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sábado, 23 de julho de 2022

DO FUNDO DO BAÚ - LEITE MOÇA

O “Do fundo do baú” de hoje mais parece um “jabá” (o termo vem de “Jabaculê”, um termo utilizado na indústria da música brasileira para denominar uma espécie de suborno em que gravadoras pagam a emissoras de rádio ou TV pela execução de determinada música de um artista). Mas o “Saudades do Rio” não se presta a isto, apenas aproveitou uma foto de há 100 anos.

Esta foto, garimpada pelo prezado comentarista Gustavo Lemos, é do “Chalé Leite Moça” montado para a Exposição do Centenário de 1922.

Segundo o Gustavo a Nestlé iniciou a produção no Brasil no ano anterior em Araraquara-SP. Antes disso, o leite condensado era importado dos EUA com o nome Milkmaid. Os brasileiros passaram a chamá-lo de Leite Moça, pelo desenho do rótulo. Ao lançar o produto aqui, a Nestlé resolveu adotar o nome que era conhecido. Infelizmente os visitantes do chalé não comeram brigadeiro, cuja receita só foi criada em 1946.


Anúncio do Leite Moça no Correio da Manhã, em 1922.

Este anúncio, também no Correio da Manhã, é do ano de 1929. Vemos que o preço da lata aumentou para 2$200. O que estranhei foi que o preço de três latas não tem desconto. Já a compra de 6 latas tinha desconto: em vez de 13$200 ficava por 12$600.


Anúncio na revista Manchete de 1955: "Leite Moça é um convite permanente para você fazer gostosas sobremesas, verdadeiras maravilhas que irão surpreender a todos. Leite Moça garante os melhores resultados porque é puro leite condensado, está sempre fresquinho - pronto para usar e já contém açúcar. E você pode tê-lo armazenado em sua despensa, sempre à mão, sem ocupar lugar na geladeira."


Outro anúncio na Manchete; agora com receitas.
 O Conde di Lido testou e aprovou todas elas.

quinta-feira, 21 de julho de 2022

RUA VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA

A Rua Voluntários da Pátria, antiga Rua Nova de São Joaquim, segundo Paulo Berger, foi aberta em 1826, da Praia de Botafogo até a Travessa Marques, através dos terrenos da antiga Fazenda da Olaria, de propriedade de Joaquim Marques Batista de Leão, daí seu primitivo nome de Rua Nova de São Joaquim (não confundir com a Rua de São Joaquim no Centro).

Em 1847 a Câmara Municipal aprovou, por doação de Joaquim Marques Batista de Leão, a abertura da continuação da Rua Nova de São Joaquim, homenagem ao santo onomástico do doador.

A Companhia Jardim Botânico prolongou a rua da Travessa Marques até a Rua Humaitá.

O Corpo de Voluntários da Pátria, criado em 1865, era integrado por civis voluntários que acorreram às armas, participando da campanha contra López, na Guerra do Paraguai. À cidade do Rio de Janeiro coube a formação do 1º Batalhão de Voluntários da Pátria que teve seu batismo de fogo na resistência à invasão de São Borja.


Nesta fotografia podemos ver o caos do trânsito em Botafogo, num tempo em que a Rua Voluntários da Pátria (assim como a Rua São Clemente) tinha mão-dupla e tráfego de automóveis, bondes e lotações. Como a rua tem três pistas imagino a disputa que deveria existir pela faixa do meio entre as duas correntes de tráfego. 

O lotação Castelo-Leblon, que tinha o itinerário "Almirante Barroso, Voluntários da Pátria, Epitácio Pessoa, Ataulfo de Paiva, Hotel Leblon" era uma opção para voltar do Colégio Santo Inácio para minha casa na Lagoa.


Aqui ainda vemos a Voluntários da Pátria nos tempos da mão-dupla. Deve ser no  início da décda de 60. O lotação é o Estrada de Ferro-Leblon, via Jockey.


Agora já vemos a Voluntários da Pátria, perto da Rua Conde de Irajá, na época da mão-única em direção à praia. O trânsito continua caótico. 

Hoje em dia o trânsito é sempre complicado, pois são três faixas: a da direita para os ônibus. A da esquerda sempre obstruída por carga/descarga, táxis ou veículos com pisca-alerta ligado. Só resta a do centro para todo o tráfego.

Vemos a Voluntários da Pátria quase no mesmo ponto da primeira foto. A época é de quando as obras de duplicação do Túnel Velho estavam em andamento e o trânsito de Botafogo passava por alterações. Observa-se a placa em frente à igreja indicando que a mão da Rua São João Batista era em direção à General Polidoro, ao contrário do que é atualmente.


Vemos um dia de trânsito tranquilo na Voluntários da Pátria, o que é uma exceção.


quarta-feira, 20 de julho de 2022

ASILOS DO RIO

ASILO: instituição de assistência social onde são abrigados para sustento e/ou educação crianças, mendigos, doentes mentais, idosos etc.

O Abrigo Thereza de Jesus é uma associação de caridade cristã fundada pelo Grupo Espírita Cultivadores da Verdade em 01/01/1919. Visa amparar, educar, instruir, encaminhar, gratuitamente, à luz do Evangelho de Jesus, a infância com carência sócio-econômica, além de divulgar e praticar os princípios do Espiritismo. A foto é do Correio da Manhã e mostra o prédio do Departamento Feminino. 


 Instalado na Rua Ibituruna nº 53 desde 1923, em um belíssimo casarão, o Abrigo Thereza de Jesus tinha na mesma rua nos números 89/91, outro belíssimo casarão. Esta foto é do Correio da Manhã e mostra o Departamento Masculino.

O Asylo Infantil de N.S. de Pompeia fica na Rua Cirne Maia nº 109 no Cachambi. O Patronato de Menores há mais de 100 anos vem contribuindo para melhorar cada dia mais a vida das crianças. Foto do Correio da Manhã.


Asylo de Araújo: O asilo Gonçalves de Araújo, da Irmandade da Candelária, foi inaugurado em 1900, na Praça Marechal Deodoro nº 228, no Campo de São Cristóvão. Oferecia ensino primário e industrial: sexo masculino - cartonagem, alfaiataria e tipografia. Sexo feminino - costura, bordado e cozinha. Hoje, no local, funciona o Educandário Gonçalves de Araujo, um dos últimos internatos ainda em funcionamento no Rio.


A fotografia, do acervo da FGV, mostra o "Pavilhão de Diversões" da Colônia de Curupaity. É um belo exemplar da arquitetura "art-déco", construído na década de 20 do século passado. O "Asilo-Colônia de Curupaity", no bairro de Jacarepaguá, destinava-se a atender leprosos. Foi inaugurado em 1927 e era ligado à Inspetoria de Lepra e das Doenças Venéreas. Foi um centro de referência importante no combate à lepra. Ali havia dois tipos de residências: pavilhões, onde moravam os solteiros, e casas, para casais. Segundo conta E. Poorman, 25 anos depois da inauguração foi construído um edifício para crianças. 


O Asilo Santa Maria, em Botafogo, foi fundado em 1884 pelo Provedor da Santa Casa, José Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe) tendo como finalidade hospedar pessoas idosas.  Funcionou na Rua da Passagem. Em 1964 foi transferido para Jacarepaguá.
Foto enviada pelo prezado Carlos Paiva.



terça-feira, 19 de julho de 2022

GALERIA MENESCAL


A Galeria Menescal, no nº 664 da Av. N.S. de Copacabana, foi inaugurada na segunda metade da década de 1940, talvez em 1946. Na minha infância lembro-me de após o lanche de domingo em casa (era uma época em que não havia o hábito de levar crianças para comer fora), saíamos caminhando da Barata Ribeiro em direção à Raimundo Correia e seguíamos pela N.S. de Copacabana até a Galeria Menescal.

Pelo caminho passávamos em frente à Sloper, que tinha o Metro-Copacabana do outro lado da rua, pelo Rei da Voz, pelas Lojas Brasileiras, atravessávamos a Travessa Angrense, olhávamos as fotos das noivas no mostruário do fotógrafo Azmann, atravessávamos a Santa Clara, que tinha numa esquina o Bazar 606 e na outra a Joalheria Krause. A Galeria Menescal ficava no meio do quarteirão seguinte, defronte ao Mercadinho Amarelho, depois de termos passado diante da Casa Mattos e do prédio do IBEU (Instituto Brasil-Estados Unidos).

Percorríamos a Galeria Menescal, então com quase todas as lojas fechadas, não lembro se a Baalbek ficava aberta. Voltávamos pela Barata Ribeiro olhando a eterna Flora Santa Clara, que tinha na mesma quadra o Colégio Santa Filomena. Atravessando de novo a Raimundo Correia passávamos em frente à Galeria Bonino e chegávamos em casa.

A foto é de 1971, de Gyorgy Szendrodi.


Fotograma da Galeria Menescal, garimpado pelo Nickolas (não lembro de que filme). A galeria liga a N.S. de Copacabana à Barata Ribeiro, com suas sancas decoradas e o piso de mármore colorido intercalado com mármore liso. À esquerda, havia a loja de tecidos Desirée, à direita, a famosa Sapataria Santa Fé, que após décadas fechou.  Na época ali ficavam a Lucia Boutique com o máximo da moda carioca; a loja de fotografia FILM CANETA COPACABANA, a Baalbek, com a comida árabe; a New Gipsy; pequenas óticas; as malhas da La Danse; roupas infantis e para grávidas na Suzette Pré-Maman. A loja de brinquedos A Toca do Coelhinho.  A loja de flores com vitrine que escorria água era a Floricultura Belinha. 

À época da construção, tempos de guerra, foi construído um "bunker" no subsolo para proteção contra ataques aéreos. Como a construção terminou após o fim da guerra o local virou uma garagem.


A Galeria Menescal teve seus dias de glória na segunda metade do século passado. Há algum tempo instalou grades nas extremidades, que ficam fechadas em horário não comercial. Só há acesso liberado para os moradores do prédio. 

Na foto acima vemos a loja FILM CANETA COPACABANA fundada por Klaus Scheyer, alemão que veio para o Brasil na época da 2ª Grande Guerra. Ficava do lado esquerdo no sentido N.S. de Copacabana - Barata Ribeiro. Era onde eu levava meus filmes para revelar. Eram tempos bem diferentes dos de hoje, pois havia sempre uma ansiedade grande para saber se as fotos teriam saído boas. Hoje esta loja se chama Óticas Karina, nome da neta de Klaus Scheyer. 

Embora o anúncio indicasse a inauguração em 01/08/1945 acho que a obra atrasou. Foi um empreendimento de Humberto Menescal, tio do músico e dos irmãos dele, que foram citados aqui recentemente quando do "post" sobre o Clube Costa Brava. 


O Instituto Científico de Estética e Cosmética "Votre Beauté" foi uma das primeiras lojas a se instalar na Galeria Menescal.

Contam as más línguas que o Conde di Lido foi o primeiro cliente.


segunda-feira, 18 de julho de 2022

EXPOSIÇÃO DE 1908


A Exposição de 1908 foi montada entre os morros da Babilônia e da Urca, entre agosto e novembro de 1908. Esta exposição pretendia, além de comemorar o Centenário da Abertura dos Portos, mostrar para o mundo, a beleza e as qualidades da moderna capital da jovem República brasileira.

Depois das reformas de Pereira Passos, a cidade estava pronta para representar o Brasil e exibir toda a sua exuberância. A intenção era atrair o olhar estrangeiro, visando buscar libras e francos.


Em menos de um ano construíram-se imponentes edifícios para abrigar estandes exibidores da produção econômica brasileira. Montaram-se dois restaurantes, um teatro, cervejarias e café, fontes luminosas, além de uma pequena via férrea, para que o público pudesse locomover-se em trenzinhos. À noite havia queima de fogos.

A revista Kosmos registra a admiração geral da população: "Parece-nos ainda um sonho este inesperado aparecimento da pequenina cidade de palacetes nas areias da Urca. É a grandiosa feira nacional, que o presidente Affonso Penna organizou, sob o louvável pretexto de comemorar o Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao comércio mundial."

O portão principal foi obra do arquiteto René Barba, inspirado na porta da Exposição Internacional de Paris de 1899. Ficava na altura da Av. Pasteur. 


O Teatro João Caetano, cujo interior fez muito sucesso,  encenou várias peças de Artur Azevedo. É de chamar a atenção a indumentária dos participantes.

O Pavilhão de São Paulo foi projeto de Ricardo Severo e Ramos de Azevedo. Tinha 1500 metros quadrados, sendo maior até que o do Distrito Federal e tinha 12 cúpulas. Foi considerado o mais belo da Exposição.

O Pavilhão da Fábrica Bangu foi erguido em estilo mourisco. O projeto foi de um diretor da própria fábrica. Teria sido do Silveirinha?

O Palácio das Indústrias, antiga Escola Militar foi adaptado, mas depois da Expo voltou a ser unidade militar e foi bombardeado quando da Intentona Comunista.

O Pavilhão das Indústrias em outra perspectiva. Era iluminado por 18000 lâmpadas.


Uma grande fonte luminosa formava um castelo de água em frente ao Palácio das Indústrias. 

Havia 30 pavilhões, entre eles os da Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina e São Paulo. Pavilhão internacional só o de Portugal. O Pavilhão das Máquinas hoje é um prédio da UNIRIO. O Palácio dos Estados, na atual Av. Pasteur, abrigou os outros estados que não tiveram pavilhões próprios. Hoje abriga o Museu da Ciência. Mais de um milhão de pagantes visitaram a Exposição.

O transporte para acesso foi feito bondes da Cia. Jardim Botânico e por ônibus como os que funcionavam na Av. Rio Branco. O transporte interno era em mini-locomotivas.


 Transporte por barcas da Cia. Cantareira também acontecia.


O Restaurante Rústico era uma das opções para se alimentar.


As elegantes cariocas davam o ar de sua graça em simpáticos bares espalhados pela região da Praia Vermelha. Colorização de Achilles Pagalidis.


O Pavilhão Manuelino, representando Portugal, o único país estrangeira na Expo de 1908. 


Vemos o Pavilhão do Distrito Federal. A vistosa arquitetura da exposição era efêmera, propositalmente feita para não durar, foi concebida nos mais diversos estilos. Se o Brasil, então jovem República, havia consolidado o Rio de Janeiro, após a modernização empreendida pelo Prefeito Pereira Passos e pelo Ministro Lauro Müller como sua maior expressão, a Exposição Nacional celebrava o processo de inserção de todo o país em um modo de vida urbano, industrial e cosmopolita. 

Pavilhão da Música, onde eram exibida música clássica. Além dos estados da Federação, diversas instituições públicas se fizeram representar na Exposição, como a Empresa de Correios e Telégrafos, que abrigou, em uma área de 150m2, uma agência postal e uma estação telegráfica. Também havia pavilhões das Indústrias, Corpo de Bombeiros, Jardim Botânico, Artes Liberais, Música. Funcionavam um teatro, cinematógrafos e cafés-concerto. Havia montanhas-russas, balões, etc.

O Pavilhão das Artes anexo ao Pavilhão de Portugal.

Pouco restou da Expo de 1908, infelizmente.

“Post” baseado no trabalho de José A. B. Sacramento e em vídeo do Planeta HDTV.

E, nos créditos do vídeo, entre muitas outras fontes, é citado o blog “Saudades do Rio”.