A "La Cave aux Fromages" começou como uma pequena loja cujo endereço era Rua Almirante Guilhem 262-B. Telefone 258-3855 ou 227-3051. Atualmente, neste endereço funciona a loja “Mormaii e-motors”.
O proprietário da "La Cave aux Fromages" era Monsieur Pierre Maurice Bloch, um francês que lutou na Resistência, na 2ª Guerra Mundial, foi preso pela Gestapo em 1944, depois foi levado para o campo de concentração de Buchewald e acabou trabalhando numa mina de sal subterrânea. Quando acabou a guerra pesava 38 quilos. Usava o codinome "Brochard". Por seu trabalho na Resistência ganhou a Medalha dos Combatentes Voluntários e a Cruz de Guerra com Palma. Veio para o Brasil em 1946.
Abriu a loja no Leblon em 1969 para vender queijos e vinhos importados, além de produtos como frutas cristalizadas em conhaque Martell e “petit-pois” extra-fins 00. Pierre Bloch dizia que "gostava das coisas difíceis porque, em geral, não têm concorrentes”.
Somente em meados de 1972
a “La Cave aux Fromages” mudou-se para a Av. Delfim Moreira nº 80, esquina com Rua
Almirante Pereira Guimarães, telefone 267-8198. O inquilino anterior deste imóvel era o Deputado Rubens Paiva, cujo terrível drama é o tema do consagrado filme "Ainda estou aqui", de Walter Salles, com Fernanda Torres e Selton Melo. Hoje neste local está o edifício
“Saint-Paul de Vence”, construído em 1983.
A casa tinha duas amplas
salas para degustação de queijos e vinhos, além de mesinhas ao ar livre. A decoração era
tipicamente francesa. Uma das paredes era coberta por posters, cartões-postais
e notícias várias (como advertências a fregueses que pagaram com cheque sem
fundos). Outra era dominada por uma imensa fotografia dos não menos imensos
depósitos do Roquefort e uma terceira ainda era atulhada até o teto com
embalagens de bebidas.
No menu havia queijos, escargots, salmão defumado e muitas opções de patês. Para quem quiser fazer as conversões, no menu de 1973 tínhamos 30 variedades de queijo a Cr$ 10 a porção, patês de Cr$ 10 a 110, escargots (seis) Cr$ 25, raclete Cr$ 25, sobremesas de Cr$ 5 um marron glacé até fruits glacés Marquise de Sévigné a Cr$ 130. Vinhos com garrafas entre Cr$ 55 a Cr$ 200. Os “fondues” e a sopa de cebola eram famosos. Serviam "raclette", coisa rara no Rio de então. Fechava às segundas-feiras.
Desconheço quem colorizou esta fotografia.
Houve lá, certa noite,
quase uma tragédia. Ao chegar a conta numa mesa em que estavam dois jovens e
famosos professores de Economia, da PUC e da FGV, começou uma discussão sobre
os valores cobrados. Do salão, a discussão foi para este pátio onde se veem os
"ombrelones". De um lado M. Bloch e seu "staff", do outro
os dois professores. Troca de desaforos, um "quem não tem dinheiro não
deve vir aqui" prá lá, um "restaurante de merda" prá cá, a
discussão evoluiu para tapas e pontapés. A tragédia quase se consumou quando um
dos empregados apareceu com um facão de cozinha. Nisto, a namorada de um dos
professores se coloca à frente do empregado e com grande autoridade lhe grita:
"Largue isto, agora!". Foi quando todos "caíram na real" e,
felizmente, a situação se acalmou.
O Conde di Lido, cujo
domínio da língua francesa é ímpar (estudou em Tours e Angers, no Vale do
Loire), era “assim” com o Pierre Bloch. Passavam tardes se deliciando com
queijos como o Camembert, o Brie, o Pont L´éveque, o Colommiers, o Munster,
acompanhados por tintos como o Chateauneuf-du-pape ou o Médoc ou o Margaux.
Quando bebiam Chablis Pouilly fuissé degustavam queijos como o “La vache qui rit”, “Baton de Savoie aux raisins” ou um “Gruyère”. Outros preferidos do Conde eram o “Caprice des dieux” e o “Boursin au poivre”.
E, como o mundo é pequeno, a empresa do pai do prezado Mauro Marcello, como ele já mencionou num comentário há anos, era responsável pelos desembaraços aduaneiros de seus maravilhosos queijos e vinhos franceses.
Conta o Conde di Lido: "Frequentei tanto a loja inicial, que fiquei amigo do Pierre Bloch e ele sempre trocava comigo opiniões do que importar ou não. Apesar de preços altos, o local vivia cheio e ele ganhou tanto dinheiro que se aventurou na casa que aparece na foto 1. Os maiores problemas do Pierre foram a cotação do dólar, àquela época imprevisível, e o transporte dos queijos que vinham de avião em conteiners refrigerados. Isso fez subir os preços a níveis astronômicos. Um problema que lembro ter havido foi a exposição das enormes peças de Brie que ficavam à temperatura ambiente e derretiam, se espalhando pela mesa. Ele mandou fazer uns blocos de mármore que serviam de anteparo aos queijos para que não se espalhassem. Com todos estes problemas, os preços foram para o céu até que a frequência caiu e ele não aguentou o pique. Tentou colocar queijos nacionais, mas não deu certo , pois na época eram muito ruins."
O que o Conde di Lido não contou, mas circula como lenda, é que ele deu muitas "canjas" tocando piano ao lado de Gigi no acordeon, enquanto o francês Serge Rode cantava.
Quando a "La Cave aux Fromages" fechou definitivamente Pierre Bloch mudou-se para Búzios, em 1978, desgostoso com o Governo brasileiro que proibiu a importação de queijos e colocou uma taxa alta para importação de vinhos. Na época Pierre importava 20 toneladas de queijos franceses por mês para todo o país. ,
No início dos anos 1980 a "La Cave aux Fromages" mudou-se para a Rua Bartolomeu Mitre nº 112. Em anexo funcionava o “Quartier Latin”, que era um bar com piano no 2º andar. Este novo endereço, com novos donos, era grande e comportava até 250 pessoas. O ambiente era barulhento. Ali se podia comer “fondues” de carne e de camarão, além de muitos queijos nacionais devido à dificuldade de importação na época.
Segundo Françoise, filha de Bloch, ele faleceu em 1995.
Fontes: Correio da Manhã, Jornal do Brasil, Internet e Búzios News.