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sábado, 13 de janeiro de 2024

CASSINO DA URCA

“A repressão aos jogos de azar é um imperativo de consciência universal; a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e exploração dos jogos de azar e, das exceções abertas à lei em geral, decorrem abusos nocivos à moral e aos bons costumes”.

Assim justificou o Presidente Dutra a extinção do jogo no Brasil, deixando desempregadas mais de 40 mil pessoas.


FOTO 1: O prédio do Cassino da Urca foi construído nos anos 20 para funcionar como um hotel-balneário. Transformou-se em cassino na década seguinte, pelas mãos de Joaquim Rolla. Com a proibição do jogo no Brasil, em 1946, perdeu sua finalidade e acabou virando a sede da TV Tupi, nos anos 50. Mais adiante, depois de muito tempo abandonado, foi ocupado pelo IED - Instituto Europeu de Design e, atualmente abriga a escola Eleva.

Foi projetado pelos arquitetos Archimedes Memória e Francisco Cuchet para acomodar turistas que viriam à Exposição Internacional Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil, em 1922. Após a exposição, vegetou por alguns anos, até ser adquirido em 1935 pelo empresário dos jogos Joachim Rollas, que o converteu em cassino. As obras de adaptação foram realizadas pelo engenheiro Mário Chagas Dória, ficando a decoração interna a cargo do arquiteto Wladimir Alves de Sousa, que criou os belos salões em estilo art-déco, que ainda subsistem. Seu período áureo foi de 1938 a 1946, quando grandes nomes artísticos nacionais e internacionais e uma clientela selecionada contribuíram para que se tornasse uma das mais disputadas casas das américas. Artistas de um porte de Josephine Baker, Maurice Chevalier, Mistin Guett, Carmem Miranda, Eros Volúsia, Alvarenga e Ranchinho, Oscarito, Grande Otelo e Ankito, realizaram shows memoráveis em seus palcos. 


FOTO 2Quem brilhou no Cassino da Urca e na TV Tupi foi a vedete Virginia Lane. Atuou na TV em atrações como o programa "Espetáculos Tonelux" e, também, contando histórias infantis, fantasiada de coelhinho, no programa "Coelhinho Teco-Teco". Além disse teve uma longa carreira no cinema e, mais velha, participou de várias novelas.


FOTO 3Esta foto e as coloridas seguintes fazem parte de um “folder” publicitário de época do Casino Balneário da Urca. São do acervo de Monsieur Rouen de Michelin de Mont-de-la-Veuve, remanescente das tropas de Villegaignon no projeto da França Antarctica. M. Rouen também atende por Claude Fondeville.


FOTO 4Neste palco era comum a presença de grandes atrações internacionais como Bing Crosby, Toni Bennett, Amália Rodrigues, Carmen Miranda e Edith Piaf. Dos artistas nacionais tínhamos Virginia Lane, Grande Otelo, Emilinha Borba, Marlene, Linda Batista, Dircinha Batista, Heleninha Costa, e Dalva de Oliveira entre muitos outros famosos.

Neste Casino também tivemos outros grandes nomes que se tornaram músicos e empresários como os integrantes da orquestra de Carlos Machado, a Brazilian Serenaders onde vamos ter a presença do simpático violinista Fafá Lemos, que depois vimos tantas vezes em apresentações na TV-Tupi, o crooner e pianista Dick Farney que mais tarde veríamos na película “Carnaval na Atlântida em 1952”.

Dizem que alguns músicos também se apresentavam no mesmo dia no Casino Hotel Balneário Icaray e que para chegar até lá saíam de barco da Urca e o grande problema era em dias de chuva e mar agitado. Um pouco antes do Ed. Seabra, na Av. João Luiz Alves, existe o resto de um atracador; será que era de lá que saíam?


FOTO 5: Um ambiente sofisticado, com muita música, dança, boa comida e vestimentas de luxo.


FOTO 6: Quanto custaria uma noitada no Cassino da Urca, sem considerar eventuais perdas nas roletas ou nas cartas?


FOTO 7Todos os itens eram cuidadosamente apresentados como beleza do lugar, ar condicionado (raro em grandes áreas naquela época) , frequentadores de fino trato e, é claro, os shows.

FOTO 8: Suponho que esta imagem represente alguma festa especial, pois no dia a dia, para haver um número razoável de pessoas, as vestimentas deveriam ser mais simples.


FOTO 9: M. Rouen, gentilmente, conseguiu um convite extensivo a todos os comentaristas do "Saudades do Rio".


FOTO 10: Sorte para os que forem jogar. Que recebam muitas dessas fichas ao acertarem na roleta.

FOTO 11: Foto de Hart Preston. O palco, o fosso da orquestra (que subia e descia conforme a necessidade), a pista de dança, as mesas e os camarotes.


FOTO 12: Foto de Hart Preston. A pista de dança repleta. 



FOTO 13O ar-condicionado sempre a 21ºC era um grande diferencial do Cassino da Urca.

FOTO 14: Espetáculos circenses também faziam parte do show. Havia "matinées" e "soirées". Às vezes eram distribuídos brindes aos frequentadores.

FOTO 15: Aspecto de um dos salões de entrada, em estilo art-déco. Provavelmente foi onde se instalou o auditório da TV Tupi.

Um anúncio curioso do “Casino da Urca” em 1940: “Conserve sua belleza. Como? Não se fatigando. Não commemore anniversarios. Não offereça jantares. Não obsequie em sua residencia. Tudo isso lhe dará trabalho e rugas, as rugas que não se apagam mais. Seja moderna: pratique todos esses actos de cortezia fora de casa, num club, num casino. Que Casino? O Casino da Urca, o mais distincto, o mais alegre, num ambiente refrigerado com perfeição. Conserve sua belleza: a belleza reside na mocidade.”

PS: O tema dos cassinos gera muita polêmica, há muito tempo. Há vários prós e contras que, certamente, serão debatidos nos comentários.

 

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

ONDE É?

Hoje temos oito fotos, todas do Arquivo Nacional, Fundo Correio da Manhã, algumas muito fáceis, várias médias e algumas muito difíceis, pois há poucos elementos para identificar.

Em algumas há automóveis que, provavelmente, tirarão o prezado obiscoitomolhado da caixa para uma aula.

Divirtam-se!


FOTO 1: ano de 1966


FOTO 2: ano de 1965


FOTO 3: ano de 1965


FOTO 4: ano de 1953


FOTO 5: ano de 1961


FOTO 6: ano de 1956


FOTO 7: ano de 1962


FOTO 8: ano de 1962

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

PRAIA DE BOTAFOGO

 


A Praia de Botafogo, em foto garimpada pela Conceição Araújo, era assim por volta de 1930. Aqui à direita vemos a igreja da Imaculada Conceição e bem à esquerda, no alto, as sedes do Guanabara e do Botafogo.

Mais uma vez temos uma postagem com a colaboração dos amigos especialistas do Rio Antigo. Conceição Araújo garimpou esta linda fotografia de Guilherme Santos, na Brasiliana Fotográfica, acervo do IMS, mostrando a Praia de Botafogo, com um bonde na esquina da Rua Marquês de Olinda.

A foto é por volta de 1930, pois é possível observar que a estátua do Cristo Redentor está em construção. O bonde é da linha “Copacabana”, que foi extinta muito cedo, e tem o nº de ordem 96.

Vemos, ao lado do bonde, o prédio onde funcionou a “Escola Amaro Cavalcanti” (em "alta" o letreiro é bem legível). O “Correio da Manhã” noticiou em 1929 que esta escola se adequou à “Reforma do Ensino de Fernando Azevedo”, a grande lei que modificou as normas educativas das escolas municipais, trazendo novos processos pedagógicos aliado a uma profunda irradiação de educação social. Deu, então, à antiga “Escola do Aperfeiçoamento”, uma organização mais ampla.

Na adaptação do prédio a este novo endereço houve grande contribuição dos fornecedores, com doações ou abatimentos de preços dos materiais, atendendo a finalidade dos cursos gratuitos oferecidos.

Os cursos seriam em três turnos, das 8 horas até as 22 horas. Amparado pelo esforço e dedicação incansável da administração municipal, pela boa vontade e competência do corpo docente especializado, desejo de aprender do corpo discente e com o auxílio inestimável do Comércio, a Escola Amaro Cavalcanti contribuirá para a execução do grande Código de Educação Social que é a Lei Fernando de Azevedo, conclui o jornal. 

Porém este prédio, que tinha como endereço "Praia de Botafogo nº 296", durou pouco tempo, como veremos abaixo.


Vemos, em detalhe, o bonde "Copacabana", nº 94.

No lugar do casarão da Escola Amaro Cavalcanti foi construído, em meados da década de 1930, o Edifício Pimentel Duarte, que aqui vemos num aquarela de Felisberto Ranzini.

E falar no Pimentel Duarte é obrigatório nos debruçarmos sobre as pesquisas do amigo Rouen, Claude de Fondeville, fã nº 1 deste prédio.

Conta o Rouen que o número original do prédio era 290 e o que foi construído em seu lugar em 1982, o Centro Empresarial Botafogo, adotou o nº 300, como estratégia de marketing. 

A entrada do Pimentel Duarte, preparada para receber veículos, possuía uma ampla marquise em cimento armado, a fim de abrigar os automóveis em dias de chuva. 

Em toda área havia uma belíssima geometria na colocação dos mármores e a entrada era atapetada em desenho geométrico.  Mais adiante as portas sociais dos dois apartamentos de três quartos, localizados na parte dos fundos.

Este edifício possuía três plantas distintas a saber:

• Pavimento térreo com duas unidades de dois quartos localizadas na parte frontal.
• Ainda no mesmo pavimento duas de três quartos na parte dos fundos, porém sem varanda.
• Nos nove pavimentos que se seguem todos são iguais, ou seja, de três quartos com uma varanda na sala.
• No topo havia um apartamento para o “concierge”. Havia também uma área livre bastante grande no último piso e creio que este local era usado para a colocação de roupas a serem secadas. Além de um depósito, ali se localizam a casa de máquinas dos dois elevadores e duas caixas d’água perfazendo um total de 20.000 litros.

Conforme o projeto dos arquitetos Paulo Pires e Paulo Santos da construtora Pires & Santos & Cia. o edifício Pimentel Duarte foi um dos primeiros a serem construídos na Praia de Botafogo (1936).

Esta fotografia é de autoria do amigo Rafael Netto e foi feita com o propósito de comparação com a imagem da aquarela. Foi feita em 2007 e publicada no seu saudoso fotolog "Ontem e Hoje".

Vemos uma panorâmica da Praia de Botafogo. Como já se comentou bastante, a bucólica região se encheu de prédios, a partir do Pimentel Duarte, que foi construído em 1936 e depois de passar por abandono, acabou sendo demolido no início da década de 1980, para a construção do Ed. CAEMI, atual Centro Empresarial Botafogo, o edifício maior no centro da foto.

Para a esquerda da imagem, os grandes blocos do Ed. Coral e adjacentes bloqueiam a vista da Pedra da Gávea. Nos espaços entre os edifícios, existem o casarão do antigo Colégio Andrews, e o terreno vazio deixado pela demolição de um casarão no início dos anos 90, usado como estacionamento.

Do lado oposto, o gigantesco Ed. Argentina domina a paisagem. Entre eles, a igreja da Imaculada Conceição permanece no mesmo lugar, mas não reina mais sobre a praia como outrora.


Aproveitando a vizinhança reproduzo esta foto, que é o resultado de uma pesquisa do Rouen, na primeira década do século XXI, sobre a localização da mansão do Dr. Miguel Couto, na Praia de Botafogo.

Acompanhando a foto acima para nos localizar temos começando pela esquerda:

• Na frente das 4 palmeiras que vemos, dentro de uns 10 anos os arquitetos Paulo Pires e Paulo Santos que se assinam Pires, Santos irão entregar o Ed. Pimentel Duarte ao proprietário homônimo.

• A Rua Marques de Olinda esquina com a Praia de Botafogo.

• A casa da esquina onde atualmente existe um edifício com o nº 284 e uma série de lojas e sobrelojas abandonadas.

• A tão procurada residência do Dr. Miguel Couto onde atualmente temos o Ed. Vitória, de nº 280, erguido no final dos anos quarenta.

• Um edifício pertencente a Igreja ao lado.

• A igreja Imaculada Conceição.


Aqui vemos a qualidade da pesquisa do amigo Rouen. Foi uma perda incalculável para a história do Rio a desativação dos fotologs do Terra, onde havia tanto sobre o Rio de antigamente.

Neste interessante desenho da planta de situação vemos a área total do imóvel na qual podemos observar com espanto e diria até com admiração que a área ocupada pelo edifício propriamente dito era praticamente somente 1/3 da área do terreno total.

Temos então em legenda:

1 – Entrada social

2 - Entrada de serviço para acesso ao terreno pelo lado direito e para o edifício com entrada pelas duas laterais.

3 – Entrada para a garage.

4 _ Play-ground onde foram mantidas as palmeiras das quais eu me referia.
Pontos  interessantes a considerar:

• Pela entrada social os veículos possuíam acesso para a deixar o passageiro sob uma grande marquise na entrada do Hall sem que os passageiros pegassem chuva. Vamos encontrar este tipo de solução em alguns edifícios construídos nesta época.

• A entrada de serviço era feita lateralmente inclusive não se tinha acesso por esta parte do prédio senão pela entrada 2.

• Manutenção das palmeiras lá existentes e criando-se um pequeno parque com play-ground, coisa pouco encontrada nos edifícios da época.

 • O play-ground possuía também uma entrada lateral própria em 4.

• Existência de uma garagem para os moradores, o que somente veríamos aparecer na década de 50. A notar que depois de estacionar o veículo a pessoa caminhava pela área interna do edifício passando pela parte traseira da garagem e em seguida pelo Play.

(Desenho: Arquitetura e Urbanismo -- Órgão Oficial do Instituto de Arquitetos do Brasil).


E terminamos com esta colorização do Nickolas, com destaque para o Ed. Pimentel Duarte, reinando na Praia de Botafogo.

Mais uma vez os agradecimentos aos colaboradores.