Total de visualizações de página

sábado, 7 de outubro de 2017

DO FUNDO DO BAÚ: SATURIN E TERESÓPOLIS



Hoje é sábado, dia da série “DO FUNDO DO BAÚ”. E de lá sai esta fotografia de um folheto em que é citada a empresa SATURIN que, por coincidência, apareceu no “post” de ontem.
O folheto, de 1961, das Excursões Saturin, oferece visitas ao Pão de Açúcar, Petrópolis, Rio à noite, Paquetá, Teresópolis, Corcovado, Tijuca, Cabo Frio e Jardins. E, junto, uma propaganda da H. Stern.
O ônibus da SATURIN é da indústria francesa Chausson e a foto do acervo de A. Mattera. Segundo informações a Saturin tinha garagem na Rua Petrocochino, em Vila Isabel.
E, no ônibus da SATURIN, vamos aproveitar o sábado em Teresópolis, que aparece em foto do acervo do Rouen.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

SÃO CONRADO







Hoje, além das fotos do acervo do Correio da Manhã (uma do Bar Bem, colorizada pelo Nickolas), temos um longo texto sobre São Conrado, com a colaboração de muitos comentaristas do “Saudades do Rio”. Desde já peço desculpas por não citar os nomes deles, pois, infelizmente, ao copiar os textos não anotei os nomes dos autores. Os textos são de São Conrado pelos olhos de seus moradores ou visitantes. A meu ver muito interessantes, pois não constam nos livros de história, mas trazem saborosas reminiscências do Rio antigo. Como são lembranças, às vezes não estão corretas. Peço, então, que eventuais correções sejam feitas.
O atual bairro de São Conrado era, até o início do século XX, praticamente deserto. A região era conhecida como "Praia da Gávea", pois o morro, visto do mar pelos colonizadores, parecia uma cesta de mastro. O acesso a esta região, até aquela época, a partir da Zona Sul, era feito pela estrada da Gávea e, a partir de 1916, pela recém-inaugurada Avenida (estrada) Niemeyer.
Na década de 30 o bairro começava a interessar aos investidores. Um exemplo foi a campanha de venda da GAVELANDIA, que dizia: "O sonho que daqui a pouco será concreta realidade. GAVELANDIA, padrão simbólico da energia criadora e dinâmica da Land Investors Trust S/A. A GAVELANDIA que na visão ao alto se localiza sobre a soberba elevação mais próxima da suave orla atlântica surge glamurosamente coberta de construções em sucessivos platôs. A montanha e o mar conjugam seus fatores de beleza e salubridade para realizar o encanto do mais lindo bairro atlântico da formosa capital do Brasil".
Há hoje em dia um condomínio chamado "Jardim Gavelandia", vizinho da Casa de Retiros Anchieta, a famosa Casa dos Padres, em São Conrado, com acesso pela Rua Capuri. Segundo um morador, o vale de São Conrado é uma das regiões mais interessantes do Rio de Janeiro , inclusive superior paisagística e monumentalmente ao conjunto da Urca, e mesmo à área do Corcovado. Ali o conjunto de montanhas criou condições que nunca foram valorizadas nem exploradas do ponto de vista turístico como poderiam ter sido, ou ao menos criado um bairro melhor.
Na década de 1940 foram projetados loteamentos nas encostas próximas à Pedra da Gávea e à Pedra Bonita (chamado Jardim Pedra Bonita) de maneira a criar um bairro organizado, mas o excesso de zelo hipócrita cortou a maioria dos lotes, deixando alguns que hoje formam as ruas Iposeira e Gabriel Garcia Moreno. Impediu-se assim a criação de um bairro jardim mais bem estruturado. Se não me engano o Jardim Gavelândia é o que fica do lado da Rocinha , ruas Capuri , São Leobaldo, Santa Glafira, etc.
O Gávea Golf Club existe graças aos engenheiros ingleses da Light que resolveram criar seu clube ali, desenvolvendo um trecho do bairro civilizadamente. As prefeituras de todas as épocas cercearam as ocupações legais dos terrenos de encosta, o que daria ao menos um ambiente mais civilizado, mas permitiram criminosamente e demagogicamente as ocupações irregulares e desordenadas em vários pontos do bairro. São Conrado acabou sendo um bairro de passagem, com uma praia poluída pelo esgoto da Rocinha e com uma estrada fantasma (Estrada da Canoa), coroada com o esqueleto do fracassado Gávea Tourist Hotel. Cabe ainda mencionar a outra “estrada fantasma “, abandonada, a Estrada do Joá. Espetacular paisagem, também jogada no lixo. Enfim, parece que tudo isto faz parte do estigma misterioso que castiga o Rio de janeiro. Deve ser alguma maldição dos tamoios, os verdadeiros donos destas paragens, massacrados nestas regiões, nos séculos XVI e XVII .
Além das belas fotos da Praia de São Conrado vemos as famosas barraquinhas derrubadas em meados dos anos 60. Eram, segundo alguns, o último limite que as “moças de família” se permitiam ir. Se topassem ultrapassar esta fronteira e ir para a Barra da Tijuca...
“Quando a Prefeitura resolveu remover as barraquinhas, o dono de cada uma ficou com o "direito" de construir um comércio estruturado, em alvenaria, no mesmo lugar. Alguns construíram (inclusive "seu" Nelson, dono do boliche "Pé-de-Vento"), e muitos venderam o "direito".
Alguns que, direta ou indiretamente, compraram estes direitos:
- O Sr. Loyola (pai da Vera Loyola), dono do Bar Bem, ficou com estes terrenos entre o Bar Bem e a Igrejinha e os terrenos entre a Igrejinha e a rua anterior. Nestes terrenos fez uma extensão do Bar Bem, que depois ganhou vida própria (não lembro o nome, mas acho que era algo "dos Pescadores") e o Bola Branca (depois Biruta).
- O Sr. Conrado Niemeyer ficou com o terreno entre a Estrada da Gávea e a R. Engº Álvaro Niemeyer. Alguns anos depois, fez ali o Top (Pot ao contrário), que virou Tochas (ou Tochas, que virou Top?)
- O Sr, Álvaro Niemeyer ficou com o terreno de esquina, logo depois da R. Engº Álvaro Niemeyer, e, logo, construiu o Pot, com um sucesso enorme.
- O Sr. Ricardo Amaral ficou com um dos terrenos pouco depois do Pot, e montou um restaurante focado em automobilismo. Tinha 2 dragsters pendurados nas paredes, e, em cima da lage, montou um cinema drive-in com carros antigos. Pagava-se a entrada e se assistia ao filme de dentro dos carros. Um dos diferenciais era que os garçons e garçonetes eram recrutados entre estudantes de nível superior.
Alguns dos terrenos das barraquinhas foram ocupados, em épocas variadas, por parquinhos de diversão, bastante toscos. O "Meu Boliche", que era o mais frequentado, e que teve a vida mais longa. Na subida da Estrada das Canoas, á direita.
- O "King´s" (do Sr. Loyola), um dos 2 boliches automáticos do Rio. Pouco depois foi fechado e transformado no Motel King's, na época em que o Sr. Loyola construiu o Vips, na Niemeyer, e percebeu que rendia muito mais que um boliche.
- O "Bola Branca", também do Sr. Loyola. Com a redução da procura por boliches, foi transformado em restaurante, com o mesmo nome, mas mantendo 2 pistas do boliche, que eram oferecidas como bônus às mesas cuja conta ultrapassasse um certo valor.
- O ACG - Automóvel Clube da Guanabara construiu um boliche completo, antes da primeira rua de São Conrado (antes do Biruta), mas que, com a falência do ACG, nunca chegou a ser inaugurado.
O "Pé-de-Vento" só veio alguns anos depois. O Sr Nelson vivia jogando no "Meu Boliche", e chegou à conclusão que era melhor transformar seu restaurante em boliche. Fez a reforma, inaugurou o boliche, e morreu de infarto, coitado.
Ricardo Amaral, pouco depois, montou o "Tobogã" e, em volta do tobogã, um parque que chamou de "Diverlândia" (a principal atração eram os karts). Lá se comiam os primeiros crêpes feitos no Rio. O sucesso foi imenso e, durante uns tempos, chegar do Leblon a São Conrado em um sábado ou domingo era coisa que demorava de 45 minutos a 1 hora e meia. Mais outro tanto para voltar.
Nós, que morávamos lá, saíamos pelo Alto da Boa Vista (Gávea Pequena) e Dona Castorina. A primeira "tirolesa" que teve por ali, quase que bem no mesmo lugar que o tobogã, mas bem antes, foi instalada pelo Exército, para treinamento de páraquedistas. Tenho quase certeza que, de vez em quando, eles deixavam os "civis" fazerem o "exercício".
Este pessoal dos Paraquedistas fixou as estacas de uma rede de volei, um pouco afastada do local da "tirolesa". A pedido de um amigo nosso, as estacas foram instaladas em frente à R. Henrique Midosi, perto das cocheiras do Gávea Golf (que não existem mais). Virou a rede de volei da minha "turma" durante muitos anos. Mas houve mesmo uma outra "tirolesa" pela época do tobogã. Tenho a impressão que também teve uma (talvez a mesma) em uma das Feiras da Providência na Lagoa.
A casa onde cresci foi transformada em colégio. Na R. Engº Álvaro Niemeyer, com fundos para a Estrada das Canoas. Quase em frente de onde foi o Pot.
A Escola Mater começou a funcionar em 1967, voltou a ser residência em 75. Em 81, a casa, com o alvará da escola , foi vendida, e voltou a ser colégio.”
Outro comentarista lembra: “Fomos para lá em 1959. Meus pais compraram o terreno em um loteamento e construíram a casa. Já tinham 4 filhos e era uma forma de ter alguma qualidade de moradia por um preço viável. Durante a construção da casa, um lotação descia da Gávea, pela Rocinha, até o Largo da Macumba, no fim da descida da Rocinha. Dali tínhamos que ir a pé até o Largo de São Conrado (uns 2 ou 2,5 km). Quando a casa ficou pronta, já funcionava outra linha de lotação, com ponto final no Largo de São Conrado (São Conrado- Bar 20). Uns meses depois foi substituído por um ônibus circular, o São Conrado-Real Grandeza, que acabou virando Vidigal-Mourisco (521 e 522). Quando esta linha foi "encurtada" até o Vidigal, ficamos só com o Hotel Leblon - Barra da Tijuca (555) que, anos depois, virou Rodrigo Otávio - Barra da Tijuca.
Não fomos completamente pioneiros porque uma primeira leva tinha se instalado em São Conrado nos anos 40. Depois, realmente, as coisas deram uma parada, até a década de 60.
Não havia nenhum comércio, exceto os restaurantes, "barraquinhas", parquinhos e um hotel de alta rotatividade (Hotel Recreio dos Bandeirantes). Em algumas épocas, conseguíamos entrega em casa de pão e leite.
O Rio era dividido em Zona Sul, Zona Norte e Zona Rural. A Zona Rural começava na entrada da Av. Niemeyer.
Quanto ao colégio, era o único particular por lá. Já existia, desde antes da década de 60, a Escola Pública Lúcia Miguel Pereira.
Telefone, era uma dificuldade. A CTB tinha um cabo, instalado na década de 40, mas que, mal foi instalado, já estava "lotado". Sem chance de conseguir um número. Lá em casa, tínhamos que ir até o Hotel Recreio dos Bandeirantes, para pagar um telefonema por lá.
No final dos anos 60, foi criada a CETEL, que instalou, finalmente, novas linhas. Nosso telefone era o 109. Qualquer ligação CTB/CETEL era feita via telefonista, com a devida espera, como qualquer interurbano da época.
Havia um hotel na Estrada da Gávea, à direita de quem volta de São Conrado para a Gávea. Entre a R. Henrique Midosi e o Gávea Golf. Mais ou menos onde hoje fica o último retorno da Lagoa-Barra em São Conrado (indo para a Gávea)”.
Nesta época das fotos, o acesso, a partir da Zona Sul, era feito pela Avenida Niemeyer ou, menos usado, a Estrada da Gávea. Fui várias vezes na Casa de Retiro Anchieta, dos padres jesuítas, para “retiro” dos alunos do Santo Inácio. Era muita mais uma diversão do que um retiro. À noite jogávamos cartas, ouvíamos os páreos do Jockey no rádio de pilha, alguém bancava as apostas, para desespero dos padres. Lembro que após as 22h desligavam a luz, mas continuávamos a jogatina com velas roubadas da capela ou de lanternas levadas nas malas.
Famosa também era a “corrida de submarinos” junto à Praia do Pepino. Pagava-se para entrar num terreno arenoso e tudo era garantido. O risco era atolar o carro na areia.
Quanto ao Gavea Golf & Country Club, é preciso explicar que ele sempre foi cortado ao meio pela Estrada da Gávea, no mesmo trajeto que ela faz hoje - aquela pista pequena, mais baixa que a autoestrada. Dizem que a propriedade sobe morro acima, até o viaduto das Canoas, o que deve ser verdade, porque aquela faixa de mata continua virgem.
Um pouco mais tarde, no início dos anos 70, com a construção do Hotel Nacional (1968-1972) e a abertura da autoestrada Lagoa-Barra, o movimento aumentou muito, com novos empreendimentos comerciais. Por essa época quem não ouviu o "jingle": "É um mal não frequentar o Bem", do programa Ritmos de Boate, do Big Boy, na Rádio Mundial? O Big Boy tinha três programas na Rádio Mundial 860 AM (atual CBN). "Mundial é show musical", todos dias de semana, das 18 às 19 horas; "Ritmos de Boate", todos os dias de semana, das 22 às 23 horas, com patrocínio do Bar Bem e Vip's Motel, e "Cavern Club", aos sábados, de 18 às 19 horas, onde só tocava Beatles. Uma curiosidade sobre o Motel Vip's: o nome foi criado com as letras iniciais dos três filhos do Ignacio de Loyolla. Vera, Ignacio e Pantaleão.
Antes da construção do Hotel Nacional o terreno em frente à praia serviu durante muito tempo de uma espécie de drive-in sem tela de cinema. Havia um precário serviço de bar, mas um eficiente serviço de desatolamento dos automóveis que ali ousavam estacionar.
SATURIN TURISMO: Começou a operar em outubro de 1951, licenciada pelo Departamento de Concessões da Prefeitura do então Distrito Federal, iniciando com uma frota de cinco ônibus de fabricação francesa, do tipo Chausson, com capacidade para 40 passageiros cada um, que seriam fiscalizados pelo Departamento de Turismo e Certames.
Seus passeios inaugurais ocorreram em 20/10/1951, com excursões ao Alto da Boa-Vista-Canoas e o “Rio à Noite”, como podemos ver no anúncio acima.
 

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

HOTEL PRAIA LEME


Esta foto, do acervo do Correio da Manhã, mostra o Hotel Praia Leme, um prédio de dois andares e 30 apartamentos, na Avenida atlântica nº 866, de propriedade do casal Charlott e Beno Huber. Funcionou desde os anos 40 e recebia principalmente hóspedes alemães. O edifício Elmar dava para a Av. Atlântica e para a Gustavo Sampaio.

Em 1977, seu vizinho no nº 854, o edifício Elmar na direção do Leme, construído em 1941, teve um recalque. Com o abalo os moradores vizinhos foram para a rua, como os do edifício Avahy no nº 840 e também os do edifício Sayonara, bem como os hóspedes do Hotel Praia Leme.

 Segundo o gerente do hotel todos os hóspedes foram evacuados e alojados em outra propriedade da mesma cadeia, na Av. Princesa Isabel nº 7, "exceto uns argentinos que foram embora sem pagar a conta".

Foi feito um escoramento de emergência com perfis metálicos no edifício Elmar, mas face à gravidade da situação reuniram-se o Secretário Municipal de Obras, Orlando Feliciano Leão, os responsáveis pelo Departamento Geral de Edificações (DGED), os representantes do Hotel Praia Leme, os síndicos dos edifícios vizinhos (Sayonara e Avahy), técnicos da Tecnosolo, o Major Roberto Falcão, do Corpo de Bombeiros, e o engenheiro estruturalista João Alves de Moraes, também diretor de Engenharia Urbanística da SMO.

Depois de muitas idas e vindas, conforme noticiado pelo JB de 23/8/79, optou-se pela demolição dos 12 andares do Edifício Elmar. O construtor Alain Marot explicou a forma da demolição, com todos os cuidados. A previsão era de um prazo de 90 dias a um custo de Cr$ 1 milhão 800 mil.

Notas:

1)      Giersch Patrick, hóspede alemão, 20 anos, com um cúmplice brasileiro, segundo o JB de 09/01/1984, assaltou o cofre do hotel em que estava hospedado, o Praia Leme.

2)      Em 1988 6 homens saquearam o hotel.

3)      O prédio da Construtora Marot-Soares, após a demolição, ficou abandonado por 7 anos.

4)      Atualmente, no local onde funcionou o Hotel Praia Leme há uma filial do Supermercado Zona Sul

5)      Alain Marot foi meu colega de turma no Colégio Santo Inácio. Grande figura, do bem, querido por todos. Destacava-se também como goleiro do time de nossa turma. Faleceu há 5 anos.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

PÃO DE AÇÚCAR





 
Nas  fotos de hoje vemos,  no início da década de 70, a modernização do bondinho do Pão de Açúcar.
Nas fotos 1 e 2 temos as maquetes das novas estações do bondinho do Pão de Açúcar, apelidadas de “Pato Donald”.
Nas fotos 3 e 4 vemos a coexistência dos dois bondinhos, durante um certo tempo.
Na foto 5 vemos o bondinho fazendo 60 anos, em 1972.
Consta que a primeira escalada do Pão de Açúcar foi realizada em 1817, por uma inglesa que, vencendo todas as dificuldades, chegou ao cume onde colocou uma bandeira de seu país. Um soldado português considerou o fato uma ofensa e escalou o penhasco, arrancou a bandeira inglesa e a substituiu pelo pavilhão real português.
Segundo Doyle, houve outras escaladas, uma delas em 1851, quando uma caravana de 10 pessoas, organizada pela dentista Burell, entre as quais duas senhoras e um menino de 10 anos de idade. Passaram a noite no cume, soltaram foguetes e à noite acenderam uma fogueira visível em quase toda cidade. Ao alvorecer hastearam bandeiras do Brasil, dos Estados Unidos e da Inglaterra e desceram sem qualquer incidente. Depois as escaladas tornaram-se frequentes.
A concessão para construir e explorar o Caminho Aéreo do Pão de Açúcar, na Praia Vermelha, foi outorgado pelo Dec. Mun. nº 1260, de 29/05/1909, ao engenheiro Augusto Ferreira Ramos e outros. As obras tiveram início no final de 1909 com guindastes gigantescos montados na base do morro enquanto centenas de operários, realizando perigosas escaladas, se incumbiam de transportar o material. Escaladores levaram uma corda que foi lançada de lá de cima e amarrada a um cabo-piloto, que serviu de guia para a extensão do cabo de aço que sustentaria o bondinho. Com os recursos daquela época foi uma façanha.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

PÃO DE AÇÚCAR




 
Hoje temos fotos de um dos mais famosos pontos turísticos do Rio, o Pão de Açúcar. Foto 1 (1963), foto 2 (1959), foto 3 (1957), foto 4 (1951) – nesta vemos um dos raros episódios de problemas, com um cabo arrebentado, consertado pelo mecânico Augusto Gonçalves.
É curioso notar que é grande o número de cariocas que nunca o visitou ou que o fez uma única vez. Possivelmente há turistas estrangeiros ou nacionais que tenham ido mais vezes ao local do que os próprios cariocas.
O Pão de Açúcar, com 395 metros de altitude, foi assim denominado pela semelhança do seu formato cônico com as fôrmas onde se despejava o açúcar pastoso, na Ilha da Madeira, posteriormente distribuído para consumo em unidades chamadas "pão de açúcar".
A concessão para construir e explorar o caminho aéreo entre a Praia Vermelha e o alto do Morro da Urca, com ramais para o pico do Pão de Açúcar e a chapada do Morro da Babilônia, foi outorgada em 1909. Em 1912 foi inaugurado o primeiro trecho do projeto e em 1913 o trecho final até ao pico do Pão de Açúcar, num percurso de 800 metros. As cabines do primeiro teleférico, chamadas de “camarote carril”, eram de madeira e comportavam 15 pessoas. A viagem levava, no total, nove minutos. Em 1972, após 60 anos, estas cabines foram substituídas por um modelo transparente, com capacidade para 75 passageiros.
Vieira Fazenda, em suas "Antiqualhas", descreve a viagem feita em 14/07/1913: "Nunca mais se me apagará da memória tal data, uma das mais felizes da minha não curta existência. Entrei tranquilo no bondinho. Não me benzi. A pequeno sinal começaram a funcionar as máquinas. Em menos de quatro minutos estávamos no cimo da Urca, a 224 metros de altitude. Passamos para outro bonde e eis-nos, enfim, no término da viagem. Se do Corcovado a vista abrange maior horizonte, o Pão de Açúcar leva-lhe vantagem. Sem binóculo a gente localiza os pontos que deseja ver: sinuosidade das praias, direção das ruas e avenidas, estabelecimentos públicos, tudo, enfim, com prazer e entusiasmo. Fica-se mudo e quedo diante de tanta magnitude. Cronista das coisas cariocas, com o píncaro do Pão de Açúcar, tive a satisfação de ver corroboradas as minhas opiniões sobre a fundação da cidade do Rio de Janeiro. Hoje não é lícito falar de Praia Vermelha. Foi na planície, tendo por padrão o Pão de Açúcar e por atalaia o morro hoje de São João, que Estácio de Sá lançou os alicerces da cidade. Quem dúvidas possa ter que suba ao Pão de Açúcar".

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

AVENIDA DAS BANDEIRAS






 
Com fotos dos anos 50 e dos anos 60, do acervo do Correio da Manhã, vemos aspectos da construção da Avenida das Bandeiras, obra que se iniciou no final dos anos 40 e se estendeu pelos anos 50.
O Prefeito Henrique Dodsworth decretou que se chamaria de Avenida Brasil o trecho do Cais do Porto até Parada de Lucas, tendo 15 km de extensão; de Avenida das Bandeiras o trecho que se inicia em Parada de Lucas, passaria por Deodoro e daria acesso ao Sul, Centro e Oeste do Brasil; Avenida das Missões, ao trecho de Parada de Lucas ao rio Meriti e que serviria de comunicação do Distrito Federal às zonas Norte, Centro e Leste do Brasil.
Noticiava o Correio da Manhã que em 1944 as obras da Avenida Brasil aproximavam-se do término e iniciavam-se as da Avenida das Bandeiras.
Saída obrigatória do Rio para São Paulo a Avenida das Bandeiras ligaria a Avenida Brasil à Estrada Rio-São Paulo. Obedeceria a técnica das mais aperfeiçoadas, com pavimentação a concreto. Esta avenida ligaria a Av. Brasil, na estação de Lucas, com  a atual estrada Rio-São Paulo, em Campo Grande, passando por locais como Coelho Neto, Barros Filho, Deodoro, Gericinó e outros mais.
Em 1951 o Correio da Manhã reclamava da morosidade das obras da Av. das Bandeiras: “A propalada e decantada Av. das Bandeiras, indiscutivelmente uma grande obra – desde que concluída – constituiu-se na grande esperança e na mais doce e sublime das ilusões dos moradores da zona suburbana compreendida entre Campo Grande e Deodoro. Eles esperavam ansiosos a inauguração desta grande artéria. Lamentavelmente, porém, quer nos parecer que tão cedo a gigantesca avenida não estará concluída.”
Com a abertura da Av. das Bandeiras houve um desenvolvimento importante de área industrial às suas margens, embora as queixas de falta de iluminação, falta de sinalização, atropelamentos e abandono fossem frequentes nos jornais.
Nos anos 60 a Avenida das Bandeiras foi unificada com a Avenida Brasil.

domingo, 1 de outubro de 2017

DOMINGO NO MARACANÃ




Antigamente domingo a ida ao Maracanã era programa quase obrigatório. Antes, durante a semana, era importante comprar os ingressos, pois muitas vezes o público chegava a 100 mil pessoas, lotando o estádio.
Além dos postos volantes em kombis, havia locais tradicionais de venda, como a Central do Brasil, o Teatro Municipal ou Mercadinho Azul, em Copacabana. Na bilheteria do “Maraca”, só em dias de jogos menores, como se vê em uma das fotos acima. O ingresso, durante muito tempo, custava 34 cruzeiros.
Em dia de jogo o almoço de domingo tinha que ser cedo, por volta das onze e meia, para permitir a saída meio-dia e meia, para os jogos da tarde no Maracanã. Os "aspirantes" começavam à uma e quinze e os "profissionais" às três e quinze, e ninguém se queixava do calor.
Ía sempre com o “velho”, em seu Chevrolet, junto com o seu grande amigo Jarbas Barbosa, delegado, que com seus quase 2 metros de altura era nosso “segurança”. Jarbas era vizinho e nos encontrava no portão de casa. A ida sempre incluía uma passagem pela Real Grandeza onde pegávamos o Zezinho. Próxima parada na Mem de Sá, onde o “velho” fazia uma breve visita aos internados na Casa de Saúde Santa Luzia. Como eu torcia para a visita não demorar muito pois os "aspirantes" já estavam jogando!
Sempre sentávamos na parte da arquibancada atrás do gol, onde encontrávamos a turma habitual: os dentistas Katz e Radamés, o Taranto com seu enorme rádio de pilha, o velho de cabeça branca “lá em casa era penalty, lá em casa era falta”, o Carlos Carrilho (irmão do Altamiro), o Ivan Drummond, às vezes o Nascipe, que morava na Mariz e Barros e ía a pé para o estádio. A turma era grande.
Não podia faltar a almofada, pois a arquibancada ainda era de um cimento áspero (que tempos depois virou um cimento liso até ser substituído pelas atuais cadeiras de plástico). Era um tempo em que havia "geral", uma só bola (a G-18 marron) em jogo, gandulas com um puçá para pegar as bolas que caíam no fosso, substituições não eram permitidas. No intervalo duas turmas saíam do túnel central carregando cartazes de propaganda, cada uma dando a volta por um lado do campo, e o placar era manual, com um encarregado de trocar os números na hora dos gols. O aviãozinho com aquela faixa de propaganda sempre sobrevoava o Maraca antes do jogo e no alto-falante o que mais se ouvia era: "no Pacaembu, gol do Santos (e depois de uma pausa) Pelé!".
De vez em quando o “velho” participava da diretoria do Flamengo e então entrávamos para o setor das cadeiras especiais ao lado da Tribuna de Honra, sempre encontrando o Farah, funcionário eterno do Flamengo, vigiando a roleta e facilitando minha entrada (um garoto de 10/12 anos) sem apresentação da carteirinha.
No capítulo alimentação só mate ou café, servidos em copinhos de papel, e sorvetes da Kibon (Chica-Bon, Kalu, Jajá e Tonbon). Não tinha ainda chegado a época do Geneal. Quando escurecia era um espetáculo ver a arquibancada cheia e o acender de fósforos ou isqueiros o tempo todo, brilhando como vagalumes - a iluminação fraca e o hábito de fumar contribuíam para este espetáculo. Ficou a saudade do excelente futebol daquela época e, mais ainda, muito mais, a saudade de assistir as partidas ao lado do "velho".
Saudades de grandes craques do Flamengo (Garcia, Dequinha, Joel, Rubens, Moacir, Indio, Evaristo, Dida, Zagalo),  do Botafogo (Manga, Nilton Santos, Garrincha, Didi, Amarildo, Quarentinha), do Vasco (Barbosa, Paulinho, Bellini, Orlando, Sabará, Vavá, Almir, Walter Marciano, Pinga), do Fluminense (Castilho, Veludo, Pinheiro, Altair, Telê, Maurinho, Valdo, Escurinho), do América (Pompéia, Djalma Dias, Leônidas, Amaro, Canário, Alarcon, Nilo), do Bangu (Decio Esteves, Zózimo, Calazans, Mário). Saudades dos grandes locutores como Jorge Curi, Waldir Amaral, Clovis Filho, Oduvaldo Cozzi, Ari Barroso, Rui Viotti, Doalcey Bueno de Camargo, José Cabral, Orlando Batista; dos famosos comentaristas João Saldanha, Benjamin Wright, Rui Porto, José Maria Scassa; dos textos de Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Sandro Moreira, Mário Filho. E das pacíficas torcidas do Flamengo (com a Charanga do Jaime de Carvalho), do Vasco (com a Dulce Rosalina e o talo de mamão do Ramalho), do Botafogo (com o Tarzan soltando fogos) e do Fluminense (com o Careca).
Outros tempos!