TIPOS
ESPECIAIS DE BONDES
INTRODUÇÃO
Os
visitantes do SDR que chegaram a ver bondes em circulação naturalmente os consideravam
como voltados ao transporte diuturno de passageiros. Mas isso não é verdade. Ao
longo das décadas existiram vários tipos de bonde com diferentes propósitos.
Alguns foram desativados ao longo do tempo, seja porque o Estado assumiu as
funções que eles executavam, seja por decisão da própria Light/Jardim Botânico.
Na
postagem de hoje, vamos mostrar esses tipos pouco conhecidos (e até mesmo
desconhecidos) de bondes. Vários deles nenhum de nós jamais viu circulando,
pois foram extintos antes que nascêssemos.
Como
seu próprio nome indica, eram auxiliares dos Correios, transportando volumes e
correspondência entre pontos determinados da cidade. Na foto abaixo, vemos um desses
bondes em frente ao antigo prédio da estação da Central do Brasil.
2)
IRRIGADOR
Eram
bondes destinados a espargir água nas ruas, a título de limpeza. A foto abaixo
mostra um deles em serviço, no dia 21/04/1910, em local não identificado.
Esses
bondes também podiam ser usados como pipas d'água. Na foto abaixo, tirada em
05/11/1939, um deles fornece água a moradores de um subúrbio.
3)
BONDE PARA SOLENIDADES
Tipo
bastante antigo. A foto abaixo é de 07/06/1912. Desconheço se podia ser alugado
ou se era usado para transportar autoridades.
Luxuoso
interior do bonde de solenidades.
4)
AMBULÂNCIA
Auto-explicativa.
A foto abaixo é muito conhecida e foi tirada em 1922, na Praia do Flamengo. De
pé, o presidente Epitácio Pessoa, o prefeito Carlos Sampaio e o Diretor da
Higiene e Assistência Municipal, Adalberto Ferreira. Desconheço o uso exato
desse tipo de bonde, mas certamente não se destinava a pegar doentes em casa.
Talvez trafegasse entre hospitais.
Observem
que tanto esse bonde acima como o de solenidades possuem o número de ordem 731.
Provavelmente o de solenidades foi transformado no de ambulância.
Curiosidade:
eu me lembro de que na minha infância, quando vinha chegando uma ambulância, a
gente usava a frase "Lá vem a assistência". A palavra
"ambulância" não era usada, pelo menos no meio onde eu vivia.
5) TRANSPORTE DE LIXO
Ao
longo do tempo houve mais de um tipo de bonde com essa finalidade. Desconheço
como o lixo era colocado neles. Aparentemente o conteúdo era descarregado no
aterro do Caju.
A
foto abaixo mostra um desses bondes descarregando sua carga, no dia 18/12/1945.
Já
na foto abaixo, da década de 1950, vemos outro tipo, circulando pelas ruas.
6)
BASCULANTE
Destinava-se
a carregar pedra, areia ou outro material que pudesse ser basculado. Era usado
principalmente pela própria Light/JB, durante trabalhos de conservação da via.
Mas podia ser alugado por empresas. A foto abaixo é de 1940.
7)
BAGAGEIRO
Era
um tipo muito comum de bonde, destinado ao transporte de mercadoria,
principalmente produtos vendidos em mercados, armazéns ou quitandas. Tinham linha,
itinerário e horários pré-determinados, como se fossem bondes de passageiros.
Possuíam letreiro com o nome da linha, mas não tinham capelinha.
Havia
bagageiros pequenos e grandes. As fotos abaixo os mostram.
A
linda foto abaixo mostra vários bagageiros estacionados no antigo Mercado
Municipal da Praça XV. Observe que há três pares de trilhos em paralelo. Por aí
dá para presumir a intensidade de tráfego desses bondes na área do mercado.
O
758 está fazendo a linha São Luiz Durão, o 757 está na linha Piedade e ao fundo
o 778 se destina à Gávea. Os dois primeiros são do tipo grande e o último é
pequeno. Um outro do tipo grande aparece parcialmente no lado direito da foto.
8) TAIOBA
Dos
tipos aqui mostrados, abri uma exceção para os taiobas, que podiam transportar
passageiros e pequenos volumes. Não eram abertos como os bondes normais de
passageiros e sua capacidade de lotação era menor, de forma a deixar no meio do
carro um espaço para os volumes transportados. O preço da passagem era a metade
do normal, por serem considerados bondes de segunda classe. Dizem que eram de
cor marrom, e não verde como todos os demais bondes.
Os
taiobas possuíam linha, itinerário e horário pré-determinados, tal como os
bagageiros, e tal como eles também não possuíam capelinha. Foram descontinuados
em 1955. Não me lembro de os ter visto circulando.
Havia
variações de modelo de taioba, como veremos abaixo.
A
foto a seguir, tirada no Carnaval de 1932, mostra um taioba da linha Cascadura.
Abaixo
um taioba da linha Vila Isabel x Engenho Novo, em foto de 22/10/1951.
Abaixo
um taioba da linha Piedade, trafegando na rua Adolfo Bergamini.
9)
BONDE DE CEROULA
Tipo de bonde que começou a circular em 06/08/1900
e que servia aos frequentadores do Teatro Municipal. Por ser considerado de
luxo, seus bancos eram cobertos com panos de brim branco e o assoalho era coberto
com tapetes. O brim era amarrado nos lados dos bancos por cadarços semelhantes
aos que prendiam nas pernas as ceroulas então usadas pelos homens, daí o
apelido. Este tipo de bonde trafegou até a época da Segunda Grande Guerra.
CONCLUSÃO
A
diversidade de tipos de bondes aqui mostrada prova que eles eram pau para toda
obra. Infelizmente aqueles de nós que chegamos a vê-los já o fizemos nos seus
estertores, quando tanto a Light/JB quanto o governo já não se interessavam por
eles. Os motivos para isso foram vários e estão fora do escopo desta postagem.
Crédito das fotos: as fotos mostradas na postagem foram obtidas no
Museu da Imagem e do Som, no Arquivo Nacional, no Arquivo Geral da Cidade do
Rio de Janeiro, no livro "História do Transporte Urbano no Brasil",
de Waldemar Corrêa Stiel, ou na internet.
Clap, clap, clap, clap...
ResponderExcluirOlá, Dr. D'.
Mudei minha saudação usual para destacar a aula de hoje, digna dos mestres na matéria.
Como só convivi com os bondes de Santa Teresa, sem tê-los pego, alguns dos modelos exibidos são completamente inéditos para mim.
Acredito que o Helio irá acrescentar muito ao tema hoje. Vou me recolher à minha ignorância quanto ao tema.
Algumas linhas de ônibus chegaram a adotar a disposição dos bancos em um sentido diferente e também foram chamados de "taioba".
Sem dúvida alguma uma aula estupenda do mestre Helio Ribeiro. Ficou ótima a postagem.
ResponderExcluirLi que foi já em 1884 que surgiu a ideia da CCJB estabelecer carros especiais para o transporte de passageiros e cargas, entre a cidade e o fim da Praia de Botafogo, pelo preço de apenas 100 réis.
Os "bagageiros" tinham aberturas laterais no centro. Neles era permitido viajar passageiros descalças e sem colarinho e transportavam trouxas de roupa, tabuleiros com verduras, frutas e doces dos mercadores ambulantes.
Mais tarde surgiram os "caraduras" de 6 balaústres, com espaço mais amplo para carga e estribos corridos que facilitassem a tarefa do condutor.
Nos painéis do teto, pela parte externa, ostentava o letreiro "Segunda Classe".
Foram os "pais" dos taiobas.
Já em 1900, para atender às solicitações de distintas famílias e cavalheiros a Cia. Jardim Botânico crious os primeiros bondes de luxo para os frequentadores do Teatro Lírico. Os bondes eram mais confortáveis, tendo os assentos e encostos cobertos por capas de brim branco e o assoalho atapetado. Indicavam o destino a luz, em letras brancas, cortadas por um traço encarnado, e eram embandeirados.
ResponderExcluirEram mais caros e partiam da Igrejinha, da Escola Militar, das Águas Férreas e do Largo do Machado, obedecendo a um horário certo, entre 18:58h e 19:54h. A volta dependia da hora em que terminasse o espetáculo.
Acho que isto exigia uma logística rebuscada.
Muito boa e detalhada essa descrição do bonde de ceroula.
ExcluirInfelizmente nunca vi nenhum desses bondes especiais.
ResponderExcluirAcho que os bondes foram um eficientissimo " metrô de superfície " para uma cidade que já era grande em extensão e população no início do século passado.
ResponderExcluirJurava que não tinha visto a referência ao Helio no título...
ResponderExcluirEm Montevidéu no Uruguay as ruas na maioria são de concreto ainda tem muito trilho visível.
ResponderExcluirLamentavelmente nada disso existe mais. Uma Pena poderiamos manter algumas linhas. Nosso novo bonde foi feito a um custo enorme e com o esvaziamento no Centro fica meio "obsoleto", vamos torcer para que isso seja modificado.
O da ceroula é inédito para mim e de solenidades eu vi uma foto do tipo tração animal, a princípio só para o D. Pedro II.
ResponderExcluirEsse modelo basculante é idêntico ao utilizado em coquerias das siderúrgicas. Recebe o coque dos fornos de um lado, leva para resfriar com água e depois bascula para o outro lado para armazenar antes de ir para os altos fornos.
A unica diferença visível é a rede elétrica que não pode ser pelo alto.
Joel, pedi para Luiz enviar meu email para vc.
ResponderExcluirMuito obrigado aos dois.
Os bondes de passageiros (carros-motores) também foram de vários tipos diferentes, mas nós só vimos alguns deles, porque na década de 1920 a Light/JB descontinuou vários deles. As fotos que costumam aparecer na Internet mostram apenas quatro tipos, mas no total foram cerca de uma dúzia.
ResponderExcluirBoa Tarde ! Meu comentário da manhã não entrou. vamos ver se agora vai. O bonde 28 durante o tempo em que esteve lotado na secção "M" fazia a linha 78 Cascadura.viajei algumas vezes nele pois a passagem era a metade do valor cobrado nos carros de primeira classe.(os verdes).
ResponderExcluirMuito boa aula. Nada a acrescentar salvo parabenizar e agradecer. Me pergunto se em alguns lugares (agora com o Centro ermo) um bonde não ajudaria. Acho que havia também o bonde funerário. A Rua Abelardo Lobo, no início do Jardim Botânico se chamava CHARLES Greenough (Fundador da Companhia Ferro Carrril do Jardim Botanico). Muitos confundem com Greenhalgh ( 1845 - 1865) que foi um militar brasileiro da Marinha Imperial. Destacou-se como herói durante a Guerra da Tríplice Aliança.
ResponderExcluirMais um tema muito interessante exposto no SDR. Nota-se o capricho da publicação e o trabalho que deve ter dado ao Helio montá-la assim como vemos em outras publicações. É uma pena que o blog não tenha mais a frequência de antigamente pois os amantes do Rio não sabem o que estão perdendo. Eu não só não vi nenhum desses bondes como nem imagina que alguns deles podiam ter existido. Parabéns.
ResponderExcluirRespondendo a vários comentários:
ResponderExcluir1) Mauro xará, 16:49h ==> você viu taiobas rodando? Eu não cheguei a ver ou pelo menos não me lembro disso. Eram mesmo de cor marrom? Na foto, o 28 está na seção Barão de Drummond. Mas era comum os bondes mudarem de seção.
2) Augusto 07:39h e Cesar, 17:06h ==> obrigado pelas gentis palavras. Aproveito para observar que temos "descendentes" de famosos romanos aqui no SDR. kkkkk
3) GMA, 17:00h ==> eu só tenho conhecimento de bondes funerários na área de Campo Grande, operados pela STR (Serviço de Transporte Rural). Na área da Light/JB, nunca ouvi falar deles.
A todos em geral: quando faço alguma postagem, procuro caprichar no texto e nas fotos, para manter o alto nível do SDR. Não quero destoar.
Um fato interessante: quando a Junta de Administração Provisória assumiu os bondes da Zona Sul, eles ficaram muito surpresos e irritados ao saberem que vários bondes que rodavam pela JB eram na verdade da Light, e portanto eles não os poderiam utilizar.
ResponderExcluirNos bondes que trafegaram na Ilha do Governador até 1965, também tínhamos o "Bagageiro", que transportava trouxas de roupas, cestos de peixes, carrinhos de mão e caixões de defuntos ( ainda bem que vazios...)
ResponderExcluirExcelente aula! De tudo que foi postado, acho que só conhecia o taioba, mas como se fosse apenas um bombe de 2a classe.
ResponderExcluirCaro gerente, creio que descobri o motivo para tantos comentários como ANÔNIMO. Eu tenho conta, sempre comentei com minha identificação sem precisar alterar nada, mas agora o default é Anônimo ou Nome/URL. Quase postei como anônimo, mas sem explicações apareceu a opção de me identificar automaticamente.
Na foto 2 o edifício ao fundo não é o Educandário Gonçalves de Araújo? O local não identificado deve ser o Campo de São Cristóvão.
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