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sábado, 17 de junho de 2023

DO FUNDO DO BAÚ - A TAÇA JULES RIMET

 


A seleção brasileira havia conquistado anteriormente os títulos das copas da Suécia (1958) e Chile (1962), assim, com a conquista no México, o Brasil teve o direito de permanecer em definitivo com Taça Jules Rimet.

Havia uma regra a respeito da aquisição da taça: o primeiro país que conquistasse três edições de Copas do Mundo teria o direito de adquirir em definitivo a taça Jules Rimet. Fato era que o então presidente da FIFA Jules Rimet não acreditava que algum país pudesse ganhar três edições da Copa. Atualmente as regras são outras, o país campeão leva uma réplica da Taça FIFA e a original fica guardada na Suíça.

A taça Jules Rimet, que tinha 30 centímetros de altura, aproximadamente dois quilos de ouro e quase quatro quilos no total, foi roubada em dezembro de 1983.

Segundo reportagens dos jornais “O roubo causou comoção nacional, mas tanto a Confederação Brasileira de Futebol quanto os assaltantes e a polícia deram provas inequívocas de incompetência em situações que beiraram o tragicômico.


A começar pela inexplicável decisão da CBF de deixar a Taça Jules Rimet original exposta em uma vitrine à prova de balas na sede da entidade, enquanto uma réplica do troféu era guardada dentro de um cofre. 


Não demorou para que essa informação chegasse a Sérgio Pereira Ayres, conhecido como Sérgio Peralta, na época representante do clube Atlético Mineiro. Ele traçou um plano do roubo e recrutou dois comparsas para executá-lo: Francisco José Rocha Rivera, o Barbudo, e José Luiz Vieira da Silva, o Bigode. Eles invadiram o prédio, renderam o vigia noturno, arrombaram a moldura e roubaram a Julio Rimet, além de outras três taças.

 

O depoimento de Antônio Setta, o Broa, considerado pela polícia um dos melhores arrombadores de cofres do Rio de Janeiro, acabou sendo a chave para que os ladrões da Jules Rimet fossem encontrados. Ele havia sido convidado por Sérgio Peralta para o assalto, mas recusou. Quando a polícia pôs as mãos nos culpados, a Jules Rimet já havia sido comprada e derretida pelo comerciante de ouro Juan Carlos Hernandez. O ouro, resultado do derretimento da taça, foi apreendido. Mas acabou sendo roubado no decorrer do processo.

O crime foi julgado em 1988. Sérgio Peralta, Barbudo e Bigode foram condenados a nove anos de prisão. 


Aquele domingo 29 de junho de 1958 nasceu nublado. Para mim, menino ainda, não era um bom presságio. A final da Copa do Mundo só iria começar lá pela hora do almoço e, de manhã, fui com meu pai lá para o subúrbio assistir a um jogo do time juvenil do Flamengo contra o Anchieta. Era comum o juvenil jogar contra times amadores do Departamento Autônomo. Os campos eram de grama, meio carecas, com uma cerquinha em volta e sempre havia uma banquinha vendendo laranjas. Ficávamos sempre atrás do gol, junto do banco dos reservas. Muitas vezes íamos no lotação que levava o time, lotação dirigido pelo Russo. 

Mas neste domingo a preocupação era com o jogo do Brasil. Meu pai estava nervosíssimo, pois vinha das decepções das copas de 50 e 54. Lembro-me como se fosse hoje um amigo dele dizendo que nem iria ouvir o jogo: iria para uma estrada deserta, lá pela Barra da Tijuca, e ficaria andando de carro para lá e para cá até terminar a partida.

Voltamos para almoçar em casa e ouvir o jogo. Subi para o 3º andar para ficar com meu avô, pois meu pai queria torcer sozinho. Começa a partida, a qual acompanhamos pela Rádio Continental, e logo a Suécia faz 1 x 0. "De novo, não, de novo, não!", resmungou meu avô.

Mas logo o Brasil virava o jogo e acabaria por golear por 5 x 2. Festa, muita festa. Campeão do mundo pela primeira vez!

Na foto, da revista Manchete, vemos Bellini, Gilmar e Nilton Santos, três grandes daquele time. Foram sempre titulares, embora o time tenha tido muitas mudanças durante a Copa. No último jogo jogaram Gilmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos. Zito e Didi. Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo. Mas antes já tinham jogado De Sordi, Dino, Joel, Mazzola e Dida.

No dia seguinte, comprei todos os jornais e, através de escuras radiofotos, vi as imagens da grande conquista. A chegada da delegação vitoriosa no Rio, dias depois, transmitida ao vivo pela TV Tupi, foi inesquecível. Recentemente consegui comprar a gravação de todo o jogo desta final - uma preciosidade para quem gosta de futebol. 

Como dizia Drumond:

"Bem-aventurados os que não entendem nem aspiram a entender de futebol, pois deles é o reino da tranquilidade.

Bem-aventurados os que, por não entenderem, não se expõem ao risco de assistirem às partidas, pois não voltam com decepção ou enfarte. Bem-aventurados os que não têm paixão clubista, pois não sofrem de janeiro a janeiro, com apenas uma colherinha de alegria a título de bálsamo, ou nem isso.

(...)

Bem-aventurados os surdos, pois não os atinge o estrondar das bombas da vitória, que fabricam outros surdos, nem o matraquear dos locutores, carentes de exorcismo.

(...)

Bem-aventurados os que, na hora da partida, conseguem ouvir a sonata de Albinoni, pois deste é o reino do céu.

Bem-aventurados os que, depois de ler este sermão, aplicarem todo o ardor infantil no peito maduro para desejar a vitória do selecionado brasileiro nesta e em todas as futuras Copas do Mundo, como faz o velho sermoneiro desencantado, mas torcedor assim mesmo, pois para o diabo vá a razão quando o futebol invade o coração".




quinta-feira, 15 de junho de 2023

ESCOLA REPÚBLICA DO PERU - MÉIER


A foto, do acervo do Correio da Manhã, de 1955, mostra a Escola República do Peru, na Rua Coração de Maria, no Méier. Ficava num prédio de linhas modernas, com 17 salas de aula, além de outras dependências, em que se instalaram a biblioteca, o refeitório, o auditório, a sala de trabalhos manuais, a cozinha, etc. No edifício da escola funcionavam, ainda, o Posto Médico Pedagógico e a sede do 9º Distrito Educacional.

No início dos anos 50 tinha 1635 alunos, que se distribuíam por três turnos, da 1ª série ao Curso de Admissão.

Reportagem do “Correio da Manhã” de 1951, parcialmente transcrita abaixo, mostra como caminhamos para trás...

“Desde 1945 a diretora teve a iniciativa de substituir a merenda servida aos alunos por nutritiva refeição que tomou a denominação de “pequeno almoço”. Foi a Escola República do Peru a pioneira no movimento em prol da melhoria das refeições fornecidas aos alunos das escolas primárias. Do menu constava: bife, arroz, leite e bananas. Também a escola, no sentido de proporcionar maior conforto aos alunos, adquiriu uma geladeira elétrica, um mimeógrafo e um projetor cinematográfico sonoro para exibição de filmes educativos.

A Caixa Escolar, o Serviço de Merenda, o Clube Literário, a Biblioteca, o Centro de Civismo, o Clube Agrícola, o Clube de Saúde, o Cinema Educativo, o Museu, o Centro de trabalho, o Círculo de Pais e Professores, a Cooperativa e a Associação de Ex-Alunos, dão vida à escola e contribuem para o desenvolvimento harmonioso da personalidade do aluno no seu tríplice aspecto: físico, intelectual e moral.

A diretora é a Professora Joana da Silveira Carvalho, auxiliada pela Professora Carolina de Matos Novaes.”

Nos anos 50, os alunos da Escola República do Peru tinham também um jornalzinho chamado “Nosso Brasil”. Nele havia de tudo quanto possa interessar a seus inúmeros pequeninos leitores. Segundo o “Correio da Manhã”, “seu atraente jornal exercerá benéfica influência à formação dos que o redigem como dos que o leem.”

Conforme nosso consultor especializado, obiscoitomolhado, vemos um modelo 1946-1947 de um Packard Clipper.

Segundo o Luiz Antonio, ex-aluno desta escola, na época dele a diretora era a Dona Gerry. "Tinha até aula de francês e música. Na aula de música, construí um reco-reco. A merenda era boa: o dia que tinha arroz com peixe era o mais concorrido, refeitório cheio. A basílica em estilo mouro está alguns metros atrás de quem tirou a foto. Exatamente em frente a este portão de onde saem os alunos, caí na porrada duas vezes com colegas (sim, a gente era colega, mas brigava; ou, a gente brigava, mas era colega). Numa dessas brigas um senhor tentou nos apartar, enfiou os braços no meio do bololô com o intuito de fazer uma alavanca e, com sua força de adulto, separar os dois frangos metidos a garnisé. Ao notar que havia ali mais braços do que de costume, meu oponente reclamou: "Dois contra um não vale!"."

Esta foto, enviada pelo ilustre Francisco Patricio, tem a seguinte dedicatória: "À querida Tia Lúcia, oferecem os alunos da Escola República do Perú, encantados com a aula brilhante que ouvem, através do Rádio, da estimadíssima professora da Escola-Rádio Municipal Orientação na Escola: Prof.a Emiliana dos Santos. Em 26/9/938."

Esta foto tem um registro interessante. Em plena vigência do Estado Novo, 1938, lá estão as fotos do Getúlio para confirmar, uma escola com uma distribuição mais, digamos, "democrática" dos alunos, em grupos e em pequenas mesas, de maneira mais informal. A escola daqueles tempos costumava ser bem mais rígida, todo mundo de frente, levantando à entrada do professor, bancos que não podiam ser mudados de lugar, etc.   

Segundo Mme. Frusca, a foto permite várias leituras. A mais superficial mostra a beleza de uma arquitetura rica de uma sala de aula antiga. Que riqueza este lustre, o forro, as gregas do rodateto, os reposteiros e as amplas portas-janelas e o mobiliário leve e confortável.

Mas, infelizmente, há a leitura mais profunda. Nesta imagem se vê também a escola conceitual, na aplicação visível dos conceitos pedagógicos do Estado Novo. A visão instrumental da Educação como aparelho ideológico do Estado era endossada no âmbito nacional, pelo então Ministro da Educação Gustavo Capanema. O ideário da época podia ser simplificado na afirmação de que a guarda e o controle sobre a Educação seriam função do Estado e a Escola não poderia ser neutra, mas deveria tomar partido: seguir a filosofia do Estado Novo e apontar esta direção a seus educandos.  

A uniformização do ensino, em prol das diretrizes do Governo de Getúlio, está implícita na imagem, na menção ao programa de rádio que veiculava os valores impostos (aos professores sob pena de demissão na melhor das hipóteses) transmitidos ao alunado em cadeia nacional. A opção de trabalhar em grupos evidenciava o objetivo da uniformização de conceitos e resultados, explicitada em Seminário envolvendo todo o contingente de professores brasileiros, entre 1935 e 1937.

Por outro lado, se o modelo educacional ficou preso a uma estrutura política, serviu a alguns propósitos fundamentais da Educação: educar e formar cidadãos, ao mesmo tempo em que os instrui para a vida profissional.

São dois retratos de Vargas, a foto oficial, à direita e, à esquerda, um dos desenhos fascistas que eram feitos, no melhor estilo Mussolini.




quarta-feira, 14 de junho de 2023

SILOGEU


Detalhe do mapa  "Rio de Janeiro: Central Monumental", de Carlos Aenishanslin, ano 1915, publicado pelo desaparecido Celso Serqueira.

Fronteiro ao Passeio Público, esquina com a atual avenida Beira-Mar, funcionava o edifício Cais da Lapa, posteriormente denominado de Syllogeo Brasileiro. Lá funcionavam a Academia Brasileira de Letras, a Academia de Medicina, o Instituto dos Advogados do Brasil e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O prédio foi demolido para dar lugar, em 1972, a um edifício de 13 andares onde apenas o IHGB permanece. A tempo: Silogeu significa academia literária ou científica.



Construído entre 1902 e 1906, foi demolido em 1972 para a construção do atual IHGB e o alargamento da Rua Teixeira de Freitas.

Da esquerda para a direita: Aero-Willys (de 60 a 62), Chevrolet Fleetline (49 ou 50) e ônibus Mercedes com carroceria Metropolitana.



Construído na gestão do prefeito Pereira Passos (1902-1906), o Silogeu, finalizado em 1905, ficava na esquina das Avenidas Augusto Severo e Teixeira de Freitas. 

Com o avançar dos anos, algumas das associações que ali se instalavam foram em busca de mais espaço e conquistaram novas sedes, como a ABL, que em 1923 se mudou para o Petit Trianon - sua sede até os dias de hoje.

Já nos anos 1950, quando apenas o IHGB ocupava o Silogeu, o governo do presidente Café Filho realizou a desapropriação de parte do terreno para o alargamento da avenida Teixeira de Freitas. Como compensação, o IHGB ganhou recursos suficientes para a construção de um edifício no restante do terreno que abrigaria a sua nova sede. A demolição ocorreu em partes, tendo se completado em 1972.

O Silogeu


Com colorização do Conde di Lido, vemos a região do Passeio Público, em 03/02/1950, e, em primeiro plano, um ônibus da linha 102 - Praça Saens Peña x Largo do Machado, modelo Twin Coach. Ao fundo e à esquerda, o prédio do Silogeu, na esquina das ruas Augusto Severo e Teixeira de Freitas. 

Segundo um abalizado comentarista, o ônibus fazendo a curva é um TWIN COACH 41S 1948 e pertencia à Viação Relâmpago, empresa da Cometa. Sua garagem era na Rua Maxwell e a empresa funcionou até 1958. A Twin Coach foi fundada pelos irmãos Fageol, em 1927. Em 1953 a fabricação de ônibus foi vendida para a Flxible (não tem o "e"mesmo), que encerrou as atividade em 1996, por motivo de falência.

À direita,temos um Ford Prefect(Prefeito)1948, 1200cc, 6 volts, partida na manivela, modelo E93A, produzido em Dagenham - Inglaterra. Entre o Ford e o Coach temos um Chevrolet 1938. À direita do Ford, lá na frente, temos uma Dodge Coronet Station Wagon de 1950/53.Na frente da Station Wagon o automóvel tem todas as características de um Buick 1948 (a volta do paralamas traseiro invade metade da porta traseira). 


O Silogeu em seus últimos dias.


Foto do prezado Rafael Netto, feita em 2006. 

O prédio da era Pereira Passos ficava onde hoje está a segunda pista (sentido Lapa-Glória) da Rua Teixeira de Freitas. O novo edifício do IHGB, construído nos anos 60, continua lá, hoje formando a esquina e acompanhado do edifício da Unisys (antiga Burroughs). O conjunto contrasta fortemente com as construções ao redor, quase todas da primeira metade do século XX e bastante degradadas, numa área de prostituição de travestis.

A foto atual não está no mesmo lugar da antiga, porque para reproduzir o enquadramento seria preciso ficar bem no miolo do (vasto) cruzamento das duas ruas. E apesar de ser um domingo, o movimento no local era considerável.




terça-feira, 13 de junho de 2023

AVENIDA ATLÂNTICA ESQUINA COM FIGUEIREDO MAGALHÃES

 

Esta imagem do Google Maps nos mostra a esquina da Av. Atlântica  com a Rua Figueiredo Magalhães. Os dois prédios da esquerda são o Edifício Sevilha e o Edifício Vesper. Atravessando a rua vemos, à direita, o Edifício Luiz de Camões e o Edifício Vila Normanda.

Nosso prezado Maximiliano Zierer, o "Doutor em Av. Atlântica", nos mostra os palacetes que existiam antigamente no lugar desses quatro edifícios.


No lugar do Edifício Sevilha, à esquerda na primeira foto, ficava o Palacete Mackenzie, dos canadenses May e Alexander Mackenzie. Era uma casa de dois pavimentos em estilo eclético, que foi construída na década de 1910. Seu endereço era Av. Atlântica número 594 (numeração antiga, não corresponde a atual), local onde está hoje o edifício Sevilha, na Av. Atlântica nº 2516, quase na esquina com a rua Figueiredo Magalhães. 

Nesta foto o Palacete Mackenzie já não existia, sendo substituído pelo Edifício Sevilha. Na esquina, onde atualmente está o Edifício Vesper, vemos a casa de meu tio James Darcy. Ainda bem criança cheguei a ir nesta casa, demolida nos primeiros anos da década de 50. Tinha como endereço Rua Figueiredo Magalhães nº 1 e assim era chamada na família: "Vamos hoje ao nº 1".


Na outra esquina da Rua Figueiredo Magalhães com a Av. Atlântica, onde hoje está o Edifício Luiz de Camões, havia  o castelinho em estilo normando da matriarca da família Guinle, D. Guilhermina Guinle. Era uma das maiores casas da orla de Copacabana e ocupava o centro de um grande terreno que ia até a Rua Domingos Ferreira. Provavelmente esse castelinho foi construído no início da década de 10 do século passado. Era uma casa de veraneio dos Guinle, e possuía um belo jardim frontal de frente para a Praia de Copacabana, como podemos apreciar nesta foto publicada pela revista Fon Fon em 22-12-1928. A mansão possuía, nos fundos do terreno, uma grande piscina de água salgada, uma raridade em casas da época. Para tomar banho de mar sem sair de sua mansão de veraneio e se expor na Praia de Copacabana, D. Guilhermina mandou construir uma tubulação que captava água salgada diretamente do mar de Copacabana, a qual, depois de passar sob o asfalto da Av. Atlântica, desembocava na sua piscina particular.


Por fim, vemos à direita a casa que existia onde está hoje o Edifício Vila Normanda.

Esta rara foto de mais de 100 anos, publicada na revista Fon Fon em 15-7-1922 (original em preto e branco) é a única foto que eu conheço onde se pode ver, lado a lado, os dois casarões que pertenciam a família Guinle, na esquina da Av. Atlântica com a Rua Figueiredo Magalhães. 

À direita vemos a Vila Normanda, a qual pertencia à irmã de Otávio Guinle, Celina Guinle de Paula Machado. Celina morava no Palacete Guinle, que ainda existe na Rua São Clemente, esquina com Rua Dona Mariana, e a Vila Normanda era a sua casa de veraneio, onde ela permanecia apenas de um a dois meses por ano. Celina vendeu a Vila Normanda, em 1927, e a casa passou a ser a residência do jornalista e magnata Assis Chateaubriand. A Vila Normanda ganhou fama nacional como palco de planos, golpes e armações do polêmico magnata dos Diários Associados. Com a morte de Assis Chateaubriand em 1968, a Vila Normanda foi vendida e em seguida demolida em 1969. No seu lugar foi erguido o edifício Vila Normanda, com a sua fachada de mármore branco, e que manteve o nome da casa original.

Texto e pesquisa de Maximiliano Zierer, a quem o "Saudades do Rio" mais uma vez agradece.


segunda-feira, 12 de junho de 2023

EMPIRE HOTEL

Na quinta-feira passada nosso prezado GMA, ao comentar sobre o "post" da Praça Paris, fez o comentário abaixo:


A seguir, me mandou uma foto do Empire Hotel, que vemos abaixo.

O Empire Hotel ficava na Rua da Glória nº 46 e suas propaganda ressaltava que "fica a 5 minutos do Aeroporto Santos Dumont. São 88 apartamentos confortáveis, com saleta, banheiro, telefone, café da manhã completo e ar condicionado. À sua frente, os jardins do Aterro e a Baía de Guanabara. É o ponto ideal para quem não tem tempo a perder nas viagens profissionais e não quer ficar dentro do tumulto da metrópole."

Como uma coisa leva a outra, descobrimos que no terraço do Empire Hotel existia o restaurante de Maria Thereza Weiss, onde funcionou o "Clube dos Gastrônomos". 

Maria Thereza Weiss, fez grande sucesso no Rio nas últimas décadas do século XX e foi uma das primeiras a escrever livros de culinária no Brasil. Ela teve por mais de 40 anos um excelente restaurante na Rua Visconde Silva nº 152, onde servia pratos típicos da cozinha brasileira e internacional.  Este restaurante funcionou num palacete de 1915, onde depois se instalou o restaurante "À Mineira".

Esta imagem mostra um hábito muito curioso vigente nos anos 1970: o "Jornal do Brasil" publicava uma coluna onde listava os hóspedes de vários hotéis do Rio. Um total desrespeito à privacidade. Acima podemos ver que, em determinada semana, o cantor Vanderlei Cardoso se hospedou no Empire.

O Empire Hotel publicava frequentes anúncios no "Jornal do Brasil". Neste vemos o logotipo, criado pelo famoso designer Aloisio Magalhães, em 1961.


Aqui vemos um anúncio do almoço panorâmico, citado pelo ilustre advogado GMA, que ali se reunia com seus clientes.


A seguir descobrimos que o Empire Hotel se transformou no Motel Ebony.

Ao lembrar do Ebony (um passarinho me contou que na entrada se recebia uma caixa de fósforos com a figura de um diabo - talvez o prezado Lino, colecionador de chaveiros de motéis, tenha alguma memorabilia do Ebony), recordamos uma terrível tragédia que abalou a cidade em meados dos anos 80.

Certa manhã foram encontrados mortos um casal que na noite anterior alugara uma das suítes. Não vamos citar nomes, mas tratava-se de famoso radialista da Rádio Globo.

O caso repercutiu intensamente na Imprensa por mais de dois anos. Divulgado o desaparecimento do radialista, foi encontrado o carro dele numa rua atrás do motel. Um colega de rádio, talvez sabendo de suas aventuras, foi ao motel e conseguiu que abrissem a suíte, onde o casal foi encontrado morto, sem sinais aparentes de violência.

De início suspeitou-se de um homicídio seguido de suicídio. A moça tinha várias receitas médicas e um famoso médico que comentava em programas da Rádio Globo levantou a suspeita de envenenamento com os comprimidos. Os médicos que receitaram foram abordados e esclareceram que as receitas nada tinham a ver com o caso. Eram de consultas corriqueiras.

A seguir, após a necrópsia, suspeitou-se de vazamento de gás, embora não houvesse instalações de gás naquela suíte. Foram várias idas e vindas até que descobriu-se que após a venda do Empire para o Ebony haviam sido feitas obras, quando foram embutidas as antigas instalações de gás.

A venda envolveu a empresa Rent TV, que tinha muito dinheiro a receber por serviços anteriormente prestados de aluguel de TVs e ficou com ações do novo empreendimento. Foram indiciados por homicídio culposo esta empresa, o arquiteto das modificações e até cogitou-se de culpar o operário que não teria feito o fechamento correto do encanamento de gás ou outro que teria religado indevidamente o gás.

Enfim, um grande "imbroglio" que, pelo que pude ler, acabou com a condenação apenas do arquiteto, a uma pequena pena de prestação de serviços comunitários.

PS: como o carioca não perde a chance de uma brincadeira, mesmo que de mau gosto, em certa ocasião as meninas do Castelinho resolveram eleger o homem mais interessante do pedaço. O prêmio para o vencedor seria uma noite no Motel Ebony (não se sabe se ele poderia escolher a companhia entre as votantes). Mas sugeriram um título para a noitada. Dois ficaram entre os finalistas: "Uma noite a todo gás" e "Não respire, meu amor...".

Há pouco mais de dez anos o Ebony fechou, foi vendido e voltou a ser um hotel: é o atual Hotel Diamond.

E tudo começou com o comentário do GMA...