Hoje vamos dar uma olhada no “Casino Balneario Atlantico” (utilizaremos no texto a grafia atual de “Cassino Balneário Atlântico”).
A vida noturna em
Copacabana iniciou-se lá pela primeira década do século XX, quando o jornalista
Edmundo Bittencourt, proprietário do Correio da Manhã e morador de Copacabana,
alugou um prédio de sua propriedade, à francesa Mme. Louise Chabas, que
instalou um restaurante no local. A casa começou a funcionar em 1907, com o
objetivo de ser um "café-dançante", no estilo dos cabarés
parisienses. Após Mme, Chabas ter vendido seu estabelecimento em 1910, o Mère
Louise sobreviveu algum tempo, mas a casa se transformou num hotel suspeitoso,
sendo fechado pela polícia em 1931. Em 1934, neste local se construiu o Cassino
Atlântico
Com traços modernos e
arrojados, imponente, a construção seguia os padrões dos balneários de Palm
Beach e Miami.
FOTO 1: Posto 6, no ano de 1935. Vê-se, à esquerda, o cais onde atracavam as lanchas dos salva-vidas. Destaque para o prédio do Cassino Atlântico, o Clube Marimbás (bem à esquerda), as ruas Francisco Otaviano e Joaquim Nabuco, e ao fundo o histórico Castelinho, construído na praia de Ipanema em 1904. Ao lado do Cassino Atlântico, a casa onde funcionou por muitos anos a Cultura Inglesa, em Copacabana. Observar, também, os barcos da colônia de pescadores que até hoje se localiza neste ponto.
FOTO 2: Uma foto noturna, do acervo do Correio da Manhã. Em lugar do Mère Louise, foi inaugurado, em 20 de março de 1935, o “Casino Balneario Atlantico”, belo prédio em estilo “art-decó”. Anunciado como o “Palácio encantado do Posto 6”. Sonho maravilhoso dos contos de Sherehazade, viria a preencher uma lacuna existente na mais bela praia do mundo: Copacabana. Foi construído pela Comp. Melhoramentos e Construcções e seu proprietário era Alberto Quatrini Bianchi. Tinha escritório na Av. Rio Branco nº 62 – 2º andar.
FOTO 3: No prédio do Cassino Atlântico funcionou o Cine-Varieté, tornando-se um dos mais chiques e elegantes locais da Avenida Atlântica. Apresentava produções internacionais e nacionais e realizava “matinées” infantis. Aos domingos eram distribuídos brinquedos para as crianças.
FOTO 4: Anúncio das “matinées” dançantes do Cassino Atlântico.
FOTO 6: Vemos parte do menu preparado para o carnaval de 1938 no Cassino Atlântico. Entre os champagnes Mumm, Ceuve Clicquot, Crystal, Pommery, Jockey Club. No menu temos Rissoles Feuilletés aux Crevettes (rissoles de camarão com massa folhada), Jambon à la Gelée (presunto com gelatina), Coupe Suchard (sorvete de creme com molho de chocolate), Petits Fours (doces).
FOTO 7: Garimpada pelo Decourt no arquivo da LIFE, vemos o carnaval de 1939 no Cassino Atlântico. Os homens em grande maioria estão de “summer”.
Segundo a revista Fon-Fon,
antes da inauguração oficial, foi realizado no cassino um baile de
carnaval, em 23 de fevereiro de 1935, assim descrito pela revista:
“O baile inaugural do
Casino Balneario Atlantico foi a nota carnavalesca de sabbado passado. Todo o
Rio elegante compareceu, por assim dizer, á festa sumptuosa que mobilizou os
círculos sociaes da metrópole para o primeiro grande baile do Carnaval de 1935.
Luxo. Alegria. Deslumbramento. Delírio. Nos salões do novo centro da elegância,
em Copacabana, decorados pelos 96 artistas Gilberto Trompowisky e Luiz de
Barros, movimentaram-se as figuras mais expressivas do nosso mundanismo. O
Casino Balneario Atlantico, annuncia para os quatro dias de Carnaval outros
bailes igualmente sumptuosos.”
FOTO 8: Mais uma foto da LIFE mostrando um carnaval tranquilo, num dos ambientes mais chiques do Rio.
Os espetáculos na década
de 1930 eram variados: Noite de Santo Antonio, Noite de São João, aos domingos
as “matinées” dançantes, desfile das “girls” de “Broadway Scandals” e “Jimmy
Shure Parade”, comemorações no Natal e no “Réveillon”, carnaval, artistas
nacionais e estrangeiros, aniversários natalícios,
Este “show das girls” foi anunciado no “O Cruzeiro” como “Girl´s Forbidden Show”. Em 1939, Jean Sablon foi um dos artistas mais conhecidos que cantaram no Cassino Atlântico.
Outro grande sucesso foi
Manuelita Arriola, “a mais bela voz da sedutora terra mexicana, impressionante
figura de mulher, fascinante intérprete das envolventes melodias de Agustin
Lara e tantos outros, pela primeira vez no Brasil e estreará no Casino
Atlântico.” Em 1940 quem fez sucesso foi o cantor e ator americano John Boles.
FOTO 9: Anúncio para um baile de carnaval no Cassino Atlântico com as estrelas Adelina Garcia (mexicana-americana) e June Preisser (cantora e acrobata).
FOTO 10: O Cassino Atlântico, foi um dos principais cassinos da cidade durante a década de 1930. Ele oferecia uma variedade de jogos, incluindo bacará, campista, roleta, blackjack e carteado, atraindo tanto a sociedade carioca quanto visitantes de outras cidades e até mesmo do exterior.
FOTO 11: No entanto, tudo mudou em 30 de abril de 1946, quando o então presidente da República, Marechal Eurico Gaspar Dutra, assinou o Decreto-Lei nº 9.215, proibindo a prática de jogos de azar em todo o território nacional. Essa decisão foi influenciada pela esposa do presidente, Dona Santinha, que era contrária aos cassinos. Com a proibição, o Cassino Atlântico foi fechado, assim como outros cassinos no Brasil.
FOTO 12: Acervo do Museu Aeroespacial, década de 1940. Copacabana com poucos edifícios, o Cassino Atlântico na esquina da Francisco Otaviano com Avenida Atlântica. Ipanema e Leblon praticamente só com casas. As línguas-negras em Copacabana, a vegetação de praia em Ipanema, as favelas com poucos barracos, a então pequena ilha dos Caiçaras.
FOTO 13: Garimpada pelo Nickolas. O Cassino tinha salões amplos, arejados e moderníssimos. O “grill-room”, obedecia às linhas elegantes e mais em voga no momento, oferecendo com suas luzes multicores e em profusão, um espetáculo soberbo.
A firma “Ceibrasil
Representações Ltda.”, foi a responsável pelas instalações de condicionamento
de ar, ventilação e refrigeração. Os ventiladores eram os fabricados pela
Buffalo Forge Company. Na construção do “grill-room” foi prevista a futura
instalação completa de condicionamento de ar.
Os serviços de luz,
força, gás, água quente e fria, com caldeira, ficou a cargo da firma F.R.
Moreira. A carga total da instalação de luz atingia a 240 kw.
Os salões de jogos,
danças, cinema, possuem iluminação especial e dispunham de gerador. Os três
elevadores eram da marca “Atlas”, de fabricação de Pirie, Villares e Cia.
FOTO 14: Uma rara imagem, garimpada pelo Tumminelli, de um periodo de glamour nas noites cariocas: os shows do Cassino Atlântico no Posto 6, em Copacabana.
FOTO 15: De uma das varandas do Cassino Atlântico a visão da Praia de Copacabana. Ainda poucos edifícios altos na orla.
FOTO 16: Imagem do “grill-room”. As “soirées” elegantes do Cassino Atlântico marcavam momentos imperecíveis na vida mundana do Rio. Conforto, luxo e bom gosto distinguiam este grande centro de diversões que honrava os nossos foros de cidade avançada. Seus salões reuniam o que havia de mais “rafiné” na Cidade Maravilhosa.
FOTO 17: Foram poucas as imagens das instalações internas do Cassino que consegui. Esta é a decoração do "grill-room" para a festa “Noites de Shangai”.
FOTO 18: O aspecto de um bar interno. O Cassino Atlântico, com suas grandes atrações, era o refúgio da nossa “haute gomme”. Diplomatas, cientistas, escritores, homens da mais alta representação social ali passavam seus melhores instantes. As noites eram de sonho, um sonho real com estrelas autênticas ao alcance da mão. A sociedade carioca fazia dessa casa de diversões o seu ponto predileto. O conforto e o luxo, a distinção e a beleza ali exceliam e cativavam.
FOTO 19: Vemos o “salão de conversa”, espaço que antecedia o salão de jogos.
Depois que o Cassino Atlântico
foi fechado, houve algumas ocupações até meados da década de 1950, quando ali
se instalou a TV Rio.
O jornal “Beira-Mar”, em
edição de 1955, comentava: “Há uns vinte anos atrás Copacabana teve sua estação
de rádio – a Rádio Copacabana, cujos estúdios estavam instalados num prédio da
Av. Atlântica. Posteriormente, e com a construção do palácio do Cassino
Atlântico, lá instalou-se a Rádio Ipanema. Nesse mesmo prédio estão sendo
montados, agora, os diversos estúdios da nova estação de televisão do Rio de
Janeiro – a TV Rio, Canal 13.
A TV Rio fará
transmissões simultâneas entre o Rio e São Paulo, a exemplo do que acontece nos
Estados Unidos e Europa. Para isso será montada uma rede de torres de
transmissões entre as duas capitais, com as suas intermediárias, sendo que a
primeira já foi erguida no alto do Sumaré.
Sucessivamente serão
erguidas as torres restantes em Mendes, Barra Mansa, Itatiaia, Cachoeira
Paulista, Moreira Cesar, São José dos Campos, Mogi das Cruzes e São Paulo.”
Li, também, que o
Botafogo Futebol e Regatas inaugurou onde havia funcionado o Casino Balneario
Atlantico, seu Departamento do Posto 6, em 25 de janeiro de 1947. Funcionava
também no antigo cassino uma boate e salões do “Dinner Club”. Meu amigo e
colega Odone, morador do Posto 6, me disse que durante algum tempo havia também
uma seção do clube AABB instalada no prédio.
FOTO 20: A foto do JB mostra a demolição do prédio em 1972. Em meados dos anos 50 o prédio foi ocupado pela TV Rio até o início dos anos 1970, voltando o prédio para a posse de seus antigos proprietários, a família Bittencourt.
Em 1971, na maior
transação imobiliária do Rio até então, a área do Cassino foi vendida à firma
H.C. Cordeiro Guerra. Em 1972 o prédio foi demolido e, em 1974, lançado o
Shopping Cassino Atlântico e o hotel Rio-Palace. Depois virou Hotel Sofitel e
agora é Hotel Fairmont.
FONTES: A. Decourt, R. Tumminelli, J. O´Donell, M. Zierer, Nickolas, Saudades do Rio, Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Fon-Fon, Beira-Mar, O Cruzeiro.