FOTO 1: De Georges Leuzinger, década de 1860 (Brasiliana Fotográfica).Texto a partir de
consulta no Sindegtur.
Desde 1830 a Santa Casa
de Misericórdia lutava para erguer um hospício destinado a abrigar deficientes
mentais, haja vista que o expediente até então era de acolhe-los no antigo
Hospital da Santa Casa, na Rua Santa Luzia, construção do século XVIII e já
completamente obsoleta. Já há alguns anos os loucos mais furiosos eram encarcerados
na cadeia pública, processo desumano e incompatível com os progressos científicos
da época e que já eram conhecidos no Brasil.
A Santa Casa, que vivia
em dificuldades durante o Primeiro Reinado, na Regência, quando assumiu como
Provedor José Clemente Pereira, se reergueu. Ele conseguiu as verbas
necessárias para um novo hospital, que seria o Hospício de D. Pedro II.
A construção ficou a
cargo de José Domingos Monteiro, arquiteto do Hospital Central da Misericórdia,
o qual, usou como modelo de seu projeto, o velho Hospital de Charenton,
casa-mãe da Psiquiatria francesa. Depois interveio na construção o arquiteto
Major José Maria
Jacinto Rebêlo, o qual
acrescentou ao prédio a Capela de São Pedro de Alcântara.
Ocupava o prédio uma área
de 140 mil metros quadrados.
A 30 de novembro de 1852
realizou-se a cerimônia da bênção do Hospício de D. Pedro II. Pertenceu à
Irmandade da Santa Casa da Misericórdia até 11 de janeiro de 1890. Quando, por
desentendimentos políticos com o Provedor Visconde de Cruzeiro, passou o
hospital para o Ministério da Justiça e Negócios do Interior. Logo depois, quando
se lhe anexou a Colônia de Alienados da Ilha do Governador, passou a receber o nome
de Hospício Nacional de Alienados. Em 1911, houve uma separação dos sexos, fundando-se
uma nova colônia para as mulheres em Engenho de Dentro. Em 1942, as instalações
da Praia Vermelha foram transferidas, aos poucos, para novos hospitais como Colônia
Juliano Moreira e Gustavo Riedel, em Jacarepaguá. Estes modernos nosocômios foram
inaugurados em 14 de janeiro de 1944, podendo receber os primeiros doentes
removidos da Praia Vermelha.
Desocupado o velho
prédio, foi então permutado com a Universidade do Brasil, que dele tomou posse
em 1947. Sendo reitor da instituição o erudito professor e acadêmico Pedro
Calmon Muniz Bittencourt, soube, com rara perícia, obter do Ministério da
Educação e Saúde as verbas necessárias à restauração e adaptação do belo
palácio, com o fito de ali sediar a Reitoria e diversas faculdades da área
biomédica.
A inauguração da nova
sede universitária ocorreu oficialmente a 5 de dezembro de 1952.
Trinta anos depois, a
Reitoria foi transferida para a Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, sede
da agora rebatizada Universidade Federal do Rio de Janeiro, ficando no velho
prédio algumas faculdades da área biomédica e cursos diversos de extensão universitária.
O prédio é tombado pelo
IPHAN.
FOTO 2: Nos dois primeiros
séculos de existência da cidade, todo o trecho marítimo que ia do Morro do
Matias (hoje, do Pasmado), em Botafogo ao Morro da Urca eradenominado de Praia
de Martim Afonso ou Praia de Santa Cecília. No século XVIII deram-lhe o nome de
Praia da Saudade.
No século XVIII, o Cônego
Dr. Antônio Rodrigues de Miranda, Vigário-Geral do Bispado do Rio de Janeiro e
proprietário daquelas terras fez doação de toda a orla e chãos adjacentes à
Santa Casa de Misericórdia.
Um século depois, a Santa
Casa aproveitou esses terrenos para ali erguer, de 1841 a 52, seu novo
nosocômio para alienados, o qual recebeu o nome de Hospício de D. Pedro II.
Em 1920, a família
Guinle, chefiada pelo empresário Guilherme Guinle, bem como a família Rocha
Miranda, dona da primeira concessão de uma linha de ônibus para a Praia
Vermelha, assim como outros amantes do iatismo, resolveram fundar o Fluminense Yachting
Club, cuja sede inicial foi no estádio do Clube Fluminense, em Laranjeiras,
logo depois transferida para a Praia da Saudade. Nesta nova sede, frequentemente
ampliada, havia casas de banho de mar antes de terem tornado mais acessíveis os
de Copacabana.
A Praia da Saudade foi
definitivamente aterrada em 1934/1935, para ali ser construída uma pista de
pouso de aviões, desativada na década de 1940.
Um projeto de ampliação
do Fluminense Yachting Club foi organizado por Oscar Niemeyer, mas as
ampliações acabaram sendo feitas aos poucos, sem um plano específico, até hoje.
O estabelecimento, depois rebatizado para Iate Clube do Brasil e, desde os anos
60, de Iate Clube do Rio de Janeiro.
FOTO 3: De Leuzinger, de
1865, mostrando o Hospício Nacional dos Alienados, na Praia da Saudade, Urca. O
prédio, hoje da Reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um grande
retângulo enquadrando quatro grandes pátios internos, separados por um corpo
central, destinado de certo modo a distanciar as alas masculinas e femininas do
asilo. No bloco central estava a entrada única. Três grandes portões conduziam
ao átrio nobre, de onde se erguia uma escadaria monumental, que levava
diretamente à capela, no andar superior e, à meia altura, se bifurcava em dois
lances.
O prédio foi iniciado em
1842 e inaugurado em 1852, como Hospital Pedro II. Em 1890 tomou o nome de
Hospital dos Alienados e funcionou até 1944 quando os pacientes foram removidos
da Praia Vermelha para o novo hospício construído no Engenho de Dentro.
O prédio passou a ser
usado pela Reitoria da Universidade do Brasil, hoje UFRJ.
FOTO 4: De Marc Ferrez, de
1890, com outra vista da Praia da Saudade, na Urca. Esta praia teve
anteriormente o nome de Praia do Suzano e Praia de Santa Cecília, nome que
perdeu em 1868, quando a Câmara a rebatizou como Praia da Saudade. Acabou na
década de 1920, durante a gestão de Alaor Prata na Prefeitura, com a construção
do Iate Clube do Rio de Janeiro. Na mesma época a Rua da Praia da Saudade
recebeu o nome de Avenida Pasteur.
FOTO 5: Aspecto da Av. Pasteur em frente ao Hospital dos Alienados/Reitoria.
Notar a mureta que existia antes do aterro para a construção do Iate Clube do
Rio de Janeiro. O Rio perdeu a Praia da Saudade para a construção do clube e os cariocas a bela visão da baía, a partir da Av. Pasteur.
FOTO 6: Postal da coleção de
Klerman W. Lopes mostrando a área da Praia da Saudade, na Avenida Pasteur,
antes da construção do Iate Clube do Rio de Janeiro. Pode-se ver o Hospital dos
Alienados (Hospício).
FOTO 7: Aspecto do prédio ainda no tempo dos bondes. Os trilhos que levavam à Praia Vermelha, ponto final da linha 4, passavam bem junto da estreita calçada.
FOTO 8: Pesquisa da Conceição
Araújo: No Brasil, em 1830, não havia ainda tratamento para os doentes mentais:
os ricos eram mantidos isolados em suas casas, longe dos olhares curiosos,
enquanto os pobres perambulavam pelas ruas ou viviam trancafiados nos porões da
Santa Casa da Misericórdia.
Nessa época, inspirados
pelos ideais revolucionários franceses, Pinel e Esquirol propuseram novas
formas de assistência à doença mental, que tinham, na existência da instituição
manicomial, o próprio método de tratamento. Essas ideias contagiaram a
recém-criada Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, que se mobilizou em torno
do lema: "Aos loucos, o hospício!", pleito esse formulado, em 1839,
pelo contundente relatório de José Clemente Pereira:
"...Parece que entre
nós a perda das faculdades mentais se acha qualificada como crime atroz, pois é
punida com a pena de prisão, que, pela natureza do cárcere onde se executa, se
converte na de morte".
Sensibilizado por essas
denúncias e impressionado com os gritos dos loucos vindos dos porões da Santa
Casa, D. Pedro II assinou, em 1841, o decreto de criação do hospício.