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sábado, 30 de julho de 2022

DO FUNDO DO BAÚ: CARTAS


Esta carta, com carimbo dos Correios de 05/02/1974, enviada por um grande amigo que dava um curso de pós-graduação em Pernambuco, lembra um tempo em que as comunicações telefônicas eram dificílimas, a escrita era valorizada e tudo transcorria mais devagar. Lembro das férias em que a namorada viajava e o único meio de comunicação eram as cartas. Levavam uma semana para ir e mais uma semana, no mínimo, para voltar. O carteiro, na região da Lagoa, vinha lá da Rua Montenegro entregando a correspondência, sempre depois do meio-dia, enquanto a ansiedade aumentava. Atualmente, com as facilidades existentes, tudo é instantâneo, imediato, sem o "glamour" de outrora. Embora as novas gerações estejam escrevendo muito nada é como antes, quando as cartas eram longas, caprichadas, bem escritas.

Belos tempos os que tinham caixas de correio tão bem trabalhadas, quase uma obra de arte.  Como diz o Rouen, mandávamos cartões postais sem envelopes dos locais onde passávamos as férias, Petrópolis, Paris, Clermont Ferrand, Cambuquira, etc. E eram recolhidos e chegavam ao destino.

Já hoje em dia, a caixa de correio de casa serve somente para depósito de propaganda e contas da Light, Telerj, Societé Anonyme du Gaz, Cartão de Crédito, aviso de prestação atrasada. Não é mais Caixa de Correios é Caixa de Contas. Já pedi para o sindico lacrar a minha!


Até 1982 a agência central dos Correios funcionou no Paço Imperial. Hoje em dia, embora o volume de cartas postadas seja diminuto se comparado ao passado, ainda há muito movimento nas agências dos Correios, principalmente para envio de encomendas.


Nesta foto vemos um carteiro entregando correspondência em Ipanema ou Leblon. Esta foto é do acervo da Última Hora (todas as outras são do acervo do Correio da Manhã).


Nos anos 70 havia até agência postal volante. 


Uma típica agência dos Correios nos anos 50. Muitos têm saudade de receber cartas. Era uma época na qual quem as recebia ficava feliz em saber notícias das pessoas queridas, saber dos lugares em que elas estavam, saber que elas também sentiam saudades. Passado um tempo, para alguns, as cartas se tornaram muito mais do que isso - tornaram-se documentos das próprias histórias. Há quem tenha baús de cartas guardadas desde criança, salvo alguma que tenha se perdido em muitas mudanças. De vez em quando é bom pegar algumas para ler e algumas vezes, até para "pesquisar" fatos que não se consegue resgatar da memória. 


quinta-feira, 28 de julho de 2022

RUA ARAPOGI - BRÁS DE PINA

Brás de Pina fica na Zona da Leopoldina do Rio de Janeiro e faz divisa com a Penha Circular, Vila da Penha, Cordovil, Vista Alegre e Irajá. Até a construção da Avenida Brasil, na década de 1940, suas terras alcançavam a Baía de Guanabara.

O nome do bairro é em homenagem ao antigo proprietário de suas terras, Brás de Pina, que tinha um engenho de açúcar no século XVIII, estando ligado também a pesca das baleias. A fazenda se estendia até às margens da baía da Guanabara.

Atualmente o bairro é dividido pela linha férrea, que foi inaugurada em 1886, e é cercado por muitas favelas.


Vemos a Av. Arapogi, em 26/03/65, em Brás de Pina, com o rio do mesmo nome. Esquina com a Rua Iricume. A disputa por espaço entre o lotação e ônibus se devia a uma outra ponte, então interditada.

O símbolo do IV Centenário no vidro traseiro do lotação data a foto. O cano de descarga elevado é outra característica da época. E o que dizer do olhar perplexo do pedestre vendo a próxima colisão do lotação e do ônibus?


Já este lotação ignora a proibição e utiliza a ponte que estava interditada. É bem verdade que não aparecia, pelo menos na foto, nenhuma indicação da interdição.

Em outra ocasião o Mauroxará escreveu que "o lotação é um carro agregado à V.A.L.S.A., Viação Amigos Leopoldinenses S.A. Durante um breve periodo, esse carro "recolhia", isto é, ficava guardado no Posto "Bravo". Não sei se pertencia ao Sr. Bravo, dono do posto e fundador da Caprichosa. A linha era Vigário Geral-Bonsucesso. Neste canal sempre tinha um carro com sede que ia lá em baixo se "refrescar"."


Um grupo de rapazes usa a ponte interditada para atravessar o rio.

Os pedestres não se preocupavam com a interdição da ponte.

O bairro, como nesta foto dos anos 60, tinha problemas de saneamento. Urubus no canal do rio Arapogi eram frequentes.

Aqui vemos a esquina da Rua Arapogi com a Rua Francisco Enes. Nos anos 60 a situação na região era difícil, pois havia ruas, como a Francisco Enes, em que era normal ver correr na porta das casas as valas de esgoto a céu aberto com pontes de madeira para pedestres.


Uma precária ponte de madeira também era usada para cortar caminho.

Certa vez o Lino fez um comentário que dava uma ideia bem diferente do que vemos nas fotos: "O bairro de bairro de Brás de Pina foi a urbanização de um grande engenho de açúcar, pertencente ao Sr. Brás de Pina, que após o loteamento e urbanização deste local, deu nome ao bairro, muito embora durante a fase de loteamento fosse chamado de Vila Guanabara.

A urbanização foi efetuada pela Contrutora Kosmos, era chamada de "Princesinha da Leopoldina", seguindo planejamento modelo de urbanização, com ruas calçadas e arborizadas para amenizar o calor. O canal da Av. Aragogi era bem arborizado com flamboyants.

Nos anos 60 e 70, neste bairro moraram várias famílias portuguesas, inclusive o meu tio Antonio, que morou na Rua Piriá."

Também um comentário do Andre Decourt destoa do que vemos nas fotos de hoje;

"Ao contrário de seus bairros vizinhos como Cordovil e Penha, Brás de Pina foi um completo projeto de loteamento, inspirado em bairros de Londres, com tecido urbano retorcido para privilegiar o tráfego local, dado a apenas uma via. O único problema foi que esse trecho do bairro ficou meio asfixiado pelos aterros ao longo da Av. Brasil e, nas vezes que passei por ele, apesar de agradável, achei quente. Considero o loteamento vizinho a Vila Panamericana, principalmente na região das ruas Coimbra Cintra, Av. Lusitânia, muito mais agradável termicamente, talvez por estarmos em uma colina bem arborizada. Se morasse no subúrbio da Leopoldina seria o lugar para morar, não fosse a violência do Alemão impactar a região. Tenho bons amigos lusos por aí.

As ruas nos anos 30 já eram pavimentadas e arborizadas. A empresa construtora, da família Lobo tendo como sócios a família Enes também fornecia, como em outros loteamentos, projetos de casas a serem executadas caso o comprador do lote assim desejasse, o que explica alguns imóveis repetidos na região. Havia vários estilos disponíveis em voga nos anos 30 como o neo-colonial bem simples que tanto vemos nessa região suburbana, e outros menos cotados com um art-déco bem utilitarista, já bem desfigurado em quase todas as construções.

Essa parte do bairro, além linha férrea, pelo seu urbanismo e qualidade das contruções em comparação aos bairros vizinhos, quase vazios ou muito precários, tinha o apelido de Princesinha de Leopoldina. Muita gente da Zona Sul comprou propriedades nessa região nos anos 40 e 50, crentes da sua valorização pela proximidade com as saídas para Petrópolis e São Paulo e também por ser perto do término da Linha Verde, que ligaria a Gávea à Via Dutra, que seria pela Av. Meriti na fronteira com Cordovil, além do mercado São Sebastião. A região hoje é meio morta e decadente além da linha férrea onde o comércio, o cinema e as indústrias foram embora, mas essa parte aí tem o clima do subúrbio do passado, meio pichado e sujo de poeira de diesel, mas ainda com bucolismo."

 

Imagem da Av. Arapogi obtida no Google Maps. A região parece bem mais cuidada.



quarta-feira, 27 de julho de 2022

O EDIFÍCIO BRANCO


Foto do livro "Família Ferrez" mostrando um solitário banhista em Ipanema, tendo ao fundo o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea.

Durante muito tempo aquele edifício alto, branco, lá na altura do Vidigal contrastava com as edificações baixas de Ipanema e Leblon. 


Nesta foto da construção da estrutura para proteção contra as ressacas, em um Leblon quase deserto, lá está ao fundo e à esquerda, o edifício branco.


No ano de 1951 vemos nosso amigo Rouen, acompanhado da mãe, já em seu trabalho de pesquisa para o "Arqueologia do Rio", sobre aquele edifício branco.

Até os pilotos da prova do 3º Circuito da Gávea davam de cara com o edifício branco.

Conforme conta P. Scali, dada a impossibilidade da vinda de pilotos europeus por conta da guerra mundial, somente pilotos nacionais competiram nesta prova. Foram 17 automóveis e o vencedor foi Rubem Abrunhosa, guiando um carro com suspensão de Alfa Romeo e motor de Studebaker President 8 de 1938, além de quadro de chassi e carroceria fabricados pela oficina carioca que pertencia a João Woerdenbag.  A seguir chegaram Chico Landi, Angelo Gonçalves, João Santo Mauro e Antonio José Pereira. O tempo do vencedor foi de 2h49min49s.A partida era no final do Leblon, em frente ao Hotel Leblon, subia pela Av. Niemeyer e descia pela Rocinha e Marquês de São Vicente, com a chegada no ponto de partida.


Aqui vemos o anúncio deste prédio de apartamentos: trata-se do Edifício Cordeiro. Foi entregue no segundo semestre do ano de 1933.

De uma visitante do "Saudades do Rio" recebi a seguinte mensagem: "Eu, Sonia Gurfein, meu marido e meus filhos mudamos da Argentina para o Rio de Janeiro em 1973 e tivemos a sorte de morar no edificio Cordeiro, no 9º andar. O primero ano no ap. do meio, o de menor tamanho e depois de alguns meses ficou libre o da direita, (muito maior), no mesmo andar, onde moramos tres maravilhosos anos, com as melhores vistas do mundo, durmindo com o barulho do mar!!!"







terça-feira, 26 de julho de 2022

BONDE PRAÇA XV


 Isto é que é engarrafamento!

O bonde "Praça XV de Novembro" lidera um número incontável de bondes, em fila indiana. Provavelmente uma falta de eletricidade que levou todos os passageiros dos bondes a seguir a pé para o destino final. Uma carruagem, um automóvel e um tílburi tentam ultrapassar os bondes.

PS: Sabendo-se que coches e carruagens eram riquíssimas viaturas de quatro rodas puxadas por até oito cavalos; que a sege era puxada por dois animais; que a traquitana era semelhante à sege, porém com duas rodas pequenas à frente e duas grandes atrás; que as concorrentes da sege eram o cabriolet e o cab (este puxado por um burrico); que com duas rodas existiam  o London o vis-à-vis, a charrete e o tilburi; que de quatro rodas tínhamos a caleça (para 6 ou 8 pessoas), o phaeton (puxada por 1 animal), a vitória (um tílburi grande), a berlinda (para 4 passageiros), o coupé (veículo fechado, quatro rodas, com lacaio e cocheiro) e o landau (alto luxo, 4 rodas, molas flexíveis e dupla capota), qual deles seria o que aparece em primeiro plano com um cocheiro elegantemente vestido?

Segundo o Gustavo Lemos aquele carro com motorista todo de branco é um Darracq 20/28, que foi fabricado entre 1905 e 1908. 

O local é a Av. Marechal Floriano com seus belos postes (o primeiro com aquela faixa branca indicativa de ponto de parada de bondes).


Este "Praça XV" não chegou a seu destino.


Outro dia vimos um menino aboletado na traseira de um bonde da série 1800. Hoje a cena se repete num bonde "Praça XV".


O "Praça XV" na Praça Saenz Pena em foto de Malta.

Uma pergunta: havia um grande número de linhas de bonde com destino "Praça XV" ou "Barcas". Como funcionava este ponto final? Havia um "rodo" ou alguma espécie de terminal?

segunda-feira, 25 de julho de 2022

VILLA AMERICA


Esta foto de 1922, publicada na revista Fon-Fon e garimpada pela Conceição Araújo, mostra um palacete da Villa América, grande empreendimento no bairro do Andaraí, há 100 anos. Palacete este que sobreviveu até nossos dias na Rua Conde de Bonfim.


Segundo a revista Fon-Fon, “se vendem atualmente terrenos próprios para edificações e, o que é melhor, a prazo, em prestações mensais ao alcance de todas as bolsas.

O pitoresco bairro do Andaraí é um dos que melhores vantagens e mais encantos oferece para edificações modernas por possuir a delícia de um clima excelente e ameno, sendo um centro de elegância preferido pelas famílias.

Num ponto soberbo deste bairro admirável, na Villa América, se vendem terrenos próprias para edificações.”

Segundo o J.A.C. Maia a Villa América foi um empreendimento para competir com o da companhia do Engenheiro Richard. Pegava da Rua Borda do Mato, lado ímpar, até a Rua Ferreira Pontes. Toda esta área faz parte do bairro do Grajaú.



A indicação para ver os terrenos dizia para saltar à Rua Barão de Mesquita, esquina da Rua José Vicente e, a poucos passos, uma grande tabuleta indicará o endereço do escritório à Rua do Bom Retiro nº 826 (bondes do Uruguay e Engenho Novo).

O Rafito (nosso prezado Rafael Netto) foi o primeiro a dizer que o palacete ainda existe e é o Centro Municipal de Referência da Música Carioca Artur da Távola, na Rua Conde de Bonfim nº 824, esquina com Rua Garibaldi.


Os jornais da época davam destaque à venda dos terrenos e faziam propaganda da salubridade do local e da facilidade de transportes pelos bondes.

Em 1935 o Correio da Manhã publicou anúncio para a venda do palacete. Não sei informar sobre os moradores do palacete até os anos 90, quando o prédio foi tombado (depois foi destombado, para finalmente ser novamente tombado já neste século). 


Foto garimpada por Atila Franco mostrando o palacete nos dias atuais.

O imóvel foi tombado pelo DECRETO DE 11 DE DEZEMBRO DE 2009: 

“Determina o tombamento definitivo do imóvel sito à rua Conde de Bonfim, 824 – Tijuca – VIII R.A. – e cria área de entorno de bem tombado. 

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso de suas atribuições legais e CONSIDERANDO que o palacete situado na Rua Conde de Bonfim nº 824 constitui um excepcional exemplo do ecletismo na arquitetura, manifestação típica e recorrente no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX; CONSIDERANDO que o imóvel é exemplar representativo das construções e da ocupação urbana desse tradicional bairro residencial burguês, constituindo um dos últimos exemplares desta tipologia de parcelamento, implantação, solução arquitetônica e tendência estilística no bairro e um marco na paisagem local; CONSIDERANDO que o referido casarão abriga hoje o Centro Municipal de Referência da Música Carioca, importante equipamento cultural da Cidade; CONSIDERANDO a existência, no seu entorno, de conjunto arquitetônico remanescente da primeira metade do século XX e a necessidade de salvaguardar o bem de ações que prejudiquem sua integridade e sua ambiência; e, CONSIDERANDO o pronunciamento favorável do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, que consta do processo nº 12/000.524/92; 

DECRETA: Art. 1º Fica tombado definitivamente, nos termos do art. 1º da Lei nº 166, de 27 de maio de 1980, a edificação situada na Rua Conde de Bonfim, 824, Tijuca, VIII R.A.. 2 Art. 2º Fica criada a Área de Entorno de Bem Tombado definida pelos limites dos lotes 822, 824, 830 e 832 da Rua Conde de Bonfim, 5, 11, 13, 19 e 21 da Rua Garibaldi e 1723 da Avenida Maracanã, na forma do Anexo I deste Decreto. Art. 3º Ficam preservados os imóveis de números 822, 830 e 832 da Rua Conde de Bonfim e 5, 11 e 13 da Rua Garibaldi, situados dentro dos limites da Área de Entorno de Bem Tombado criada por este Decreto e definida no art. 2º. Parágrafo único. Preservam-se as fachadas, os telhados e a volumetria originais das edificações supracitadas. Art. 4º Ficam tutelados todos os demais imóveis situados dentro dos limites da Área de Entorno de Bem Tombado criada por este Decreto e definida no art. 2º."