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segunda-feira, 2 de setembro de 2024

PONTO FINAL DO BONDE ÁGUAS FÉRREAS

Com uma bela foto de Malta vemos hoje o ponto final do bonde Águas Férreas", da linha 3, que fazia o seguinte trajeto: Tabuleiro da Baiana, Senador Dantas, Luis de Vasconcelos, Mestre Valentim, Augusto Severo, Largo da Glória, Catete, Pedro Américo, Bento Lisboa, Largo do Machado, Laranjeiras, Cosme Velho.

Esta linha é bem antiga. Já em 1876 a "Botanical Garden", estendia a linha de bondes de Laranjeiras até a Bica da Rainha, no Cosme Velho. Poucos anos depois, em 1883, a "Cia. Jardim Botânico" ainda levou a linha de bonde mais adiante.

Durante muito tempo "Águas Férreas" foi entendido como uma espécie de bairro. O morador das Águas Férreas não era morador de Laranjeiras ou Cosme Velho.

FOTO 1: Malta nos mostra o ponto final do bonde "Águas Férreas". O texto abaixo, talvez de Machado de Assis, descreve o início da semana de um morador do bairro:

“Fazia frio naquela manhã de segunda-feira na simpática casa da Ladeira da Ascurra quando o despertador tocou. Um rápido olhar para confirmar que Lygia ainda dormia e se arrumar rápido para não perder o “Águas Férreas” das sete e pouco.

Só poderia comprar o “Correio da Manhã” na parada do Largo do Machado e o pequeno jornaleiro, com a sacola cheia, passasse ao lado do bonde. Até lá iria apreciando o casario da Rua das Laranjeiras, a Bica da Rainha, a estação do bondinho do Corcovado. Só tiraria os olhos do jornal para a habitual olhada para ver o movimento para a missa das 8 horas na igreja de N.S. da Glória e, também, o do Lamas, mas segunda-feira era sempre meio deserto. 

Passaria indiferente em frente ao Palácio, porém não deixaria de apreciar a magnífica Praça Paris e verificaria se o relógio da Glória estava funcionando. 

Lia apressado o final da reportagem, pois tinha que descer no Hotel Avenida para ir tomar café no seu bar predileto. Tomaria cuidado para não sujar a roupa, como tinha acontecido na última semana. Não queria ouvir reclamação de Lygia. 

“Seu” Antonio traria a média com café com leite e o papo sobre o fim-de-semana iria até a hora do salão de barbeiro abrir e “seu” Agostinho afiar a navalha para caprichar na barba. 

Aí estaria pronto para enfrentar a semana.”


FOTO 2: Detalhe da foto de Malta. Neste tranquilo local o bonde "Águas Férreas" fazia o retorno em direção ao Tabuleiro da Baiana.


FOTO 3: Nesta outra foto de Malta, vemos a Rua do Catete por volta de 1920. Este local, o Largo do Valdetaro, ficava perto do Palácio do Catete. A largura do largo permitia esse refúgio. Na realidade não havia pista exclusiva para os bondes. Neste trecho, segundo o Decourt, eles apenas faziam o traçado com menos inflexão acabando por passar bem tangente ao largo. Não sei se nos anos 40, quando os refúgios começaram a ser retirados os trilhos foram reposicionados, mas é uma possibilidade.

Vemos a tranquilidade da vida carioca daquele tempo, com os passageiros comodamente sentados no bonde, alguns lendo o jornal do dia. Uma senhora calmamente sobe os estribos, sem nenhuma preocupação. 

O bonde "Águas Férreas", de número 108, tinha duas tabuletas na frente: uma com o itinerário "Via Cattete, Laranjeiras, Cosme Velho". A outra, com um anúncio onde está escrito "TENNIS, um dos cigarros da Cia. Souza Cruz. E o maço custava 200 réis. 

À esquerda vemos os infatigáveis Lulu & Dudu na labuta diária.

21 comentários:

  1. Invejo a viagem do marido da Lygia descendo pela rua das Laranjeiras, lendo o jornal, cumprimentando os outros passageiros conhecidos, pagando a passagem para o condutor, observando o motorneiro, tomando uma média no bar do hotel Avenida.

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  2. " ...segunda-feira na simpática casa da Ladeira da Ascurra ..."
    Meus filhos frequentaram no início dos anos 90 uma excelente creche - Dedo Mindinho - que ficava em uma simpaticíssima casa na Ladeira do Ascurra.
    Sinal dos (ainda bons) tempos, era uma região tranquila.

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  3. Bom dia, Dr. D'.

    Minha primeira ida ao Cosme Velho foi há alguns meses. Sempre foi "contramão" para mim até recentemente. Vou acompanhar os comentários.

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  4. Bom dia Saudosistas. Belas fotografias com ótima qualidade, texto de lembranças dos tempos que não voltam mais, andar de bonde, ler jornal na condução, não sei se ainda tem missa as 8:00 da manhã na Igreja de N. Sra. da Glória segunda-feira e o Lamas mudou de lugar, hoje não o veria no trajeto.

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    1. A sumida Tia Nalú poderia confirmar a hora da missa. Dessa e de todas as demais igrejas das Laranjeiras, a jurisdição dela.

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  5. O cronista cita a Praça Paris, o que elimina o Machado de Assis como possível autor do texto.

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    1. Bem observado. A Praça Paris é posterior à morte de Machado de Assis.

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  6. Eu e toda a família estivemos no Corcovado, muito provavelmente em maio de 1963, já que parece nas fotos que tenho que minha tia e o então marido eram recém casados. Mas como eu era muito pequeno não consigo lembrar se andamos no bonde Água Férreas.

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    1. Paulo, os bondes da Zona Sul deixaram de circular de vez em 21 de maio de 1963. Não sei quando a linha Águas Férreas foi extinta, porque a extinção das linhas foi gradual.

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    2. Você certamente não andou no bonde Águas Férreas. Os bondes da Cia. Jardim Botânico (zona sul) foram erradicadas a partir de 02 de Setembro de 1962 com a extinção das linhas da Praia Vermelha e da Urca e as linhas que trafegavam pelo Túnel Novo foram desviadas para o Túnel Velho. Em 1° de Março de 1963 foram extintas as linhas em direção à Copacabana e Ipanema. A partir daí e até 21 de Maio de 1963, apenas cinco linhas, inclusive temporárias e de percurso encurtado, circularam entre Botafogo, Humaitá, e Gávea. Os bondes para o Cosme Velho já tinham sido erradicados entre Setembro de 1962 e Março de 1963, já que a garagem da Light do Largo do Machado era utilizada pelos "Trolley-buses' desde Setembro de 1962 e não teria como abrigar bondes oriundos do Cosme Velho.

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    3. Tá certo, de bonde seria meses antes do casamento da minha tia.

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  7. Hoje começou a rodar uma linha de ônibus ligando o Largo do Machado ao Jardim de Alah, passando pelo Cosme Velho. Linha 585.

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    1. Deve vir "substituir" as linhas 569 e 570, que que faziam o trajeto Largo do Machado - Leblon, eram as únicas da Zona Sul que circulavam pelo túnel Rebouças e que foram encerradas pela Prefeitura em maio sem aviso.

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    2. Boa noite!

      As linhas circulares, Cosme Velho - Leblon, 583 e 584 não existem mais?

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    3. Sim, mas não circulam pelo Rebouças.

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    4. Bom dia!

      Obrigado pela resposta Mário.
      Lá pelos anos 70, estava indo em direção ao Leblon, num dos dois, quando ao passar pela Praia de Botafogo, entra um turista (à época o ingresso era pela porta traseira) e pergunta ao cobrador, um garoto, se passava no Cristo Redentor. Respondeu que sim e cobrou a passagem liberando a roleta. Assim que o turista se afastou um pouco, o cobrador se virou para mim que estava no fundo do veículo e sussurou rindo: -Só que vai demorar um pouco...
      Pura maldade, era só ter indicado ao turista que atravessasse a rua e pegasse a outra linha.

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  8. No local da primeira foto passa o viaduto do Túnel Rebouças.

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  9. Na Foto 2 uma cena comum para a época: os meninos (pobres) estão descalços, calçados se houvesse - era só para ocasiões especiais.

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  10. Em compensação as vestimentas dos adultos parecem muitos quentes. Acho que melhorou na década de 30, até com opção de ternos em linho branco e tecidos mais leves para os vestidos das mulheres.

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  11. Pela indumentária das pessoas ao fundo e do modelo dos reboques, o bonde que aparece na foto 2 não retornaria ao "Tabuleiro da Baiana" e sim à Galeria Cruzeiro, pois sua inauguração data de 1937, e os reboques e as vestimentas das pessoas são anteriores ao ano citado.

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