalando de vidros, a seguir uma informação do tipo "você sabia" ?
ResponderExcluir“A principal diferença entre vidro e cristal é o tratamento e processo de fabricação dos materiais, que faz do cristal um sólido perfeito, com uma estrutura atômica regular, enquanto o vidro tem uma estrutura irregular.
O cristal contém óxido de chumbo, que lhe confere brilho, rigidez, sonoridade e delicadeza, sendo fabricado em uma temperatura mais baixa e com um processo mais lento do que o vidro, o que permite obter uma espessura mais fina e uma transparência limpa e mais perfeita.”
Cristal verdadeiro só é obtido em processo artesanal, e se verifica através do harmônico. os dados acima não são determinantes.
ExcluirAnônimo, é verdade que o vidro cristal contém óxido de chumbo adicionado e é fabricado ou manufaturado em temperaturas mais baixas e em um processo mais lento do que o vidro “comum” ?
ExcluirSe as respostas forem positivas, então a adição do componente e a temperatura & tempo de processo são determinantes.
A qualidade do material obtido, pelo que entendi de sua observação, pode ser aferida também pelas ondas estacionárias (harmônicos) originados por fenômeno de ressonância.
O óxido de chumbo pode ser adicionado também em vidro, dependendo da embalagem e sua finalidade, ele é usado em embalagens de perfume.
ExcluirO Senhor Esberard, " ... activo e diligente ... sorridente e cavalheiroso ..." de quem o repórter se despediu " ... dando-lhe os nossos parabens pela excellencia do seu estabelecimento fabril e gratíssimos á fidalga distincção com que tratou o representante do Correio da Manhã” ... deve ter sido um bom e fiel anunciante do jornal, antes e depois da publicação da reportagem.
ResponderExcluirMário, o cético?
ResponderExcluirA essa altura do campeonato sim, bem cético ...
ExcluirJá foi dito que o envelhecimento acentua defeitos (gostaria de acreditar que qualidades também) e reconheço sempre ter tido uma visão meio cética a respeito da vida e "dos outros" e isso não é bom, acho que as pessoas mais felizes são as que têm uma atitude mais benevolente em relação ao mundo.
(e, cá entre nós, em se tratando de imprensa ....)
Fora de Foco:
ResponderExcluirNunca fui fã ou sequer parei para ouvir músicas deles, mas conheço há muito tempo a dupla Zezé Di Camargo & Luciano.
Passeando no globo.com há pouco, descobri que :
O Zezé se separou da primeira mulher (há um tempão)
O Zezé casou-se com a "influencer" Graciele Lacerda. (não desconfio a quem e com o que ela influencia)
A "influencer" de 44 anos está grávida de uma menina.
Bom, parabéns ao casal, certo ?
Aí na sequencia da matéria vem a informação: "influenciadora fez um ensaio gestante para comemorar seu aniversário nesta quinta-feira (3)", seguindo-se as fotos do tal ensaio.
O "ensaio gestante", com maquiagem pesada, caras e bocas e trajes sumários, foi feito para ser divulgado pela mídia e alcançar o maior número de pessoas possível, não foi pensado como um conjunto de fotos que celebrasse e registrasse um momento único e familiar.
Não sou pudico nem moralista e este comentário quer chamar a atenção para outras duas coisas: a necessidade das pessoas de exposição/mídia a qualquer custo e o tremendo mau gosto e falta de noção que vem a reboque.
O Brasil já esteve melhor porque no passado "cada um conhecia o seu lugar". Hoje em dia "ninguém mais conhece".
ExcluirMário, não há mais como se surpreender com as atitudes desse "pessoal" , principalmente os "breganejos", pois suas principais características são o desejo de aparecer na mídia à qualquer custo, a cafonice e a falta de noção que vc destacou. Celebração e registro de momento marcante e familiar ? Exatamente está aí: a total falta de noção do ridículo !
ExcluirEstá acontecendo a segunda rodada da Europa League e vi a goleada da Lazio sobre o Nice (cujo capitão era o Dante - aquele do 7X1) por 4X1 em um Estádio Olímpico de Roma bem castigado pela chuva. Até parecia alguns estádios tupiniquins. Ontem, pela Champions, Real e Bayern perderam para Lille e Aston Villa, respectivamente. O Benfica do ex-técnico do Botafogo Bruno Lage goleou.
ResponderExcluirAlgumas camisas famosas estão tendo problemas com a nova versão da Champions.
ExcluirE a via crucis do Manchester United continua, fez 2 a 0 no Porto, levou a virada e conseguiu empatar no finalzinho ...
ExcluirO plástico trouxe praticidade e acessibilidade, mas como não existe o melhor dos mundos o plástico é menos acéptico do que o vidro, visto que possui maior rugosidade (numa imagem microscópica percebe-se micro poros na superfície dos utensílios plásticos, tornando-o abrigo de micróbios). Outro problema, ultimamente muito comentado, é a poluição dos rios e mares, mas isso tem uma explicação simples, isso muito pouco comentado: os plásticos em geral, seja polietileno, polipropileno, policarbonato, PVC e outros, possui uma densidade em torno de 0.9, muito próximo da densidade da água. Ou seja, o dito cujo nem bóia nem afunda completamente.
ResponderExcluirMeu pai no início dos anos 70 chegou a dizer que vivíamos na "era do plástico"; realmente nas décadas de 60 e 70 houve uma "invasão" de materiais plásticos em nossas vidas.
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