Continuando
a pequena série iniciada ontem vemos hoje projetos feitos para a duplicação da
Avenida Atlântica e construção do interceptor oceânico nos fins dos anos 60 (na segunda foto podemos até ver que este projeto incluía o túnel Leme-Praia Vermelha).
A
Avenida Atlântica foi construída, ainda como uma rua de serviço, em 1904/1906,
por Pereira Passos. Foi ampliada em 1911 por Bento Ribeiro. Recebeu melhorias
em 1919 por Paulo de Frontin. Em 1938 os postes do centro da avenida foram
retirados.
O
Prefeito Negrão de Lima, por sugestão de Lucio Costa e com projeto do
Engenheiro Raimundo Paula Soares, fez a sua duplicação entre 1969 e 1971,
quando foi construído, sob suas pistas, o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a
maior obra de construção de esgotos no Rio, até então, que iria recolher o
esgoto de quase todo o Centro e toda a Zona Sul, inclusive São Conrado,
encaminhando este esgoto para o emissário submarino.
A
Avenida Atlântica, desde que foi concluída no início do século XX, sofreu
diversas destruições por conta das ressacas, como nos anos de 1915, 1918, 1921,
1958, 1963, entre outros. Somente na década de 60, com o alargamento da faixa
de areia e a duplicação das pistas, houve o fim das grandes ressacas.
As
duas últimas fotos mostram máquinas usadas na obra, sendo que a última foto mostra
o famoso Parafuso de Arquimedes.
Este
parafuso foi objeto de um “post” do Tumminelli:
O
Interceptor termina na “Elevatória do Parafuso”, que fica defronte à Rua
Almirante Gonçalves, no Posto 5 (em frente ao Hotel Debret). Só para explicar
rapidamente, a elevatória é mesmo um parafuso gigantesco que funciona como um
Parafuso de Arquimedes. O parafuso de Arquimedes é helicoidal e gira em seu
próprio eixo, com isso fazendo a elevação de qualquer liquido. O Interceptor,
como toda rede de esgoto, funciona por gravidade, o parafuso da elevatória traz
à quase altura da rua o esgoto. Ou seja, há uma leve inclinação do Interceptor
para que o esgoto fique concentrado e possa subir pelo parafuso.
Então,
o parafuso da elevatória do Interceptor faz com que o esgoto entre na galeria
que vai para dentro de Copacabana em direção a outra elevatória, a do
Cantagalo. Daí parte para Ipanema em direção à Caixa de Confluência e depois em
direção ao emissário submarino de Ipanema.
O
sistema de dispersão de esgoto e as correntes marítimas da área foram alvo de
exaustivo estudo, na época, pelo pai do Pikyto, o Almirante Paulo Castro
Moreira da Silva, que era cientista chefe do Departamento de Pesquisa
Oceanográfica da Marinha. Ele em seu estudo jogava ao mar cartões de deriva que,
quando chegavam às praias, eram recolhidos e anotados os dados. Com isso pode
se fazer um mapeamento das correntes e quanto tempo elas chegavam às praias.
Em
seu estudo de dispersão do esgoto ele escreveu: “Um esgoto lançado ao mar tem,
como característica bacteriológica, um determinado teor de colibacilos. Não é o
colibacilo, é evidente, a única coisa que o esgoto contém, mas como o
colibacilo provém sempre de fezes humanas - ou de mamíferos - é usado como
indicador e índice da poluição e de sua bacteriologia.
Pois
bem: o oceano, além de um poder diluidor (que se facilita lançando o esgoto em
profundidade através de difusores ou expansores) tem um poder bactericida.
Poder que também se afere pela sua ação sobre os colibacilos. E poder que se
mede por um índice, o chamado T-90, que é precisamente o tempo que leva o mar a
reduzir de 90% o teor de colibacilos. Assim, se o teor inicial é, por exemplo,
1.000.000 de colibacilos por milímetro, em uma hora de permanência no mar ele
será reduzido a 100.000, em duas horas a 10.000, em três horas a 1.000, em
quatro horas a 100, em cinco horas a 10. A esta eliminação se acrescenta o
efeito físico da dispersão - que evidentemente reduz ainda mais o teor ou
concentração - e que pode ser estimulado por difusores. E desta diluição se subtrai,
por prudência, o efeito da hora inicial, em que, segundo alguns estudiosos e
observações nossas, o teor de colibacilos não cai e pode mesmo aumentar
ligeiramente.
Experiências
realizadas pelo Estado da Guanabara, sob minha orientação e baseadas em
operação bem rara, senão inédita no mundo, o seguimento do esgoto real da
Guanabara lançado do Vidigal, estabeleceram que o T-90 das águas da região era
de cerca de uma hora apenas.”
|
Interessante o depoimento do Almirante Moreira da Silva. Gostaria de saber de um cientista do quilate dele, se, após 50 anos de uso, a região de descarga do interceptor mantém a fauna e flora originais e qual seria a área de alteração. Acho que todo esgoto deveria ser tratado - as cidades do interior não podem ter interceptores - embora entenda que ter um oceano vizinho possa ser um fator barateador do serviço. Só acho que nós estamos abusando. Em tempo: dois dias antes, numa conversa de fim de ano, falei a um de meus filhos sobre as ressacas e o alargamento. Ele nem sabia do alargamento. Bom ter a série.
ResponderExcluirLendo o Blog de ontem, me veio à mente os mesmos aspectos agora levantados pelo Biscoito Molhado. Será que as premissas sob a eficácia do interceptor ainda são verdadeiras após 47 anos? Qual o efeito ambiental após todos estes anos? Existe uma rotina de manutenção e verbas disponíveis visando sua integridade?Como era de se esperar, vocês não vão gostar da resposta. Fiz a pesquisa e encontrei a resposta em um estudo realizado pelos engenheiros amplamente qualificados; Alexandre Pessoa Dias e Thereza Christina de Almeida Rosso. Vale a pena ler este pdf de 16 páginas. http://www.comiteguandu.org.br/downloads/ARTIGOS%20E%20OUTROS/ANALISE%20DOS%20ELEMENTOS%20ATIPICOS%20DO%20SISTEMA%20DE%20ESGOTO.pdf
ExcluirO projeto mostra que Copacabana copiaria o Aterro com passarelas e pista de alta velocidade. O túnel, na minha opinião, acabaria com o sossego da Praia Vermelha.
ResponderExcluirEste parafuso de Arquimedes me lembrou outras palavras e conceitos que aprendi por aqui como park-way, lâmpadas Thompson, empena cega, mobiliário urbano, cobogós, etc. Lembram da Karina, da Menina Maluquinha e da Giseli Loira?
No tempo do Fundão, precisamente em 1971, minha namorada levou para sua casa um mimeógrafo, porque fazia parte de um Centro de Estudos da Santa Ursula. Eu fiquei olhando aquela máquina poderosa - e ajudei a rodar umas apostilhas - até que bolei um trote para ser dado aos alunos recém chegados ao terceiro ano de Engenharia Naval. Era uma palestra falsa, com horário um pouco anterior à nossa primeira aula e o palestrante nomeado era Bento Moreira da Silva, colega e de sobrenome igual ao ilustre almirante. Rodamos os panfletos, que continha um saboroso convite para visitar o estaleiro Verolme, durante a Semana Santa e aparecemos para ver o resultado.
ResponderExcluirQue foi assombroso, anfiteatro lotado, duas fileiras de cadeiras reservadas para professores, com alguns já sentados, aguardando o cientista.
Quando se deram conta, um pegou um panfleto ainda colado - o crime não fora perfeito - e foi acabar no Reitor. Queriam a expulsão exemplar dos responsáveis! Homem sensível, o Reitor não nos executou, afinal não houvera falsidade ideológica com o cientista, o panfleto descrevia outra pessoa e vocês foram à palestra porque quiseram. Não sei o nome do Reitor, pois só vim saber de todo o final da história há uns dois anos, mas gostaria de apertar-lhe a mão. Desculpem o tijolo.
Como eu já havia comentado outras vezes, mais uma obra por excelência realizada no período da ditadura militar. No conjunto de obras realizadas naquele período, o país "não quebrou", os funcionários públicos "não ficaram sem receber", não foi aventada uma "reforma da previdência", e o mais importante: estão todas aí, sólidas e prestando excelentes serviços. Houve corrupção? Sim, certamente, afinal não moramos na Noruega ou na Dinamarca. Mas nada comparável à crise em que o Brasil foi lançado e do qual participam milhares de políticos, desde a mais insignificante prefeitura até o governo federal sem maiores consequências para os seus autores, já que a maioria está "solta" e usufruindo das "benesses" de seus atos. Apesar dessa brutal discrepância entre os dois períodos e da natural ignorância causada pela ausência {?} de memória da geração pós 85, causa curiosidade a razão da existência de tão forte rejeição por parte de elementos cultos de gerações mais antigas à um período tão benéfico e tranquilo para o país. Muitos aprovam o atual "status quo" da nação apesar do lamentável estado em que se encontra o Brasil, por serem "parte integrante" da estrutura administrativa nacional e naturalmente ocuparem cargos, sejam eles efetivos ou comissionados, ou mesmo por atávicas razões pessoais. O fato é que fica difícil ser "bovino"...
ResponderExcluirAcho que fazer em Copacabana o que foi feito no Aterro não seria de todo ruim. Uma via expressa por toda orla.
ResponderExcluirBoa Tarde! Estou quase curado da "Gatose" que me atacou. Fiquei fora do ar alguns dias. Como não posso jogar os gatos fora,minha alergia tem que se acostumar com os felinos.
ResponderExcluirPelo que vejo na segunda foto,mais um projeto ficou pelo caminho.Quanto ao assunto relacionado a parafuso deixo a palavra com Ceará, indivíduo, que entende do assunto...
ResponderExcluir