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FOTO 2
FOTO 5
BONDES – ISSO VOCÊ NÃO SABIA, por Helio Ribeiro.
O assunto “bondes” já foi bastante explorado aqui no SDR, em postagens não necessariamente dedicadas a eles mas que exibiam suas fotos.
Por isso, bonde não é novidade aqui. Em 02
de agosto de 2022 o SDR publicou uma postagem minha mostrando nove tipos
especiais de bondes, que provavelmente nenhum de vocês chegou a ver rodando nas
ruas. Eu mesmo só vi dois deles, pois os demais tinham sido descontinuados bem
antes de surgir meu interesse por bondes. Acho que vale à pena vocês verem
aquela publicação.
Mas o Luiz me pediu
para fazer nova postagem sobre o assunto. Hesitei um pouco, por não querer
chover no molhado repetindo o que já é de conhecimento de todos. Assim, resolvi
sair do trivial e postar o que provavelmente poucos conhecem.
Sem mais delongas,
vamos à de hoje.
Acima vemos o relógio que marcava o pagamento de passagens. A cor do mesmo variava de acordo com a companhia e com a época. Na JB, eles eram pretos; na Light, da cor mostrada na foto. Houve uma época em que havia relógios brancos.
A foto é de um reboque muito bem conservado dentro de um colégio em Jacarepaguá. O relógio não está em perfeito estado, porém considerando o tempo em que ele ali está, devemos elogiar a direção do colégio.
Para descrever o relógio coloquei marcações com letras. Vamos a elas.
A – mostrava o número do relógio. O da foto o teve apagado, não sei o motivo. Talvez para não ser possível identificar a que bonde ele pertencia.
B – registrava a quantidade de passagens pagas no percurso de ida ou de volta da linha que o bonde estava percorrendo.
C – continha os dizeres “IDA” ou “VOLTA”, para indicar o sentido do bonde.
D – registrava o total de passagens pagas até o momento, independente do dia ou da linha do bonde. Era um acumulador.
E – era uma chave que ao ser rodada zerava o contador de passagens do percurso e alternava de “IDA” para “VOLTA” e vice-versa. Era acionada quando o bonde chegava ao ponto final.
F – é uma barra metálica chata, prateada. Havia correias que eram puxadas pelo condutor, tantas vezes quantas passagens ele recebia por banco. Puxando a correia, a barra mostrada na foto também era puxada e incrementava o contador de passagens pagas, letra B na foto.
2)
CONTROLES DO CARRO-MOTOR
A foto acima mostra a caixa de controle de um carro motor, com dispositivos no topo destinados a permitir ao motorneiro dirigir o veículo. Ao centro vemos a manivela de marcha, com o disco graduado de velocidades (não é expresso em km/h nem em algo semelhante). A posição “N” corresponde ao ponto morto dos carros. Entre as posições 5 e 6 há um intervalo e um aviso para não parar a manivela nele. O motivo é que das posições 1 a 5 os circuitos elétricos dentro da caixa de controle estão com ligação em série, e da 6 até a 8 em paralelo. Ou vice-versa, não sei bem.
Embora
a posição mais alta fosse a 8, quando o bonde estava em disparada as pessoas
diziam que ele estava em “ponto 9”.
Ao
lado direito e pouco abaixo da manivela de marcha vemos a manete de avante/marcha-a-ré.
Na foto, está na posição avante. A marcha-a-ré era obtida apertando a pequena
peça metálica no topo da manete, destravando esta, e puxando-a para trás (na
direção do motorneiro).
Quando
o bonde estava parado no ponto final, o motorneiro tinha de colocar essa
manete na posição intermediária entre avante e marcha-a-ré, desconectando a
parte elétrica da caixa de controle, retirando a manete e portando-a consigo.
Assim, se um engraçadinho entrasse no bonde e acionasse a manivela de marcha, o
bonde não se moveria.
Ao
lado da caixa de controle vemos o manômetro do freio. A manete de freio não
aparece na foto. O motorneiro dirigia o bonde sempre com a mão esquerda na
manivela de marcha e a direita na manete de freio.
3)
CAMPAINHA
Nos carros-motor havia duas campainhas, uma em cada extremidade, perto do teto do bonde, em lados opostos. Uma corda percorria toda a lateral interna do bonde, de modo que puxando a corda a campainha soava. Os reboques bidirecionais também tinham duas campainhas, tal como os carros-motor; os reboques unidirecionais, apenas uma, do lado do estribo.
A
campainha do lado direito da marcha do bonde servia a dois propósitos: quando
um passageiro desejava saltar no próximo ponto, ele a puxava uma vez; parado o
bonde, quando o condutor constatava que todos os passageiros já haviam
embarcado ou desembarcado e portanto o bonde podia continuar seu trajeto, ele a
acionava duas vezes. Isso era um sinal para o motorneiro de que ele podia
movimentar o bonde. Caso este puxasse reboque, o motorneiro aguardava dois
toques: um do carro-motor e outro do reboque.
Nos carros-motor, a campainha da extremidade oposta à da marcha do bonde servia
para o motorneiro alertar os passageiros sobre algum obstáculo rente aos
balaústres, de modo a estes se encolherem no estribo para evitar choque com o
obstáculo, como por exemplo carros ou caminhões estacionados, ou tapumes de
obras. Esse aviso era dado por toques ritmados da campainha, acionada por uma
corda existente na cabine do motorneiro.
4)
SINAL NOS DESVIOS
Certos trechos possuíam ida e vinda em apenas um par de trilhos, como por exemplo na subida do Alto da Boa Vista. Para evitar que um bonde topasse com outro em sentido contrário, eram construídos desvios de espaço em espaço, munidos de um sinal dependurado em poste. Quando um bonde entrava no trecho controlado pelo sinal, acendia a luz vermelha. Um bonde em sentido contrário, ao entrar no desvio e ver o sinal aceso, ficava aguardando o que estava vindo.
A
foto abaixo mostra um desses sinais.
Nas duas fotos abaixo (a segunda é close de parte da primeira) vemos dois bondes da linha Alto da Boa Vista se cruzando num desvio. Lá no fundo, dentro do círculo vermelho, aparece meio apagado o sinal referido neste tópico da postagem.
5) UNIFORME BRANCO
Algumas vezes se via um motorneiro usando terno branco, ao invés do tradicional preto. Nunca consegui descobrir se era um uniforme alternativo, ou de verão, ou se era motorneiro aprendiz, ou se não era motorneiro e sim outro tipo de funcionário da empresa.
6)
PLAQUETAS DE IDENTIFICAÇÃO
Os funcionários possuíam no quepe uma plaqueta metálica indicando qual sua função na empresa. Abaixo são mostrados alguns exemplos.
7)
TEMPO DE SERVIÇO
Durante
os anos iniciais da Light, o tempo de serviço do funcionário na empresa era
indicado por estrelas na manga do seu uniforme. Cada cinco anos correspondia a
uma estrela. Era motivo de orgulho o funcionário ostentar essas estrelas na manga. Vide fotos abaixo.
8)
HOTEL
DOS MOTORNEIROS E CONDUTORES
Para se tornar motorneiro ou condutor de bonde era necessário um aprendizado, mais longo e detalhado para os motorneiros do que para os condutores. Pessoas humildes se candidatavam a essas funções. Para abrigá-los durante esse período, a Light construiu um hotel na rua do Bispo, número 87, local onde posteriormente se instalou a Universidade Estácio de Sá. A inauguração ocorreu no dia 16/07/1927. Ali os aprendizes tinham acomodação, alimentação e roupa lavada e recebiam cinco mil réis por dia.
O
aprendizado dos condutores abrangia também o modo de tratar os passageiros com
urbanidade e correção, cobrando a passagem sem agressividade. Uma vez efetivado
como condutor, ele passava a receber dez a doze mil réis por dia e tinha
direito a um quarto no hotel, com duas, três ou quatro camas.
Abaixo,
fotos do referido hotel, tiradas no dia da inauguração do hotel.
Foto
da fachada, na rua do Bispo.
A
foto abaixo foi tirada do fundo do hotel em direção à rua do Bispo. A
construção em frente ao hotel é a Casa de Portugal, ainda existente no local.
Abaixo
uma vista de um pátio interno. Observem ao fundo latrinas e nas laterais e em
cima os quartos citados no texto inicial deste tópico.
Outra
vista de pátio interno, tirada para a parte traseira do hotel.
Abaixo
o dormitório coletivo.
Os
motorneiros eram treinados numa escola situada na rua Visconde de Itaúna, na
Praça Onze, onde havia um “truck” completo de bonde, suspenso. O prédio onde
ficava essa escola foi demolido para a construção da avenida Presidente Vargas.
Abaixo, foto de uma reportagem da Revista da Light sobre o treinamento dos
motorneiros na citada escola.
9)
BONDE FECHADO
As
fotos abaixo, datadas de 27/09/1926, parecem mostrar um protótipo de bonde
fechado que seria adotado pela Light. Não foi à frente.
10)
REBOQUES DE 2ª CLASSE
Durante muitos anos houve bondes de segunda classe, tanto carros-motor (apelidados de “taioba”) quanto reboques. Destes, havia vários modelos. As fotos abaixo mostram alguns deles.
A foto abaixo mostra um bonde da Companhia Ferro-Carril de Vila Isabel puxando um reboque de segunda classe. Observe os cestos de vime no meio do carro. Havia esse tipo de reboque misto, destinado a transporte de pessoas e pequenas cargas.
Os bondes de segunda classe (taiobas e reboques) foram extintos em meados de 1955.
11)
INTEGRAÇÃO
COM PASSAGEIROS
Era
muito comum a integração dos motorneiros e condutores com passageiros
habituais. Na foto abaixo vemos uma comemoração do aniversário do motorneiro
carinhosamente chamado de “titio”, como se vê nos dois pequenos cartazes,
ocorrida em dezembro de 1932 no bonde Meyer x Triagem, futura linha 81.
12)
O
PRINCÍPIO DO FIM
A
década de 1950 assistiu ao princípio do fim dos serviços de bonde, até então o
meio de transporte por excelência na cidade. Vejamos o caso da Light.
Entre
1951 e 1955 foram extintas as linhas:
35 – Praça XV x Riachuelo
44 – Itapiru x Praça da Independência
49 – Itapagipe
88 – Méier x Praça Barão de Taquara
No dia 17 de agosto de 1955 a Light anunciou a extinção de mais linhas, bem como dos taiobas e reboques de segunda classe:
31 – Lapa x Leopoldina
38
– Praça Mauá x Leopoldina
39
– Praia Formosa x Praça Mauá x Arsenal de Marinha
41
– Praia das Palmeiras
48
– Itapagipe – Bispo
No
raiar de 1957 já não existiam as linhas:
26
– Estrada de Ferro – 1º de Março – Independência
32
– Lapa x Av. Rodrigues Alves
34
– Praça XV x Praia Formosa
37
– Praça XV x Estrada de Ferro
55
– Rua Bela
58
– São Luiz Durão
59
– Pedregulho
71
– Barão de Mesquita – Verdun
73
– Praça Barão de Drummond
89
– Tanque
96
– Madureira x Vaz Lobo
Ou
seja, das 75 linhas da Light, 20 foram extintas entre 1951 e 1956.
----- FIM DA POSTAGEM -----
Depois de milhares de publicações sobre o Rio Antigo a maioria dos locais da cidade já foram devidamente estudados e comentados. O grande desafio agora é conseguir aquelas fotos dos álbuns familiares.
Faz muito tempo que Ana Valéria M. C. me mandou as fotos de hoje. Duas delas foram publicadas no "Saudades do Rio" em 2012.
Um agradecimento especial à Ana Valéria por dividir conosco estas fotos.
FOTO 2: Vemos Ana Valéria em 1966 no Largo dos Leões.
FOTO 3: A foto seria no Aterro do Flamengo?